Há quem do Tejo só veja
o além porque é distância.
Mas quem de Além Tejo almeja
um sabor, uma fragrância,
estando aquém ou além verseja,
do Alentejo a substância.
Há quem do Tejo só veja
o além porque é distância.
Mas quem de Além Tejo almeja
um sabor, uma fragrância,
estando aquém ou além verseja,
do Alentejo a substância.
Conforme me propus, vou continuar com a divulgação de poemas da Antologia. Um Poema de cada um dos Antologiados. Que tentarei ilustrar com uma imagem mais ou menos sugestiva, original, de preferência, quando tiver alguma adequada, ou então que buscarei na “net”.
Não me foi possível pedir autorização a todos os antologiados, porque não pude contactar com todos. Com os que pude falar, todos autorizaram a publicação.
Inicio a publicação com um Poema de Virgínia Branco:
Já tenho divulgado neste blogue várias iniciativas culturais realizadas no Concelho de Almada. Uma parcela pequena das que efetivamente se realizam. Das que tenho o grato prazer de assistir.
Uma parte efetivamente diminuta das possibilidades que esta Cidade nos oferece. Também nem de todas me debruço nos posts.
Nos mais variados e diversos contextos em que estes termos podem ser equacionados…
Um dos campos culturais que mais me motivam é o Cinema, a 7ª Arte, nos seus vários enquadramentos.
No Fórum Romeu Correia decorrem, ao longo do ano, vários Ciclos de Cinema.
Já aqui me debrucei sobre o 10º Ciclo de Cinema Brasileiro.
Outros decorreram entretanto, mas que não assisti.
Está a decorrer, conforme título em epígrafe, o 6º “Ciclo de Cinema Católico”.
Ontem, tive o grato prazer de assistir ao filme estoniano/georgiano, “Tangerines”, de Zaza Urushadze.
Já foram exibidos os filmes “Um Homem para a Eternidade”, de Fred Zinnemann e “Os Olhos da Ásia”, de João Mário Grilo.
Prevê-se, para hoje, sábado 12 de Dezembro, o filme “Timbuktu”, de Abderrahmane Sissako.
O filme de ontem, 6ª feira, e o de hoje, sábado, substituem o inicialmente previsto “Os Dez Mandamentos I e II”, de Roberto Benigni, que não pôde ser apresentado, segundo me esclareceram, porque tiveram um problema com a legendagem do original.
Amanhã, domingo dia 13 de Dezembro, está previsto o admirável filme soviético “Andrei Rublev”, de Andrei Tarkovsky.
Lembro-me de o ter visualizado, quando foi estreado em Portugal, na década de oitenta, 1983, no saudoso Cinema “Quarteto”.
Sobre este Ciclo de Cinema e a sua designação, gostaria de questionar.
Que sentido faz nomear este Ciclo de Cinema como “Católico”, apenas Católico?!
Tenho consciência que a organização pertence a pessoas e estruturas da Igreja Católica, ponto final. Presumo que de Almada. Mas esse aspeto, per si, justifica o nome?!
Não será reducionista “etiquetar” o Ciclo como “Católico”?!
A temática da filmografia é muitíssimo mais alargada, sob todos os aspetos, tanto num contexto espacial como temporal. Em todos os âmbitos culturais. E sociais. Religiosos até!
Num contexto de “Mundo Global”, o título do Ciclo limita muito e “à priori” restringe demasiado os assuntos, os temas, os problemas que posteriormente são abordados nos filmes que são riquíssimos e muito bem escolhidos.
Será que não faria mais sentido designar o “Ciclo” com um título mais abrangente e mais globalizante, tanto no que respeita às temáticas, como aos objetivos, salutares, frise-se, que este “Ciclo de Cinema” nos proporciona?!
Se fosse intitulado de “Cristão” seria mais abrangente tanto espacial como temporal e culturalmente. Ainda assim seria reducionista.
Se a designação fosse “Ecuménico”, o título aproximar-se-ia cada vez mais do conteúdo e móbil do Ciclo, mas ainda assim não abrangeria toda a riqueza ideativa da respetiva filmografia.
Talvez, e repito talvez, o termo “HUMANISTA” seja o mais adequado. Apesar de nos podermos também interrogar se com esta palavra, ao centrarmos o tema no “HOMEM”, não estarmos também, de algum modo, a restringir a ideia de “DEUS”.
