Poesias publicadas na Revista "Família Cristã"
"Lugar aos novos"
Obrigado!
Preâmbulo:
Caros/as Leitores/Leitoras
Há algum tempo que não publicava. Outros afazeres. A inércia que, por vezes, me ataca: outro nome para a preguiça.
Este post que foi demorado a estruturar, até na divulgação online, pois que esta Introdução só nasceu após a divulgação dos poemas, embora as ideias já andassem a germinar há dias…
Assim, fui protelando, adiando…
Finalmente, chegou, hoje, o Dia!
Continuo e volto com a Poesia. Agora alguns textos meus.
(Não, não esqueci que ainda irei continuar com a XX Antologia da APP.)
Dos meus, que agora publico, a maioria já foi dada a conhecer no blogue.
Mas, então, questionar-me-ão: Porque divulgar novamente?!
Resolvi estruturar este post, com todos estes poemas, pelo facto de todos eles terem sido publicados, em suporte de papel, na Revista “Família Cristã”, nos anos oitenta: 84, 85, 86, 87 e 88.
Foi precisamente nesta Revista que comecei a divulgar alguns dos poemas que já tinha escrito.
Publicados na Secção “Lugar aos novos”, coordenação de Padre Agostinho Correia.
O 1º poema que publiquei foi precisamente “Realização”, na revista de Fevereiro de 1984.
Seguiram-se:
“Desencontros” – Março 1985
“Cavalo de Ferro” – Novembro 1985
“A Esperança” – Abril 1986
“Caminhadas” – Fevereiro 1987
“Alma de Poeta” – Junho 1987
“Somos Mar!” e “Um Quadro” – Fevereiro 1988.
Provavelmente, tudo isto, atualmente, nos tempos que correm, com todos os meios comunicacionais existentes, com o acesso à divulgação relativamente facilitado, parecerá uma simples redundância, algo irrelevante.
Mas não foi! Para mim, à data, foi extremamente importante. E gratificante!
Foi a primeira porta que se me abriu à divulgação do que escrevia.
E, foi por isso, para realçar a importância desse facto e também para agradecer essa possibilidade, que agora, com toda esta comodidade técnica existente, não será fácil ajuizar sobre o valor que, para mim, teve essa oportunidade!
Obrigado! Agradecer, nunca é demais.
A ordem na publicação não foi a que apresento no blogue.
No post, apresento os poemas por ordem cronológica da respetiva escrita, iniciando-se pelos mais recentes:
“Caminhadas”, “Somos Mar”, de 1986;
“A Esperança”, 1985;
“Cavalo de Ferro” e “Alma de Poeta”, 1982;
“Desencontros” e “Realização”, finais de 70 (?)
“Um Quadro”, 76/77.
São alguns dos poemas que escrevi neste período de tempo: 76/77 até 86.
Escrevi mais neste período. Alguns publicados noutros meios comunicacionais. Outros inéditos. Alguns nunca serão divulgados.
Bem, seguem-se os poemas, que a prosa já vai longa e estas minudências só a mim interessam.
Alguns ilustradas por bonitas fotografias.
CAMINHADAS
Pouco a pouco, os Sonhos são quimeras
Arredados nos Caminhos percorridos em Outrora.
No tecido da urbe que habitamos
Os passos do presente registamos
Deixando sempre outros caminhos
Passos, ruas, por correr…
Entramos em casas, nunca em todas
Qu’impossível se torna estar em todas.
Saímos, fechando algumas portas
Que abertas, ficar deviam. Todas!
Mas nem sempre podem.
Vai havendo sempre novas portas
Para abrir.
Enquanto conseguimos.
E portas há que nunca abrimos
Fechadas “ab aeterno” pelos Deuses.
Mas cada vez mais quedados em nossas casas
Quando não no nosso quarto, já sem asas
Cada vez mais em si mesmo dados.
Por vezes nos achamos em becos sem saída
Ou em quartos sem janela
Nesta cidade cada vez menos construída
Para nós, Homens, vivermos nela.
Resta-nos rasgar paredes e, nelas
Inscrever o Sol, a Luz, o Mar de barcas – belas
O Tempo das calmarias sem procelas.
Sabendo que mais fácil é dizê-lo
Do que, todavia, será fazê-lo.
