Há quem do Tejo só veja
o além porque é distância.
Mas quem de Além Tejo almeja
um sabor, uma fragrância,
estando aquém ou além verseja,
do Alentejo a substância.
Há quem do Tejo só veja
o além porque é distância.
Mas quem de Além Tejo almeja
um sabor, uma fragrância,
estando aquém ou além verseja,
do Alentejo a substância.
“Nós Somos um Poema” / “Língua – Vidas em Português”
“Augusto Boal e o Teatro do Oprimido”
INTRÓITO
Terminou no domingo, 26 de Julho, a 10ª Mostra do Cinema Brasileiro, no Auditório Fernando Lopes-Graça, no Fórum Romeu Correia – Almada.
Estão de parabéns os organizadores pois proporcionaram a oportunidade de visualização de excelentes filmes e documentários sobre temáticas atuais ou relativamente recentes, assistir a prestações/representações de grandes artistas, alguns de nomeada, mas também outros que me eram praticamente desconhecidos. Oportunidade de relembrar músicas e canções, algumas integrantes do imaginário coletivo, desde os anos sessenta e setenta do século passado. Presenciar autores, atores, cantores e compositores, músicos, escritores, dramaturgos, cidadãos anónimos que, de viva voz, ainda que alguns já possam estar ausentes, nos evidenciaram como viva está a Cultura que se exprime nas várias Línguas, cuja matriz de base é o Português.
Gosto de ver os elencos de todos os participantes nas obras apresentadas, até porque no final, enquanto passa o genérico, aproveito para usufruir da música e é extraordinário constatar a imensidão de gente que é necessária para produzir qualquer documentário ou filme!
E não posso deixar de frisar que o acesso a todos estes espetáculos foi livre!
Talvez alguns reparos.
Bem sei que já está toda a gente com ar de férias, mas alguns destes espetáculos talvez merecessem algum debate posterior, não sei… digo eu.
Independentemente do eventual ou hipotético debate, que até poderá ser considerado excessivo, porque o importante é, de facto, fruirmos dos espetáculos, contudo acho que poderiam fazer uma breve avaliação, através de um simples questionário facultativo, a ser apresentado aos espetadores, no final.
Do conjunto de obras que vi, categorizam-se em dois grupos.
- Os filmes: “Vendo ou Alugo”, “Divã”, “Os 12 Trabalhos”, “Tapete Vermelho”.
- Os documentários: “Nós Somos um Poema”, “Língua – Vidas em Português”, “Augusto Boal e o Teatro do Oprimido”.
Dos últimos filmes que vi, destaco o último, com que a Mostra fechou com chave de ouro!
Uma excelente comédia, de 2006, do realizador Luiz Alberto Pereira, cujos atores principais mal conhecia. Matheus Nachtergaele, no papel excecional de Quinzinho, cujo sonho é levar o filho a ver um filme de Mazzaropi (1912 – 1981), o “Carlinhos”/Charlot, brasileiro, num cinema de uma qualquer cidade do Estado de São Paulo, onde ele esteja passando… No cumprimento de uma promessa que fizera a seu pai, que também o levara a ver filmes desse cómico.
No objetivo de realizar esse sonho, deixa a sua rocinha, no interior sertanejo de São Paulo, arrastando a família: a mulher - Zulmira, o filho - Neco e o burro, Policarpo, quatro Jecas ingénuos, trasladados de um tempo remoto dos anos cinquenta, confrontando-se com as realidades de um Brasil em constante transformação, do início do século XXI.
Num mundo em que os seus sonhos têm um difícil cabimento, mas em que apesar de tudo ainda são suscetíveis de realização, usando precisamente as armas do mundo globalizado. Pois, no final, todos reveem, com alegria, os filmes do cómico, numa sala lotada de um cinema Pathé.
O filme é suscetível de múltiplas leituras.
Uma delas é a homenagem a esse astro do cinema brasileiro, cuja carreira se desenrolou precisamente a partir de 1959, até à sua morte, 1981.
Também o encararia, numa perspetiva de “realismo fantástico”. A mulher, Zulmira, mulher de poderes; as personagens episódicas, sugestionando o “Maléfico”.
Não poderei deixar de frisar, nesses curtos trechos do filme, a relação dessas crendices com as superstições portuguesas de igual teor. Os pés de cabra do demo, o seu esfumar-se, os supostamente poderes que ele daria a quem se deixasse por ele pertencer. A mamadeira da cobra…Tradições medievas, ainda e também há pouco tempo presentes na cultura popular do interior de Portugal.
As personagens também me lembram o universo felliniano. A sua ingenuidade, o seu calcorrear de saltimbancos anacrónicos em busca da realização de um sonho, o percorrer de um espaço e de um tempo, num mundo a que já não pertencem, mas em que procuram um lugar para materializar as suas aspirações, sem desistirem de sonhar.
A criança, na sua vitalidade e deslumbramento só me lembra Giulietta Masina.
E à realização do sonho de verem projetado o filme do seu ídolo e herói, segue-se o projeto de outro: cumprir a promessa à Senhora da Aparecida.
Nestes filmes, as músicas são algo de extraordinário!
Se tiver oportunidade, não deixe de assistir a este filme, num cinema perto de si! Ir-se-á divertir imenso!
Para além deste, os filmes, “Vendo ou Alugo” e “Divã”, também se integram no género comédia.
Com elencos de atores excecionais. (O que me custa escrever esta palavra sem o p!)
“Vendo ou Alugo”, de 2013, realização de Betse de Paula, relata as peripécias para a venda de uma mansão carioca antiga, junto da qual foi sendo construída uma favela, o que dificulta a respetiva transação.
Pertença de uma família de quatro mulheres, de quatro gerações, coabitando o mesmo espaço já um pouco decrépito, sem recursos suficientes para viverem segundo os seus antigos padrões de vida. Pelo que a avó sobrevive de expedientes, mais ou menos legais.
