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Aquém Tejo

Há quem do Tejo só veja o além porque é distância. Mas quem de Além Tejo almeja um sabor, uma fragrância, estando aquém ou além verseja, do Alentejo a substância.

Há quem do Tejo só veja o além porque é distância. Mas quem de Além Tejo almeja um sabor, uma fragrância, estando aquém ou além verseja, do Alentejo a substância.

Poesia: Homenagem a distintos Sócios da APP – Associação Portuguesa de Poetas

ABRIL

 

Foto1925 Primavera original DAPL 2015.jpg

 

Introito:

 

Terminou o mês de Março. E este post, nº 518, fora delineado para ser publicado nesse mês. Mas não foi possível.

Iniciando-se Abril, continuamos ainda em boa companhia, isto é, com a Poesia. Prosseguimos igualmente com a Associação Portuguesa de Poetas e pessoas que nela tiveram papel de destaque.

A divulgação de participantes na XX Antologia foi concluída no post nº 513, a 20 de Março.

Quando iniciei essa divulgação, ainda em 2016, referi que gostaria de realçar duas pessoas que foram muito importantes no âmbito da APP.

(No meu ponto de vista e na minha visão parcelar e provavelmente parcial sobre a temática. Eventualmente, poderei estar a ser injusto, por omissão, relativamente a outras personalidades, a quem apresento as minhas desculpas.)

 

Para possibilitar essa divulgação, tive que pesquisar a bibliografia disponível e, finalmente, hoje, posso divulgar duas Poesias, uma de Luís Filipe Soares, sócio nº1 da APP e outra de Maria Ivone Vairinho, sócia honorária da APP e que dirigiu os respetivos destinos de Março de 2002, a Maio de 2011.

 

*******

 

Seguem-se, então, os textos poéticos:

 

 

«NA SOMBRA DA VIDA»

 

«O despertador tocava

ininterruptamente.

Acordou.

Deixou o sono a escorrer

ao longo dos cabelos da sua imaginação,

cobriu a face com alva espuma de sabão

e deixou a água acariciar

as rugas da sua pele ressequida.

Deu os bons dias à vida,

bebeu o café

e saiu para a rua.

Fato de ganga: desbotado,

gasto, descosido e amarrotado.

É operário.

Vive só…

É casado e tem dois filhos!

Caminha apressado.

Não vê ninguém.

Ninguém o vê!...

Chega à oficina,

diz «Bom dia» para quem o ouvir

e começa a trabalhar

até o cansaço o invadir.

Hora do almoço.

Pega na lancheira; tira o naco de pão,

as rodelas de salpicão e toucinho

e bebe três goles de vinho para temperar.  

Regressa à oficina.

Não vê ninguém, mas também ninguém o vê!

Trabalha, trabalha sem parar.

Toca para sair

Invariavelmente,

exclama para quem o quiser ouvir:

«Até amanhã».

Sai apressado

como quem anseia por algo que é melhor.

Caminha lentamente.

Traz o coração estraçoado

pela dor do seu sofrimento.

Chega a casa.

Ninguém o espera.

Ninguém, a não ser

o silêncio da sua solidão.

Toma banho, janta

e senta-se um pouco

perscrutando os hálitos da sua poesia.

Deita-se, e adormece levando consigo

nas asas do seu pensamento

o som brutal do acidente

que lhe tirou a visão.

Sonha,

e nesse mundo de fantasia

viu-se rodeado dos amigos de então,

dos filhos que o vieram visitar,

da mulher que lhe pedia perdão

e no meio de uma sociedade

que o amparava e protegia.

E ele sorria.

Oferecia amizade e simpatia,

falava na esperança, no amor

e acima de tudo…vivia!

Mas… como sempre,

o verde da ilusão

foi vencido pelo negro da realidade.

… e ele acordou.

Esperava-o um dia sempre igual,

sombrio, transparente e vazio.

Antes de se levantar

pensou como devia parecer triste

aos olhos das outras pessoas:

Velho, pobre, doente…

Mas que importa?

… ele passa

E ninguém o vê!»

 

Luís Filipe Soares

 

In:

Revista “Família Cristã”

Ano XXXI, nº 11 – Novembro 1985.

 

(Nota 1 - Também tenho publicado, nesta edição da Revista, “CAVALO DE FERRO”, sob pseudónimo “Manuel Francisco”.)

 

*******

 

«CINZA DE LUME APAGADO»

 

«Chão aberto à semente

Água de riacho

Planta de funda raiz

Flor a desabrochar

Sou terra, água

Planta, flor

De Primavera

 

Águia que quer voar

Ave que canta no pomar

Em noites de lua cheia

Sou fruto amadurecido

De Verão

 

Fulgor do sol poente

Onda que se levanta

Em mar de vivas marés

Sou folha doirada

Que tomba, que cai

No Outono

 

Flor de Primavera

Seara de Verão

Folha caída de Outono

Cinza de lume apagado

Morro no Inverno.»

 

Maria Ivone Vairinho

 

In:

“A Nossa Antologia”

“Antologia de Poesia e Prosa Poética”

X Volume – 2002.

 

(Nota 2 - Nesta X Antologia também participei com:

POEMA FIGURADO (I)”,”POEMA FIGURADO (II) – Um ramo de flores para a Mãe”, e “POEMA FIGURADO (III) – Perdido de si”.

Nota 3 - De entre os participantes nesta X Antologia, também participaram na XX:

Bento Laneiro, Catarina Malanho, Feliciana Garcia, Maria Melo, Natália Fernandes e Virgínia Branco.)

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