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Aquém Tejo

Há quem do Tejo só veja o além porque é distância. Mas quem de Além Tejo almeja um sabor, uma fragrância, estando aquém ou além verseja, do Alentejo a substância.

Há quem do Tejo só veja o além porque é distância. Mas quem de Além Tejo almeja um sabor, uma fragrância, estando aquém ou além verseja, do Alentejo a substância.

“Jordskott” - Série Sueca na RTP 2

Séries Europeias na RTP2

 

 Terminou ontem, 5ª feira, 23 de Março, 2017, esta série sueca.

 

Sueca, não de jogo, célebre de cartas, mas de origem territorial. Que soube que era esta a origem geográfica, praticamente apenas nos últimos episódios, pois pensava ser norueguesa.

 

jordskott_t117859 in. filmow.com

 

Não vi os primeiros episódios.

Acabando de ver “A Mafiosa – Le Clan”, cinco temporadas, quarenta episódios, resolvi fazer quarentena.

E não iniciei “Jordskott”.

O título também não era nada apelativo, à priori, não era significante de nada, e pensei ser identidade de pessoa ou lugar.

Também só soube o que significava, no último e décimo episódio. Um superalimento, que uma personagem, Ylva, que percorria as ruas da cidadezinha, com um carrinho de compras do supermercado, dava a um peixe para o fazer super forte, antes de o lançar no rio.

Super alimento que Harry Storm, o assassino da série, tomaria no final e que o tornaria em super monstro.

 

Quando peguei na série custei muito a entender o enredo. Mas fui sempre vendo, ficando, como curiosidade, como vontade de descobrir e desenlaçar a trama, de ir tentando compreender toda a temática. À partida, não me agradava muito parte dessa temática, mas fui-me deixando ficar, talvez até, enredar.

 

O facto de o conteúdo temático fazer apelo a mitos, lendas e narrativas tradicionais, escritas e orais, de povos nórdicos, não sei se exclusivamente suecos, se de comuns e ancestrais antepassados de povos da floresta, esse facto fez com que muitos aspetos não se compreendessem na totalidade. Porque nos reporta para ancestralidades, tradições, conhecimentos, que nos são afastados culturalmente.

Mas fui-me deixando agarrar por esse desconhecido e vontade de perceber, entender, conhecer.

 

Achei também os assuntos, os/as personagens muito sombrios/as, tristes, pouco luminosos. Angústia, medo, sombras, pouca luz, muita ansiedade. Aspetos que me repeliam e, simultaneamente, me chamavam para a visualização.

Conclui a visão da série!

 

E, tenho que realçar, que teve aspetos muito positivos no final.

Foi uma série, mini, conclusiva.

As tramas enleadas, destrançaram-se. Resolveram-se os enigmas. Não nos restaram a angústia, a incerteza e a ansiedade, com que os guionistas teimam em deixar-nos, quando jogam com a provável continuidade dos seriados. Ademais, quando lidam com crianças raptadas ou desaparecidas. Lembro “Amber.

 

Nesta, as crianças foram todas resgatadas da gruta, para onde teriam sido levadas por um Muns, que não sei que era ou quem era.

(Talvez fosse Ylva, essa personagem, que o vulgo consideraria bruxa, mas que era um dos últimos seres especiais que restavam desse povo desaparecido, que teria vivido na floresta sagrada.)

 

Esse achamento das crianças na gruta foi realizado por Tom Aronsson, polícia e investigador local, que as encontrou através da filha, Ida, criança supostamente autista, mas que se revelou dotada de extraordinários poderes, como, aliás, a maioria daqueles personagens invulgares e excêntricos. Menina que se reencontrou consigo mesma e com o pai, com quem ela queria, de facto, compartilhar a sua vida.

Libertadas as crianças e entregues aos progenitores. Resolveu-se, deste modo satisfatoriamente, um dos enigmas que entrosou todo o conteúdo temático.

 

Os “maus”, digamos assim, foram “castigados”, usemos estas expressões reducionistas.

O “assassino”, Storm, foi ele morto pelo super peixe, ou o quer que fosse o ser que se movimentava oculto nas águas.

 

Gerda Gunnarsson que, por debaixo da mesa, foi sempre congeminando o seguimento do enredo, também morreria, de causas “naturais”, falemos assim da doença que a vitimou, o cancro.

Destino a que a sua ação na fábrica e ganância especulativa não seria alheia, em termos narrativos.

 

Lembremos que outra das temáticas assentava na existência de uma empresa madeireira, “Thornblad  Cellulosa”, também fábrica de celulose (?), que destruía a floresta, como fonte de matéria-prima; libertava fumos tóxicos, expelia águas residuais contaminadas, para o rio e lago das proximidades.

Esta era a parte da estrutura narrativa que espelhava a realidade, que todos conhecemos, um pouco por todo o mundo e os consequentes problemas ambientais.