Contracenam nos correspondentes papéis familiares: Nathália Timberg, bisavó; Marieta Severo, avó; Sílvia Buarque, mãe e Beatriz Morgana, neta. E ainda, para além de outros atores, Marcos Palmeira, no papel de habitante e traficante da favela.
Há ainda o pastor, a empregada, o “coisa ruim”, as artistas do jogo da “canastra”…
História de múltiplas peripécias cheias de humor.
Imperdível de ver!
Só como nota final, gostaria de referir que alguns dos intervenientes neste filme têm também laços de parentesco na vida real.
“Divã, de 2009, do realizador José Alvarenga Jr, tem como atriz principal Lília Cabral, num soberbo desempenho, contracenando com José Mayer, para além de outros atores, também conhecidos das novelas.
É também uma excelente comédia de uma mulher de meia-idade, bem casada, bem vivida, aparentemente feliz consigo mesma e com a vida que leva, que de uma forma muitíssimo divertida e inteligente se (re)descobre a si mesma, através da psicanálise.
Cinco estrelas!
“Os 12 Trabalhos”
O título reporta-nos para o mito grego dos doze trabalhos de Hércules.
Porque o herói desta saga se chama de Héracles, papel principal desempenhado pelo jovem e promissor artista, Sidney Santiago e porque o seu trabalho de moto-boy na selva da cidade de São Paulo é um trabalho hercúleo dos tempos atuais.
Insere-se no género drama e mostra-nos como se desenrola a vida humana (humana?) na selva urbana desta metrópole brasileira e de como é crescer, fazer-se homem ou herói (?) da mitologia moderna.
E, este é um filme que também não deve perder, logo que esteja num cinema junto a você!
Ver filme em cinema não tem comparação com ver em TV e muito menos na internet.
É de 2007, realizado por Ricardo Elias.
Para além dos filmes resumidamente analisados, também projetaram os seguintes documentários:
“Nós Somos um Poema”
“Língua – Vidas em Português”
“Augusto Boal e o Teatro do Oprimido”.
Através deles muito perpassou do Brasil, de Portugal e de Países de Expressão Portuguesa.
“Nós Somos um Poema”, de 2007, é um pequeno documentário, mas extremamente rico de história da Música Popular Brasileira - MPB. Dos realizadores, Sergio Sbragia e Beth Formaggini.
Relata episódios da gravação do filme “Sol Sobre a Lama”, de 1963, de Alex Viany, incidindo sobre a parceria entre Pixinguinha e Vinicius de Moraes que compuseram a respetiva banda sonora, que ficara inédita.
Com imagens do próprio filme, gravações da época, por ex. a cantora Elza Soares a interpretar uma das modas num programa de rádio; para além de gravações atuais dessas canções, por netos dos referidos parceiros da MPB. E relatos de figuras significativas sobre esse trabalho desses dois génios da Música.
“Língua – Vidas em Português”, do realizador Victor Lopes,de 2002.
Um extraordinário documentário sobre a Língua Portuguesa. Ou melhor, parafraseando Saramago, é sobre as Línguas que se expressam em Português.
Não direi que é um documentário completo e exaustivo. E será isso possível, dada a riqueza da nossa Língua e a sua dispersão e difusão pelo Mundo, numa escala global?
Mas documenta, significativamente, como as Línguas que se expressam em Português se disseminam pelos vários Continentes e documenta-nos novidades completamente desconhecidas.
Ignorava de todo que, no Japão, houvesse para cima de cem mil pessoas que falam o Português. Migrantes de torna viagem, provenientes do Brasil.
Apresenta depoimentos de escritores e artistas, Mia Couto, João Ubaldo Ribeiro, Martinho da Vila, José Saramago, para além de cidadãos comuns que fazem as suas vidas expressando-se nesta Língua centenária, mas em constante transformação.
Na Índia, em Moçambique, no Japão, no Brasil, em Portugal…
Aqui, no Continente, não só o depoimento dos autóctones, mas também de imigrantes de Países das Comunidades de Língua Portuguesa, sediados ou em trânsito pela “Capital do Reino”, expressão antiga e desatualizada, mas que traduz a caraterística de Lisboa como cidade de acolhimento, desde a época dos Descobrimentos.
Significativa a opinação de Saramago, prestada com imagens de Lisboa em fundo…
E em que local foram feitas as filmagens?!
Pois, precisamente. Em Almada. No Cais do Ginjal!
Este é um filme documentário, é um registo histórico-social que não direi completo.
Precisa de documentar outros registos espaciais de expressão do Português, por ex. nos países de emigração de portugueses: na Europa, nas Américas, na África.
Também em Timor-Leste. Também em São Tomé…
Documentar também outros contextos sociais de expressão da Língua e das Vidas em Português.
Mas acho que é um recurso ótimo em salas de aula, nas Escolas, e não só em Portugal.
Oxalá! Titulo da canção de Teresa Salgueiro e dos “Madre de Deus”.
- “Augusto Boal e o Teatro do Oprimido”,2010, do realizador Zelito Viana.
Outro documentário histórico e social, imperdível sobre este modelo de Teatro e o seu criador e continuadores. As suas várias facetas intervencionistas, os seus espaços, tempos e modos de atuação cultural à escala global.
A sua ação político-social em contextos diversificados, no Brasil, em Países da América, da Europa, da África, da Ásia.
Com depoimentos do próprio Augusto Boal e familiares seus, de artistas como Edu Lobo e Chico Buarque e de outros intervenientes e seguidores, para além de excertos de dramatizações efetuadas por grupos que agem e interagem segundo este modelo de Teatro, pelos mais diversos locais do Mundo.
Todos estes documentários e filmes são de alto valor, tanto no plano artístico como documental, no conteúdo e forma como expressam estéticas e éticas das diferentes épocas, desde a segunda metade do século XX.
E que transcendem, em muito, o Brasil, pois neles se espelham também outras expressões culturais, com especial relevância as de matriz portuguesa e sul-americana.
