Há quem do Tejo só veja
o além porque é distância.
Mas quem de Além Tejo almeja
um sabor, uma fragrância,
estando aquém ou além verseja,
do Alentejo a substância.
Há quem do Tejo só veja
o além porque é distância.
Mas quem de Além Tejo almeja
um sabor, uma fragrância,
estando aquém ou além verseja,
do Alentejo a substância.
O Dia 1 de Dezembro, feriado até há pouco tempo, porque nos recordava a “Restauração da Independência”, em 1640, relativamente ao governo espanhol da dinastia filipina, é um dia em que se comemoram várias ocorrências ou acontecimentos importantes.
O evento anteriormente referido, segundo os nossos governantes atuais, pelos vistos deixou de ser relevante!
Além do acontecimento mencionado também é o “Dia Mundial do Combate à SIDA”.
E é ainda o dia em que, em 1955,em Montgomery, no Alabama, EUA, Rosa Parks se recusou a ceder o seu lugar num autocarro a um branco.
Este gesto deu início à luta pelos direitos civis dos negros nos Estados Unidos.
Pode parecer-nos a nós, hoje, paradoxal esta situação. Contudo é algo para que convém estarmos atentos.
A questão dos designados “Direitos Humanos” é uma luta de séculos, mais acentuadamente a partir dos finais do século XVIII (Revolução Francesa).
Se quisermos recuar, podemos dizer que o Cristianismo ao instituir que todos os Homens são criados à imagem e semelhança de Deus definiu a matriz da filosofia inerente ao conceito de “Direitos Humanos”.
É possível que outras Religiões, outras Culturas e outras Filosofias também tenham definido conceitos idênticos...
Mas quanta ignomínia foi necessário à Humanidade suportar ainda e durante tantos séculos para se poder considerar que esta premissa é um postulado base da existência humana, do Homem e de cada homem, da Mulher e de cada mulher, de cada Ser Humano, independentemente de cor, religião, ideologia, situação económica, trabalho, orientação sexual, origem social, situação familiar... De que todos os Homens nascem Livres e Iguais em Direitos e Deveres.
Destacamos pois a luta desta Mulher pelo seu simbolismo e significado. Lembrando que esta é uma luta que não finda. Que o reconhecimento da Igualdade de Direitos é um dado adquirido em muitos Estados, mas completamente ignorado noutros.
Falar em Direitos Civis, Direitos Políticos, Direitos Económicos, Direitos Sociais é algo que pode parecer uma redundância nas designadas "Democracias Ocidentais", onde, pelo menos aparentemente, parecem dados adquiridos e consubstanciados nas respetivas Constituições.
Mas é só olharmos, com olhos de ver e ouvirmos com ouvidos de ouvir e sentimos, porque sentimos na pele como no dia-a-dia há atropelos constantes a muitos destes Direitos, mesmo nas designadas "Democracias Ocidentais". Noutros tipos de regimes nem é bom falar! Não há, em muitos Estados, o reconhecimento aos mais elementares Direitos Cívicos.
Rosa Parks em 1955, com Martin Luther King, Jr. ao fundo.
“Rosa Louise McCauley, mais conhecida por Rosa Parks (Tuskegee, 4 de fevereiro de 1913 – Detroit, 24 de outubro de2005), foi uma costureira negra norte-americana, símbolo do movimento dos direitos civis dos negros nos Estados Unidos. Ficou famosa, em 1º de dezembro de 1955, por ter-se recusado frontalmente a ceder o seu lugar no autocarro a um branco, tornando-se o estopim do movimento que foi denominado Boicote aos Autocarros de Montgomery e posteriormente viria a marcar o início da luta antissegregacionista.”
A fábula que vos vou contar ouvia-a à minha avó que já cá não mora, mas me a segredou ao ouvido, numa noite de insónia. Deve ser lida com sotaque de português do brasil, suave e adocicado, para que o “Acordo” seja levado com mais amenidade.
Tem quatro atos e a respetiva ação decorre em dois momentos: no “Hoje” e no “Amanhã”.
O “Hoje” é um dia que já é uma tarde… O sol já riu e chorou, buscou agasalho e refrigério, amou e desamou, já teve esperança e agora desalento.
O “Amanhã” tem o condão de, apesar do “Hoje” taciturno e deprimido, desesperançado e triste, trazer sempre a ilusão ou esperança possível de que “ amanhã é um novo dia” e o sol vai nascer radiante e luminoso.
