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Aquém Tejo

Há quem do Tejo só veja o além porque é distância. Mas quem de Além Tejo almeja um sabor, uma fragrância, estando aquém ou além verseja, do Alentejo a substância.

Há quem do Tejo só veja o além porque é distância. Mas quem de Além Tejo almeja um sabor, uma fragrância, estando aquém ou além verseja, do Alentejo a substância.

MÃOS (Poema)

MÃOS

 

Mãos que correm

Nos percorrem

Mexem, andam, nos remexem

Seguem, avançam

Recuam, estremecem

Sentem, apalpam, apertam.

Que magoam.

Que agarram, pegam

Se crispam, enrugam

Nos enganam

Se apertam, enroscam.

Que esganam.

 

Mãos que tremem

Abanam, temem

Se torcem, torcem

Roem, as unhas roídas

Pobres, livres, doridas.

Mãos suadas.

 

Mãos que dão, recebem

Mãos que roubam

Tiram, põem

Agitam, ajeitam

Adornam, compõem.

 

Mãos limpas, escuras, calejadas

De tornos, martelos e enxadas.

Mãos brancas, brancas

Sujas, unas, mancas…

Mãos compridas

Curtas, aneladas.

Mãos finas, perfumadas

Limpas e lavadas

Mãos beijadas

Laçadas e entrelaçadas                                                                        

De mãos dadas.

 

Mãos postas, postas

Postas a pedir e a rezar

Rogantes, aflitas, soluçantes

Apertando gritos sufocantes.

 

Mão estendida

Aberta, esquecida

Pedinte pedindo, perdida

No meio do lixo metida

Catando, procurando

Tostões, papéis, meios de vida.

 

Mãos crispadas

Erguidas, apertadas

De punho fechadas…

Forçando, exigindo

Gritando lutas, lutando.

 

Mãos graves, solenes

Cumprimentos de cerimónia

Cerimoniosas, vaidosas

Pedantes, vistosas

Tristes, pretensiosas…

Lavadas em água-de-colónia.

 

Apertos de mão efusivos

Alegres, contentes, festivos

De amizade cativos.

Mãos que se prolongam

Nos braços, nos corpos.

…Se enlaçam

Se apertam e abraçam.

Mãos amigas que se amam.

 

 

 

Escrito em 1982.

(Publicado Boletim Cultural de "Mensageiro da Poesia" Nº 128 Maio / Jun. 2015.)

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