De Altemira Fiz Um Ramo
E já que retomámos a escrita… Voltamos à Poesia. Desta vez, à Poesia Popular.
Temos em preparação, quase a ser editado, um livro estruturado a partir de recolha de “Cantigas”, quadras populares, coligidas em Aldeia da Mata, por várias Pessoas, algumas felizmente ainda vivas, outras que nos deixaram esse legado, mas já não estão entre nós.
A Poesia Popular é extraordinariamente rica. Na sua aparente simplicidade, tanto na estrutura formal, essencialmente quadras, como nos conteúdos, transmite-nos belas imagens poéticas, metafóricas, algumas de profunda e sensível ironia, intrinsecamente arreigada aos costumes e tradições do nosso Povo.
Através dela e nos contextos em que era dita, melhor, cantada, daí a designação de “cantigas”, educava, ensinava, veiculava Valores, Princípios, Atitudes, Comportamentos…
Era uma forma de transmissão oral de conhecimentos, de geração em geração. (Transmissão oral, pois que verdadeiramente só a partir dos finais dos anos quarenta é que a escolarização foi ganhando predominância. Até essas décadas – 40/50 - a população portuguesa era maioritariamente analfabeta.)
Ocorria num contexto predominantemente lúdico, de lazer: bailes e arraiais, convívio entre os vários intervenientes, essencialmente jovens, mas em que os mais velhos também participavam.
Mas também no enquadramento do trabalho campestre, entre os grupos, ranchos, que operavam nas várias atividades campesinas: nas mondas, nas ceifas, nas azeitonadas, durante a labuta diária e nas idas, ao nascer do sol e nos regressos das atividades, ao por do sol, enquadradas na sazonalidade das labutas no campo.
Estas tradições ocorriam ainda na década de cinquenta, enquanto o nosso país foi predominantemente rural, o setor primário dominante, antes das grandes correntes migratórias para as cidades em industrialização e das vagas emigratórias para a Europa mais desenvolvida, cujos grandes fluxos aconteceram na década de sessenta.
E antes de toda a novel tecnologia emergente a partir dessa década, nomeadamente rádio, televisão, gira discos, que foram modificando as tecnologias do lazer.
Bem! Mas toda esta conversa vem a propósito do mencionado livro, quase a ser editado, gostaríamos que ocorresse ainda este ano de 2018.
Apresentamos uma foto da imagem da capa, a “Altemira”, designação tradicional da artemísia em Aldeia da Mata e a quadra que sugestionou o título.
«De altemira fiz um ramo
De alfazema bem composto
O Amor que agora amo
Foi escolhido ao meu gosto.»
E outra foto, de uma figueira pingo - mel e também a quadra que a sugestiona.
Tal como a figueira também queremos produzir o fruto, o livro, mas também com flor, a “Altemira”!
«Não olhes para mim, não olhes
Que eu não sou o teu amor
Eu não sou como a figueira
Que dá frutos sem ter flor.»
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(E a propósito desta figueira, plantada no Vale, no início desta segunda década, deste segundo milénio, também tem história, como quase todas as árvores que tenho plantado, a partir de sementeira, abacelamento ou que eventualmente comprei.
Veio do quintal do meu sogro de um ramo que cortei da figueira de São João. Foi abacelada num vaso, posteriormente transplantada para o terreno onde está, sempre supondo que era de São João.
Só quando ela começou a produzir é que me apercebi que era de pingo mel.
E como occorreu isso?! Milagre?! Transmutação genética?!
Não, de todo.
O meu sogro tinha a figueira dele enxertada com duas qualidades: São João e Pingo Mel. E eu quando colhi os ramos para abacelar, desconhecendo o assunto, trouxe dos ramos de pingo mel e não dos de São João. São ambos figos deliciosos.
Mas agora já tenho num vaso um outro abacelamento, este de São João!)