Há quem do Tejo só veja
o além porque é distância.
Mas quem de Além Tejo almeja
um sabor, uma fragrância,
estando aquém ou além verseja,
do Alentejo a substância.
Há quem do Tejo só veja
o além porque é distância.
Mas quem de Além Tejo almeja
um sabor, uma fragrância,
estando aquém ou além verseja,
do Alentejo a substância.
E, agora, porque já começou a “Volta dos Mercados”… em que cada um dos participantes se aprimora…
Avisamos, desde já, que este texto pode ferir algumas susceptilidades…
Uma anedota, lida, algures, num almanaque, não sei quando, nem há quanto tempo!
Infelizmente, julgo que tem alguma atualidade, agora que já começaram as tournées pelos mercados… E que já alguns impropérios foram lançados… E alguns tiros nos pés foram arremetidos… E antes que mais atoardas sejam atiradas nas mais diversas vias comunicacionais…
Dir-me-ão que a historieta é de algum mau gosto e até me disponho a admitir que sim.
Mas e então os Mercados e as Pessoas que neles trabalham não merecem mais consideração?
E a temática que a Ida aos Mercados representa e simboliza não merece também mais consideração?!
E quem lhe tira essa consideração, inteiramente merecida, não serão os seus principais protagonistas que nela se envolvem, que se desrespeitam uns aos outros e a nós a quem querem vender a mercadoria?!
E vamos, então, à Anedota!
“Num Mercado, duas raparigas discutiam. Uma porque torna, a outra porque deixa, cada uma se aprimorava no que dizia à outra. A mãe de uma delas, que acompanhava a discussão, dizia para a respetiva filha:
Oh filha, chama-lhe!
Oh, filha, chama-lhe…
Perante a insistência da mãe, a filha dirige-se-lhe e pergunta:
Oh mãe, chamo-lhe, mas chamo-lhe o quê?!
Oh, filha, chama-lhe p***, antes que ela te chame a ti!”
E dita e escrita a anedota, que me andava “engasgada” há tanto tempo, que “para bom entendedor, meia palavra basta” e, nós somos seres inteligentes, formulo ainda um pedido, aos diversos Orgãos de Comunicação Social:
Não nos encham de sondagens e mais sondagens! Não nos tentem manipular!
Ao escrever num blog, ainda que fazendo-o da forma peculiar como o faço, um pouco arredio do “modus operandi” deste contexto comunicacional, não posso deixar de, por vezes, “interferir” nesse mesmo enquadramento de comunicação e refletir ou opinar sobre acontecimentos mais ou menos mediáticos, de caráter universalista e global.
E haverá assunto mais universal e global que o futebol e especificamente quando se trata do jogador Cristiano Ronaldo?!
Daí que não posso deixar de comentar a seguinte notícia:
“O Real Madrid está disposto a deixar sair Cristiano Ronaldo no final da época. A direção liderada por Florentino Pérez já deu indicação a Jorge Mendes, agente do jogador, para começar a tratar da venda, mas nunca por menos de 100 milhões de euros.” (…)
Não posso deixar de frisar. Chocante, não?!
Não só pelo valor numérico. 100.000.000 de euros!! São muitos zeros à direita de cem.
Mas pela situação, em si mesma.
À VENDA!!! Uma Pessoa à venda, pois é suposto que de uma Pessoa se trata, que é posta à venda como se de uma mercadoria qualquer se tratasse.
Bem sei, que não é uma qualquer mercadoria.
Mas o sujeito em questão é posto à venda pelo clube a que pertence, através do seu presidente de direção que transmitiu essa intenção ao intermediário das vendas. Como se fosse um produto, de alto valor diga-se, mas um objeto de uso, que deixa de interessar. Para todos os efeitos é disso que a venda trata.
O facto de a futura e provável transação envolver pelo menos cem milhões de euros, valor de troca, deixa de ser a venda e compra de uma pessoa? Um “dono” que vende e outro que irá comprar?
O facto de envolver uma organização importante, neste caso, um clube de nomeada, deixa de ser uma pessoa, representante de uma empresa, a vender outra pessoa sobre a qual tem posse, tem direitos de propriedade?!
Como se designa uma estrutura social em que pessoas são donas de outras pessoas?! Tem um nome não tem?! (…)
Bem sei que no futebol é assim que funciona “grosso modo”, que os jogadores assinam contratos, que tomam decisões, têm agentes é certo, mas em última instância são os próprios que decidem, mas de quem é o “passe”?!
Qual o contexto de autonomia que tem o jogador na tomada de decisão?
Os clubes têm ou não “direitos de propriedade” sobre os jogadores?!
