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Aquém Tejo

Há quem do Tejo só veja o além porque é distância. Mas quem de Além Tejo almeja um sabor, uma fragrância, estando aquém ou além verseja, do Alentejo a substância.

Há quem do Tejo só veja o além porque é distância. Mas quem de Além Tejo almeja um sabor, uma fragrância, estando aquém ou além verseja, do Alentejo a substância.

Feira do Livro 2015

Viagens na Minha Terra, Almeida Garrett

Editora Livraria Sá da Costa, Lisboa

1ª Edição, 1963

Reimpressão, 1966

 

85ª Feira do Livro de Lisboa.html C. M. Lisboa.jp

Está a decorrer a Feira do Livro, de Lisboa, na sua 85ª edição, no espaço tradicional, Parque Eduardo VII.

É um local de visita obrigatória, para quem goste de ler, folhear livros, ver novidades, passear… e eu estou a propagandear, mas já lá não vou há alguns anos… principalmente por comodismo.

Mas, nos anos setenta, principalmente a partir de 74, quando estudava na capital, confesso que me perdia na Feira e nos saldos… para além dos catálogos e todo o tipo de panfletos e acessórios das edições.

E, nos “Livros do Dia”!

 

Mas como estamos nesta época, resolvo partilhar convosco o livro que estou a (re)ler, de que apresento imagens digitalizadas da capa e contracapa:

Viagens na Minha Terra, Almeida Garrett; Editora Livraria Sá da Costa, 1ª Edição, 1963; Reimpressão, 1966.

 

almeida garrett pt.wikipedia.org..jpg

 

Não vos vou falar nem do Autor, Almeida Garrett, 1799 - 1854, possuidor de uma atribulada biografia, que de algum ou diferentes modos transpôs para a sua Obra, notabilíssima, sendo Autor de uma bibliografia extraordinária.

Viveu em pleno os tempos conturbados dessa primeira metade do século XIX, enquanto Homem, Cidadão, Político,… paralela e concomitantemente publicando as suas Obras, precursoras e introdutoras da Modernidade. É considerado o “Pai do Romantismo” em Portugal.

A minha pretensão é simplesmente sugerir a leitura da Obra mencionada, 1846, um clássico da Literatura contemporânea.

Viagens na minha terra. Digitalização da capa jpg 

Esta edição tem um excelente prefácio e notas do Professor José Pereira Tavares, datado de 1953 e explanado em quatro momentos: 1 – “Escorço da biografia de Garrett”, 2 – “ A Obra”, 3 – “História das “Viagens” ”, 4 – “A nossa edição”. E o Prefácio dos Editores de 1846.

Só após, se inicia a Obra propriamente dita, até ao Capítulo XLIX.

Estou a iniciar a leitura do Capítulo XXVII, quando, na narrativa, o autor/narrador chega a Santarém.

Santarém. Torre das Cabaças. in wikipedia.jpg

 

O livro lê-se relativamente bem, sem pressas, lendo e refletindo, interrompendo, intervalando, ao sabor da narrativa, das considerações e divagações do Autor, das notas de rodapé. Os capítulos são curtos, o exemplar facilmente manuseável.

Exige, contudo, algum conhecimento do contexto espácio temporal, cultural, social e político em que se desenrola a ação.

Mas… e quando não se conhece algum significado, é sempre bom ter um dicionário e sobre os assuntos, uma enciclopédia ou a net também ajudam.

Aprende-se muito, para além da riqueza verbal e ideativa que o acompanha e que nele se explana.

O enredo romanesco, o romance propriamente dito entre Joaninha e Carlos, começa bem tarde na trama, nem sei mesmo se será a parte mais importante... Os diálogos dessa parte da narrativa são muito claros, transparentes, acessíveis, simples e compreensíveis, lembrando muito os do teatro, ou não fosse Garrett o criador do teatro moderno em Portugal.

Ao ler esses excertos, só imagino uma peça de teatro, de que tenho saudades, aliás. A televisão praticamente não transmite e é pena!

Viagens na minha terra. Digitalização da contracapa.jpg

Concretamente, o exemplar de livro que possuo tem alguma história associada.

Ganhei-o, sim foi ganho num concurso promovido pela antiga Emissora Nacional, não sei se nos finais de sessenta, se já no início de setenta do século XX, de qualquer modo antes de 74.

Foi dos primeiros livros meus, para além dos escolares, que os meus pais, apesar das dificuldades da época e dos sacrifícios que tinham que fazer para eu poder estudar, sempre fizeram questão de me comprar e que ainda guardo com carinho e estima.

Nessa época, anos 60 / primeira metade de 70, ter livros próprios era um luxo!

Por todas e as mais diversas razões, económicas, principalmente, mas também sociais e políticas, frise-se!

Por isso mesmo, quando foi a explosão de Liberdade após 25 de Abril de 74, a 1ª Feira do Livro em liberdade foi uma Festa!

Voltando ainda a este exemplar que possuo foi para mim uma enorme satisfação ao obtê-lo, não só pelo concurso, algo sem importância certamente, qualquer coisa como responder a alguma pergunta ou tema de que não me lembro, mas cuja resposta era “Lourenço Marques”, que anotei na 3ª página do exemplar. Só me esqueci de apor a data…

Eram tempos em que havia falta de tudo, não vivíamos, nem vislumbravamos viver alguma vez numa sociedade como a atual, nomeadamente no que concerne ao consumo e revolução tecnológica, às mudanças políticas e sociais.

