Há quem do Tejo só veja
o além porque é distância.
Mas quem de Além Tejo almeja
um sabor, uma fragrância,
estando aquém ou além verseja,
do Alentejo a substância.
Há quem do Tejo só veja
o além porque é distância.
Mas quem de Além Tejo almeja
um sabor, uma fragrância,
estando aquém ou além verseja,
do Alentejo a substância.
Rua Américo de Jesus Fernandes, 16 - A – Olivais – Lisboa
30 de Setembro – 28 de Outubro / 2018
Esta Exposição tem por objetivo fundamental dar a conhecer um conjunto de trabalhos poéticos, que elaborei na segunda metade da década de oitenta, inspirados no conceito da designada “Poesia Visual”.
Alguns, fui-os divulgando no blogue “aquem-tejo.blogs.sapo.pt”, tal como tenho dado a conhecer outros textos poéticos ou em prosa, que fui elaborando ao longo dos vários anos em que escrevo.
O concurso da APP “Nau dos Sonhos” foi a oportunidade e o móbil imediato, que me levou a propor à Direção da APP, a realização desta mostra de Poesia, desde logo aceite.
Trabalhos desenvolvidos na época referida, inspirados na estética artística e poética mencionada, de que resultaram várias obras, em suporte de papel, seguindo metodologias diversas e contextos de inspiração variados.
Todos têm na base um poema, escrito na altura ou anteriormente, que estruturei visualmente face à temática a trabalhar. De alguns fiz mais do que uma versão, consoante a inspiração.
O poema “azul de (a)mar” é dos que construí mais do que uma versão.
A primeira, (85), inspirei-me numa célebre estampa japonesa. As subsequentes, (86), foram criadas num modo mais pessoal e original, em que a palavra – o significante, se foi gradualmente transformando no seu significado, o mar, a ponto de, no final do poema, as palavras e letras se confundirem com as próprias ondas do mar para que nos remetem. Da calmaria inicial para o movimento e rebentar das ondas… A azul, que azul é o mar!
(Deste trabalho, ofereço uma das versões à APP.)
O trabalho que intitulei, para efeitos de concurso como “Poema Psicadélico”, de 1986, baseia-se num poema de 1979, intitulado “Fuga à Solidão”. (Este poema supostamente traduz a experiência multissensorial de uma pessoa sob o efeito do consumo de estupefacientes. Supostamente! Que “o Poeta é um fingidor…”)
Em “Poema Psicadélico”, os versos projetam-se nas paredes de um quarto, local de experimentações, como se de um filme se tratasse ou de uma banda desenhada.
Nele, há o recurso a variadas técnicas e possíveis conceitos estéticos, remetendo para várias Artes: desenho, pintura, evocando-nos o cinema, a banda desenhada, imaginariamente a música e até o desenho animado, pese embora a estática de um quadro; o graffiti, os murais… a colagem também, como meio, suporte, recurso e decisão consciente.
Com o título “Verso e “Reverso" , para efeitos de concurso, apresento um mesmo poema, escrito através de duas tecnologias pré-digitais: manuscrito, a esferográfica preta, porque escura é a ansiedade, e utilizando a ‘ancestral’ máquina mecânica. (São de 1987.)
Em ambas as tecnologias, procuro reportar o texto para uma dimensão visual para além do grafismo dos caracteres e das palavras. Uma aproximação ao desenho.
Formalmente, são os dois lados de uma mesma realidade e apresentam-se como se fizessem parte de um mostruário da designada “Literatura de Cordel”. (Esta ideia tomou forma também para efeitos de concurso.)
O poema é a interpretação analítica de um desenho não meu, de um jovem, que acompanhei quando trabalhava numa Instituição Profissional. (É uma interpretação, outras poderão ser possíveis.)
“O mar enrola n’areia…” (1986), é quase um não-poema. Praticamente não há texto. Apresentando-se graficamente, um desenho produzido com a proverbial máquina de escrever mecânica, em duas versões experimentais, (Poesia experimental!).
Duas crianças, um menino e uma menina, à beira mar, entoando a célebre cantiga popular, e segurando papagaios de papel. Reporta-nos para o nosso imaginário infantil e, para além do grafismo do desenho, também para a cor e para a música. (Imaginariamente!) E que é da Poesia se não nos solta a Imaginação?!
A partir do poema “Ícaro”, publicado no Anuário Assírio Alvim, 1987, trabalhei duas versões.
Uma primeira, (86), reportando-me para a iconografia relativa ao mito grego: o labirinto, o minotauro, as ilhas gregas e as suas ruínas de templos. Ícaro, flutuando sobre as nuvens.