Iniciou-se, anteontem, dia 22 de Julho 4ª feira, a 10ª Mostra de Cinema Brasileiro, no Auditório Fernando Lopes-Graça, no Fórum Romeu Correia, Almada.
Comemorando cem anos do cinema desse País.
Ainda bem que a série em transmissão na RTP2 não faz parte dos meus gostos, pois deste modo posso seguir esta Mostra, sem remorso de estar a perder alguma série que me interesse.
Na inauguração, foi projetado o filme: “Getúlio”, de 2014, do realizador João Jardim. Estrelando no protagonista, o astro das novelas brasileiras, Tony Ramos, desempenhando o papel do Presidente da República Brasileira, Getúlio Vargas. Praticamente como única personagem feminina, a artista Drica Moraes, no papel da filha do presidente, Alzira Vargas, e seu braço direito na presidência. Não resisto a referir que esta artista, não sendo habitualmente protagonista, é uma das minhas preferidas desde os tempos de Márcia, na novela “Chocolate com Pimenta”.
Vários outros artistas, nossos conhecidos das novelas, participam no elenco. E não se consegue deixar de, ao vê-los transfigurados, tentarmo-nos lembrar de onde, quando e de que novela… Também dois portugueses, Fernando Luís e José Raposo, pois o filme resulta duma co-produção.
A ação decorre num curto período de tempo, concretamente no mês de Agosto de 1954, desde o atentado ao jornalista da oposição, Carlos Lacerda, a cinco, em que morreu o seu guarda-costas, o major de Aeronáutica, Rubens Vaz; até ao suicídio de Getúlio, em vinte e quatro desse mês, quase há sessenta e um anos.
O espaço em que decorre a ação é a cidade do Rio de Janeiro, a capital brasileira na época. Brasília só seria inaugurada em 1960, por Kubitschek. E, a quase totalidade do enredo, desenrola-se no Palácio do Catete, sede da presidência.
Na sequência do atentado e num contexto político, em que o passado ditatorial do Presidente e dos métodos por ele usados são considerados charneira do seu modus operandi epocal, 1954, é este acusado como mandante do crime.
Lembramos que Getúlio Vargas exerceu a Presidência, de 1930 a 1945 e de 1951 a 1954.
Fui ver o filme não conhecendo praticamente nada da vida do protagonista, nem isso é necessário para a compreensão do mesmo, mas depois consultei e fica-se a perceber melhor o enquadramento.
Para quem quiser conhecer a trajetória de Getúlio, consultar:
Na sequência do atentado, um cerco se vai apertando à volta do Presidente que, diretamente não teve nada a ver com o assunto nem tinha consciência do mesmo, como ele referiu ignorava “estar sentado num poço de lama”. Mas, para todos os efeitos, a ordem para matar partiu de elementos da sua guarda pessoal de há dezenas de anos, sediados no próprio Palácio da Presidência.
Os apelos, os protestos, a pressão para que renunciasse ao cargo eram cada vez mais fortes e abrangendo setores sempre mais diversificados. A oposição parlamentar, os meios de comunicação: a imprensa e a rádio. A opinião pública, as classes detentoras do poder, as forças militares.
A Força Aérea Brasileira esteve desde o início no processo de investigação ao atentado e morte de um dos seus majores e os mandantes e autores foram sendo identificados e investigações foram realizadas no próprio Palácio.
O Presidente não estava diretamente implicado, mas era sobre ele que recaía o ónus do crime. E era sobre ele que incidia a pressão para renunciar, até entre elementos e chefias no próprio Governo.
E perante essas pressões externas ao indivíduo, presidente, homem, ser humano, Getúlio e a sua própria consciência, numa roda-viva alucinatória… as imagens dos candelabros do teto rodopiando são uma metáfora do que se passaria na sua cabeça… vai este delineando, tomando uma decisão, que, de algum modo, também dá a conhecer aos que o rodeiam.
Porque, renunciar não estava absolutamente nada nos seus planos.
O medo, o horror de ser preso e vilipendiado, conforme era atormentado nos seus pesadelos…
E, assim foi construindo a sua decisão sobre que deixou carta manuscrita:
“Deixo à sanha de meus inimigos, o legado da minha morte. (…)
Velho e cansado, preferi ir prestar contas ao Senhor…”
E na carta dactilografada: “Saio da vida para entrar na história.”
Decisão que executará na manhã do dia 24 de Agosto de 1954, tendo o seu suicídio um grande impacto em todo o Brasil, nomeadamente entre as classes mais pobres e trabalhadoras. Era considerado o “pai dos pobres”, embora os seus detratores também lhe chamassem o “pai dos ricos”…
E, no final, no filme são apresentadas imagens reais da época em que o “povão” vai passando aos ombros o féretro até ao avião…
Em que, posteriormente, seria levado para a sua terra natal, São Borja, no Rio Grande do Sul, onde seria sepultado.
E, estes são alguns comentários breves que posso tecer sobre este filme também com algum carácter documental.
No final da sessão foram os espetadores surpreendidos com uma agradável surpresa!
No hall do Fórum Romeu Correia dispunham de um simples mas refinado beberete, com algumas iguarias doces e salgadas, de que se serviram os presentes.
Gostaria de saber a respetiva origem, mas foi algo que ainda não consegui esclarecer.
Ontem voltei ao cinema.
Passou o filme “Trabalhar Cansa”, de Juliana Rojas e Marco Dutra. Sem estrelas conhecidas no elenco.
Os temas versam a atualidade: a vida de um casal quase nos quarenta, cuja mulher lança um negócio, mercearia de bairro, ramo que, em Portugal, com tantas grandes e médias superfícies, dificilmente daria… O marido, recentemente desempregado, numa procura desalentada de emprego, entre os gurus das novas modernidades e marketings enganosos…
Mas, estranhamente, perpassava em toda a narrativa algo de misterioso, de inexplicável, talvez fantasmagórico, que se situava no local das vendas, na mercearia…
E eu que não aprecio o género…
Mas sentia-se a presença de algo indefinível, real ou irreal, a que o ladrar sistemático de um cão, à noite, quando fechavam a loja, apelava… E para o que os acontecimentos no edifício iam encaminhando o enredo.
