Há quem do Tejo só veja
o além porque é distância.
Mas quem de Além Tejo almeja
um sabor, uma fragrância,
estando aquém ou além verseja,
do Alentejo a substância.
Há quem do Tejo só veja
o além porque é distância.
Mas quem de Além Tejo almeja
um sabor, uma fragrância,
estando aquém ou além verseja,
do Alentejo a substância.
Desde logo a toponímia. Peculiar! Não conheço a respetiva etimologia. Pessoa amiga me disse ser assim designado, esse espaço entre Cidade e Campo. Povoamento de algumas casas, dispersas, tão diferente do território regional em que se insere: Alentejo, melhor, Aquém – Tejo!
O nome?! Entendo que será devido à fartura de água. Que é uma das suas peculiaridades. A água escorre pelas faldas da montanha, o murmurejar nas valetas, nas pequenas cascatas, no ribeiro que escoa na direção do Bonfim, para a Ribeira da Lixosa; mais a jusante irá para a Ribeira de Seda, desta para a da Raia, daí para o Sorraia, e depois, muito depois, lá irá parar ao Tejo, para os lados do Porto Alto! Muito corre a água!
Um local que estando na Cidade, deduzo que faz parte da freguesia urbana, portando citadino, na realidade não está na cidade. É campo, espaços de cultivo, hortas, floresta autóctone: sobreiros, carvalhos, loureiros, salgueiros; árvores de fruto: nogueiras, macieiras, aveleiras, figueiras; arbustos: giestas, lentiscos, troviscos, estevas e estevinhas, rosmaninhos, alecrins; medronheiro, de porte arbóreo; heras pelas paredes e carvalhais, rivalizando com o pegamassa… Muitas e variadas plantas que desconheço.
Floresta de pinheiros, enormes, mansos e bravos, adaptados aos nossos climas, há séculos. Floresta, a necessitar de limpeza, nalguns locais. Espaços tão dentro da Cidade, envolvendo – a, cercando – a, mas perigosamente muito sujos.
Um espaço territorial que estando em Aquém Tejo, é montanhoso, lembrando os territórios do Norte, pela orografia, o relevo, o arvoredo verdejante, a correnteza das águas.
É a este espaço que propomos uma Visita Virtual. Também Botânica! Utilizarei algumas fotos do ano passado, que as deste ano ainda não foram trabalhadas.
Este postal está conjeturado há algum tempo, tal como os anteriores sobre estas temáticas de visitas virtuais, funciona para descomprimir e talvez anteceder algum hiato na comunicação bloguista, espero que não tão demorado como o anterior, que foi quase um mês.
Interessante que nos últimos dias, 24 e 25 Junho, o postal mais visualizado no blogue foi “Portalegre tem um Passadiço?!” Coincidências? (A quem se terá devido a divulgação?!...)
Vista da Cidade
Uma Avelã
Um Feto das Paredes
Um Pegamassa ou Bardana
Uma planta que desconheço o nome
Um sinal de caminheiros. Sabe o que significa?!
O Caminho!
E as aves a cantar? E as ovelhas, os balidos? Os chocalhos? Os cheiros dos trevos, quando as ovelhas passam?
Vá, por si, Se Faz Favor! SFF! Experimente! Caminhe!
Por aqui, o mundo gira igual, louco, caótico e indiferente.
O sol volta a pôr-se magnífico em fogo, lá no horizonte
Há vidas que hoje se te vão juntar e amanhã
Sempre a vida brotará de outros seres e haverá novo sol.
Perdeste o respirar, o olhar, a magia desta Primavera
Saberás de nós nesse outro lado? Como tudo é insondável!
E assim nos deixaste sem queixas, sem remorsos, como um guerreiro.
Onde estarás agora?
As tuas coisas, os teus objectos estão iguais no seu canto
Mas não são mais os mesmos sem ti
E esperam, esperam, sem jeito.
No bosque dos meus afectos sinto-te mais perto
O rio escorre seus murmúrios e continua
Com as libélulas, os peixes, os minúsculos insectos
Tudo no seu ritmo natural de sempre.
Flores selvagens, os pequenos algodões e os fulgores.
É primavera, as aves cantam e tudo mexe,
Há sinais ao redor, há perfumes, há rastolhadas,
Seres da terra de que não sei o nome
E por vezes o vento, nas ramagens,
Que tudo agita e tudo harmoniza.
Olha, meu irmão
Oiço o Réquiem de Mozart e deixo-me sucumbir
É tão belo, é tão triste, tão fora deste mundo
Como tu estás, agora!
