Há quem do Tejo só veja
o além porque é distância.
Mas quem de Além Tejo almeja
um sabor, uma fragrância,
estando aquém ou além verseja,
do Alentejo a substância.
Há quem do Tejo só veja
o além porque é distância.
Mas quem de Além Tejo almeja
um sabor, uma fragrância,
estando aquém ou além verseja,
do Alentejo a substância.
Carita não será propriamente um apelido muito vulgar.
Lopes, por exemplo, é muitíssimo mais difundido.
Todavia, no Alto Alentejo, conheço várias pessoas com este apelido. Dir-me-á: Pudera, é um dos apelidos na sua família, logo é natural que conheça um razoável número de pessoas assim apelidadas.
Verdade! Todavia muitas dessas pessoas não as conheço como pessoas da família. Aliás, essa é uma das minhas questões. Será que todos os Carita(s) têm ligações familiares entre si?! Não sei, realmente.
Os Caritas que conheço são da minha família, nomeadamente os que ascendem às localidades de Aldeia da Mata, de onde sou natural e os de Monte da Pedra. Mas no concelho de Crato, município a que pertencem as duas freguesias referidas, existem indivíduos com este sobrenome, mas que não conheço como familiares.
No distrito de Portalegre – Alto Alentejo, Norte Alentejano, este sobrenome também existe noutros concelhos. No próprio concelho de Portalegre existem Caritas. No de Castelo de Vide, no de Nisa e no de Campo Maior. Não sei se existem noutros concelhos deste distrito ou fora dele. Para além desta Região, também há pessoas assim nomeadas, mas integrantes da designada “Diáspora Alentejana”. Conheço em Almada e em Lisboa. Existirão também noutras regiões de Portugal?! Ignoro.
Relativamente aos Carita(s) da minha Família há uma particularidade que sempre me suscitou interesse e curiosidade. Uma parte significativa desses familiares teve ascendência num povoado que se extinguiu em meados do séc. XIX. Concretamente a aldeia do “Monte Chamisso”. Localizada no concelho do Crato, relativamente próxima de Aldeia da Mata, Monte da Pedra e Vale do Peso.
Uma das minhas trisavós paternas ainda viveu com a sua família nesta antiga aldeia. Daí tendo abalado, provavelmente nesses meados de Novecentos. Chamava-se Rosa de Matos, o marido, João Carita.
A minha Avó, Rosa de Matos Carita, 1893 -1978, falava dessa sua Avó e contava a história dessa abalada!
Em próximos postais irei escrevendo sobre este tema, contando algumas histórias.
(Umas em Aquém-tejo. Outras no Apeadeiro.)
Se O/A Caro/a Leitor/a conhecer algo relevante sobre este apelido, CARITA, comunique, SFF!
“Senhora das Candeias a rir, o Inverno está para vir. Senhora das Candeias a chorar, o Inverno está para acabar.”
Este é um provérbio que relaciona a meteorologia do dia da Senhora das Candeias ou da Luz com a eventualidade da continuação ou não do tempo invernoso.
Este Inverno tem-se prezado bastante das condições atmosféricas que lhe são peculiares. Chuva, frio, geada, neve, mesmo no Alentejo.
Ontem, dia um de Fevereiro, o dia até esteve bonito. Deu para andar no campo, a passear e também a trabalhar.
Hoje, dia dois, o tempo tem estado sempre chocho. Chuviscos, frio, tempo encoberto, o sol nem se viu. Por aqui, pela Cidade de Régio.
Como caraterizar face ao adágio?!
Pela minha perceção, a Senhora não se esteve a rir. Esteve mais a chorar que outra coisa.
Então, se dermos razão ao ditado, dito popular, teremos o Inverno a acabar?! Isto é, virá o tempo risonho. Temos o “bom” tempo a chegar?
Bem, oxalá que assim seja. Já andamos um pouco aborrecidos do “mau” tempo.
Aguardemos. O futuro nos dirá, se o rifão falha ou não. (Que os provérbios valem o que valem. Funcionam como formas de conhecimento empírico. Modos de transmitir o saber, a sabedoria alicerçada na prática geracional, transmitida de pais para filhos.)
Que a Senhora das Candeias nos traga Luz!
Notas finais: Vale do Peso é uma povoação do Alto Alentejo de grande devoção da Senhora das Candeias ou Nossa Senhora da Luz.