Este poema pretende ser uma desconstrução da simbologia inerente ao mito. (Os mitos suportam diversificadas interpretações.) Ícaro não caiu ao mar, com os seus sonhos, com a sua ânsia de liberdade e afirmação pessoal. Manteve-se, planando, não deixando de sonhar!
Uma segunda versão, de 87, 89 e que completei este ano, 2018, e estruturei deste modo para a Exposição, poderia intitulá-la, “Asas de Sonho” / “Asas de Ícaro”, baseia-se no mesmo poema, com a mesma desconstrução e transmutação ideativa, para a persistência e permanência da condição de sonhar! De sonhador(es)!
(Uma versão primeira, desta 2ª versão, foi publicada no Diário de Notícias, em 1987.)
A técnica, a tecnologia, os materiais utilizados, face ao mundo digital em que vivemos atualmente, são elementares, quase “pré-históricos”, ou melhor, pré-digitais. Trabalhos feitos manualmente, com recurso a esferográficas e canetas de feltro! A velhinha máquina de escrever mecânica! Algumas técnicas primárias de pintura…
Remetem-nos, sugestionam-nos os Textos Poéticos para outras formas de Arte.
Termino, dizendo o poema, Ícaro, que, de certo modo, traduz o meu pensar e sentir.
Nunca devemos desistir de sonhar!
(ÍCARO / Lá no alto, entre as nuvens / Ícaro, preso está. / Não perdoaram os deuses / Voos tão altos, com asas / tão de cera. / E Ícaro se quedou enredado. // É falso que ao mar haja caído / Espalhando-se no que seu nome tem / Por não seguir de Dédalo os conselhos. / Ficou somente preso, entre os seus sonhos, / Mas bem lá no cimo, entre nuvens.)
E Obrigado por me escutarem, por me terem possibilitado a concretização deste meu Sonho. Tal como Ícaro – Poema, nunca desisti de sonhar. Através desta materialização expositiva, concretizei um pouco dos meus sonhos.
Obrigado à APP. Obrigado, Sócios da APP. Obrigado, Direção da APP. Obrigado a todos os presentes. Obrigado a Amigos e à minha Família, que me incentivaram neste projeto!
*******
E uma Nota Final: Vários poemas reportam-nos para o tema Mar e o elemento Água.
Este poderia ser um aspeto também a abordar: o Mar e a Água, como fontes primordiais de Vida. O Mar e a Água, como arquétipos estruturantes da Humanidade. O Mar e a Água, como fatores fundamentais da vida terrestre (e haverá outro tipo de vida para além da terrestre?) e os cuidados para sua preservação e manutenção… (…)
Nela estão expostos alguns trabalhos que elaborei segundo este conceito, na segunda metade da década de oitenta, agora estruturados para esta finalidade expositiva. Outros já organizados há algum tempo atrás.
Obrigado ao Presidente da Asssociação, Carlos Cardoso Luís, pela sua ajuda preciosíssima, na conceção, montagem, orgânica e estruturação da Exposição. Bem haja!
Desde que utilizo esta ferramenta do blogue esta temática das praxes vem quase sempre à baila nesta altura. Pelo lado negativo!
Não me apetece nada voltar a este assunto. Mas vai ter que ser!
Quando vejo na Cidade de Régio aqueles bandos de carneiros mal mortos, a serem arrastados por aqueles mantos corvídeos, carregados de pinos, a blasfemarem umas quantas obscenidades e a executarem uns quantos disparates na rua… apetece-me sempre interpelar.
E já o tenho feito, ainda este ano o fiz no Campo de Sant’ Ana!
E quando é que as Autoridades resolvem intervir, como deve ser por esse país fora?!
Que as cenas repetem-se invariavelmente por todo o lado…
E eu vou ficar chorando / Aqui cantando / O meu descante.
Bye - Bye, Uruguai / Que já não vai / Seguir avante
Ficamos os dois, chorando / Aqui cantando / Nosso descante.
Quando a bola rola e rebola / No relvado
Você se sente herói / Quase um cow – boy
Cavalgando corcel alado!
Mas que tristeza… / Até vileza / Um mau resultado
Fica de certeza / De ego amarfanhado.
Mas, vale a pena / Tal cena / Tal desconforto
Se, quem joga no Benfica
Amanhã, se bem lhe fica
Já joga no Porto?!
Amigo, futebol é carcanhol! É milhões.
É arrebol, p’ra quem, de sol a sol / Se governa com tostões…
Mas que quer, amigo?!
Será sina? Talvez castigo
É ilusão… Também paixão
E, p´ra mim digo e desdigo / P´rós meus botões
Que´ ainda vou ganhar o Euromilhões!
