“O Milagre das Rosas” (II)
“São rosas, meu senhor, são rosas…”
Voltamos às perguntas do Rei, Dom Dinis, a Dona Isabel, a Rainha.
E às respostas.
Face à primeira, “- Onde ides…?”, a Rainha foi lesta, expedita.
- Pois saiba, meu Senhor e Rei que eu e minhas damas de companhia e de corte vamos a um “passeio higiénico”, aspirar uns ares puros da serra e brisas do mar. (Isto supondo que estaria em Óbidos). Não queremos saber de confinamentos, aliás, ninguém quer saber.
E que levais no regaço? Repetiu Sua Alteza Real, Dom Dinis.
Esta é que era a questão fulcral, pois toda a gente sabia que a Rainha era uma esmoler, que dava a pobres e necessitados e o Rei um sovina, que achava que ela delapidava o tesouro real, com uns papo secos que ia distribuindo aqui e ali, pelas terras onde se deslocava a corte.
E essa fora a razão pela qual Dinis antecipara a sua vinda das javalinas.
E qual a resposta de Dona Isabel? (…)
Um murmúrio de vozes foi ecoando…
São rosas, senhor, são rosas… São rosas, senhor, são rosas… São rosas, senhor, são rosas…
O povoléu, incomodado com a interpelação do rei e querendo defender e ajudar a rainha, que estimavam e também sabedor da necessidade dos pãezinhos que lhes matavam a fome, recitava esta cantilena ancestral, pois também todos conheciam a estória do milagre.
“São rosas, senhor, são rosas…”
O Rei - o homem, Dinis, estava atónito, com aquele vozear em surdina pela barbacã, ecoando nas muralhas do castelo palaciano.
E a Rainha, continuava segurando o avental carregado e arrebanhado no regaço.
(E, agora, Caro/a Leitor/a, façamos um pequeno interregno, para nos questionarmos.
Acha que a Rainha, Dona Isabel, a Rainha Santa, trazia pãezinhos ou eram realmente rosas?!)