A foto ilustrativa não é de hoje. É do mês passado. Hoje não deu para sair. O dia tem estado com pior aspeto.
“Senhora das Candeias a rir, o Inverno está para vir. Senhora das Candeias a chorar, o Inverno está para acabar.”
Este é um provérbio que relaciona a meteorologia do dia da Senhora das Candeias ou da Luz com a eventualidade da continuação ou não do tempo invernoso.
Este Inverno tem-se prezado bastante das condições atmosféricas que lhe são peculiares. Chuva, frio, geada, neve, mesmo no Alentejo.
Ontem, dia um de Fevereiro, o dia até esteve bonito. Deu para andar no campo, a passear e também a trabalhar.
Hoje, dia dois, o tempo tem estado sempre chocho. Chuviscos, frio, tempo encoberto, o sol nem se viu. Por aqui, pela Cidade de Régio.
Como caraterizar face ao adágio?!
Pela minha perceção, a Senhora não se esteve a rir. Esteve mais a chorar que outra coisa.
Então, se dermos razão ao ditado, dito popular, teremos o Inverno a acabar?! Isto é, virá o tempo risonho. Temos o “bom” tempo a chegar?
Bem, oxalá que assim seja. Já andamos um pouco aborrecidos do “mau” tempo.
Aguardemos. O futuro nos dirá, se o rifão falha ou não. (Que os provérbios valem o que valem. Funcionam como formas de conhecimento empírico. Modos de transmitir o saber, a sabedoria alicerçada na prática geracional, transmitida de pais para filhos.)
Que a Senhora das Candeias nos traga Luz!
Notas finais: Vale do Peso é uma povoação do Alto Alentejo de grande devoção da Senhora das Candeias ou Nossa Senhora da Luz.
A foto ilustrativa não é de hoje. É do mês passado. Hoje não deu para sair. O dia tem estado com pior aspeto.
Nestas “Memórias”, para além do que já foi referido, há ainda mais alguns aspetos que gostaria de realçar. Ficando ainda muita informação, mas que convido a quem tiver interesse que pesquise nos “sites” já referidos e que assinalo no final, especialmente no da Universidade de Évora.
Todas as povoações tinham Pároco e algumas coadjutor(es) e outras pessoas adstritas ao trabalho religioso da Paróquia.
Todos eram remunerados, recebendo “ordenado / côngrua / renda”, na forma de géneros e dinheiro.
O nível de respostas é muito variado. Alguns párocos são bastante prolixos, desenvolvendo e pormenorizando nas respostas, incluindo até assuntos sobre outras paróquias, enquanto outros são bastante sintéticos.
Todos referem o orago, bem como os altares e santos das respetivas igrejas e ermidas existentes.
Todas as paróquias pertenciam ao “Priorado do Crato”.
Não tinham correio próprio, serviam-se do do Crato. Gáfete servia-se do de Portalegre.
Entre outros aspetos, referem-se também à situação das povoações, a distância às principais localidades e a Lisboa, em léguas.
Entre as paróquias ainda figurava a de “Monte Chamisso”, que ainda era habitada nesta data. (Despovoar-se-ia cerca de um século depois.)
Também existia a “freguezia de Nossa Senhora dos Martires” como paróquia independente e que englobava três lugares: “Monte de Ordem, Monte da Velha, e Monte Pizam”.
O pároco de Monte da Pedra desenvolveu bastante sobre a sua localidade, explicando, entre vários outros aspetos, a origem do respetivo nome (topónimo), que se deve à notabilidade de duas pedras que estão no limite da terra: o “ Penedo Gordo” e a “Lagem de Santo Estevão”.
O pároco do Crato menciona que Monte da Pedra era povoação no Lugar do Sourinho, tendo os moradores mudado para o local atual, mas que em 1634 ainda a Igreja estava nesse Lugar.
A aldeia de Nossa Senhora de Flor da Roza tinha três feiras francas de direitos reais, que duravam um dia: na primeira 6ª feira de Março, a 15 de Agosto e a 8 de Setembro. Estas eram as três feiras existentes no espaço do atual concelho.
Fora recentemente elevada à categoria de Paróquia, em 21 de Setembro de 1749.
Fazia-se muita e singular louça de barro. Havia também um pinhal grandioso.