E, o que seria?!
Bem, peço desculpa, mas só vendo mesmo o filme. Que a crónica já vai longa…
Diz o ditado que se volta sempre ao local do crime. Ou ao local em que fomos felizes…
Ou, o bom filho à casa torna…
Na RTP2, após as excelentes séries que foram sendo transmitidas, baseadas em temáticas europeias…
Após Gomorra, de que não vi o derradeiro episódio, presumo que a família Savastano, como que terá ressuscitado. Exceto Imacolata, claro…
No final do penúltimo episódio, Gennaro, que aparentemente ficara morto, começou a mexer os dedos.
O pai, Pietro, que na prisão de alta segurança já parecia um morto vivo, um velho de chinelos a aguardar a morte num asilo, quando foi transferido, num golpe combinado para a sua libertação, transfigurou-se, ganhou vida e pareceu voltar aos velhos tempos.
Terá sido assim?! Terão os Savastano tomado conta dos negócios?!
Negócios?!
Não sei. Não vi o último episódio, só posso imaginar.
E não vou ver na internet, há certamente esse recurso disponível, mas recuso-me a pesquisar. Prefiro imaginar como se terá processado o hipotético desenlace final…
Terá ficado tudo em aberto como noutras séries?!
Na finalização desta série, repetiram a mini, designada Anna Karenina, baseada no livro homónimo de Leão Tolstoi.
Apenas revi o 1º episódio, já vira os episódios na 1ª transmissão, e também não tinha muita paciência para rever aquela atração fatal, daqueles amores românticos contrariados e vilipendiados socialmente, numa época em que casamentos eram supostamente eternos, adultérios repudiados.
E aquele puxar para o destino final e fatal da heroína que se suicida debaixo do comboio, símbolo máximo do progresso, à época.
(Lembremos que a ação ocorre em 1870, segunda metade do séc. XIX, na Rússia czarista, e na Germania, durante a guerra franco – prussiana, ainda antes do nascimento da Alemanha enquanto Estado unificado, sob a égide da Prússia vitoriosa, em 1871.
Unificado?! A História parece repetir-se? Não? Sim?
Em 1990, foi a reunificação, esclareça-se a questão do prefixo. Sendo que o prefixo foram duas Grandes Guerras Mundiais: a I e a II! Para além da chamada “Guerra Fria”.)
Depois desta mini, série, iniciaram outra também italiana, baseada nas 1001 Noites, de que vi também apenas parte do 1º episódio, pois a minha TV prega-me destas partidas. Começa a transfigurar as imagens, que se desfazem como se fossem elementos pictóricos de uma tela impressionista, desvanecendo-se gradual mas eficazmente, ficando apenas as cores, arco-íris desfeito, até que desaparece na totalidade qualquer cor, qualquer imagem. Resta apenas escrito um recado: sem sinal!
E deste modo não vi sequer esse 1º episódio completo em que a bela Sherazade contava as suas estórias dos seus amores com Aladino, como forma de escapar à morte anunciada pelo seu carrasco, o próprio Aladino disfarçado? Bem, não sei, como querem que saiba se depois não tive mais oportunidade de ver TV?!
Certo, certo, é que em cada fatura da EDP, lá vem um montante da taxa do audiovisual.
Até já escrevi, melhor, enviei um mail, para o Provedor do telespetador… a referir que pago a taxa e, de vez em quando, estou impedido de ver TV. E, como eu, estão milhares de telespetadores por esse país fora, que eu sei que estão!
Bem, mas nós nesta croniqueta, estamos a falar de ficção e não da realidade.
Seguidamente, na semana passada, a RTP2 apresentou dois excelentes filmes documentários da N.G.C., sobre os assassinatos de dois presidentes americanos: Lincoln e JFK. De realizadores de referência e também com excelentes atores.
“Killing Lincoln”, com narração de Tom Hanks e “Killing Kennedy”, em que o ator principal é Rob Lowe.
Vi apenas o segundo. Não vi o primeiro, mas não foi devido à TV. Não vi, porque não pude, por outras razões.
Nesta semana, na 2ª feira dia 20 de Julho, iniciaram um documentário “Mares e Oceanos”, de 2008, da TV Valenciana. Também muito interessante, é um género de temas que muito me agradam, mas de que já se têm visto muitos programas diversificados, em diferentes canais, desde os tempos de J. Cousteau.
E eu pensando que não haveria mais séries, quando me surpreendem com um “Coração das Trevas”, “Heartless”, embora ache que a série seja originária de um país nórdico, pela língua que ouvi no pouco tempo que tive paciência para seguir algumas cenas. Não percebi bem de qual, pois decididamente este género não faz a minha onda.
Temas em que o enredo supostamente se desenrole à volta de almas do outro mundo, vampiros, mortos vivos, zombies, bruxarias, fantasmagorias diversas, e afins, não são a minha praia. Não aprecio, não gosto, não vejo!
Gosto de ver filmes, embora consciente de que estou a ver ficção, mas em que há um substrato de realidade. Se as narrativas se baseiam ou documentam casos reais, embora ficcionando como sempre acontece num filme, então tanto melhor! Por isso é que apreciei especialmente as séries que têm vindo a ser transmitidas.
Desde que, por acaso, comecei a ver Borgen. E que me prendeu ao écran, a ponto de, sempre que me é possível, continuar a rever os episódios que estão a ser repetidos aos domingos, pelas 22h.
E, no domingo passado, dezanove de Julho, ocorreu um dos episódios que mais me tocaram. Aquele em que os media invadiram vergonhosamente o espaço completamente privado e mais sagrado a que qualquer cidadão, ainda que desempenhando cargos públicos, tem direito. A vida da filha da protagonista. Que foi exposta no seu lado mais frágil, já que a adolescente está em sofrimento, tratando-se de doença psiquiátrica e foi exposta da forma e do modo como as cenas mostraram. Regredindo no tratamento e com todas as consequências que se seguiram.