Seria pura ficção científica imaginar sequer que poderia estar algum dia a comunicar neste “blog”! !!!!!!!!!!!!!!!!

Por isso, à data, ter um livro meu, para além dos escolares, e no âmbito da Grande Literatura era estar no píncaro!

Contudo e pelo que expliquei anteriormente, algum desconhecimento do contexto espácio temporal, cultural, social e político em que se desenrolava a ação; falta de vocabulário, praticamente nulos recursos de pesquisa, tive alguma dificuldade em ler e compreender a Obra.

Essa é uma das razões por que estou a reler o livro.

 

E, agora, lê-se maravilhosamente!

 

Procurem-no na Feira do Livro, SFF!

 

Feira do Livro de Lisboa 2015

 

Maio, ainda… As Maias e uma justíssima homenagem!

Sagração Primavera. Sandro Botticelli  pt.wikipedia.org. jpg

 (A Sagração da Primavera, 1482, de Sandro Botticelli. in pt.wikipedia.org.)

 

Maio, ainda… As Maias e uma justíssima homenagem!

Maias Portalegre rádioportalegre.pt.jpg

Maias Portalegre rádioportalegre.pt.jpg

 

Escrever um texto sobre a temática supracitada é algo que venho delineando há algum tempo, mesmo ainda antes de ter sequer o blog.

Pensara, primeiro publicar sobre o assunto em suporte de papel.

Após, termos criado o blog, a respetiva divulgação simultaneamente neste enquadramento, passou a ser também um objetivo. Só que, escrever, por vezes traduz-se num parto difícil.

 

Já pesquisara sobre o assunto por várias vezes, recolhera documentação… Mas houve diversos condicionalismos que impossibilitaram a escrita: falta de tempo, mudanças de atividades, viagens e, algo que por vezes me atormenta, não localizava as fotos nem o manuscrito onde constava o texto original que serviria de mote para o assunto a abordar. Finalmente, localizei as fotos e encontrei o manuscrito, que transcrevi para computador.

Esse texto, escrito à mão, foi a transcrição do que a prima Teresa “Boa Nova” me contou em 1987, sobre como eram “As Maias”, em Aldeia da Mata, ao tempo da sua juventude.

 

Mas a inércia continuava… (A inércia, não a Dona Inércia de que também já falei neste blog, que essa, abalou...)

 

Outra questão prendia-se com a publicação das fotografias na net, da recriação que foi feita das “Maias”, julgo que em 1984, dinamizada pela prima Teresa com a colaboração de outras senhoras vizinhas da Rua Larga e que documentei fotograficamente.

Mas porquê essa hesitação na divulgação das fotos?!

Maias enfeitadas, foto parcial. Original de FMCL 1984jpg

 (Algumas das participantes na recriação das "Maias" em 1984.)

 

Como todos sabemos, o que publicamos na net, para ser lido ou visualizado em “sinal aberto” deixa de ser nosso. Passa a domínio público.

Por outro lado, as fotos envolvem pessoas, na altura miúdos e miúdas, atualmente adultos e, na minha perspetiva, para divulgá-las acho que deveria pedir autorização às próprias. Só que, na prática, esse aspeto tornou-se na verdade impossível de concretizar, em tempo útil.

Em contrapartida, abordar a recriação das “Maias” e não apresentar fotos era empobrecer muito o assunto. Nem faria qualquer sentido.

E um dos objetivos deste escrito é também homenagear todas as pessoas participantes nessa recriação com realce para a maior dinamizadora do evento.

E as fotos são bastante sugestivas.

Grupo que foi às boninhas. Foto de FMCL 1984jpg

 (Foto do grupo que foi colher "boninhas".)

 

De modo que, atrevi-me a publicar, digitalizadas, algumas das fotos tiradas na altura aos participantes nesse acontecimento, miúdos e miúdas, agora senhores e senhoras, alguns certamente já com filhos na idade que eles teriam à data do mesmo. As fotos não são nenhum prodígio de técnica ou primor de estética, valem fundamentalmente pelo seu valor documental, por retratarem momentos fugazes da Vida e do quotidiano, como tal irrepetíveis. Valem pela sua singeleza, simplicidade, mas também extraordinária comoção que nos podem despertar, pois, enquanto vivos, gostamos sempre de nos recordarmos nos momentos de infâncias felizes e as pessoas mais velhas que participaram, e já cá não estão, deixam-nos sempre muita Saudade.

Mata e Saudade

Penso que as fotos não deixarão ninguém que as visualize, indiferente.

E será que toda a gente ainda se reconhece nas imagens apresentadas?!

Grupo que foi às boninhas  Foto original de F.M.C.L..jpg

 (Outra imagem do grupo que foi às "boninhas".)

 

De qualquer modo e após ter refletido e tomado a decisão de expor as fotos, se alguém de entre os que nelas estão presentes não concordar com a respetiva publicação, pode dar-me conhecimento e eu retirarei a foto do modo público. O meu mail segue anexo também para esse efeito. (fcaritamata@hotmail.com)

 

E com todos estes hiatos, Maio seguia o seu percurso e este texto teria que ser publicado neste mês e mesmo assim já seguia atrasado, pois a temática enquadrar-se-ia melhor no início do mês…

 

E vamos então às “MAIAS”…

Estas festividades também designadas por “MAIO”, conforme as regiões, são uma tradição muito antiga, de raízes pré-cristãs, sendo-lhes atribuídas origens na cultura romana e também em rituais celtas, milenares, portanto.