Sobre a “Aldea do Val do Pezo” também são disponibilizadas pormenorizadas informações.
Refere-se a origem do nome da povoação. A antigamente cidade do Pezo, tomou o seu nome de uma formosa e bem parecida pedra, existente perto da aldeia, junto da qual se supunha existirem tesouros da antiga cidade.
Também a leste da aldeia existia uma pequena povoação, chamada Pedo Rodo, à data já em ruínas, mas de que existiam ainda nos livros da igreja, assentos de casamentos e batizados datados de cem anos antes, século XVII.
Em Fevereiro, havia duas romarias: a dois, a da Senhora da Luz e a doze, a de Santa Eulália.
A villa nova de São João de Gáfete, embora integrada no Priorado do Crato, tinha termo próprio, não pertencendo, à data, ao do Crato. Tinha Hospital e Casa de Misericórdia.
Na Villa do Crato houve um grande incêndio, a 29 de Junho de 1662, em que arderam todos os cartórios e papéis oficiais. Este incêndio ocorreu na sequência do ataque dos espanhóis, capitaneados por D. João de Áustria, na frente de um exército de 5000 infantes e 6000 cavaleiros. Este ataque integra-se na designada “Guerra da Restauração” (1640 - 1668), após Portugal ter recuperado a “Independência” em 1 de Dezembro de 1640.
Neste ataque a que a guarnição da praça resistiu durante cinco horas, apesar de em piores condições que o atacante, acabando a vila por ser invadida e sujeita à vontade do vencedor. Pelas cinco horas da tarde, entraram os vencedores e puseram fogo em muitas casas de cada rua, destruindo 282 moradas de casas na vila e 30 no castelo. Destruíram a torre, edifícios, fortificações, a igreja de S. João, arrasando completamente o castelo.
Estes são alguns aspetos que podem ser realçados da análise sobre o tema abordado “As Memórias Paroquiais de 1758”.
Muito ainda fica por abordar.
Formulo um convite à pesquisa sobre esta temática.
E, quem consultar o blog, a leitura de "posts" anteriores que enquadram todo o tema.
Notas Finais:
Neste trabalho para o “post” resolvi documentá-lo com os “brasões de armas” das freguesias recentes, antes da última alteração de 2013, porque sendo embora brasões atuais, na imagiologia apresentada e simbologia imanente “vão beber informação às fontes” do passado.
Uma versão deste trabalho global sobre as "Memórias Paroquiais de 1758" foi publicada no Jornal “A Mensagem”, em 2014.
Com este "post", concluo, em princípio, o trabalho sobre este tema e que me propusera divulgar na net.
Na elaboração deste trabalho também foram feitas pesquisas em documentação bibliográfica. Alguns livros também estão disponíveis online, nomeadamente:
- “Memórias Paroquiais de Campanhã”, versão online.
- Sinopse das “Memórias Paroquiais do Alandroal”, de Isabel Alves Moreira.
- (…)
Outra Bibliografia:
CARDOSO, P. LUIZ; DICCIONARIO GEOGRAFICO … ; Regia Officina SYLVIANA e da Academia Real, Lisboa, 1747.
FLORES, Alexandre M.; Vila e Termo de Almada nas Memórias Paroquiais de 1758, Separata da Revista Anais de Almada, Nº 5 – 6; Almada, 2009; Edição de Autor.
(Imagens de brasões das freguesias, in wikipédia.)
- Há que ter em conta que as contagens eram feitas numa perspetiva diferente da que usamos atualmente, nomeadamente religiosa, em função da obrigação das pessoas face ao cumprimento dos vários sacramentos.
- Não há também uma uniformização nas designações dos conceitos em análise, nem nas quantidades apresentadas.
- Apresentam-se os valores em numeração árabe, para uma melhor compreensão.
*******
“Aldea da Mata”: 300 "pessoas de sacramento" e 80 “menores”.
“Aldea do Val do Pezo”: 120 vizinhos, num total de 380 pessoas.
“Monte Chamisso”: 25 vizinhos, num total de 81 pessoas.
“Monte da Pedra”: 68 vizinhos, num total de 255 pessoas.
A freguesia toda tinha 91 vizinhos, num total de 323 pessoas.