Se por alguma razão que não sei
Se por algum profundo mistério
Se também tu estiveres a ouvir…
Será, será que também te comoves?”
ROLANDO AMADO RAIMUNDO
24 DE MAIO DE 2020
*******
Voltamos à Poesia.
Como algumas vezes neste blogue, um lindíssimoPoema de Despedida. Também tenho alguns meus escritos e aqui divulgados, acenando Adeus a Pessoas que nos são queridas. Também de outras pessoas.
Muito bonito, este Poema.
De Rolando A. Raimundo, também sócio do CNAP – um dos organizadores e participantes nas Tertúlias do Círculo. Também um dos colaboradores do Boletim Cultural, tal como D. Olívia, Alma Mater do Círculo, ativa divulgadora e promotora da Cultura ligada à Poesia e Artes; António Diniz Sampaio e Luís Filipe Soares, sócio nº 1 e fundador da APP, organizador e dinamizador das Antologias de Poesia, das Maratonas e outras atividades culturais, nos anos oitenta do séc. XX.
A divulgação deste Poema insere-se num dos propósitos deste blogue que é a divulgação de Poesia de “Outros Poetas e Poetisas”! Desiderato bastante bem documentado, com Poesia. De elementos da APP, do CNAP, de “Momentos de Poesia”, da SCALA; de Pessoas de Aldeia da Mata.
Poucos blogues, ou nenhuns (?), neste universo (digital), realizam ação igual ou semelhante.
Eu também agradeço a amabilidade de todos os participantes, que desse modo também engrandeçam este universo particular e específico de Aquém Tejo.
Fafá de Belém, Waldemar Bastos, Dany Silva - André Dias e Bernardo Viana
Apresentação de José Gonçalez
Programa da RTP1, tertúlia transmitida às 6ªs feiras, à noite. Na passada sexta, dia 19, já o nono programa. Em semanas anteriores, algumas vezes visualizei excertos do programa. Neste último, face aos tertulianos presentes, deixei-me, em boa hora, levar na onda. Quando e onde podemos ouvir, assim numa assentada, Fafá de Belém, Waldemar Bastos, Dany Silva, acompanhados por André Dias e Bernardo Viana, dois jovens músicos, engrandecendo a tríade de cantores?! Dany e Waldemar também executantes.
Num jeito muito informal, apresentação de José Gonçalez, precisamente na Casa de Amália, à Rua de São Bento, na sala, deduzo eu, bem bonita, por sinal.
Programa, homenageando a Diva do Fado, recriando, de certo modo, as tertúlias que Amália promovia na sua própria casa. Neste programa foi precisamente lembrada a célebre tertúlia em que participou Vinícius de Morais, também Ary, Natália Correia, David Mourão Ferreira, em 1968, génese de disco editado em 1970: Amália – Vinícius.
Programa excelente! Parabéns aos participantes. E Obrigado pela beleza de Música e Canções que nos trouxeram.
E que saudades tenho das tertúlias. Das Tertúlias de Poesia, confinadas, com esta coisa do Corona!
Da APP – Associação Portuguesa de Poetas. Na sede, aos Olivais; no Vá – Vá, na Avenida de Roma. Ambas em Lisboa.
Do CNAP - Círculo Nacional D’Arte e Poesia. Ultimamente no Café Império. Anteriormente, ao Centro de Dia de S. Sebastião da Pedreira. Também em Lisboa.
De “Momentos de Poesia”, no Café José Régio, antigamente “Café Facha”, em Portalegre.
Da SCALA – Sociedade Cultural das Artes e Letras de Almada, na Sede – R. Conde Ferreira – Almada Velha ou na Oficina de Cultura, no centro de Almada.
E.. Viva a Poesia! Viva o Fado! Viva Amália!
E novamente parabéns a todos os participantes e organizadores do Programa da RTP1, supramencionado.
Começou o Verão, no sábado passado, dia 20 de Junho. E o calor… e os fogos!
Continuamos com a Covid, que não há meio de nos largar.
Ontem, 2ª feira, dia 22, o Senhor Primeiro Ministro anunciou o retomar dos “confinamentos”, nalguns dos concelhos da Grande Lisboa, após reunião com os respetivos Autarcas: Lisboa, Sintra, Amadora, Loures, Odivelas.