O Hoje e o Amanhã situam-se num “Reino da Bicharada”, situado algures num espaço e num tempo em que os animais ainda falavam, pois que ainda havia liberdade de expressão e os ditos agiam, pensavam e sentiam como nós os humanos.
Apresenta-se o 1º Ato da fábula
Aproveitamos para lançar um repto: esta fábula ficaria muito bem se fosse ilustrada. Competência que nos escapa. Haverá algum eventual leitor que seja capaz de tal?!
Hoje - Ato Um
O Senhor Burro
O Senhor Burro que é trabalhador e honesto, pontual e assertivo, assíduo e proativo, experiente e motivado, com licenciatura e mestrado, que trabalha por objetivos, cumpre metas e horários, que é ‘burro de carga’, ‘pau para toda a obra’… foi despedido do local de trabalho que já exercia há vários anos.
Invocou as suas competências e qualidades, atitudes e valores, conhecimentos e experiência, sabedoria e sapiência, a dedicação à “Firma", o seu apego à "Casa”, mas nada! Era velho! Já não prestava para trabalhar, que pedisse a reforma antecipada, que mesmo penalizado, era melhor que nada!
Mencionou direitos. Que não, agora, “HOJE” “direitos são regalias”, poder trabalhar é um privilégio. Não há “direito ao trabalho”, os despedimentos são flexíveis…
Nota: Este ato pode ser representado por qualquer outro animal, especialmente burro, de qualquer idade e condição.
Hoje - Ato Dois
O Senhor Pato Ganso
No final do mês de novembro, o Senhor Pato Ganso abriu o seu e-mail para ver o seu estrato de conta e quanto recebera e verificou um acentuado decréscimo face ao que recebia habitualmente.
Foi falar com o contabilista da repartição onde trabalhava, não se tivesse este enganado.
Ouviu uma voz off, responder-lhe: você é pato, ainda por cima ganso, por isso recebe menos este mês, no subsídio de natal. Menos prendas compra. Hoje, é só pato ganso que recebe menos, amanhã será também o pato marreco. E assim por diante… Depois do pato vai o peru, direito à ceia de natal.
“Amanhã”
Ato Três
Dona Galinha Có Ró Có
Era dia de voto, de eleição, prática já enraizada entre os animais do Reino da Bicharada. Fora marcada a votação, para o primeiro dia do ano, primeiro de janeiro, que coincidira em domingo. Para poupar nos feriados, foram marcados o da “restauração”, o da “república”, o “primeiro de Maio” e o da “democracia”, todos neste mesmo dia! E mais alguns com outro significado, que assim se reduzia no feriado.
Dona Galinha Có Ró Có se apresentou para votar. Se vestira a preceito, de cravo no peito, cabelo arranjado, de ar anafado. Entrou na assembleia de voto e cacarejou: sou Galinha Có Ró Có, venho exercer o meu direito de voto.
Votar?! Galinha não vota! Galinha cacareja, está no galinheiro, põe ovo e dá pinto e, no fim, canja de galinha. Votar, só vota o Galo! Ouvia-se em off, a voz do “Pig Brother”.
Mas não, que tenho direito, que voto é livre, que é “Democracia”, respondia a Dona, abanava as asas, espanejava as penas.
Mas não, votar não votou, e tanto espanejou que a “ramona” a levou para caldo de galinha.
Ato Quatro
Dona Cachorra
Dona Cachorra, pêlo luzidio e preto, ar reluzente, feliz e contente, foi tomar o autocarro, para seguir para o trabalho.
Na paragem, viu sinal de “Aqui cachorro não entra!”, um sinal stop com imagem de cachorro preto em fundo, mas não ligou.
Tentou entrar no onibus, mas não, que não podia entrar, barraram-lhe a entrada, enquanto se ouvia “Aqui cachorro não entra!”, voz gravada em off, do mesmo “Pig Brother”. Mas Dona Cachorra, chamada de “Rosa”, argumentava que precisava de ir de autocarro, que tinha direito a ir, que tinha dinheiro, as vacinas em dia, os impostos pagos, trabalhava a horas, era cumpridora, honesta e trabalhadora, mãe de família, cachorra – diligente e fiel, sem parasitas, cidadã livre do Reino da Bicharada …
Será que Dona Cachorra Preta, chamada de “Rosa”, entrou e sentou no autocarro?...
Saber a resposta para esse Amanhã, só depende da Bicharada!