E, agora vejo na televisão…
A bola rola e rebola
E vai ser mais um golão!
Este texto poético foi iniciado, em termos de inspiração, a trinta de Junho, quando Portugal jogou com Uruguai, e perdeu, no Mundial da Rússia – 2018. Deu origem ao 1º mote, em sentido lato. Uruguai que perdeu em seguida com a França. Surgiu o 2º mote, não seguindo estritamente o conceito formal da palavra.
O desenvolvimento do tema poético, contextualizado no seguimento de outros, que enquadro como “narrativas em verso” foi surgindo nos meses subsequentes. São poemas para serem ditos, para serem ouvidos, buscando o conceito de Poesia primordial, em que a palavra, versejando, contava e recontava narrativas, pensamentos, ensinamentos, de geração em geração…
Pretensão minha?!
(…)
Agora que o futebol voltou a estar na berra, que as futeboladas, as futebolices inundam os media… Chegou a altura de publicar no blogue… Continuando com a Poesia, que tem sido o tema dominante nestes últimos meses.
(As Fotos - originais DAPL, bonitas, reportam-nos para a noção de arrebol: ao nascer e pôr-do-sol, que o futebol inunda-nos toda noite e santo dia!)
Esta poesia é de autoria de uma Srª da Aldeia e faz parte de um conjunto de poemas que me foram confiados, como sucedeu com textos de outras Pessoas.
Neste, conforme já aconteceu noutra situação no blogue, não identificamos a autoria, a pedido da Pessoa, que me fez essa cedência e, em ambos os casos, por razões semelhantes, que supostamente deveriam estar erradicadas nestes nossos tempos em que houve tantas alterações, em tantos e tão variados aspetos, nomeadamente sócio – culturais. Mas, de facto, não estão! Persistência de tempos antigos.
As situações descritas fizeram parte da vivência quotidiana ainda dos nossos pais e da nossa infância também. A candeia já não, mas enquanto estudante, o candeeiro a petróleo foi o meu guia iluminante!
Parabéns à Autora do texto poético, muito elucidativo e bonito. Obrigado à Srª que fez chegar o poema às minhas mãos.
Ilustro com uma foto de um recanto da Aldeia, o mais antigo e, para mim, também o mais belo! De certo modo, é premonitório. A foto é dos anos oitenta (84?) e o despovoamento visível, infelizmente, já se concretizou. Como é imperioso e urgente repovoar o nosso Interior!
Como recordação e homenagem relembro Pessoas que viveram neste recanto e que ainda conheci:
O Ti Tonho Rei, inspirador de um dos meus poemas, que figura na 1ª Antologia em que participei, organizada por Luís Filipe Soares e a Srª Catarina; a Prima Antónia Caldeira e Primo Joaquim Mendes, a Srª Rosária Trindade, a Srª Maria Rosa Velez e Ti Zé Levita, a Srª Rosinda e Ti Brites; a Srª Catarina Matono, de quem tenho cantigas e contos gravados e transcritos e de que penso publicar alguns e o Ti Aníbal; a Avó Rosa, que tantas estórias e contos tradicionais me contou e o Padrinho Joaquim; a Srª Augusta, a Srª Dolores, que figura na foto e o Ti Manel Albano; a Srª Joaquina Calado e o Ti Olímpio, a Prima Rosa dos Remédios e o Primo Felizardo, a Srª Maria dos Remédios e a Srª Maria do Rosário, que ultrapassou a centena de anos! E ainda, o Ti Manel Henrique, que morava na Cunheira e vinha, em carro de mula, à Aldeia tratar dos terrenos.
(Algumas destas pessoas figuram na foto das "Maias").
E, por hoje, e do Alentejo da minha infância, me quedo por aqui.
E continua calor, apesar de algumas trovoadas molhadas!
Pensava que eu me esqueceria da Exposição de Poesia Ilustrada da SCALA?!
Pois não!
E é bem digna de ser visitada.
Está um trabalho globalmente muito bem organizado. Realça-se a harmonia de conjunto dos vários trabalhos expostos. Deparamos, logo numa primeira perceção, com essa visão harmoniosa da globalidade dos quadros em exposição. Não há, à partida, um sublinhar especial de alguma obra. Digamos que existe, à priori, uma estruturação democrática do que se pretende mostrar, divulgar. Intencionalmente? Metodológica, sem dúvida, esta atitude de construção artística e organizativa.
E esta disposição leva-nos ao exercício de nos debruçarmos individualmente sobre cada Obra do mostruário global.