E a “idealização divina” perpassa sempre explícita ou implícita nas temáticas abordadas.
Mas não terão os credos religiosos na sua base o “HOMEM” na sua elevação para “DEUS”?
E não é o Homem que importa “trabalhar”, para o fazer “alcançar” Deus?!
Um contraponto à crescente "desumanização" das Sociedades.
Deixo estas reflexões à consideração dos organizadores.
Ah! E Parabéns pelos belos e excelentes filmes que nos proporcionam!
Nota Final: Foto original de D.A.P.L. - Solar dos Zagallos, Sobreda, Almada, 2015.
Foi numa tarde ensolarada, mas fria, por acaso véspera de Natal, que assentei raízes no local que é agora a minha casa. Foi em Dezembro, que o meu dono me plantou no seu valado, junto à casa, com vista para a igreja de São Martinho. Foi em clima de festa que eu nasci, de novo, nesta cidade. Para mim foi mesmo Natal, Nascimento. E, pensei, como seria lindo, uma festa, em que todos plantássemos uma Árvore, que todos fizéssemos sempre Natal. E, ao mesmo tempo sonhei, é agora, finalmente, que eu vou ser Árvore de Natal!
E o local não podia ter sido melhor escolhido. Da minha nova morada posso avistar, altaneira, a torre da igreja, vejo e ouço os sinos repicar de contentamento, miro as crianças que passam alegres e festivas na esperança do Natal, dou alento aos velhotes que recordam a sua infância e, aos adultos, lembro o tempo de paragem e reflexão, o apelo à Paz, à Amizade e Amor, à quadra que se vai aproximando e a todos poderei desejar sempre um Santo e Feliz Natal.
Como disse, esse sonho de vir a ser árvore de Natal, sempre me acompanhou, no viveiro onde nasci, no entreposto/viveiro onde residi temporariamente até ser comprado pelos meus novos donos e mesmo aqui, no valado onde agora moro, ainda vivi algumas semanas nesse sonho. Ele foi a fanfarra, os foguetes, o contentamento das pessoas, a aproximação real do Natal. Mas foi já este ano que eu tive um lampejo, um corte violento e brusco, sobre esse meu sonho, que agora considero devaneio, mania, fixação até.
Todo esse vai e vem de Dezembro, que depressa chegou e mais rápido se esvaiu, me deixou numa tremenda excitação, euforia, enlouquecimento. Mas, passadas as festas, a azáfama das compras, as consoadas, a passagem do ano, chegado outro de novo e, com ele, Janeiro, já depois dos Reis, a vida pareceu recuperar a sua habitual normalidade, bonomia proverbial. Mas eis senão, quando, numa tarde enevoada, um destes senhores que não respeitam o ambiente, trouxe no atrelado do trator uns quantos arbustos escanzelados que, a trouxe-mouxe, arremessou para o meio de um silvado, junto de uma parede velha, perto do local onde moro.
Quis gritar, barafustar, chamar-lhe à atenção pela falta de respeito, pela atitude do senhor, mas a voz ficou-me embargada de comoção e espanto, não me saindo nada do tronquito onde me encerro. E ele abalou, aos solavancos com o atrelado, roncando o motor, pelo meio dos pinheirais de onde proviera. Mas a minha emoção foi maior ainda por reconhecer, nesses arbustos escanzelados, amarelecidos, esfoliados, amigos meus, pinheiros e abetos, por quem eu, no viveiro, nutrira tanta admiração e, diga-se, uma pontinha de inveja, por lhes ser destinado virem a ser Árvores de Natal.
Não resisti à curiosidade, quase saltei do terreno onde estava, bem puxei as raízes, para saltar o muro e aproximar-me desses amigos e colegas que gemiam, reclamavam da sua sorte, alguns pediam ajuda, outros já mal se ouviam nas suas lamúrias e preces e, aos poucos, foram estiolando, morrendo à minha beira e eu sem nada poder fazer.
Mas, enquanto viveram, morrendo aos poucos, puderam contar-me o seu destino.
Chegado o tempo e a altura própria, foram destinados para o que fora o seu maior sonho de glória: serem Árvores de Natal. Quando vieram os lenhadores com as suas moto-serras, embiocaram-se nas melhores vestes, empertigaram-se eretos na coluna, tremeluziram as agulhas de contentamento, piscaram olhos à moto cortante, gemeram ai, ui, num misto de prazer e dor e desfaleceram às dezenas no solo, ao ranger da lâmina serrante.