Medida incongruente, que acaba por passar, novamente, uma mensagem dúbia e contraditória. Dado que se centra num contexto espacial, em zonas urbanas de grande densidade populacional e interligadas. Nalgumas regiões, numa rua ou avenida de um concelho “confinado”, segue-se imediatamente essa mesma rua ou avenida em concelho “não confinado”. Basta dar dois passos e os normativos são completamente diferentes. Não faz sentido. Não há uma coerência comportamental, uma mensagem clara e precisa. Vai tudo continuar “ao molho e fé em Deus”!
Ademais, pelo que li, essas ações de confinamentos contextualizam-se em freguesias! (?)
A mensagem deve centrar-se na possibilidade de contágio pelo corona, probabilidade de aumentar em função dos contactos estabelecidos.
Tem que haver muita, muitíssima responsabilidade das pessoas, de cada pessoa, a ação de cada um tem reflexos, consequências, nos outros.
Por isso, Caríssimos, mantenham-se calmos, não desconfinem demasiado.
Já basta o que temos que fazer impreterivelmente, o que não podemos adiar…
Quem tem que andar em transportes públicos, nomeadamente comboios e metros da Grande Lisboa, continua sardinha em lata, na hora de ponta?! (...)
Hoje, 23, é véspera de S. João. “S. João, S. João, dá-me um balão…”
Jogam Porto e Boavista…
Seja qual for o resultado… Não façam manifs!
Há que escolher o Caminho certo!
Até logo… ainda gostaria de enviar outro postal, hoje.
A publicação desta “Cantiga” é uma Homenagem a esta Srª Professora de Aldeia da Mata, que exerceu o Magistério Primário em Vila Viçosa, terra natal de Florbela Espanca.
Que viva o futebol! Isto é uma assombração! Futebol é arrebol: Areia para os olhos!
Que maravilha, princesa ervilha. A “Champions”, a final, em Portugal. Que bestial! É a salvação nacional. Não ligas a futebol?! É arrebol?! Não és bom português! Só tu não vês.
A Liga dos Campeões, a Taça dos Campeões Europeus, cá prós plebeus. Dá direito ao regozijo institucional, dos Altos Representantes da Nação. É quase uma assombração.
Em Lisboa! Que importa a Covid aumentar?! A Champions nos vai safar. A Grande Lisboa, o Corona a exportar?! Para locais improváveis?! São, da ciência, imponderáveis!
É, também, a irresponsabilidade das pessoas. É! A falta das zaragatoas. É! Culpa do Povinho, do Zé. Também é. Cada ação individual tem reflexos no geral. Porque tem! Mas não convém.
Festas e festarolas?! Manifs e manifs?! Venham os “bifes”. Turista está a vir. Fronteiras, abrir.
E os Bancos, aos solavancos?!
E o Algarve vai fechar?! E onde me vou banhar? Que o Verão vai chegar.
Que outros países nos ponham no vermelho?! Isso é dor de escaravelho. “Nós somos o melhor destino do mundo”. O resto é poço sem fundo.
E os das festas promotores vão ser indiciados? Isso é justo. São mais que culpados. E quem lá vai não é?! Quem paga é o Zé!
A situação está mais que controlada. Dizem os DDTs, para a manada!
Antes de mais o “minha”. Minha é uma força de expressão. É apenas uma apropriação afetiva, pelo muito, muitíssimo, que nos liga a ela. Que a “minha” Aldeia, é também “sua”, é também “tua”, é também “vossa” é também “dele” é também “dela”, é primordialmente “nossa”! Todos os que de algum modo estamos ligados a Aldeia, a consideramos “nossa”. A nossa Aldeia!
Neste blogue, que conta 757 postais, há uma boa percentagem deles diretamente dedicados a Aldeia da Mata. Muitos indiretamente, quase todos. Imensas fotos! A primeira etiqueta (tag) é precisamente aldeia da mata.
O pseudónimo que uso, há vários anos, ainda muito antes de entrar neste universo dos blogues, antes de saber que existiam ou mesmo antes da respetiva existência, desta parte não tenho a certeza, tem referência a Mata, precisamente uma homenagem à nossa Aldeia.
Não sei se estes desconfinamentos sucessivos, face à Covid 19, estão ou não correlacionados com o aumento de casos, principalmente na Grande Lisboa e mesmo noutras zonas, embora de forma menos expressiva. (Alguém saberá?!)
O que sabemos, todos, é que não há, atualmente e ainda, uma cura para esta doença, nem uma vacina que, à priori, a previna. E porque demora?!