À paróquia/freguesia de Monte da Pedra pertenciam, à data, mais três aldeias, a saber:
“Monte do Sume” - 17 vizinhos, 44 pessoas;
“Cazal de Folgão Palha” – 2 vizinhos, 10 pessoas;
“Monte de Franquino” – 4 vizinhos, 15 pessoas.
“Nossa Senhora de Flor da Roza”: 140 fogos, 400 “pessoas de confissão e comunhão", 40 “ só de confissão" e 100 “inocentes, não obrigados aos preceitos".
“ Nossa Senhora dos Martires”: 90 vizinhos, num total de 350 pessoas.
“Villa do Crato”: 414 vizinhos, que englobavam 1128 pessoas.
(“villa nova de São João de Gafete”: 205 vizinhos, num total de 512 “pessoas maiores” e 94 “menores”.
À data, Gáfete não pertencia ao “termo” da vila do Crato, embora anteriormente tivesse pertencido.)
À data e de acordo com as informações do “Pároco da villa do Crato”, o termo para além da própria vila, compreendia as seguintes aldeias, com os respetivos dados demográficos, nem sempre exatamente coincidentes com os explicitados pelos respetivos párocos de cada Paróquia:
“Aldea daMatta”, com 124 vizinhos, 386 pessoas;
“Monte da Pedra”, com 91 vizinhos, 318 pessoas;
“Chamisso”, com 25 vizinhos, 81 pessoas;
“Val do Pezo”, 101 vizinhos, 380 pessoas;
“Senhora dos Martires”, 90 fogos, 350 pessoas;
“nossa Senhora de Flor da Roza”, 135 fogos, 550 pessoas.
*******
Dados populacionais das Freguesias, 2011, segundo informação recolhida in wikipédia, comparativamente com a População das Paróquias estimada em 1758.
Freguesias
População
2011
População das Paróquias estimada em 1758
Aldeia da Mata
374
380**/386*
Crato e Mártires
1674
----
Crato = 1128*
“Senhora dos Martires”
Mártires = 350**/350*
Flor da Rosa
263
540**/550*
Gáfete
856
606**
Monte da Pedra
280
323**/318*
Vale do Peso
261
380**/380*
“Chamisso”
------
81**/81*
TOTAL
3708
3788**/3799*
* - segundo informação prestada por “Pároco da villa do Crato” .
** - segundo informação prestada pelo Pároco da respetiva Paróquia.
- Nem sempre se verifica concordância, mas não nos podemos esquecer das condições da época, meados do século XVIII e das “dificuldades de comunicação” a todos os níveis.
De qualquer modo, temos que reconhecer que foi um trabalho notável, à data, dado que apesar de todas as dificuldades ele foi realizado à escala nacional! Paróquia a paróquia!
- Note-se que, atualmente, das Povoações existentes, apenas Gáfete e Crato e Mártires têm mais população que em 1758!
E, na totalidade, o concelho tem ligeiramente menos população que na data referida – 1758.
Menos 80 a 90 pessoas.
Nota Final:
Esta pesquisa foi realizada a partir dos dados facultados pela Universidade de Évora no site específico sobre as "Memórias Paroquiais".
QUESTÕES suscitadas pela análise das respostas ao inquérito sobre a Paróquia de Aldeia da Mata
A leitura destes textos suscita-nos muitas questões. Aparentemente tão simples são de extraordinária riqueza informativa e formativa. Muitas diferenças com a realidade atual, mas persiste um fio condutor que nos liga ainda a esse passado…
Um dos aspetos que se mantem bastante comum com a atualidade é a Igreja Matriz. Mas mesmo aí há diferenças. À data referida, o designado altar de São João ainda não existia. Aí haveria uma porta lateral…O altar terá sido implantado mais tarde…
Mais algumas situações que me surpreendem, a saber: a informação disponibilizada, comparativamente com a que nos é facultada por outros Párocos do “termo da vila do Crato” revela-se limitada, parece haver lacunas na informação prestada.
Por ex. pouco se informa sobre a Ribeira, enquanto outros párocos sobre ela falam: a Ribeira de “Cojancas”.Também referida como da “Vargem”.
(Apenas se refere o que foi transcrito no “post” anterior, no respeitante ao rio.)
É de supor que os moinhos referidos sejam o das Caldeiras e o do Salgueirinho.