Como em muitas outras tradições dá-se um processo de integração de diferentes padrões culturais, verificando-se um processo de aculturação. 

Durante algum tempo, nomeadamente na Idade Média, não foram bem aceites as respetivas manifestações, chegando a serem proibidas em Portugal.

Também num contexto cristão foram de algum modo integradas noutro tipo de festividade, com realce para as Festas da Santa Cruz, que atingem grande expressividade nalgumas localidades portuguesas, com especial destaque para Barcelos.

Na Aldeia, também se mantém a tradição de enfeitar a “Bela Cruz”, no início de Maio, nos cruzeiros de Santo António e de São Pedro, como ainda este ano aconteceu.

 

Mas retornando às “Maias”… que, ancestralmente, celebravam o início da Primavera e o final do Inverno, ainda que na vida atual, desligada dos rituais agrícolas esse significado possa não ser consciencializado.

Continuam ainda a ser lembradas e comemoradas, num contexto de cidadania atual, em diferentes localidades do Continente, de Norte a Sul, nas Ilhas e também em Espanha.

Das que conheço, que ainda se realizam, ocorrem na Cova da Piedade, Romeira, no 1º de Maio e na cidade de Portalegre, que integrou esta tradição precisamente nas festividades do “Dia da Cidade”, a vinte e três de Maio, conforme documento no início do post.

Mas na pesquisa efetuada, vi referências a festas no Minho, Trás-os-Montes (Mirandela, Bragança), Óbidos, Beja e várias terras do Algarve, para além de localidades dos Açores, onde as “Maias” também são festejadas.

FESTA_DAS_MAIAS_EM_BEJA_2015.jpg

 (In: Mais Beja - Associaçãp para a Defesa do Património Cultural da Região de Beja.)

 

A forma de manifestação desta festividade ainda que se processe de modos diversos, conforme as localidades, contudo tem aspetos comuns. O principal é o recurso aos enfeites confecionados com flores, sejam as flores das giestas amarelas, a que em muitas zonas se chamam também maios e as boninas, que na Aldeia se nomeiam “boninhas”, ou seja os malmequeres amarelos.

Com diferentes características lá estão as flores amarelas, seja em ramos, em coroas ou em cordões, colares e pulseiras.

Confecção dos enfeites. FMCL jpg

 (A confeção dos enfeites.)

(A prima Antóna Caldeira observava e o Ti Tonho Rei, que me inspirou para um poema que já coloquei neste blog, guardava.) ( aqui)

 

Mas para quem quiser saber um pouco mais sobre o assunto, deixo, no final, sugestões de algumas ligações para pesquisa…

 

E vamos então… finalmente, ao relato do que me foi contado pela prima Teresa Ferreira Belo, mais conhecida por “Teresa Boanova” sobre o festejar do “Maio” em Aldeia da Mata, nos anos quarenta do século XX.

 

« O Maio de 1940 era assim…

Juntavam-se as cachopas todas, iam colher as boninhas e fazia-se o “Maio”.

Vestia-se a rapariga que fazia de “Maio”, com uma saia rodada, uma balsa para fazer saia balão e o grupo a cantar ia atrás. O “Maio” ia vestido de branco, com uns cordões amarelos ao pescoço, pulseiras nos braços e grinalda na cabeça. (1)

 

E cantava-se:

 

Oh Maio, já lá vai Abril e Maio que a nossa mãe não amassa.

Cantamos uma cantiga, enquanto a fome passa.

Dá dez réis ao Maio para comprar melões

Que as vossas casas são uns casarões.

São uns casarões, umas casarias

Dá dez réis ao Maio, para comprar melancias.

Oh Maio, Oh Maio, Maio das cachopas

Para onde vai o Maio? Vai por essas barrocas.

Oh Maio, Oh Maio, Maio dos anjinhos

Para onde vai o Maio? Vai por esses caminhos.

Oh Maio, Oh Maio, Maio das solteiras

Para onde vai o Maio? Vai por essas barreiras.

Oh Maio, Oh Maio, Maio das casadas.

Para onde vai o Maio? Vai por essas tapadas.

 

No intervalo dos versos dizia-se, “… Dá dez réis ao “Maio” para comprar melões…” e outras vezes dizia-se. “… Já lá vai Abril e Maio que a nossa mãe não amassa…”

 

As pessoas das lojas davam rebuçados, alguns mais ricos, umas frutas, que eram divididas pelo grupo, que já andava com fome da cantoria…»

 

(Teresa Boanova, 1987/08/29)

 

 (1) - Os cordões, as pulseiras e a grinalda eram feitos com as boninas enfiadas com uma agulha numa linha.

 

Arranjo dos Enfeites,  à sombra. FMCL 1984jpg

 (Enfiando as "boninhas" na linha, com a agulha. Destaca-se a D. Dolores exatamente nessa função.)

 P.S.

Este é o texto sobre a temática em epígrafe e saindo ainda em Maio

Maio

Abordando o assunto das “Maias”, com destaque para Aldeia da Mata.