Iniciava-se o seu sonho ou devaneio…
Foram amontoados, empilhados uns sobre os outros, enrodilhados os abetos numa fina rede, distribuídos em camionetas por supermercados, lojas, praças, lugares e lugarejos nesta moda consumista. Mas ainda sonhavam e, por isso, valia a pena tanto sacrifício!
Regateados no preço por senhores e senhoras, pirraças de meninos e meninas, lá foram no porta-bagagem até casa, vivenda ou andar, indubitavelmente à sala, junto à televisão ou à lareira. E, uma vez aí chegados, foram devidamente abonecados: fitas e fitinhas, laços e laçarotes, bolas e bolitas, estrelas e estrelocas, luzes e luzinhas tremeluzindo, faiscando, pisca-pisca toda a noite e santo dia. E caixas e caixinhas e mais caixas, embrulhos, sacos de artigos de marca, devidamente enfeitados de lacinhos, corações e pais-natais, tudo em volta do pinheiro ou abeto. Agora sim, eram Árvores de Natal. Tinham finalmente alcançado a sua noite de glória, todo o seu glamour, apoteose, aparato, atingiram a condição de estrelas, super-estrelas. Mas, alguns, já aí se sentiram abafados pela tremenda confusão de objetos, pessoas e coisas, acessórios e associados dos festejos.
Mas assistiram, participaram nos festejos de Natal, vivenciaram beijos e abraços, votos de felicidade e alegria, participaram na troca de prendas, levaram até alguns safanões na euforia desta vivência, vislumbraram o fogo-de-artifício, pela janela aberta, na passagem do ano, chegaram até ao Dia de Reis, mas aqui foi dada por finda a sua função. Passaram a ser um estorvo, um estropício, um empecilho na sala e o seu destino foi, inexoravelmente, o caixote do lixo, a lixeira da Câmara, ou o aterro sanitário, quando não uns encontrões, junto à parede, no meio do balsedo.
“Foi este o destino da nossa quinzena de glória. Foi este o final do nosso sonho de grandeza, por que tanto ansiávamos. Não há lugar a final feliz. Ser árvore de Natal passa invariavelmente por terminar no lixo”, disseram-me, lamuriando, os meus amigos pinheiros e abetos.
E, perante esta dura e cruel realidade, apercebi-me então como vão e balofo fora esse meu sonho de ser Árvore de Natal.
- Para quê luzinhas piscando, se no céu estrelado estão milhões de luzeiros eternos?! A estrela d’alva, a estrela matutina, a estrela boieira, o set’estrelo, eu sei lá…
- Porquê bolas coloridas, se o sol e a lua cheia me iluminam os ramos e inundam todo o meu ser de luz eterna?
- Anjinhos de fantasia para quê, se crianças escorregarão, um dia, nos meus braços fortes e me subirão no tronco, na busca de mitos e heróis?
- Sala iluminada por quê, se tenho este lameiro verdejante onde vivo, vislumbro a cidade e os seus arrabaldes, os pinhais e vinhedos em redor, sinto o murmurejar dos regatos que junto a mim passam, em direção ao Rio do Tempo e do Esquecimento e as aves nas minhas ramadas pousarão e farão ninho, quem sabe! E tenho como teto a abóbada celeste e como lustre o sol, a lua e as estrelas?!
E foi assim que eu, de nome vulgar Castanheiro, do latim Castaniariu, de nome botânico, Castanea Sativa, da família das Castaneáceas ou Fagáceas, perdi a mania de vir a ser, um dia, “Árvore de Natal”.
Este texto corresponde à 2ª parte (final) do texto publicado neste blog, a 11/11/14.
Deste conto tenho várias versões já publicadas noutros suportes, a saber:
Boletim Cultural nº 75 do Círculo Nacional D’Arte e Poesia, Ano XVI, Dez. 2005 – “Sonho e desilusão de uma Árvore de Natal!”.
Boletim Cultural Nº 80 do Círculo Nacional D’Arte e Poesia, Ano XVII, Dez. 2006 – “A ilusão de ser Árvore de Natal!”.
Boletim Cultural nº 109 do Círculo Nacional D'Arte e Poesia, Ano XXIII, Dez. 2012 – “O impossível sonho de um Castanheiro que queria ser Árvore de Natal!”.
Jornal “A Mensagem”, Nº 481, Ano 44, Nov./Dez. 2014 -“O Castanheiro que sonhava ser “Árvore de Natal”.