É um contrato negocial inter-pares em plano de igualdade e reciprocidade ou os clubes têm efetivamente o direito de “posse” sobre os jogadores?
Será que o modelo negocial e funcional do futebol não poderá comportar uma estrutura mais civilizacional, mais democrática, menos a lembrar modelos de sociedades ancestrais em que homens eram donos de outros homens?! Quicá!
– Não deve ser fácil a um qualquer jogador de renome e valor mundial viver a permanente pressão a que está sujeito, não só no contexto de execução das suas funções, o jogo em si mesmo, o desporto propriamente dito, com todas as acutilâncias que o definem, mas todo o enquadramento social, mediático, todas as vivências associadas e os reflexos que têm no jogador enquanto ser humano, pessoa com todas as suas forças e fraquezas…
Em que medida a ida da “partenaire” se terá refletido no rapaz? E vê-la e sabê-la, que os media estão sempre a comentar, já “noutra onda”, que reflexos teve no seu mar?!
Enquanto durou o “affaire”, ganharam ambos, mas não venha ela dizer que não “cresceu” profissionalmente através da “ligação” que manteve com o “craque”…
Mas tudo isto são “fait-divers”… Mas, por vezes, também temos que “entrar nestas ondas”.
LIBERDADE: Liberdade de Expressão, Liberdade de Comunicação…
Atualmente na televisão pública passam alguns programas de referência, que são imperdíveis.
No Canal 2, pelas 22h, em dias de semana, passa uma série excepcional: BORGEN, um drama político, cujo ação decorre na Dinamarca, em que pela primeira vez uma mulher é primeira – ministra. Com desempenhos notáveis de vários atores e atrizes, retrata os meandros do Poder Político (Executivo, Legislativo e Judicial), com especial destaque ao Executivo e do 4º Poder (Comunicação Social) e o seu poderio num Regime Democrático e Ocidental.
Num contexto nacional, Dinamarca, mas integrado e integrante dum enquadramento e funcionamento à escala mundial/global.
Em contraponto e correlação, sempre, a vida pessoal das personagens e como, numa Democracia, estas situações se interligam e passam a domínio público, através da Comunicação Social.
Este breve esboço é reducionista das temáticas abordadas na série, que são múltiplas e variadas.
A questão da Liberdade, da Liberdade de Expressão; o papel da Mulher na sociedade e na política, particularmente em cargos de chefia; os interesses económicos condicionantes dos restantes poderes; o papel da Europa e de um pequeno país nas políticas mundiais, a importância do diálogo entre os vários agentes de decisão, … A defesa dos valores fundamentais do Ocidente, dimanados dos ideais da Revolução Francesa… Dos Direitos Humanos.
A difícil conciliação entre esfera pública e privada, de todos os intervenientes no exercício de funções e cargos em qualquer um dos quatro poderes…
Surpreende até a interligação entre o que se apresenta ficcionado e a realidade que vivemos.
O episódio da passada 5ª feira, 29 de Janeiro, foi paradigmático. Pela forma como a questão da Liberdade de Expressão foi apresentada e pelo apelo à lucidez e inteligência do espetador questionando-o sempre, quer direta quer indiretamente.
É impossível ficar-se indiferente aos temas e à forma como nos são apresentados em qualquer um dos episódios.
Convida sempre à reflexão, ao espírito crítico de quem vê! Um verdadeiro serviço prestado pela Televisão aos espetadores e à sua inteligência!
Só mesmo acompanhando!
É imperdível e até passa a uma excelente hora: 22h.
Na altura em que a formulámos ainda os media estavam ofuscados pelo brilho do Ouro da Bola...
Entretanto a dúvida que nos suscitava a questão foi respondida. Os orgãos de comunicação social acabaram por responder...
Se isso nos preocupava?!... Se isso nos interessava?!... Se isso nos dizia respeito?!... ?!... ... ...
Intrigou-nos a situação, que nos levou a formular a pergunta. Verdadeiramente pretendíamos também "despertar" leitores e leituras... Sem querer parecer imodesto, há já alguma temática neste blog que merece ser lida! E comentada! É sempre importante termos algum "retorno" sobre o que escrevemos...
Mas não foi por isso que estivémos estes dias sem "postar".
Pois então...
Depois deste interregno de alguns dias, voltamos a divulgar Poesia.
E uma linda fotografia, inédita e original!
Viagem…
De uma jovem para o futuro!
… … …
No seu ombro, encosto e recosto
A menina que fui.
Projecto e sonho
Outros sonhos que me fazem ser árvore da vida
Gaivota voando
Planando sobre o mar.
Na hora dos afectos, outros afectos e sentimentos…
Se cruzam nas estradas e caminhos
Que quero percorrer.