Homenageando todas as pessoas participantes, com especial lembrança das que já cá não estão… Realce à prima Teresa, a dinamizadora desta atividade e de outras ligadas à tradição popular.

Mas também a D. Dolores, em plena atividade, conforme a foto documenta e a prima Antónia Caldeira e o Ti Tonho Rei, mais observadores e ainda D. Maria dos Remédios, também participante na confeção. Já todos ausentes. 

E, para finalizar, haverá melhor maneira de homenagear as Pessoas, que não seja pela lembrança das suas realizações construtivas?!

Parabéns e obrigado a todos os participantes, miúdos e miúdas, à data; atualmente Senhores e Senhoras, pois sem as respetivas participações o "post" ficava mais pobre. Espero que se revejam com Saudade e que gostem!

Das Pessoas mais velhas participantes, também um obrigado muito especial a D. Maria Belo, graças a Deus, entre nós.

Um dia, pode ser que se publique uma versão do tema, em suporte de papel, de modo a alcançar outro tipo de público leitor.

Quem sabe?!

 

 

Experimentar os Enfeites,  com vista da rua. FMCLjpg

 (Experimentando os enfeites.) 

 

 

Alguns links:

Maias

httptreaestoriaeahistoria.blogspot.

Maios em Mirandela

 

 

 

Poemas...

Ao longe…

 

Ao longe, a serra…

Uma miragem

Duma impossível viagem.

 

 

 

 

 

A Oriente…

 

A Oriente se quedava a serra

Azul e tremente miragem.

Olhando-a, deixava a Terra

E seguia a minha viagem…

 

 

 

Poemas escritos em 1985, inspirados na visão distante da Serra…, ao tempo em que, nas Courelas, apascentava o rebanho…

Partir...

 

Ânsia de partir

 

Partir. Partir. Pôr-me a andar.

À estação. P’ró comboio apanhar.

Correr. Correr… Ao porto e embarcar

Em bote ou nau. Lançar-me ao mar.

Ao céu, ao vento, pôr-me a voar

Em jumbo ou nave de encantar.

 

 

 

Escrito em1985.

Publicado em: Boletim da Associação Portuguesa de Poetas, Set. 2002.

 

 

 

Conferência - “A poesia de Jorge de Sena: uma reflectida espontaneidade”

Conferência

“A poesia de Jorge de Sena: uma reflectida espontaneidade”.

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Promovida pela Universidade Sénior de Almada – Usalma e pela Associação de Professores do Concelho de Almada – Apcalmada, realizou-se no passado dia 15 de Maio, 6ª feira, pelas 17 horas, na Sala Pablo Neruda, no Fórum Romeu Correia - Almada, uma conferência subordinada ao tema supra citado, a cargo da Professora Doutora Maria Isabel Rocheta.

forum romeu correia.jpg

Previamente ao início da sessão, foi-nos entregue, à entrada da sala, uma “capa” estruturada a partir duma folha A3 dobrada, com uma breve sinopse do currículo da conferencista e uma folha em branco para apontamentos. Frise-se e louve-se este simples, mas significativo registo.

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Apresentado o evento pelo Diretor da Usalma, Professor Gerónimo de Matos, foi este iniciado com um breve, mas apelativo, introito musical, desempenhado pelo “TrioMinda”, composto por Almerinda Gaspar, voz e Manuel Gomes e Vitor Costa, violas.

Escutámos “Epígrafe”, de Zeca Afonso; “Independência”, inédito musical sobre poema de Jorge de Sena e “No Alentejo…”, original dos executantes, Manuel Gomes, música e Vitor Costa, letra.

Fosse noutro enquadramento e era de pedir bis!

 

Seguiu-se a conferência, de título em epígrafe, com o didatismo da citada Professora, aposentada, Coordenadora da Área de Literatura e Cultura Portuguesas do CLEPUL, Centro de Literaturas e Culturas Lusófonas e Europeias da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.

Segundo o breve resumo que nos foi entregue, a conferência versaria “Uma revisitação da poesia de Jorge de Sena. O testemunho seniano em duas faces: poemas de amor, fraternidade e fidelidade e poemas de indignação e invectiva.”

 

Jorge de Sena nasceu em Lisboa, 1919 e faleceu em Santa Bárbara, Califórnia, U.S.A., em 1978 (59 anos).

Foi-nos esquematizada uma síntese e cronologia das suas obras, distribuídas por 42 anos de produção poética, 1936 – 1978, mas também por outros géneros literários. E materializadas em três contextos espaciais: Portugal, 1939 – 1959; Brasil, 1959 – 1965 e E.U.A., 1965 – 1978.

Genericamente estes contextos criativos foram enquadrados na sua vivência pessoal, individual e familiar, e social. A sua postura interveniente de cidadão português, à escala global.

 

Sena “foi o imenso Poeta do Amor e da Fraternidade… de uma atitude universalista que fala da Justiça e do Amor… a Luz é o polo de orientação da sua Poesia”.

Ouvimos poemas a partir de uma gravação em CD.

 

O poema “Uma pequenina luz” foi ilustrado por um diapositivo fotográfico e foi contraposto a Poemas de autores atuais que nele e no Mestre se reviram: um poema de Pedro Mexia, com o mesmo título, 1999; e outro de António Carlos Cortez, “Luz bruxuleante”, 2008.

No final, também se documentou a sua influência em Pedro Tamen “Para Jorge de Sena à sua maneira”, poema de 1984.