Contrariamente ao que é explicitamente pedido sobre pontes, não é referida a ponte da Ribeira do Salto.
Em contrapartida, o Pároco de “Flor da Roza” descreve bastante sobre a “ribeirinha chamada Margulhão” que nasce junto a Alagoa e se junta com a “ribeirinha chamada do Val do Pezo” na ponte de “cojancas” e que daí para baixo se mantem com esse nome. Que vai morrer na ribeira de Seda, por baixo do sítio do monte Redondo. E que tinha duas pontes, uma, de pau, a caminho do “Chamisso” e outra de pedra, no sítio de “Cojanquas”. “… que tem quatro léguas desde o nascimento até o sitio aonde entra na ribeira de Seda, e tão somente passa junto a esta povoação, e á de Aldea da Matta, distante desta uma légua.”
Referências do pároco de “Val do Pezo”, sobre as supracitadas ribeiras:
“juntam-se estas duas ribeiras meia légua distante desta aldeia, na estrada, que vem da Vila do Crato para a de Abrantes, aonde já chamam a ribeira de Cujancas, e aí tem uma bem feita ponte de pedra, a que chamam a ponte de Cujancas; e em pouca distancia perde o nome, porque chegando ao limite de Aldeia da Mata já tem o nome de ribeira da Vargem.”
Ainda no respeitante a Aldeia da Mata, não se fala nada sobre a “Anta”, que é visivelmente «qualquer coisa notável».
Nem há qualquer referência à “Lage do Ouro”. Será que a tradição oral não consagraria nada sobre este assunto?! À data, não haveriam evidências visíveis da ocupação romana?
Questões de religiosidade que condicionariam a menção destes temas, dada a sua conotação não cristã, associada ao paganismo e/ou islamismo?!
Também surpreende não haver qualquer referência à construção ou reconstrução da Igreja, dado ser o inquérito de 1758 e a Igreja ter na sua frontaria a data de 1757. Seria plausível haver no inquérito alguma menção ao assunto.
Igualmente ao referir as ermidas não são mencionados os dois cruzeiros aí existentes que são datados do século XVII (1672 e 1673).
Considerando a população referida (380 pessoas), a povoação teria pouco mais de 100 fogos, o que de algum modo se confirma pelas informações prestadas pelo pároco do Crato “… Aldea daMatta que tem cento e vinte e quatro vizinhos, e trezentas, e oitenta, e seis pessoas …” Relacionando com a referência à localização das ermidas e com os dados dos fogos/habitações existentes pode-se inferir que, na época, o espaço físico da “Aldea” ocuparia sensivelmente as atuais ruas Larga, S. Pedro, Travessinha, Ladeira, Largo do Terreiro, Rua de S. Martinho e iria até ao vulgarmente designado “Alto do Castelo” e “Baixa”. Talvez um pouco mais adiante na direção da Ermida de Stº António, que juntamente com a de São Pedro definiriam os limites do “espaço sacralizado” da povoação. (Este espaço físico conta com cerca de 120/130 habitações, que nas décadas de sessenta/setenta do séc. XX, muitas manteriam ainda a estrutura dessa época. Hoje ainda restam algumas dessas habitações nalgumas destas ruas, apesar das muitas modificações que houve nas casas, a estrutura das ruas mantém-se.)
É ainda o pároco da vila do Crato que menciona a existência de nove ermidas na sua paróquia, entre as quais destaca a de “Sam Miguel”.
“… com distancia de meia légua para a parte do poente está a Ermida de Sam Miguel: no altar maior se venera o Santo Archanjo e uma Imagem da Senhora com o titulo dos Remédios, estão anexas a esta Igreja algumas fazendas, e tem o Administrador de mandar dizer nesta Igreja missa aos Domingos e dias santos …” (…)
“Na Ermida de Sam Miguel é procurada com muita frequência a Imagem da Senhora dos Remédios, não só das pessoas da vila e aldeias, mas de partes distantes com mais especialidade nos sábados da quaresma costuma a maior parte dos votos ir descalços ou todo o caminho, ouparte dele segundo suas capacidades, sendo o caminho áspero por ser de areias grossas; dia de Sam Miguel é o maior concurso das terras vizinhas.” (…)
De paróquias de outros concelhos também há referências a “Aldea da Matta”. Os párocos das “villas” de “Chancellaria” e de Seda, de nome antigo “Arminho”, também se referem a Aldeia, mencionando o seu avistamento das respetivas localidades e a distância a que se situam.