No meu navio
É o mastro que me falta
A bússola que me norteia.
Chegou a hora de largar amarras
Lançar-me a navegar…
Mas, sempre, tendo o seu porto
de afectos
onde me abrigar.
Escrito em 2006/07.
Publicado em: X Antologia do Círculo Nacional D’Arte e Poesia, 2009.
Depois da ótima notícia veiculada ontem nos orgãos de comunicação social, apenas ontem, que hoje já pouco se falará, as notícias positivas são rapidamente esquecidas...
Continuamos com a saga da menina Odete que, nesta historieta, se perde numa questão de títulos.
Capítulo IV
E acabou por entrar no Café do Srº Silva, mais conhecido como “Café Progresso”!
Na primeira mesa, a que dava para a montra, com algumas das iguarias servidas no estabelecimento, dispostas em prateleiras para visibilidade do exterior, na primeira mesa, dizia, estava uma senhora tipo marquesa das avenidas novas, quando as havia novas, que agora são todas velhas, tanto as avenidas como as marquesas e ambas em vias de extinção.
A senhora marquesa pedia, não muito alto, estava apenas sentada numa cadeira normal, não sobre a mesa, pedia a nobre senhora, numa voz audível e bem timbrada:
- Oh, senhor Bento, traga-me um garoto clarinho, por favor.
(Convém lembrar que a nobre senhora fizera este pedido na década de oitenta, ainda no século vinte, portanto, muito longe de imaginar todas as repercussões que viriam a ter estes pedidos de garotos no início do século vinte e um…)
- Minha Senhora, respondeu o senhor Bento, não acha que um garoto é demais para a sua idade?! Ainda se aguenta nas canelas? E ainda quer escolher… Clarinho, tem alguma coisa contra os escurinhos?! Não lhe é indiferente a cor, isto de um homem ser trigueiro não serve para toda a gente. E um garoto, com essa idade!... Vá à saída do liceu, talvez aí arranje garotos que lhe sirvam. Aqui não servem, nem se servem garotos. Não servem, pois somos contra o trabalho infantil e não se servem, porque é proibida a permanência a menores neste estabelecimento, não devidamente acompanhados por um adulto.
- Oh…! Oh!... Senhor Bento…Já se viu?! Perdeu o tino. Não tenho idade nem condição para sermões destes. Gaguejou, visivelmente embaraçada, a distinta senhora.
- Uma Senhora como eu, de boas famílias, viúva de um só marido, mestre de cavalaria. Alta cavalaria! (E pôs o senhor marido em cima do cavalo e num pedestal, tal qual Dom José.) Ouvir este despautério. Vou-me queixar ao gerente...
- Srº Silva, chegue aqui, por favor. – Imagine, o seu empregado, o srº Bento… patatá, pataté… patatu … e (re)compôs a conversa do empregado.
O senhor Silva ouvia, atento, mas incrédulo, perplexo, a conversa da senhora marquesa… (Na verdade, ela não era marquesa, mas nós damos-lhe esse título oficial, ela merece-o.)
- A Senhora quer mesmo um garoto?! Não lhe serve um mais velho? Eu, por exemplo. Estou em muito bom estado, tirando umas entradas e uns quantos cabelos brancos… Se quer clarinho, está bem, não vou para a praia este verão.
E o srº Silva já se via a não ir para a Caparica nas férias desse ano, indo passá-las à terra, na Beira Baixa, regressando em setembro, pronto a servir, com a sua elegância habitual, a Senhora Marquesa, viúva do senhor mestre de alta cavalaria, em cima de um pedestal.
E a senhora marquesa, ao lembrar-se da estória do tal garoto, não conseguia deixar de ver o dito cujo marido, que ela dizia ter sido mestre de alta cavalaria, devidamente composto, em cima do tal pedestal. Por mais que tentasse varrer da memória tal imagem abusiva da sua honorabilidade, lá estava ele, todo garboso e muito bem enfeitado, montado no seu cavalo alazão. A memória é realmente muito traiçoeira. Porque raio de carga d’água, não sei porque associação de ideias, há - de um mestre de alta cavalaria, estar com duas bandarilhas, se não é toureiro?! Ou será que era?
Só por ela pedir um garoto clarinho?! Sabendo nós que um garoto é uma bebida de café com um pouco de leite, servida em chávena de café ou café pingado de leite, apenas com um pouco mais de leite que o habitual, para ser clarinho.
Não fazemos a menor ideia, mas era assim qua a senhora o via!
Nota:
Uma versão deste texto foi publicada no Boletim Cultural Nº 73 do Círculo Nacional D'Arte e Poesia, Ano XVI, Julho 2005.