 

Foi realçada a sua participação e importância nos “Cadernos de Poesia”, produção literária em fascículos, a partir de 1940-42, até 1952-53, envolvendo vários Poetas seus contemporâneos. Uma intervenção literária contrapondo-se, complementando(?) a das Revistas “Presença” e “Sol Nascente”.

 

“A Poesia é um processo testemunhal…” Ouvimos “Ode à Incompreensão”, de 1949; “Fidelidade”, de 1956 e “Isto”, de 1958. Também “Artemidoro”, ilustrado por imagem, foi lido e analisado.

artemidoro poema de jorge de sena.jpg

Foi realçada a forma como Jorge de Sena, nas suas obras e especificamente na Poesia se entrosava com outras formas de expressão artística, sendo ele um Homem de Cultura Universalista.

 

Foi uma intervenção rica de conteúdo, suficientemente abrangente e ilustrativa da Obra Poética do Autor, despertando a motivação para um maior conhecimento da mesma.

Penso que a conferência cumpriu inteiramente os seus objetivos.

Estão de parabéns todos os intervenientes.

 

Só terá faltado, e eu ia nessa expetativa, ouvir pessoas declamarem, in loco, poemas do Autor. Ouvir em CD, ainda que interessante, não será tão rico e motivador.

 

Deixo-vos um link para ouvirem o Poema “Uma pequenina luz”, dito por Samuel Úria.

Uma pequenina luz

 

Parabéns, Benfica!

emblema benfica fotos sapo.pt.jpg

Parabéns, Benfica!

 

Parabéns, porque foi a melhor equipa ao longo do campeonato.

Mas parabenizar a equipa vencedora não é necessariamente rebaixar as outras equipas.

 

Parabéns também a todas as outras equipas que fazem o campeonato, mesmo e principalmente às mais humildes que desempenham a sua função em muito piores condições, mas que são elas, em suma, que contribuem para a vitória das “grandes equipas”. Ou não?! Porque se o campeonato se desenrolasse apenas com as três equipas principais, as que mais campeonatos têm ganho, seria o mesmo campeonato?! Teria alguma lógica?!

Pois, então, parabéns a todas as equipas que contribuem para que haja uma que conquista o primeiro lugar. Neste ano pertenceu ao Benfica essa honra. Pois então, e novamente, parabéns ao Benfica, um justo vencedor!

 

Mas vitórias e derrotas têm que ser vividas com “fair-play”, com desportivismo.

 

Então, porquê as cenas de destruição e violência associadas aos festejos?!

Fazem algum sentido quando o que faz movimentar o “foot-ball” é só e tão somente o dinheiro?

 

Onde está o desportivismo? O amor à camisola?

Nos jogadores? Nos dirigentes? Nos treinadores? Nos diferentes técnicos ligados aos clubes? Nos agentes desportivos dos jogadores? Na massa associativa? Nos adeptos? Nos espetadores de bancada? Nos espetadores de sofá? Nos desportistas de gabinete? … ?...

 

Então porquê tanta alienação face ao futebol?!

Faz algum sentido? …?

 

Parabéns!

Parabéns ao Benfica.

Mas também a todas as equipas que jogaram o campeonato e através das quais o Benfica conquistou o seu trigésimo quarto primeiro lugar.

 

 Consultar também:

Ronaldo à venda por 100 milhões.

O Benfica ganhou.

Domingo de Futebol. 

“Crime e Castigo” – Série da RTP 2 – Temporada 3

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“Crime e Castigo” – Série da RTP 2 – Saison 3

Ou como Ronaldo… foi finalmente morto!

 

Já abordei no blog este tema das séries da RTP 2, que se têm revelado de altíssima qualidade.

Borgen

Séries Europeias na RTP

 

A última que tem estado em exibição é de origem francesa, tem o título original francês “Engrenages”, foi designada “Spiral”, no mundo anglo-saxónico e, em Portugal, foi intitulada “Crime e Castigo”.

Entendo a razão do título, mas se lhe tivessem atribuído uma designação, mais literal, “Engrenagens”, “Engrenagens do Poder”, penso que se teriam aproximado mais do conteúdo da série, pois aí são especialmente tratados os “esquemas”, as forças e fraquezas, os “podres” dos Poderes instituídos, com especial destaque do Poder Judicial e suas ligações ao Executivo e ao Poder Económico.

O seriado já vai na 3ª temporada (saison 3, 2010), certamente quase a terminar. A saison 1 era de 2005 e a saison 2, de 2008. No original, existem ainda mais duas séries (saison 4, 2012 e saison 5, 2014). Espero que continuem a exibi-las. E já prepararam ou estão em vias disso, uma 6ª temporada.

 

Ainda que a estrutura do seriado se mantenha, nomeadamente os personagens principais, a metodologia e estrutura narrativa, um ou vários crimes, cada um mais cruel e terrífico que os anteriores, contudo notam-se alguns hiatos de uma série para as seguintes.

Há situações que perdem ligação, ficando personagens e assuntos não devidamente esclarecidos e que não transitam para a “saison” seguinte. Ignoro se virão a ser abordados nas futuras, que espero venhamos a poder visualizá-las.  