Continuando ainda no “espírito natalício”, em que para além da mensagem de Amor/Caridade outro dos Valores a ele inerentes é a Esperança e na aproximação de um Novo Ano, que esperamos e desejamos sempre melhor que o anterior, hoje divulgamos um poema relativo a esta temática.
A ESPERANÇA
A Esperança criou asas
Abriu-as, pôs-se a voar.
Sobre a cidade e suas casas
As gentes foi saudar.
Desceu às ruas e ruelas
Cumprimentou as pessoas.
Fê-las sorrir, serem mais belas
Nos becos dessas lisboas.
Foi ao campo em missão
À gente mais conformada
Despertou-a, deu-lhe a mão.
Mais alto e mais longe, alada
Pandora afastou então.
E preparou nova alvorada.
Escrito em 13/12/1985.
Publicado em: Revista “Família Cristã”, rubrica “Lugar aos Novos”, Abril 1986.
Aproxima-se o Natal e com ele o final do Ano de 2014.
Fará sentido fazer algum balanço deste Blog, que nem três meses ainda tem?!
É algo sobre que me questiono…
Contudo através dele têm vindo a ser concretizados alguns dos Projetos que me propusera.
Divulgar trabalhos em Poesia, dando prevalência, por enquanto, a textos já publicados noutros enquadramentos.
Dar a conhecer, neste contexto online, trabalhos em Prosa de ficção, obedecendo, em princípio, ao mesmo critério.
Divulgar algumas das Crónicas que vou escrevendo sobre assuntos ou entidades culturais da atualidade, relevando temáticas de caráter regional, sem deixar também de me debruçar sobre eventos de âmbito mais vasto.
Publicar alguns dos trabalhos de pesquisa sobre a História da minha Aldeia, ou sobre a minha Aldeia na História, como se quiser.
Estes Projetos serão para ir continuando, caso a Vida e Quem rege as nossas Vidas me permita. Há muitos trabalhos para divulgar e a capacidade criativa para criar de novo, continuará, se Deus quiser! Aproveitando este conceito moderno de divulgação do que se escreve e e do que se faz de positivo. “Não se acende uma Luz para fechar numa gaveta!” É isso que a “net” nos permite. Divulgar a Luz!
Entretanto no decurso da execução/construção deste blog novos assuntos foram surgindo, que se podem enquadrar genérica ou especificamente nas premissas anteriores. Novembro e Dezembro são meses muito especiais, tanto no contexto pessoal como social.
Todos os textos aqui publicados são originais da minha autoria. Excertos que não o sejam seguem-se os critérios estabelecidos por norma, citação e fontes discriminadas. Mas não invalido a publicação de textos originais de outros autores. Bem pelo contrário!
A Fotografia que, à priori, não fora propriamente pensada ou delineada, surgiu e concretizou-se natural e maravilhosamente! Sem exagero, há fotografias belas, algumas belíssimas, posso dizê-lo, porque não sou o autor da maioria delas. Aliás, as mais procuradas não são as minhas, o que muito me apraz. Muitas das fotos são originais. Mas neste campo já é mais difícil manter o critério da originalidade. Contudo tenho resistido ao “saque da net”, tão fácil e tão acessível e onde há “material” muitíssimo melhor que qualquer um que eu alguma vez possa vir a produzir! Quando o faço procuro também situar as fontes. Penso que é o mínimo que se deve fazer!
Tenho-me socorrido de digitalizações, entre outros casos, na crónica sobre o musical “Cats” e no recurso aos Postais da “APBP – Artistas Pintores com a Boca e o Pé”, a partir de material que adquiri em suporte de papel. Neste último caso, penso que é também uma forma de Solidariedade.
Neste sintético e modesto balanço quero e muito especialmente agradecer a quem me ajuda e me possibilita concretizar o trabalho neste blog.
Também quero muito encarecidamente expressar os meus agradecimentos aos Leitores que têm a amabilidade e a paciência para irem lendo os textos que vou colocando no blog.
E aos Visualizadores das fotos em que algumas, para além de tudo o que poderíamos imaginar, têm sido muitíssimo visitadas!
“Hoje, dia 14 de Dezembro de 2014, vamos divulgar um poema que já anda para ser publicado há algumas semanas.
Teria que ser publicado em domingo, de preferência em Novembro e com sol, porque futebol há sempre!