O pároco da “villa” de Seda também descreve bastante sobre a Ribeira de Seda, que, segundo refere, citando o “Doutor Antonio Gonsalves de Novaes”, se chamara “Arminho”, por ter o seu princípio na Serra da Aramenha, perto de Portalegre. Outros párocos igualmente falam desta Ribeira, desde o do Crato até ao de Avis.
Diz ainda o mencionado pároco sobre a citada Ribeira: “… por cima desta Villa em distância de meia légua entra nela outra chamada Cujancas pela parte do Norte, e logo mais abaixo outra da mesma parte mais pequena que se chama Alfeijolos; …”
Na questão sobre os “frutos da terra” apenas se menciona centeio, algum trigo e milho.
Não há referência nem ao azeite nem a gados, por ex.!
De facto, também não há qualquer menção a lagares de azeite… Muitas dúvidas e interrogações subsistem!…
Contudo, dada a ancestralidade de muitas oliveiras existentes, vários olivais centenários e algumas oliveiras que seguramente rondarão a escala milenar, não haveria produção de azeite na paróquia, nessa época?!
E vinho?!
Também não se menciona nada relacionado com os montados…
Sendo apenas a produção agrícola constituída pelos cereais mencionados, seria um povoado relativamente pobre.
Há certamente lacunas informativas.
Curiosamente, no “Dicionário Geográfico” de 1747, documento anterior ao que estamos a analisar, aprofundam mais esta questão, referindo como “frutos da terra”, para além dos citados, também vinho, gado miúdo e grosso, lã e, pasme-se: seda. Neste documento também referem a existência de uma “fonte dos Gaviões”. E que não falta caça miúda e também lobos e raposas.
Nota: uma versão deste texto foi publicada no Jornal "A Mensagem", em 2014.
O Topónimo “Aldeia da Mata” define a localidade na sua essência, aldeia: pequena localidade, geralmente com poucos habitantes, núcleo populacional feito de casas contíguas, tipo alentejano. “Nos começos da Nacionalidade designava não uma povoação mas um casal ou herdade existente num sítio ermo.”(1)
Quanto ao primeiro termo do topónimo, Aldeia, entende-se facilmente o seu significado.
No referente aos outros, da Mata, já se nos levantam interrogações, dado que na atualidade não existe nenhuma mata significativa, justificativa do topónimo.
Mas se o nome consagra esses termos é porque terá existido alguma mata importante, para que a povoação tenha incorporado essa nomenclatura. Que mata terá sido essa, suficientemente importante para daí derivar o nome de Aldeia da Mata?!
Nas Memórias Paroquiais consultadas, séc. XVIII, já não há qualquer referência a essa Mata.
Mas, segundo diversos autores, essa mata existiu e dela deriva o topónimo.
Alarcão, J., in Revista Portuguesa de Arqueologia, volume 15, 2012, menciona esse facto, a partir do documento de doação da herdade que D. Sancho II, em 1232, fez à Ordem dos Hospitalários, mais tarde designada por Ordem Militar de Malta, consultado a partir da respetiva publicação em 1800, por José Anastácio Figueiredo.
O documento refere que um dos limites dessa Herdade é a mata de Alfeijolas.
Curioso que o nome Alfeijolas persiste na região, no termo Alfeijós, designando a Ribeira de Alfeijós, com vários nomes, conforme os locais por onde corre.
Inicialmente designa-se Ribeira do Fraguil e tem origem em ribeiros que nascem a norte do Monte da Taipa. Corre a leste da Cunheira, dirige-se para sul, passa nos Pegos, adquirindo o respetivo nome: Ribeira dosPegos.
Correndo na direção norte-sul atravessa a Linha do caminho-de-ferro do Leste, e a sul desta Linha, adquire o nome de Ribeira de Alfeijós. Corre a oeste dos “Cabeços do Barreiro”, Altos Barreiros, cuja cota mais elevada, 194 metros de altitude, se situa no monte de ALFEIJÓS.
A jusante situam-se dois Montes de habitação, também designados de Alfeijós: a leste da Ribeira, o Monte de Alfeijós de Cima e a oeste, o Monte de Alfeijós de Baixo.