Na pesquisa que fiz, in: fr.wikipedia.org/wik/engrenages, constatei que sendo a guionista inicial Alexandra Clert, advogada criminalista, os guionistas seguintes foram alterando ao longo do seriado.

fr.wikipedia.org Engrenages

 

Parafraseando o ditado, “quem conta um conto, acrescenta ou omite um ponto”.

 

Os personagens principais são, contudo, os mesmos e o enquadramento espácio funcional também.

 

No campo policial, a “capitaine” Laure Berthaud, a policial capitã, mulher e profissional cheia de zelo e brio, idiossincraticamente ligada aos seus dois “lieutenant”, Gilles – “Gilou” e Luc – “Tintin”, os três numa cumplicidade umbilical, transpondo, por variadas vezes, os limites da legalidade. Mas, sempre, encobrindo-se mutuamente, tal qual três Mosqueteiros do século XXI. Os três altamente afetados na sua vida pessoal, sendo que Laure e Gilou, quase se negam a viver uma vida fora do trabalho, ligados por uma profunda amizade/cumplicidade, talvez até mais que isso, mas que eles próprios se recusam a ver.

 

No Palácio da Justiça, o juiz de instrução, François Robain, profissional incorruptível, que, segundo o próprio, há trinta anos tenta aplicar corretamente a justiça, com Justiça. No seu zelo profissional, (excessivo ou justo e de exata medida?) acaba também por se anular enquanto Pessoa. E, com as suas decisões, retas e justas é certo, indiretamente dois sujeitos foram levados a cometer suicídio. A forma como ele, no seu silêncio e pouca loquacidade se questiona inconscientemente; o seu isolamento familiar, já que os diversos laços se têm quebrado… Até onde será levada esta personagem, dado que a sua redenção parece afigurar-se cada vez mais impossível?! A (im)possibilidade de a JUSTIÇA ser Justa?!

 

Os outros dois personagens principais, no campo da Justiça, são:

- Pierre Clément, procurador adjunto, jovem profissional, idealista, que no resultado desse mesmo idealismo e honestidade vê a sua carreira e vida pessoal serem destruídas pelos que devendo defender a Justiça, nos bastidores manipulam a respetiva execução.

- A jovem advogada criminalista, Joséphine Karlsson, que na sua ânsia de ganhar dinheiro e obter sucesso se alia a um advogado corrupto, de quem foi aconselhada a afastar-se logo no início do seriado, mudando de passeio na rua, mas por quem se sente terrivelmente atraída, por quem se envolve com criminosos, de quem se afasta, tentando reconstruir uma carreira, ao lado de Pierre Clément, agora também advogado. Mas que acaba novamente enredada com a corrupção e o crime organizado, através do primitivo advogado, que tão bem a sabe seduzir sempre com o apelo do dinheiro e, implicitamente, o sexo.

 

Chocante o enredo do seriado, sim! Mas ainda mais chocante o seu espelhar da realidade! Inclusive da portuguesa.

 

E chegamos ao subtítulo do post: “Ou como Ronaldo… foi finalmente morto!”

 

Ao congeminar este post pensei, inicialmente, neste título. Mas, após “conversar com o travesseiro”, achei que não seria correto, pois embora não tivesse nada a ver com o post anterior remeteria para ele, pelo nome, não estando, contudo, os assuntos absolutamente nada relacionados.

E tudo isto, porquê?!

Porque na passada 6ª feira, dia 15 de Maio, li a notícia sobre o célebre jogador e decidi escrever um post sobre o tema, enquadrando a notícia específica num contexto mais geral de cidadania à escala global.

Ronaldo à venda por 100 milhões

 

Também nessa 6ª feira, à noite, na série referida, o criminoso, assassino em série, que “aterrorizava” o submundo de Paris e que era motivo das diligências exaustivas, mas até ao momento infrutíferas dos heróis do seriado, fora finalmente localizado, quase a cometer outro assassinato macabro. E, no decurso da ação de buscas, acabou por ser morto… Morto, por tiro disparado pela capitã, Laure Berthaud, que vivia obsessivamente na sua busca e localização, há vários episódios.

E como se chamava ele, o “serial killer”, conhecido como o "Talhante de La Villette"?!

Pois, precisamente, Ronaldo, Ronaldo Fuentes, um mexicano imigrante em Paris, que já fora preso, por indiciado em dois crimes horrendos de duas jovens, mas que sem provas e não tendo confessado, fora libertado pela ação da advogada, Joséphine.

Situação que ficara “encravada” no brio da capitã, que não largou a pesquisa e investigação, mesmo quando o “caso” foi retirado ao seu Departamento, pois estava convencidíssima da sua culpabilidade.

Até que as provas foram encontradas, mas o assassino continuava à solta e inlocalizável.

E quando, após muitas peripécias, finalmente o localizaram, a capitã no seu afã de executar a sua função e talvez com medo de ele ser libertado novamente, acabou por “fazer justiça pelas suas próprias mãos”.

Fez bem ou fez mal?!

 

De qualquer modo os seus “companheiros de caminhada”, mais uma vez, solidarizaram-se com ela compondo a situação de modo a que não fosse ela incriminada.

Sim, porque a Justiça no seu zelo de “defender os indefesos” acaba muitas vezes por defender os criminosos, como, na série, já sucedera ao assassino.

Finalizemos com o que disse o Chefe de Departamento da capitã, ao ouvir as respetivas explicações e dos seus colegas, convencido - não convencido da respetiva veracidade:

Lembra-te que inventámos a Justiça para acabarmos com a Vingança!