No desenlace do episódio, a protagonista conseguiu encontrar uma solução feliz. Interromper temporariamente as suas funções políticas, para se dedicar ao tratamento da filha.
Solução original e moderna, provavelmente só possível em Democracias avançadas. Mas precursora de hipotéticos casos a eventualmente acontecerem no futuro.
Aliás, para quem não possa valorizar o poder dos media em influenciar os comportamentos dos cidadãos, refira-se que a Dinamarca teve, pela primeira vez, uma mulher como Primeiro-Ministro, após esta série de grande êxito. Coincidências?!
E fazendo um pouco de cusquice, termo comum das duas jornalistas louras, só louras… do elenco, esta Primeiro-Ministro é a célebre dita cuja, que tanto furor causou nas redes sociais, no decurso das cerimónias do funeral do aclamado Nélson Mandela, por causa do celebérrimo Presidente Obama! Que até a querida Michelle ficou incomodada!
Sobre o papel imprescindível em Democracia, mas por vezes perigoso, da Comunicação Social, o 4º Poder, será um tema que iremos sempre abordando, direta ou indiretamente, nestas postagens.
Ainda a propósito da separação entre o privado e o público das figuras públicas e das eventuais ou reais consequências do que os media veiculam sobre as mesmas, principalmente quando elas estão fragilizadas, ainda hoje, precisamente, as redes noticiam um acontecimento ocorrido com uma figura pública nacional a que não terá sido alheia essa situação…
E já que pegamos em canais televisivos…
Muitas vezes me questiono para que nos serve termos dois canais privados que se copiam, por vezes mal e… Transmitindo programas indigentes, do mesmo tipo, à mesma hora, cronometrados até na publicidade enganosa, nas vergonhosas chamadas de valor acrescentado para encherem o bolso das operadoras de telecomunicações, com novelas que até no nome se repetem… E baseando-me no que também foi veiculado recentemente, agora até vão programar a realização de duas novelas ao mesmo tempo, no mesmo espaço geográfico?!
Falta de imaginação, diga-se, pese embora o cenário seja amplamente merecedor, é certo!
Mas é este o País que temos!
E terminamos a crónica que, como sempre, é longa de mais.
Obrigado, a quem tenha paciência para me ler até ao fim!
E, aproveito e peço desculpa pelo abuso, mas publicito também o que é meu!
Até porque já temos saudades da nossa querida capitã Laure Berthaud e dos seus Mosqueteiros! E temos tantas perguntas para lhes fazer... Mas ficam para outra ocasião.
Bem, volto à escrita no blogue. Parece que, finalmente, desatei o nó que enleava o processo criativo.
E continuamos, como se entre este e o último post não nos separassem nove dias. Dias em que a materialização do que escrever se bloqueava, apesar de saber o que queria e quero transmitir. Mas passar ao ato, à concretização do que idealizava, é que não acontecia. Adiava. Seria amanhã, sempre amanhã! Que chegou hoje!
No texto anterior falei no Solar dos Zagallos e de Almada. E de como é uma Cidade de Cultura e Arte.
Pois aí continuamos.
A imagem apresentada é a digitalização de um postal comemorativo do “25 de Abril de 1998”. Faz parte de um conjunto de postais que a Câmara costuma enviar aos munícipes, como aliás muitas outras entidades autárquicas fazem, evocando essa Data, o Natal, O “Dia Internacional da Mulher”, etc. Costumo colecioná-los.
Este documenta um monumento situado a oeste da Av. Bento Gonçalves, na zona da Ramalha, perto da linha do Metro, onde se entroncam as duas linhas. Estrutura simbolicamente duas mãos entrelaçadas e é de ferro, como vários outros espalhados pela cidade. Autoria: Mestre José Aurélio. Simboliza e evoca o Trabalho!
Como este, vários outros existem sob a forma de “Arte Pública”, localizados nas diversas freguesias da Cidade. São uma forma de fazer chegar a Arte aos cidadãos que dela assim podem usufruir gratuita e livremente. Diremos que materializam um certo ideal estético, é verdade, uma determinada iconografia, até uma certa ideologia. Uma determinada idealização e práxis do exercício do Poder e da Cidadania, dirigidos às Pessoas, aos Cidadãos que assim se educam, ou se pretendem educar, no contacto e com o conhecimento da Arte.
Continuando a linha do discurso e narrativa do post anterior, falemos dos eventos culturais recentes.
No dia 18 de Julho, sábado, encerrou o 32º Festival de Teatro de Almada. Entre os diversos espetáculos, destacamos “BG, Programa de homenagem ao Ballet Gulbenkian”, no Teatro Municipal Joaquim Benite.
No dia 19, domingo, pelas 17h, na sala de espetáculos do Fórum Romeu Correia, Auditório Fernando Lopes-Graça, houve música. A “Casa do Fado”, na voz de Elsa Casanova, fadista; acompanhada em viola de fado por André Santos e guitarra portuguesa, por Hugo Edgar.
E amanhã, 4ª feira, 22 de Julho, inicia-se, também no Fórum Romeu Correia, a 10ª Mostra de Cinema Brasileiro. Entrada Livre!
E tenho dito, em abono do que explanei neste e no post anterior sobre Cidade, Cultura e Cidadania. Serão temas a que voltaremos e que se enquadram nos objetivos deste blogue!
E como não tenho que publicitar só o Trabalho dos Outros, até porque ninguém me paga, contrariamente ao que por aí se publica, divulga e promove...
"Publicito", entre aspas, também o que é meu, relacionando com a imagem apresentada!
Almada é uma Cidade com uma vida cultural excecional e dotada de variados equipamentos para diversificados fins ou para esse fim adaptados.