Conviria ser também em dia de “Clássico”, preferencialmente o Benfica a jogar em casa.
Com tantas premissas e restrições, nunca mais calhava o dia!
Chegou hoje.
É Domingo, não me parece que haja sol, há futebol e os dois grandes a jogarem. Só que o Benfica não joga na condição de visitado, pois vai ao Porto. Não há, hoje, um Benfica Porto, mas sim um Porto Benfica!
No “Clássico” que o poema indiretamente evoca, o Benfica ganhou por 3 -1. E também venceu o campeonato, ficando o Porto em 2º lugar.
Pois o que desejamos é que a história se repita hoje, 14/12/14. Que o Benfica vença no Dragão e que ganhe o campeonato!
Segue o poema…”
O texto anterior foi escrito no sábado, 13/12/14, à noite, para ser publicado no domingo de manhã. Só que a Vida, por vezes, “prega-nos partidas” inesperadas e, por isso, só hoje, 3ª feira, volto a ter possibilidade de “pegar” no computador.
De modo que o poema mantem-se. O enquadramento explicativo é que é diferente.
O que era prognóstico e desejo passou a ser uma certeza.
O Benfica ganhou, no estádio do Dragão e também com um diferencial de dois golos. Continua a liderar, agora com seis pontos de avanço relativamente aos segundos classificados.
Que assim continue e no final do campeonato se repita o facto de 1982/83: O Benfica a vencer o campeonato!
Divulga-se então o poema:
“BARRETES”
“Domingo de Futebol”
Hoje é domingo…
E cheio de sol.
Lisboa é linda
Pois que ainda
Tem futebol.
Muitos barretes
E cachecóis.
Peúgas soquetes
Dos apanhados
Apaixonados
Dos futebóis.
Que barretes enfia
Somente quem quer.
Azuis ou vermelhos
Ou outro qualquer
Novos ou velhos…
Dão ilusão
Espontânea alegria
A quem os enfia.
Homem ou mulher
Criança ou adulto
Integram num culto
Na mesma irmandade
Da fraternidade.
E quem na cidade
De qualquer idade
Solitário entre gente
Que não conhece…
Se os vê de repente
Logo lhe apetece
Travar amizade
Com outro alguém
Também zé-ninguém
Da mesma irmandade.
Notas:
- Poema escrito em 14/11/1982, em Lisboa, num domingo de sol, em dia de Benfica - Porto.
Publicado em: Boletim Cultural nº42, do Círculo Nacional D’Arte e Poesia, Junho 1996.
O Dia 1 de Dezembro, feriado até há pouco tempo, porque nos recordava a “Restauração da Independência”, em 1640, relativamente ao governo espanhol da dinastia filipina, é um dia em que se comemoram várias ocorrências ou acontecimentos importantes.
O evento anteriormente referido, segundo os nossos governantes atuais, pelos vistos deixou de ser relevante!
Além do acontecimento mencionado também é o “Dia Mundial do Combate à SIDA”.
E é ainda o dia em que, em 1955,em Montgomery, no Alabama, EUA, Rosa Parks se recusou a ceder o seu lugar num autocarro a um branco.
Este gesto deu início à luta pelos direitos civis dos negros nos Estados Unidos.
Pode parecer-nos a nós, hoje, paradoxal esta situação. Contudo é algo para que convém estarmos atentos.
A questão dos designados “Direitos Humanos” é uma luta de séculos, mais acentuadamente a partir dos finais do século XVIII (Revolução Francesa).
Se quisermos recuar, podemos dizer que o Cristianismo ao instituir que todos os Homens são criados à imagem e semelhança de Deus definiu a matriz da filosofia inerente ao conceito de “Direitos Humanos”.
É possível que outras Religiões, outras Culturas e outras Filosofias também tenham definido conceitos idênticos...
Mas quanta ignomínia foi necessário à Humanidade suportar ainda e durante tantos séculos para se poder considerar que esta premissa é um postulado base da existência humana, do Homem e de cada homem, da Mulher e de cada mulher, de cada Ser Humano, independentemente de cor, religião, ideologia, situação económica, trabalho, orientação sexual, origem social, situação familiar... De que todos os Homens nascem Livres e Iguais em Direitos e Deveres.
Destacamos pois a luta desta Mulher pelo seu simbolismo e significado. Lembrando que esta é uma luta que não finda. Que o reconhecimento da Igualdade de Direitos é um dado adquirido em muitos Estados, mas completamente ignorado noutros.