O que nos dizem as entidades responsáveis, tanto nacionais como supranacionais, é que as ações preventivas e inibidoras da propagação do vírus, passam, entre outras, por higiene, muito especialmente das mãos, nas nossas atividades diárias; pela “contenção e distanciamento social”; pelo uso de máscara, em locais públicos, medida tornada obrigatória, desde que passou a havê-las disponíveis no mercado. (…)
Também sabemos que algumas das informações, que nos têm sido prestadas, têm variado um pouco. Conforme as circunstâncias, à medida das situações evolutivas, a partir do conhecimento que foi sendo adquirido, com o evoluir pandémico e os ensinamentos provenientes dos diferentes países e das respetivas ações face à situação. Uma aprendizagem um pouco por tentativa e erro, comum à maioria dos aprendizados humanos, em situações novas!
Por vezes, informações algo contraditórias. Apesar disso, prefiro acreditar nas informações oficiais. Precisamos todos de nos sentirmos seguros dessas informações.
Independentemente desse aspeto de confiança, tenho expressado a minha discordância de algumas das atitudes, decisões, sugestões, das nossas entidades superiores, apesar de, globalmente, pelo menos na fase inicial, ter concordado com as mesmas.
A minha maior discordância tem-se centrado no desconfinamento, que julgo apressado. De repente, tenho observado pelos mais diversos locais e localidades, que “anda tudo um pouco ao molho e fé em Deus!”.
Todos temos plena consciência que é imperioso e urgente “reativar a economia”. Sim, mas muito especialmente nos setores fundamentais e sempre, mas sempre, com segurança, pessoal e dos outros. Cada um é responsável por si mesmo. Mas tem que pesar o reflexo das suas atitudes e comportamentos, face às outras pessoas.
Há ações, que neste enquadramento, deveriam pura e simplesmente não ser realizadas.
As manifestações, repito! Sem desconsiderar a respetiva relevância e motivações.
Não concordei com a forma como foram evocadas datas fundamentais: 25 de Abril, 1º de Maio, outras manifestações realizadas, umas com mais ordem e estruturação, outras mais desordenadas. Nem com algumas festas futuras (Avante, por ex.)
E que dizer da “atuação” dos nossos “Representantes Máximos”, em “ações pedagógicas”, fosse nas idas à praia, na degustação restaurativa, na fruição de atividades culturais, em locais icónicos e espetáculos na “moda”?!
Achei, sinceramente, atos supérfluos.
E que dizer dos convites oficiais, publicitados via TV, à vinda de pessoal para Aquém Tejo?!?!
Pese embora as intenções tivessem sido de passar uma mensagem de confiança, de abertura, uma certa pedagogia positiva na atuação geral das pessoas para o seu dia-a-dia… (Digo eu, que ninguém me encomendou sermão.)
Questiono, se toda estas ações e face à necessidade que todos sentíamos de sair do “confinamento”, não terão levado ao extravasar de saídas da população para tudo quanto é sítio, a este “desconfinamento” exagerado a que assistimos.
Tanta ganância! E logo na 1ª jornada, os “quatro grandes” meteram o pé na argola. Alguns ainda emendaram o perdido. Mas o Benfica! O Benfica…!
E depois aqueles incidentes… Que não são adeptos… são criminosos!
Uma melhor distribuição da riqueza gerada, dos prémios auferidos. Ordenados menos opulentos. Muitos clubes vivem numa bolha de dívidas astronómicas! E as ligações futebol / politica – política / futebol?! Politiquices!!!
E a saída do Senhor Ministro das Finanças?! Relacionada com a Covid?!?!
E todos estes dinheirames, que vão para aqui e para ali, que reflexos irão ter nas nossas vidas, já tão sobrecarregadas de alcavalas diversas e variadas?!
E os Bancos? Injeções monetárias, neste, naquele… Sem lucros?! Tantas comissões!!!
E deixem as fronteiras ainda em paz! E o turistame!
E as praias?! (…)
Se há algo que esta pandemia trouxe à superfície mediática, foram as profundas desigualdades existentes nas diversas sociedades e contextos!
Quando publiquei o postal “Passeio Virtual por Cidades… e Aldeias”, em Maio, fi-lo precisamente porque estava e estou, farto de Covid. E quem não estará? Escrever sobre o dito cujo ainda me saturava e satura mais.
Entretanto passaram-se tantas coisas e qual delas mais estranha.
O “desconfinamento” atingiu proporções, a meu ver, exageradas e não só em Portugal.
Manifestações, de motivações justas, mas que descambaram em efeitos injustificados.
Em Portugal, as ações têm sempre uma escala proporcional à nossa dimensão. Alguns cartazes despropositados.