Com diversos eventos, distribuídos ao longo do ano, por diferentes locais da cidade, desde o desporto, de variadas modalidades, ao cinema e teatro, à música, literatura, poesia, ciência, festivais, empreendedorismo, recreação, lazer, artes plásticas, dança…
É uma verdadeira Cidade, no sentido global do termo, com vida própria. Com eventos que se expandem nomeadamente à cidade de Lisboa, de que era subsidiária até há alguns anos, mas que, agora, vem à Cidade de Almada, ao teatro, aos concertos de música, aos acontecimentos desportivos, para além da catedral do consumo, o Fórum Almada, que até fica no Feijó!
E ainda a insubstituível Costa da Caparica… que, agora, também já não é só e apenas praia. E que praia!
Para esta dotação de equipamentos, funcionalidades, acontecimentos, teve um papel decisivo a ação dos Executivos Camarários, nestes últimos quarenta anos. Registe-se, de inteira justiça!
Num outro plano, o da riqueza paisagística, Almada também é inultrapassável.
Limitada a oeste pelo mar, tem na frente atlântica, da Cova do Vapor à Fonte da Telha, praias ideais, um mar que é um forte atrativo ao banho, ao desporto, ao usufruto da água, fria, mas sempre apetecível.
E a arriba fóssil, monumento natural, impagável, um legado de milhões de anos, muito antes de qualquer sinal de humanidade.
A norte e leste delimita-a o Estuário do Tejo. Per si, também um monumento! Natural!
E quem nunca visitou o Cristo-Rei ou, pelo menos, atravessou a Ponte sobre o Tejo? Ou fez a travessia de barco num cacilheiro, Cais do Sodré – Cacilhas ou no sentido contrário?!
Quem já o fez sabe do que falo, da beleza inigualável destes espaços de paisagens naturais, mas também amplamente urbanizadas pela intervenção humana. Mas que no seu todo constituem um quadro artístico, num enquadramento e simbiose natureza – humanidade / urbanidade esteticamente inimitável!
Vários outros espaços culturais, para além dos mencionados, permitem usufruir desta beleza estética, além de acontecimentos de cultura diversificada. Mencionaria, por ex., o Convento dos Capuchos, a Casa da Cerca, o Convento de S. Paulo / Seminário, …
E muitos outros equipamentos, pelas várias freguesias, as Bibliotecas, os Pavilhões Gimno Desportivos, as Sociedades de Cultura e Recreio, os Grupos Recreativos e Desportivos por todo o concelho, as próprias sedes das Juntas de Freguesia, Cafés, em todos eles se promovem e realizam atividades culturais, ao longo de todo o ano.
Para além da Arte enquadrada em vários locais, materializada em esculturas, em espaços emblemáticos.
E… E não posso esquecer, neste breve apontamento, o Parque da Paz!
E até existe divulgação padronizada, estruturada na A – Agenda – Almada, editada mensalmente pela Câmara, no modelo atual, Nº 153, Jul./Ago. 2015, de distribuição gratuita.
Bem, mas o texto já vai longo, muito ainda fica por referir, de bem, mas também algumas coisas de menos bem, que ficam para outra ocasião.
De entre os espaços que referi e os que não mencionei, hoje, quero falar brevemente de um local emblemático da Cidade, localizado na Sobreda: o Solar dos Zagallos.
Enquadra-se nas premissas referidas.
Foi adquirido pela Câmara Municipal de Almada, em 1982, recuperado, remodelado e restaurado.
Está aberto ao público e periodicamente nele são organizados eventos culturais. Que me lembre, pelo menos, no Natal e no Verão, nas Festas da Cidade, no final de Junho.
Foi precisamente no dia 27 de Junho, sábado, que o visitámos, já no final de um dia quentíssimo.
Visita que foi documentada pelas fotos apresentadas, da autoria de D.A.P.L.
Deambulámos pelos jardins, lindíssimos e frescos, ainda assistimos a um concerto de piano e voz.
Visitámos várias salas e salões do edifício, uma casa apalaçada do século XVIII, com elementos artísticos barrocos, rococó, neoclássicos de influência pombalina e modernistas.
Merece uma visita mais demorada e com mais detalhe que ficará para outra oportunidade. De preferência e também, num dia de festa.
Nele, entre outros aspetos de interesse, figura uma exposição de olaria tradicional portuguesa, com peças artísticas e utilitárias, desde o Norte, Barcelos; até Alentejo, Nisa, Estremoz, entre outras regiões do País.
Azulejos das épocas referidas.
Esta linda capela toda forrada nessa nobre e sublime arte centenária, tão grata aos portugueses.
E sinais da “Festa do Solar”, este ano subordinada à temática dos célebres “Anos Vinte”, do século XX!
E os jardins convidativos ao passeio calmo e sossegado e uma alternativa mesmo à praia, para quem quiser relaxar, evitar a demasiado exposição solar, em tardes de maior calor e bulício da época estival.
Fotos originais de D.A.P.L.
Para quem pretenda aprofundar mais a história do Solar ou preparar uma Visita, anexo sites consultados.
Na passada 6ª feira, dia 3 de Julho, ocorreu um evento mediático, com divulgação em direto em dois canais generalistas de televisão, sobre o qual tenho vindo a hesitar se haveria ou não de publicar um post sobre o mesmo.
Várias ideias sobre o assunto, ao longo dos vários dias, mas protelando sempre o início da escrita.
Finalmente, ontem, tarde e a más horas, comecei a passar a texto algumas das ideias.
Decididamente, escrever num blogue é algo que, para mim, está a ser surpreendente.
Comecei com determinados propósitos que defini mentalmente como princípios para minha própria orientação. Princípios esses que se mantêm bem como as correspondentes estratégias de ação, mas há realidades que se vão sobrepondo, de modo que algumas das atividades que planeava executar têm sido um pouco relegadas para um plano mais secundário.
Outras temáticas têm prevalecido. Assuntos sobre os quais não projetara qualquer escrita, vão surgindo, mercê da interação que se estabelece neste mundo virtual, neste campo comunicacional.