A mencionada Ribeira de Alfeijós desagua na Ribeira de Seda, a jusante da foz da Ribeira de Cujancas e a montante da ponte romana de Vila Formosa.
É pois interessante que ainda atualmente o nome de Alfeijós, corruptela de Alfeijólas, persista na região, embora não existam sinais da referida mata.
As Memórias Paroquiais de 1758 também referem a Ribeira de Alfeijolos, assim designada pelo pároco da “villa” de Seda, embora já não referenciem a mata.
Qual o espaço territorial ocupado por essa mata que em 1232 seria significativa e foi inclusive, nessa época, motivo de disputas pela sua posse?!
As matas eram uma fonte de sustento, de recursos energéticos, de matérias-primas, sendo muito relevantes para povos e localidades. Mas estiveram sempre sujeitas a delapidação constante: corte, desbaste, fogos, arroteamento para agricultura.
Seria certamente uma mata de árvores e arbustos próprios destas condições climáticas: azinheira, sobreiro, carvalho negral, carrasco, zambujeiro. Medronheiro, aroeira, sanguinho e, entre as plantas mais arbustivas, a giesta, a esteva, o trovisco, a silva, a madressilva, etc. Ao longo das linhas de água, a mata ribeirinha: freixos, salgueiros, choupos, sabugueiros...
E geograficamente, ocuparia apenas a região atualmente a sul da Linha do Leste, onde persiste o respetivo nome? Prolongar-se-ia para norte, pela bacia hidrográfica da Ribeira de Alfeijós/Pegos/Fraguil até à Ola e Taipa? Ocuparia o território entre esta Ribeira e a Ribeira de Cujancas, inclusive ultrapassando-a e aproximando-se do espaço da atual freguesia de Aldeia? Teria uma área ainda mais vasta, conforme alguma documentação faz supor?!
Segundo o documento de 1232, esta “Matam de Alfeigolas” fazia parte dos limites da referida herdade. Curioso que o limite sul/sudoeste do atual concelho de Crato também se situe precisamente a sul/sudoeste de Aldeia da Mata. Outros limites do atual concelho do Crato também coincidem ou se aproximam de limites dessa herdade, referidos no citado documento de doação por D. Sancho II, à Ordem dos Hospitalários ou de São João de Jerusalém, designada por Ordem Militar de Malta, a partir de 1530.
A oeste, o Sume; a norte/noroeste e nordeste, o Rio Sor em parte significativa do seu percurso; a leste, Almojanda e parte do troço da Ribeira de Seda, sendo que esta Ribeira também delimita a sul. Ainda a sul, o limite segue numa linha relativamente paralela entre as Ribeiras do Cornado e de Linhais, pelos Cabeços de S. Lourenço e de S. Martinho. Ainda nesta direção sul, Alter do Chão, também é referida no documento como um dos limites.
E, frise-se, a mencionada Mata de Alfeijolas como um dos limites da herdade.
A mata existente no século XIII (1232), já não existente no século XVIII, até quando terá persistido enquanto tal?
Teria sido o nome da aldeia alguma vez Aldeia da Mata de Alfeijolas? Haverá documentos comprovativos? Ou terá sido sempre Aldeia da Mata, dada a importância da própria mata?!
Nota final:
- Agradecimento ao Srº Carlos Eustáquio pela prestimosa colaboração na consulta das Cartas topográficas referentes aos concelhos do distrito de Portalegre.
Fontes de Consulta (algumas):
- ALARCÃO, Jorge; Notas de Arqueologia, Epigrafia e Toponímia; Revista Portuguesa de Arqueologia, volume 15; Direção Geral do Património Cultural, 2012.
- FIGUEIREDO, Jozé Anastasio; Nova História da Militar Ordem de Malta, e dos Senhores Grão-Priores della, em Portugal; Officina de Simão Thaddeo Ferreira, Lisboa, 1800.
- MACHADO, José Pedro; Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa, Livros Horizonte, 7ª edição, 1995.
- SAA, Mário; As Grandes Vias da Lusitânia, o Itinerário de Antonino Pio, Tomo II, MCMLIX.
- (1) Lexicoteca, Moderna Enciclopédia Universal, Círculo de Leitores, Tomo I, 1ª edição, 1984.
- Cartas Topográficas do Instituto Geográfico do Exército.