Referia-se, obviamente, ao Ser Humano, à Humanidade, que no seu evoluir social foi criando um progressivo modelo de Justiça que fosse o mais isento, honesto e justo. Mas que muitas vezes, na realidade é o que é e todos conhecemos!

Para visualizar pequenas introduções aos episódios da “Saison trois”,

consultar:

Engrenages episodes. 3Fsaison

 

No episódio 11, pode observar-se o personagem Ronaldo Fuentes. Observem-no com atenção!

No episódio total, a cena da sua morte é paradigmática, pela tensão entre as duas personagens em confronto:

o assassino e a capitã.

Vejam a série, não se assustem e reflitam sobre a nossa Sociedade e o que dela a série, infelizmente, espelha...

engrenages spiral rtp.pt.jpg

 

 

 

“Ronaldo à venda por 100 milhões”

Ponto Prévio:

Ao escrever num blog, ainda que fazendo-o da forma peculiar como o faço, um pouco arredio do “modus operandi” deste contexto comunicacional, não posso deixar de, por vezes, “interferir” nesse mesmo enquadramento de comunicação e refletir ou opinar sobre acontecimentos mais ou menos mediáticos, de caráter universalista e global.

E haverá assunto mais universal e global que o futebol e especificamente quando se trata do jogador Cristiano Ronaldo?!

Daí que não posso deixar de comentar a seguinte notícia:

 

“Ronaldo à venda por 100 milhões”

Correio da Manhã

Pedro Carreira

15/05/15

“O Real Madrid está disposto a deixar sair Cristiano Ronaldo no final da época. A direção liderada por Florentino Pérez já deu indicação a Jorge Mendes, agente do jogador, para começar a tratar da venda, mas nunca por menos de 100 milhões de euros.” (…)

 

ronaldo cmjornal.xl.pt.jpg

 

 

Não posso deixar de frisar. Chocante, não?!

Não só pelo valor numérico. 100.000.000 de euros!! São muitos zeros à direita de cem.

 

Mas pela situação, em si mesma.

À VENDA!!! Uma Pessoa à venda, pois é suposto que de uma Pessoa se trata, que é posta à venda como se de uma mercadoria qualquer se tratasse.

Bem sei, que não é uma qualquer mercadoria.

Mas o sujeito em questão é posto à venda pelo clube a que pertence, através do seu presidente de direção que transmitiu essa intenção ao intermediário das vendas. Como se fosse um produto, de alto valor diga-se, mas um objeto de uso, que deixa de interessar. Para todos os efeitos é disso que a venda trata.

O facto de a futura e provável transação envolver pelo menos cem milhões de euros, valor de troca, deixa de ser a venda e compra de uma pessoa? Um “dono” que vende e outro que irá comprar?

O facto de envolver uma organização importante, neste caso, um clube de nomeada, deixa de ser uma pessoa, representante de uma empresa, a vender outra pessoa sobre a qual tem posse, tem direitos de propriedade?!

Como se designa uma estrutura social em que pessoas são donas de outras pessoas?! Tem um nome não tem?! (…)

 

Bem sei que no futebol é assim que funciona “grosso modo”, que os jogadores assinam contratos, que tomam decisões, têm agentes é certo, mas em última instância são os próprios que decidem, mas de quem é o “passe”?!

Qual o contexto de autonomia que tem o jogador na tomada de decisão?

Os clubes têm ou não “direitos de propriedade” sobre os jogadores?!

É um contrato negocial inter-pares em plano de igualdade e reciprocidade ou os clubes têm efetivamente o direito de “posse” sobre os jogadores?

Será que o modelo negocial e funcional do futebol não poderá comportar uma estrutura mais civilizacional, mais democrática, menos a lembrar modelos de sociedades ancestrais em que homens eram donos de outros homens?! Quicá!

 

Ler também:

Parabéns Ronaldo

E a Irina?

P.S.

– Não deve ser fácil a um qualquer jogador de renome e valor mundial viver a permanente pressão a que está sujeito, não só no contexto de execução das suas funções, o jogo em si mesmo, o desporto propriamente dito, com todas as acutilâncias que o definem, mas todo o enquadramento social, mediático, todas as vivências associadas e os reflexos que têm no jogador enquanto ser humano, pessoa com todas as suas forças e fraquezas…

Em que medida a ida da “partenaire” se terá refletido no rapaz? E vê-la e sabê-la, que os media estão sempre a comentar, já “noutra onda”, que reflexos teve no seu mar?!

Enquanto durou o “affaire”, ganharam ambos, mas não venha ela dizer que não “cresceu” profissionalmente através da “ligação” que manteve com o “craque”…

Mas tudo isto são “fait-divers”… Mas, por vezes, também temos que “entrar nestas ondas”.

 

 

 

 

“Alentejo e Almada de Mãos Dadas”

Ponto Prévio

Um dos propósitos deste blogue é a divulgação de instituições / organizações / entidades, que promovem / organizam / estruturam / realizam / operacionalizam eventos, acontecimentos culturais, de carácter essencialmente regional ou local, que passam maioritariamente despercebidos ao “grande público”, entretido a visualizar os “excelentes espectáculos de elevado share”, que passam em algumas das nossas televisões generalistas na compita pela estupidificação das audiências, que são tratadas como se não tivessem uma nesga de inteligência, ao serem bombardeadas com programas de indigência intelectual.