Falar em Direitos Civis, Direitos Políticos, Direitos Económicos, Direitos Sociais é algo que pode parecer uma redundância nas designadas "Democracias Ocidentais", onde, pelo menos aparentemente, parecem dados adquiridos e consubstanciados nas respetivas Constituições.
Mas é só olharmos, com olhos de ver e ouvirmos com ouvidos de ouvir e sentimos, porque sentimos na pele como no dia-a-dia há atropelos constantes a muitos destes Direitos, mesmo nas designadas "Democracias Ocidentais". Noutros tipos de regimes nem é bom falar! Não há, em muitos Estados, o reconhecimento aos mais elementares Direitos Cívicos.
Rosa Parks em 1955, com Martin Luther King, Jr. ao fundo.
“Rosa Louise McCauley, mais conhecida por Rosa Parks (Tuskegee, 4 de fevereiro de 1913 – Detroit, 24 de outubro de2005), foi uma costureira negra norte-americana, símbolo do movimento dos direitos civis dos negros nos Estados Unidos. Ficou famosa, em 1º de dezembro de 1955, por ter-se recusado frontalmente a ceder o seu lugar no autocarro a um branco, tornando-se o estopim do movimento que foi denominado Boicote aos Autocarros de Montgomery e posteriormente viria a marcar o início da luta antissegregacionista.”
Porque se abatem as árvores, à beira das estradas?
Perguntou, inocente (ou atrevida?) a criança.
Porque impedem o alargamento das estradas.
Respondeu, categórico, o Presidente da Junta.
Porque os automobilistas nelas esbarram, esmagando os seus automóveis e as suas carolas nos troncos obtusos das árvores, que estacionam nos dois sentidos, não respeitando as regras de trânsito.
Sentenciou, sabedor, o Autarca Diligente.
Então… e a sombra? E o oxigénio?
E para que serve a sombra à beira das estradas?
Já ninguém anda a pé nem de carroça.
E temos toldos e guarda-sóis. Que há muitos no Hipermercado.
E o oxigénio compra-se em garrafas, não tarda muito.
E temos o ar condicionado!
Para que queremos árvores e natureza, se no meu Supermercado temos de tudo e é a verdadeira natureza?!
Para que precisamos de árvores, se temos tantas de plástico, perenes, sem folhas caindo, à venda no Hiper?!
Se temos tantas árvores empalhadas prontas a serem compradas para o Natal?!
Atalhou, solícito, o Dono de Uma Cadeia de Supermercados.
E as chatices que nos dão as árvores…
São as folhas que caem no Outono e voam por todo o lado.
E os ramos que têm que ser podados no Inverno…
E na Primavera enchem-se de flores e causam-nos alergias. Para depois murcharem e caírem…
E têm que ser regadas no Verão. E os frutos têm que ser colhidos, Quando há tantos na frutaria, À mão de semear…!
E trazem-nos mosquitos. E os pássaros. E os seus dejetos!
Acrescentou, pragmático, o Senhor Senso Comum.
E quando eu fizer anos, em Dezembro, e chegarem as cegonhas?
Que vão elas dizer das suas casas devassadas?!
Atreveu-se, ainda, a perguntar, impertinente, a criança.
O tempo das cegonhas já passou. Ou ainda acreditas nas cegonhas?
Pouco importa quando chegam. Nem como! Nem onde!
O tempo agora é digital. Mede-se nos écrans gigantes plantados nas bermas das vias rápidas, nos painéis publicitários anunciando o Novo Detergente. (Em vez das árvores que distraem os homens com os seus ramos a baloiçarem ao vento.)
Não há tempo, nem tempos, cronológico ou meteorológico que nos interessem. Não há Fim dos Tempos, que o Tempo é Eterno e Efémero.
Rematou, convincente, o Político Instalado no Poder.
E, a criança,
Perante tamanhas Sabedorias, calou-se.
Mas doeu-lhe muito ver tantos troncos de árvores
Cortados às rodelas, nas bermas das estradas!
E… Quando chegarem as cegonhas?
Que vão elas dizer…?!
Estas perguntas ficaram ecoando, em ressonância,
Na mente da criança.
Notas:
Escrito em Portalegre, Set. 2000.
Publicado no Boletim Cultural Nº 58, do Círculo Nacional D’Arte e Poesia, Dez. 2000