E encontramos, sem desprimor ou relevo por alguma das Poesias Ilustradas, trabalhos verdadeiramente excelentes, cada um segundo o seu modo de expressão, literário, poético, artístico. Cruzam-se diversas Artes: Poesia, Desenho, Pintura, Fotografia.
Sublinha-se, igualmente, a entreajuda, a colaboração, o apoio, dos vários intervenientes entre si. E esse é também um aspeto digno de relevar.
Sobre o conjunto dos participantes, remeto para o blogue da Associação, onde poderá consultar “Quem é Quem”.
Não deixe de visitar! Será só até dia 21 de Setembro!
Sede da SCALA – ALMADA, na antiga Delegação Escolar (“Almada Velha”) - Rua Conde Ferreira.
Na inauguração, estiveram presentes alguns dos participantes e outros visitantes, que se debruçaram sobre a exposição, conversaram, conviveram.
Parabéns a todos. Participantes, organizadores, à SCALA, no seu conjunto.
Enquanto apreciávamos as Obras, Gabriel Sanches foi-nos brindando com agradáveis momentos musicais e assim na Exposição entrou também a Arte da Música. Talvez a Arte mais global!
Obrigado também!
Ilustro com algumas imagens de conjunto, mas que ficam muitíssimo aquém da perspetiva real da Exposição. As fotos são de telemóvel e as condições técnicas de luz não terão sido as melhores.
Não há nada como visitar e ter a oportunidade de desfrutar, in loco, da elevada qualidade artística!
No passado domingo, um grupo de resistentes, ainda, se aventurou na projeção da Poesia, no VÁ – VÁ. Resistentes e aventurosos, sim, porque as condições técnicas são, de facto, muito adversas. O barulho é, realmente, muito incomodativo. E inicio esta crónica exatamente por este lado negativo, contrariamente ao que é meu apanágio, que gosto de valorizar o lado bom da realidade, mas não posso deixar de mencionar esta situação. A Poesia merece melhor tratamento! O VÁ – VÁ também, ademais sendo uma “Loja com História”. Como seria agradável dizermos Poesia sem aquele ruído tão incomodativo.
Mas adiante, que a Poesia está acima, até do ruído, do comunicacional, inclusive, que só transmitem notícias de “barulho(s)” e ignoram totalmente a beleza poética!
Pois, no Domingo passado, a Poesia, no seu lado mais belo e sob diversas vertentes, perspetivas e temáticas, mais uma vez, disse “Presente!”, no VÁ – VÁ!
Ademais acompanhada pelo Fado, pela Canção Tradicional (alentejana)…
Parabéns a todos os presentes: Alzira Vairinho Borrêcho, Maria do Céu Borrêcho, que apresentaram o livro “PARA ALÉM DO PENSAMENTO”; Rogélio Mena Gomes, Carlos Cardoso Luís, Fernando Afonso, também organizadores, enquanto membros da Direção da APP e a todos os Poetas e Poetisas, além dos mencionados, que cantaram, disseram e nos encantaram com a sua Poesia ou de Autores clássicos e consagrados (Antero de Quental, há que realçar). A saber: Daniel Costa, Fernanda Beatriz, Suzete Viegas, Sofia Romano, Júlia Pereira, Bento Durão, Rosângela Marrafa, João de Deus Rodrigues.
E voltamos a “PARA ALÉM DO PENSAMENTO”, cuja apresentação iniciou a Tertúlia.
Cada um dos presentes disse, leu, declamou, a seu jeito e modo, um poema do livro.
Havendo vários poemas dedicados ou inspirados no Alentejo, onde a autora viveu algumas dezenas de anos, aproveitei para dizer, precisamente, um inspirado nessa temática e que transcrevo.
«Alentejo das casas caiadas
Que não me sais da memória.
As saudades redobradas
Na mente me fazem história.
As saudades redobradas
Que aparecem na lembrança
Deste coração sofrido.
Que a memória não descansa
Vai lembrando o tempo ido.»
Alzira Vairinho Borrêcho
E poderia continuar a cronicar que haveria muito a noticiar e referir. Nunca é demais realçar que estes encontros poéticos são sempre mágicos e preciosos. Renovados votos de continuação destas tertúlias, redobradas felicitações a todos os participantes e organizadores. A todos os “resistentes”, que continuem na divulgação da Poesia. Obrigado a todos por nos proporcionarem estas “vivências poéticas”.
OBRIGADO muito especial à gerência do VÁ – VÁ!
(Cada um dos presentes apresentou um poema seu, ou dois, para quem ficou para a 2ª parte. Lamento não referir o título de cada um dos apresentados, mas não consegui registá-los todos.
Pela minha parte, disse “Selfie” e outro ainda não divulgado no blogue.)