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Aquém Tejo

Há quem do Tejo só veja o além porque é distância. Mas quem de Além Tejo almeja um sabor, uma fragrância, estando aquém ou além verseja, do Alentejo a substância.

Há quem do Tejo só veja o além porque é distância. Mas quem de Além Tejo almeja um sabor, uma fragrância, estando aquém ou além verseja, do Alentejo a substância.

“Com linha branca de luz” - António Nobre

“O novelo é a Lua - Cheia”

Estes versos fazem parte de uma quadra, que transcrevo e que também figura no livro “De Altemira fiz um ramo”. E é também uma quadra de autor erudito e consagrado, que foi incorporada no Cancioneiro Tradicional. Neste caso, de António Nobre (Porto – 1867 – 1900), inserta no livro “Só – O Livro Mais Triste Que Há Em Portugal”, editado originalmente em 1892.

Consultei numa edição de “Publicações Anagrama, Lda” – Porto - “Colecção Clássicos Anagrama Nº 19”. Especificamente no capítulo “Entre Douro e Minho”, subcapítulo “Para as Raparigas de Coimbra…”, quadra 16, pag. 51. Reportam-se, segundo o Autor, a Coimbra, 1890.

(O livro que tenho na minha posse não menciona data de edição. Sei que o comprei em 06/06/84, numa Feira do Livro, em Lisboa, por 125$00!)

 

“Nossa Senhora faz meia / Com linha branca de luz: / O novelo é a Lua – Cheia, / As meias são pra Jesus”.

 

Foi-me reproduzida, por D. Maria Belo, esta quadra, de modo ligeiramente diferente, no decurso da pesquisa efetuada sobre quadras tradicionais / cantigas de Aldeia da Mata, já neste quarto lustro do séc. XXI. Que a terá aprendido na sua infância ou adolescência, anos trinta ou quarenta do séc. XX.

 

Como se terá processado a incorporação desta e outras quadras já referenciadas, de autores célebres e eruditos, no contexto e âmbito do Cancioneiro Tradicional? (Afonso Lopes Vieira, João de Deus, …)

Na net também pesquisei e é igualmente mencionado que esta quadra também já fora recolhida nos anos trinta, em Elvas. E também foi cantada por Tristão da Silva (1927 - 1978).

 

Posso conjeturar uma hipótese, plausível, todavia sem certezas.

Certeza, apenas que não terá sido pelos meios ultra modernos que atualmente conhecemos.

 

Então como terá essa e outras quadras chegado ao conhecimento de pessoas trabalhando no campo, com poucos conhecimentos académicos, com imensas dificuldades de acesso a meios de comunicação?!

A hipótese que formulo é que terão sido estudantes de Coimbra que, no seu regresso às respetivas localidades de proveniência, cantassem essas quadras que haviam aprendido ou lido destes autores célebres, eles também frequentadores das tertúlias coimbrãs, nos finais do séc. XIX, princípios do séc. XX. Por essas vilas, aldeias e cidades do interior, em finais de séc. XIX, princípios de séc. XX, havia estudantes, filhos de famílias mais endinheiradas que frequentavam Coimbra, fosse em Medicina ou cursos de Direito ou Letras. É apenas uma hipótese.

Ao frequentarem, porque certamente o fariam, os arraiais e os bailes nas suas aldeias e vilas, também participariam nos despiques e desafios com os jovens das suas idades. Deste modo cantando e dando a conhecer as novas cantigas que traziam da Cidade dos estudantes, que seriam assim transmitidas oralmente, de geração em geração, de terra em terra.

 

Outra hipótese de divulgação: poderão ter sido os caminheiros, pedintes, cegos, que percorriam o Portugal de antanho, de lés – a - lés, que fossem os divulgadores dessas cantigas. Poderiam!

 

Esta quadra também a encontrei glosada em quatro quadras, por Teresa de Jesus, em “A Nossa Antologia” – Vol. X – 2002 – APP – Associação Portuguesa de Poetas. Foi aliás a partir dessa consulta fortuita que tomei conhecimento da respetiva autoria, que confirmei posteriormente na net e em livro.

 

E esta foi mais uma achega às aprendizagens a partir do livro “De Altemira…”

 

E oportunidade para recordar este Poeta. Quando puder, faça favor de ler “SÓ”!

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