Temas sobre que à partida definira para mim mesmo não escrever, tornam-se apetecíveis de comentar. Está neste caso a política. Decidira, à priori, que não me debruçaria sobre a política no sentido imediato do termo: “política tout court”. Porque acharia não ser essa a minha praia, haver tanta gente a fazê-lo, a saber como fazê-lo e a poder fazê-lo bem, tendo também as costas quentes para tal!
Também tem sido um espaço de aprendizagem.
Eu, para todos os efeitos e neste mundo dos blogues, sou perfeitamente um aprendiz e um outsider. E na comunicação ainda e muito mais.
Até no timing daquilo que escrevo. Sim, porque escrever sobre um evento ocorrido há oito dias é uma eternidade! Num mundo tão célere em termos de acontecimentos, com a rapidez e fluidez com que tudo acontece e desacontece, com tantas coisas e loisas a todo o momento na net, qualquer novidade sobre que se escreve perde rapidamente atualidade e sentido. E não é este precisamente o meu propósito! Gosto que haja algum sentido lógico naquilo que escrevo, não me limitar ao sensorial apenas, o que os olhos vêem e os ouvidos ouvem, mas que haja algo mais que o sentir, também o pensar sobre.
Daí que também o que escrevo tenha muitas vezes demasiada extensão para o contexto em que se insere.
Mas também se não fizesse assim, se não procedesse deste modo seria outra pessoa que não eu!
… ... ...
O assunto sobre o qual pretendo “postar” e que tenho vindo a hesitar, trata da trasladação de Eusébio, do Cemitério do Lumiar para o Panteão, em Alfama.
Não está em causa o mérito da pessoa em causa. Foi jogador emérito, futebolista insigne, astro rei na constelação de um naipe de jogadores excecionais, que brilharam nos anos sessenta do século XX, estrela da equipa dos “Magriços”, nome identitário de um Portugal à época repartido por cinco continentes e categorizado pela trilogia dos efes: Fado, Futebol e Fátima.
Eusébio foi uma bandeira que elevou o nome de Portugal, nesse tempo, nem sempre bem visto em vários fóruns internacionais. Consagrando-se como porta-estandarte de um País, pelos seus méritos e feitos no mundo futebolístico, uma estrela cintilante desse mundo desportivo, sem nunca ter assumido qualquer estatuto de vedeta, hoje tão intrínseco em qualquer profissional do ramo, sendo que nele o mais característico era precisamente a sua proverbial humildade.
Homenagear Eusébio, reconhecer o seu valor enquanto profissional de gabarito excecional é pois um ato normalmente aceite por qualquer cidadão português. Uma opinião unanimemente partilhada.
(Quem não chorou ou se emocionou com ele, quando ele chorou, no final daquele fatídico Inglaterra – Portugal, de 1966?!)
Mudar o seu corpo dum cemitério vulgar, onde repousam os restos mortais da maioria dos cidadãos, para um local onde estão depositados os que mais engrandeceram a Pátria, o Panteão, também se apresenta como uma ação perfeitamente integrada na normalidade. Ainda mais, Hoje, em que os deuses que povoam o panteão da atualidade são precisamente os do mundo do futebol, um verdadeiro Olimpo.
Então, porque será que sintoque esse ato pretensamente solene, a que compareceram representantes de todos os quadrantes, encerra em si mesmo uma grande encenação política e mediática?!
Haveria necessidade de andar a transportar o corpo, assim, daquele modo e daquela maneira, por uma Lisboa inteira, e ainda dar conhecimento em direto, com todos os pormenores possíveis, em duas televisões a todo o País?! Como se não fosse bem mais racional estruturar um trajeto direto entre os dois locais, com recurso a meios logísticos também usuais, sem aquele pretenso aparato e magnificência?! E nos locais próprios concretizar as cerimónias devidas, sem exageros barrocos e bacocos!
Supondo que fosse possível questionar a pessoa em causa, em vida, sobre o que o próprio acharia sobre o facto, o que acham que responderia?!
… … …
Pois!...
Mas é este o país que temos. Nem mais nem menos. Agora e, cada vez mais, um país de efes, agora já não e apenas identidade específica de um regime, como era considerado há quarenta anos, mas, pelo que vemos e ouvimos, matriz identitária de um País, de um Estado, de uma Nação!
A saga das séries europeias continua na RTP2. E ainda bem!
Depois de séries dinamarquesas, francesas e uma espanhola, chegou a vez de uma série do país transalpino.
De nome sugestivo: Gomorra.
Remetendo-nos, pelo título, simultaneamente para dois registos trágicos.
Aparentemente para o episódio bíblico de Génesis 19, embora com um cariz diferente. Provavelmente reportando-se para a subjacente noção de castigo e expiação, face aos incomensuráveis crimes relatados no livro, no filme e, agora também na série, numa sociedade, aparentemente, sem remissão possível. Inevitável esse castigo? Improvável?! Implacável?!
“Então o Senhor fez chover enxofre e fogo do Senhor, desde os céus…”
In Génesis, 19, 24.
Prioritariamente para a sua analogia com o conceito, o modus vivendi, que de facto retrata e descreve: Camorra. Mas que não terá sido conveniente explicitar tão claramente no título da obra.
A série baseia-se no enredo do livro com o mesmo título, escrito por Roberto Saviano, em 2006. Que é uma “viagem ao império económico e ao sonho de domínio da máfia napolitana” - Camorra, onde o escritor se infiltrou como jornalista. Livro que foi vencedor do Prémio Viarregio.
E por cuja publicação foi o escritor perseguido e ameaçado de morte, tal qual Salman Rushdie. Vive em parte incerta, oculto e com escolta policial permanente.
Porque no livro chamou as coisas pelos nomes, designando os intervenientes e os locais de ação e denunciou a situação vivida especialmente no sul de Itália, mas com braços em toda a Península e tentáculos pelo mundo fora.
