Ricochetes de Covid?!
Padre António Vieira?!
Quando publiquei o postal “Passeio Virtual por Cidades… e Aldeias”, em Maio, fi-lo precisamente porque estava e estou, farto de Covid. E quem não estará? Escrever sobre o dito cujo ainda me saturava e satura mais.
Entretanto passaram-se tantas coisas e qual delas mais estranha.
O “desconfinamento” atingiu proporções, a meu ver, exageradas e não só em Portugal.
Manifestações, de motivações justas, mas que descambaram em efeitos injustificados.
Em Portugal, as ações têm sempre uma escala proporcional à nossa dimensão. Alguns cartazes despropositados.
Nos States, após aqueles descalabros, previsíveis, dadas as assimetrias gritantes entre estratos populacionais, acentuadas pelos efeitos de Covid; na Velha Albion, onde a Covid também tem feito grande mossa; inépcia e incoerência dos respetivos governantes, em ambos os estados anglófonos, deu-lhes, aos manifestantes, para derribarem e apearem estátuas. (Não haviam bastado os talibans!…)
Sem qualquer sentido.
Porque, reflita, SFF. Que seria da América se não tivesse havido Colombo? Ou de Inglaterra sem colonialismo(s)? Onde estariam esses sujeitos a quem lhes dá esses amoques?! Existiriam sequer, enquanto seres humanos?!
Porque se fossem os contestatários, ameríndios nos States; ou os anglos, ou os saxões, ou os celtas, em Inglaterra, ainda se perceberia… mas sendo quem são, que seria dos ditos se não tivesse havido todos esses horrores, que de facto foram: escravatura, esclavagismo, colonialismo, tráfico negreiro… Que não defendo nenhum destes retrocessos históricos, friso!
Que existem atualmente, sim! Com outras variantes e cambiantes, sim!
A História não se apaga, não deixa de existir por ser negada ou escondida ou submersa nos rios, enterrada nos pântanos da ignorância. Bem pelo contrário! Deve estar visível para ser aprendida, apreendida, interpretada, estudada, ensinada. Para ajuizarmos com discernimento e espírito crítico o que tem valor ou não, ao nosso olhar atual, sem deixar de perceber o enquadramento epocal.
Tudo o que é Humano tem que ser contextualizado no tempo e no espaço. Não se pode emendar o que foi ou deixou de ser mal feito em tempos passados, porque o “tempo não volta para trás”!
Cá pelo burgo, melhor, na Grande Cidade, também lhes deu para vandalizarem monumentos! E logo do Padre António Vieira!
Não sou especialmente apreciador de estatuária laudatória na via pública. Muita é inestética, mal colocada no espaço, os respetivos personagens suscetíveis de valoração ou não, positiva ou negativa. Todavia, já que expostos, permitem-nos opinar, ajuizar sobre os mesmos. São lições de História!
Não têm que ser consensuais. Muito menos estragados, destruídos. Para estragação e achincalhamento, basta o que lhes fazem os pombos, diária e continuadamente.
Que nos digam os Grandes: Camões, lá do alto do seu pedestal e Eça, mais terra a terra, mais a sua Verdade, um pouco mais em baixo.
De modo que, e um pouco mais acima, esborratar o Vieira é completamente incongruente.
António Vieira (Lisboa – 1608 / Baía – 1697): Orador e Escritor português. De pais de condição modesta, sua avó paterna era mestiça, serviçal na casa dos condes de Unhão.
Foi para o Brasil aos 6 anos. Estudou no Colégio dos Jesuítas, na Baía. Entrou na respetiva Companhia.
Distinguiu-se na catequese dos índios, de quem foi defensor intransigente.
De 1641 a 1652, esteve na Europa, nomeadamente ao serviço de D. João IV, de quem foi embaixador em França, Holanda e Itália.
Voltou ao Brasil, onde permaneceu de 1652 a 1661.
Levou o decreto real de libertação dos "índios", que provocou violentas reações dos colonos e o seu desterro para Lisboa.
Na sua segunda estada na Europa, 1661 – 1681, foi preso em Coimbra, em 1665, nos cárceres da Inquisição.
Viveu em Roma de 1669 – 1675. Regressaria ao Brasil em 1681, onde morreria em 1697.
Foi um Cidadão do Mundo, atravessou sete vezes o Atlântico, percorreu milhares de quilómetros, muitas vezes a pé.
Distinguiu-se especialmente nos sermões. Profundo conhecedor do coração humano. F. Pessoa o intitulou “Imperador da Língua Portuguesa”. Elogiado por A. Sérgio “nunca se escreveu em português mais claro, mais próprio, mais natural…”
Arrebatava tanto a gente inculta do Brasil, como o requintado mundo dos cardeais da Cúria Romana.
“Expoente da oratória sacra portuguesa e um dos maiores da oratória universal, foi político, missionário, defensor dos fracos, crítico audaz dos poderosos e patriota visionário.”
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(Para este excerto sobre P. António Vieira, mais uma vez, me baseei na Lexicoteca – Moderna Enciclopédia Universal – Círculo de Leitores - Tomo XVIII – pag.s 164, 165, 166.
Manias pré históricas!!!)
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E ainda...
Relacionado com o postal anterior, dizer que continuei com Tieta. Apaixonante a narração. Dá vontade de não parar. É sempre assim com Jorge Amado.
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E a foto?!
Original, como gosto que sejam. De flores, ou de plantas, pela(s) sua(s) simbologia(s).
Repare, SFF:
Hoje é dia 13 de Junho. Dia de Sto António. A respetiva flor simbólica é o lírio branco. (Na minha terra, também chamamos a estes lírios, açucenas.) E qual foi o celebérrimo sermão de Padre António Vieira? De Santo António... aos peixes. Que é isso que também ando a fazer... Mais valia ao pessoal que, em vez de desconfinar por dá cá aquela pallha, fosse tratar de jardins, que bem precisam. Nem sabem como é relaxante, tratar de um jardim ou de uma horta. Experimente, SFF.