Nos States, após aqueles descalabros, previsíveis, dadas as assimetrias gritantes entre estratos populacionais, acentuadas pelos efeitos de Covid; na Velha Albion, onde a Covid também tem feito grande mossa; inépcia e incoerência dos respetivos governantes, em ambos os estados anglófonos, deu-lhes, aos manifestantes, para derribarem e apearem estátuas. (Não haviam bastado os talibans!…)
Sem qualquer sentido.
Porque, reflita, SFF. Que seria da América se não tivesse havido Colombo? Ou de Inglaterra sem colonialismo(s)? Onde estariam esses sujeitos a quem lhes dá esses amoques?! Existiriam sequer, enquanto seres humanos?!
Porque se fossem os contestatários, ameríndios nos States; ou os anglos, ou os saxões, ou os celtas, em Inglaterra, ainda se perceberia… mas sendo quem são, que seria dos ditos se não tivesse havido todos esses horrores, que de facto foram: escravatura, esclavagismo, colonialismo, tráfico negreiro… Que não defendo nenhum destes retrocessos históricos, friso!
A História não se apaga, não deixa de existir por ser negada ou escondida ou submersa nos rios, enterrada nos pântanos da ignorância. Bem pelo contrário! Deve estar visível para ser aprendida, apreendida, interpretada, estudada, ensinada. Para ajuizarmos com discernimento e espírito crítico o que tem valor ou não, ao nosso olhar atual, sem deixar de perceber o enquadramento epocal.
Tudo o que é Humano tem que ser contextualizado no tempo e no espaço. Não se pode emendar o que foi ou deixou de ser mal feito em tempos passados, porque o “tempo não volta para trás”!
Cá pelo burgo, melhor, na Grande Cidade, também lhes deu para vandalizarem monumentos! E logo do Padre António Vieira!
Não sou especialmente apreciador de estatuária laudatória na via pública. Muita é inestética, mal colocada no espaço, os respetivos personagens suscetíveis de valoração ou não, positiva ou negativa. Todavia, já que expostos, permitem-nos opinar, ajuizar sobre os mesmos. São lições de História!
Não têm que ser consensuais. Muito menos estragados, destruídos. Para estragação e achincalhamento, basta o que lhes fazem os pombos, diária e continuadamente.
Que nos digam os Grandes: Camões, lá do alto do seu pedestal e Eça, mais terra a terra, mais a sua Verdade, um pouco mais em baixo.
De modo que, e um pouco mais acima, esborratar o Vieira é completamente incongruente.
António Vieira (Lisboa – 1608 / Baía – 1697): Orador e Escritor português. De pais de condição modesta, sua avó paterna era mestiça, serviçal na casa dos condes de Unhão.
Foi para o Brasil aos 6 anos. Estudou no Colégio dos Jesuítas, na Baía. Entrou na respetiva Companhia.
Distinguiu-se na catequese dos índios, de quem foi defensor intransigente.
De 1641 a 1652, esteve na Europa, nomeadamente ao serviço de D. João IV, de quem foi embaixador em França, Holanda e Itália.
Voltou ao Brasil, onde permaneceu de 1652 a 1661.
Levou o decreto real de libertação dos "índios", que provocou violentas reações dos colonos e o seu desterro para Lisboa.
Na sua segunda estada na Europa, 1661 – 1681, foi preso em Coimbra, em 1665, nos cárceres da Inquisição.
Viveu em Roma de 1669 – 1675. Regressaria ao Brasil em 1681, onde morreria em 1697.
Foi um Cidadão do Mundo, atravessou sete vezes o Atlântico, percorreu milhares de quilómetros, muitas vezes a pé.
Distinguiu-se especialmente nos sermões. Profundo conhecedor do coração humano. F. Pessoa o intitulou “Imperador da Língua Portuguesa”. Elogiado por A. Sérgio “nunca se escreveu em português mais claro, mais próprio, mais natural…”
Arrebatava tanto a gente inculta do Brasil, como o requintado mundo dos cardeais da Cúria Romana.
“Expoente da oratória sacra portuguesa e um dos maiores da oratória universal, foi político, missionário, defensor dos fracos, crítico audaz dos poderosos e patriota visionário.”
*******
(Para este excerto sobre P. António Vieira, mais uma vez, me baseei na Lexicoteca – Moderna Enciclopédia Universal – Círculo de Leitores - Tomo XVIII – pag.s 164, 165, 166.
Manias pré históricas!!!)
*******
E ainda...