 

Pelo meio, a ganância, a cupidez dos acionistas fabris, através do conselho de administração e de Gustaf Boren, sócio maioritário, de aumentarem a produção, de alargar a sua ação até outros setores.

Sabia-se, sabiam os dirigentes, conheciam alguns do povoado, a existência de filões de prata, que nas grutas afloravam à superfície.

Esse submundo subterrâneo, onde “reinaria” um povo, fugido da floresta (?), esta foi uma das partes que não consegui entender, essas grutas, bem como a floresta eram sagradas e deveriam ser mantidas intactas.

Existia até um acordo selado, no século XVIII, entre os antepassados de Eva Thornblad, detetive e filha de Johan Thornblad, e esse povo antigo.

Acordo que o pai, Johan, recentemente falecido, a respetiva firma madeireira e os atuais dirigentes vinham desrespeitando.

Inclusive, o pai de Eva, Johan, havia lançado desfoliante na floresta, já na década de setenta do século XX, matando muitos dos seus habitantes autóctones, que ele mandou posteriormente incinerar.

 

E estes seriam alguns dos aspetos, trágica e fatalmente realistas do enredo, sempre enovelados nos assuntos lendários, mitómanos e fantásticos.

 

E nesse contexto, simultaneamente “realista” e lendário, se situava o desaparecimento, sete anos antes, da filha de Eva, Josefine.

A morte de Johan Thornbald fora o motivo imediato do regresso de Eva a “Silver Height”, “Colina da Prata”, local onde residira com o pai e de onde se ausentara na sequência do trágico desaparecimento da filha, cujo corpo nunca aparecera.

O seu regresso e subsequente envolvimento na narrativa e busca das crianças desaparecidas e da sua própria filha foram um dos leitmotiv dos vários episódios, que, como já mencionado, tiveram um desfecho conclusivo.

 

E ainda e também neste contexto e ainda no lado positivamente conclusivo da narrativa.

 

Eva conseguiu que a firma reconsiderasse a sua ação, indiretamente a suspensão da prospeção do minério de prata e recuperou, perdendo, a sua filha Josefine

 

Esta “pertenceria”, faria parte, da Natureza, não me pergunte como nem porquê, e, Eva embora tendo-a recuperado, porque a perdera há sete anos, teve que aceitar, calma e naturalmente, como algo inexorável, a sua perda.

A criança – jovem, incorporar-se-ia, no território da floresta, na própria Terra Mãe, a que pertencia, transformando-se numa planta, rocha, integrada na própria terra, como se fora, quiçá, novo elemento mineral, talvez até fazendo parte do futuro filão de prata. Não sei.

 

E porque nesta pequena série parte do tema e dos personagens eram jovens e crianças, também o personagem Nicklas, filho de Gerda e do pai de Eva, seu meio-irmão, portanto, jovem supostamente doente mental, destrambelhado, se revelou, no final, extraordinariamente adulto e capaz de assumir os seus próprios destinos autonomamente.

A defesa dos interesses do filho, como forma de o afastar da instituição / hospital psiquiátrico, onde ele era internado e mal tratado, procurando assegurar-lhe um futuro financeiro estável, era a motivação egoísta, que levava Gerda, a engendrar as mais diversas artimanhas, culminando nas detonações das grutas, na busca da prata, sem se preocupar com as crianças aí retidas.

 

Valeu a intervenção de Eva e do meio-irmão, Nicklas, que apesar do seu aparente deficit cognitivo, mas extremamente afetuoso, conseguiu ainda que a mãe suspendesse essa intervenção desastrosa.

 

E, como tal, e é bom reforçar, as crianças salvaram-se!

 

Não julgo que tenha sido uma série, que tenha conseguido cativar muito público, digo eu.

Talvez fale por mim.

Foi difícil iniciar-me nela, não entendi todo o enredo, mas se a repetissem talvez procurasse segui-la, logo de início, para posterior melhor entendimento.

Gostei do final! Foi conclusivo e positivo.

 

E faltou contar muito sobre o narrado?!

Sim. Imenso!

E não falei de dois personagens que desempenharam papéis fulcrais.

Goran Wass, investigador e da jovem Esmeralda, nome sugestivo, ambos seres especiais, dotados de poderes sobrenaturais, fundamentais no enredo, mas sobre que já não vou perorar.

Apenas realço que eram dos poucos seres restantes desse povo antigo.

E que Goran fora precisamente colocado nessa investigação ao desaparecimento das crianças, que se iniciara com Anton, filho de um dos administradores da "Cellulosa", precisamente para tentar salvar os membros remanescentes e raros desse povo.

 

Se a RTP2 voltar a transmitir a série, vou ver se consigo visualizá-la e prestar atenção ao que não assisti.

E, talvez, contar desde o início e de outro modo, mais analítico.

 

Aqui tem, caro/a leitor/a, o que me foi possível. Especialmente para si, que gosta de séries!

E, obrigado, pela sua leitura!

 

 

 

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