Apesar de no título do livro não figurar o nome exato da entidade retratada, o respetivo conteúdo explicita-o totalmente. Daí a perseguição de que o escritor ainda é alvo. A subsequente mediatização do livro, do filme e agora da série, apesar do seu sucesso, não abrandaram essa perseguição. O autor continua “jurado de morte” pela máfia napolitana, protegido por sete guarda-costas em dois carros blindados. Recentissimamente cancelou viagem ao Brasil, por não considerar ser segura essa ida.
Deste livro já fora produzido um filme com a mesma designação, em 2008, realizado por Matteo Garrone. Com vários prémios: David di Donatello, melhor filme; Satellite Awards; prémio da crítica, em Cannes.
Posteriormente o seriado, agora a passar na RTP2, na habitual 22ª hora.
“…
Íamos a caminho do Vesúvio. De súbito, surgem os vulcões com cores escuras. O Vesúvio é verde. Observando-o de longe, parece um manto infinito de musgo…”
In pag. 43, do livro citado.
“ …
E o monstro adormecido por longos anos, subitamente vomitou enxofre, expeliu terra ardente, línguas de fogo… Vociferou hiroshimas do futuro…
E do cume escorreu lava ardente pelas encostas, até ao vale. E nos céus subiu uma nuvem mortal de fumo, de pedras-pomes e cinzas incandescentes, que rapidamente se espalharam pelas planícies circundantes. Assentaram nas cidades e taparam com um manto de toneladas de um pó acre, ardente e venenoso, todas as vidas em redor.
E gases raivosos brotaram das faldas da montanha, que como que sucumbiu aos estrondos das explosões de bombas de napalm e hidrogénio, sobre a planura estendida até ao mar.
E um calor abrasador, de milhões de fogos, ardeu e queimou todo o ser vivente à sua volta.
E Pompeia e Herculano, e quantos nelas moravam, homens e animais, ficaram soterrados nos escombros dos tetos abatidos entre as paredes. E ficaram dormindo, eternamente, o sono dos justos. (…) ”
Excerto de texto apócrifo, atribuível hipoteticamente a algum dos Plínios, o Moço ou o Velho.
Mas que tem tudo isto a ver com o enredo da série?!
Pois, se puderem e quiserem fazer o favor, passe a publicidade, vejam-na!
Avaliem o nível de desumanidade de todas aquelas personagens principais. Personagens?
Leiam o livro e poderão aprofundar e ter ainda outra perspetiva mais assombrosa do respetivo enredo e conteúdo.
E porque temos estado a “postar” sobre atividades campestres, ainda que em meio urbano, vamos apresentar alguns aspetos peculiares e extremamente interessantes sobre algumas paisagens rurais de Aldeia da Mata.
Esta localidade do Norte Alentejano tem alguns monumentos e paisagens que merecem ser devidamente valorizados. As pessoas conhecedoras atribuir-lhes-ão o devido valor, mas muita gente não conhecerá…
Alguns monumentos serão mais destacáveis, nomeadamente dado o seu simbolismo e antiguidade, outros mais singelos e modestos, sem deixarem de ser interessantes. Uns serão mais significativos, no contexto atual, outros tê-lo-ão sido em tempos imemoriais.
De todos, num enquadramento cultural mais vasto, espacial e temporalmente, o mais significativo, também porque de maior antiguidade, será talvez a Anta do Tapadão.
A Igreja Matriz, num enquadramento cultural diverso e mais recente e, de entre os monumentos ainda em funcionamento, face aos objetivos para que foi fundada, também se destaca.
Todos estes aspetos se relativizam face ao contexto em que se inserem, no espaço e tempo próprios. Não se pretendem comparações com outros objetos de análise, de outras aldeias, vilas ou cidades. Falamos do que temos e como temos, tão somente!
De entre os monumentos que temos e também dos lugares e paisagens em que nos enquadramos, alguns são deveras interessantes.
Mais ou menos modestas, sem deixarem de ter interesse e valor, destacaria, por ex., o conjunto de fontes, de que algumas cumprem cabalmente a sua função debitando água agradável e fresca, todo o ano. Mesmo nos verões mais quentes e secos. Este ano não sei… Choveu quase nada!
Destas fontes uma se destaca entre todas. Primeiramente pela sua função primordial: a água. Será, indubitavelmente, a melhor água de entre a das diversas fontes.
Também é dotada de alguma relativa monumentalidade, na sua singeleza, de obra popular. Possui um evidente enquadramento paisagístico que a valoriza, de fráguas alcantiladas, de uma ribeira que a isola da povoação, mas a que uma ponte certamente centenária lhe permite aceder. Os penhascos, a vegetação autóctone, apesar da acácia australiana que teima em persistir e a ponte, talvez romana (?), talvez, tornam-na num passeio apetecível, apesar de atualmente pouco procurada.
Pois falo precisamente da Fonte do Salto e da Ponte do Salto.
Acede-se a ela por um caminho que durante séculos terá sido via de transporte importante para pessoas, mercadorias e animais. Atualmente até de carro.
Recentemente, por incumbência da Junta de Freguesia, foi valorizada pela limpeza da arca da água que tem na parte superior e embelezada, qual noiva, pela pintura a branco e amarelo oca, cores tão características e tradicionais na região.
Merece uma visita!
Um garrafão ou garrafa para trazer e beber água fresquinha e a caminho.
Arriba! Que se faz tarde!
E, a propósito de caminhar…
A organização de uma caminhada em que se proporcionasse a conterrâneos e forasteiros um passeio pelas fontes da Aldeia seria uma boa sugestão. Não propriamente no Verão, que está muito calor e tudo muito seco, mas na Primavera em que o enquadramento paisagístico é exemplar.
Quem fala em fontes, poderá sugestionar: “Por pontes, passadeiras e fontes…”
Bem perto da Ribeira do Salto, outro excerto da Ribeira, também agradável, é a Ribeira da Lavandeira, onde existem umas artísticas passadeiras e a que se acede por uma calçada.