Relacionado com o postal anterior, dizer que continuei com Tieta. Apaixonante a narração. Dá vontade de não parar. É sempre assim com Jorge Amado.
*******
E a foto?!
Original, como gosto que sejam. De flores, ou de plantas, pela(s) sua(s) simbologia(s).
Repare, SFF:
Hoje é dia 13 de Junho. Dia de Sto António. A respetiva flor simbólica é o lírio branco. (Na minha terra, também chamamos a estes lírios, açucenas.) E qual foi o celebérrimo sermão de Padre António Vieira? De Santo António... aos peixes. Que é isso que também ando a fazer... Mais valia ao pessoal que, em vez de desconfinar por dá cá aquela pallha, fosse tratar de jardins, que bem precisam. Nem sabem como é relaxante, tratar de um jardim ou de uma horta. Experimente, SFF.
Ou a Volta da Filha Pródiga, Melodramático Folhetim em Cinco Sensacionais Episódios e Comovente Epílogo: Emoção e Suspense!
Jorge Amado
Editora Record – 2ª Edição – 20/8/77
Capa de Carlos Bastos
Ilustrações de Calasans Neto
Retrato do autor por Flávio de Carvalho
Foto do autor por Zélia Amado.
Comprei o exemplar que tenho, numa Feira do Livro de Lisboa, em 6/6/80, há 40 anos! Li-o nessa data. Mais tarde, vi a novela que passou na TV portuguesa - (89 / 90).
Agora, resolvi voltar a lê- lo. Apenas comecei. Mas interessante (!), ao fazê-lo e imaginar as personagens, associo aos artistas que lhes deram corpo na novela, de que gostei muito, aliás.
Betty Faria na personagem principal, Tieta; a célebre Perpétua, representada por Joana Fomm e assim por diante.
Questiono-me: Quando li pela primeira vez, antes da novela, como imaginaria as personagens?! Será que as associava às de Gabriela que já vira em 77?! (Mistério… como diria Dona Milu.)
Jorge Amado (1912 - 2001) é, de entre os escritores brasileiros, aquele de que mais tenho lido. Certamente será dos mais conhecidos, mercê também da sua divulgação através dos audiovisuais: televisão, cinema.
Além do supracitado, também Gabriela…, duas apresentações novelísticas, e também cinema; Dona Flor… Mar Morto… pelo menos estes de que me lembro.
No caso de Gabriela… considero que o livro e as duas novelas subsequentes são três obras artísticas ricas e peculiarmente diferenciadas, embora partindo do mesmo universo narrativo. Não sei de qual delas mais gostei. Se ler, se visualizar as tramas novelísticas!
Voltando ao Escritor. Cidadão envolvido social e politicamente na vida do seu país, apesar da trama narrativa dos livros mais emblemáticos se situar geográfica e culturalmente no universo do seu Nordeste / Baía – Região do Cacau, consegue transpor nos seus personagens os sentimentos universais do Ser Humano.
Partindo dum contexto muito particular, alcança a universalidade no conteúdo da sua trama narrativa. Também gosto, na sua escrita, como transparece o sentimento geral do Amor e a luminosidade otimista da Vida de um país cheio de sol!
(Livro escrito em português do Brasil, frise-se, com quase 600 páginas.
No final da sua narração, o Autor, após registar “FIM”, escreve: “Bahia, Londres, Bahia – 1976 / 1977”.
Quer dizer que o escreveu no período da ditadura militar: 1964 - 1985.
Havia Portugal saído há pouco da sua dita dura e, aliás o Autor refere isso logo no início pag. 16: “… ninguém sabe o que pode acontecer no dia de amanhã, recente, aí está, o exemplo de Portugal, quem poderia prever?”
Também já Chico Buarque editara “Tanto Mar” – 1975 - e cantava: “Sei que estás em festa, pá / …”
Esta 2ª edição fora de 50.000 exemplares – A 1ª, de 120.000, datada de 3/8/77. Distribuição: Centro do Livro Brasileiro, Lda)
Divulgados todos estes dados o melhor é recomeçar a ler.
Mas antes e ainda, referir que a ação decorre “… nos idos de 1965 – data tão próxima, ainda ontem, parecendo contudo distante passado ante as transformações do mundo; …” (pag. 333)
E também, que Jorge Amado, após conclusão da escola primária, em Ilhéus, aos 10 anos, vai estudar para Salvador de Baía, como interno no Colégio António Vieira… de onde foge. (Esta informação tem a ver com a atualidade de ontem em Portugal!)