Sim, porque era possível passar às mesmas horas, até em formatos semelhantes, programas com outra qualidade, elevando cultural e socialmente as Pessoas. Sim, porque as “audiências” são formadas por Pessoas e não simples “bonecos desanimados”!

Mas esta conversa faz parte de outra história.

 

cartaz lanç. Cd - Casa Alentejo - 30-5-2015.PNG

Divulgação:

Este post tem precisamente a finalidade de divulgação de um acontecimento de alto mérito, por todos os enquadramentos em que se estrutura e realiza, ainda que possa passar desapercebido em termos de “grandes audiências”.

O “GRUPO CORAL AMIGOS do ALENTEJO do FEIJÓ” vai promover o lançamento do seu CD/DVD, “Alentejo e Almada de Mãos Dadas”.

Onde?!

Pois, na celebérrima “CASA do ALENTEJO” – Lisboa. Um monumento, de arte revivalista inspirada nas tradições mouriscas, só por si merecedor de uma visita. Para além dos petiscos, claro.

Haverá melhor local, mais paradigmático, para ouvir as belas melodias e modas do CANTE deste emblemático GRUPO da Diáspora Alentejana, precisamente num espaço, per si, cristalizador de todas as aspirações, sonhos, dos Alentejanos que a partir dos anos cinquenta/sessenta do século passado rumaram a Lisboa, na busca de melhores dias?! Sempre com a Saudade e a Nostalgia no peito...

Pois, então.

Visitem a Casa do Alentejo, ouçam o Cante e disfrutem do convívio dos “Amigos Alentejanos”!

casa alentejo agendalx.pt.jpg

Sobre esta temática, consulte também:

Crónica do Feijó: A Força do colectivo!

Almada será a capital do cante?

Unesco e Cante Alentejano

Lançamento de CD/DVD

 

 

 

 

 

Pastor em part - time

Introdução:

Tenho hesitado na divulgação deste texto. Poético?! Não sei, embora tenha essa pretensão.

“Inspirado” na leitura de Alberto Caeiro e na minha própria experiência pessoal, parafraseando precisamente o “Guardador de Rebanhos”. Simples pretensão!

Escrito nos finais da década de setenta, inédito, atrevo-me a divulgá-lo, cumprindo um dos propósitos por que abri este blog. Dar a conhecer textos por mim escritos, originais, na sua maior parte já publicados noutros contextos e agora também alguns que ainda não o foram, até ao momento, em suportes de papel.

Este texto, em versos sem rima e de métrica não estruturada, é a primeira versão deste tema.

Já na década de oitenta escrevi uma versão rimada, dada a conhecer no blog em 03/12/2014.

 Pastor a tempo parcial

Segue-se o texto.

 

 

“Eu nunca guardei rebanhos

Mas é como se os guardasse.”

Alberto Caeiro

 

PASTOR em part-time

 

‘ Guardei muita vez ovelhas

Mas é como se as não guardasse. ’

Estando junto a elas, no meio delas

Poucas vezes aí estava...

Com elas falava, falando sozinho

Gritava-lhes, estando calado

Ouvia-as, não as escutando.

Batia-lhes, fazendo festas

Acariciava-as, magoando.

Mandava-lhes o cão, que não ia

Ou ia sem o mandar.

 

Se lhes vedava o trigal

Era certo que lá estavam

E teimosamente insistiam.

Se um muro as separava do fruto

Quantas vezes não o galgavam!

Mal cheiravam uma figueira

Ei-las, em louca correria,

Na disputa do cobiçado troféu.

 

E fugia o rebanho todo…

Só os pequenos e fracos se atrasavam.

 

Pela água era a mesma coisa.

E muitas vezes morriam

Após barrigadas de figo ou embudo.

(São assim as ovelhas.

 Sempre em rebanho!)

 

Por vezes lutavam à cabeçada,

Duas a duas,

Os carneiros principalmente…

Troque, troque… troque

Embatiam os crâneos um contra o outro.

E recuavam…

Para ganharem impacto para novo combate.

Troque, troque, troque…

Até fazer sangue

Por entre os cornos.

E um se dar por vencido.

 

No Verão, mal o sol começa a aquecer

Pelas nove, dez horas

Lá vão elas, cabeça baixa…

Badalum, badalum, badalum…

Em fila indiana,

Pelo carreiro de todos os dias,

Para o acarro.

O sobreiro ou a azinheira de sempre.

 

Na Primavera, os campos cheios de erva

Dá gosto vê-las espalhadas pelas abrigadas

Pastando ao sol.

É um mar de ondas brancas, calmas

Por entre o verde da relva.

Os filhos dormitam,

Manchas mais brancas ainda,

Reflexos de luz em mar de palha.

Nesta época não há quem as tire da pastagem.

 

Era então…

Que o sol

O fascínio da luz e da cor

A sinfonia das rãs, dos grilos e aves

O perfume das mil e uma ervas

A confusão dos sentidos

Me afastavam do rebanho

Estando no meio dele.

 

O silvo dos comboios era o convite

À viagem.

O esvoaçar duma águia

O passaporte assinado.

 

O oriente e a serra

A miragem do azul e do mar

Eram o meu Destino.

 

E então, partia…

 

 

Escrito em 1979.

 

 

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