Marca-nos sempre ao Longe termos
O Campo, Santo que a Natureza (humana)
Povoou d’esguias árvores apontando
O Céu, o Astro, o Sol, a Vida!
E, enfim, os olhos descansaremos
Nessa imensidão Sem Fim, do Mundo!
(Escrito em 25/04/1986, comboio, Entroncamento ----» Aldeia da Mata
Publicado: Revista “Família Cristã”, rubrica “Lugar aos Novos”, Ano XXXIII, Fev. 1987 – Francisco Lopes.
Blogue: 25/01/2015)
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SOMOS MAR!
Trazemos em nós um Mar
Corre o mar nas nossas veias
Nos percorre, nos irriga o corpo
Os neurónios, os sentidos!
Nas nossas costas batem ondas
Quebram-se aos nossos pés
Marulham aos nossos ouvidos.
Sabe-nos o sangue a sal
Cheiram-nos os cabelos a maresia.
Há em nós o apelo do Mar
O chamamento donde proviemos
O Início de que nascemos.
O mar nos traça os contornos
As formas, as enseadas
As falésias, os cabos e promontórios.
Faz correr os nossos rios!
Somos um mar circulando na Terra
Somos Água, água mineralizada.
Água do Mar.
Dois átomos de hidrogénio
E um de oxigénio. E cloreto
De sódio!
E…
Somos água principalmente
Percentualmente.
Quase somos água. Quase!
H2O + ClNa + … + …
Somos Vida. Do Mar
Vinda!
(Escrito em 07/03/1986.
Publicado na Revista “Família Cristã”, rubrica “Lugar aos Novos”, Ano XXXIV, Fev. 1988 – (Francisco Lopes).
Blogue: 29/01/2015)
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A ESPERANÇA
A Esperança criou asas
Abriu-as, pôs-se a voar.
Sobre a cidade e suas casas
As gentes foi saudar.
Desceu às ruas e ruelas
Cumprimentou as pessoas.
Fê-las sorrir, serem mais belas
Nos becos dessas lisboas.
Foi ao campo em missão
À gente mais conformada
Despertou-a, deu-lhe a mão.
Mais alto e mais longe, alada
Pandora afastou então.
E preparou nova alvorada.
(Escrito em 13/12/1985
Publicado em: Revista “Família Cristã”, Rubrica “Lugar aos novos”, Ano XXXII, Abril 1986, (Francisco Lopes).
Blogue: 27/12/2014)
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CAVALO de FERRO
Eh! Cavalo de ferro
Que malhas no ferro
Repisando no erro!
A campainha, já avisada
Anuncia a tua alvorada.
Trrim, Trrim, Trrim, Trrim,
Trrim, Trrim, Trrim…
Debita milhões de decibéis.
(Ralos, não vos raleis.
Vosso ralar já não rala.
Que outra Natureza nos fala!)
Ainda ao longe, relinchas.
Estremecem os teus compinchas
Lembrando a tua chegada.
ppppiiiiiiiiiIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIII
E galopas sobre as travessas
Maradas das tuas pressas.
catrapum, catraPUM, CATRAPUM
CATRAPUM, CATRApum, catrapum…
Te perdes no horizonte
Mal ultrapassas a ponte.
Não sendo mais que um ponto
Não se ouve já teu grito.
Tendes para infinito.
----------» ∞
(Escrito em 05/12/1982.
Aldeia da Mata.
Publicado em:
Revista Família Cristã”, rubrica “Lugar aos Novos” – Ano XXXI - Nov. 1985, (Manuel Francisco).
III Antologia de Poesia Contemporânea, de Luís Filipe Soares – 1986.
Blogue: 15/03/15.)
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ALMA de POETA
Tenho a Alma repleta
Deste sentir de poeta
Nesta enorme imensidão.
De tamanho oceano
Que se alarga cada ano
E me avassala o coração.
Desta Terra – Universo
Crescendo em cada verso
De Mercúrio a Plutão.
Deste cometa que passa
De prazer a dor e trespassa
“Esta minha condição”.
Na minha tão grande Alma
Cabe a tormenta e a calma
Cabe o Mundo na palma da mão.
(Escrito: 07/07/1982
Publicado em:
Revista “Família Cristã”, Rubrica “Lugar aos novos”, Ano XXXIII, Junho 1987.- (Francisco Lopes)
Bogue: 4/12/2014)
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DesENCONTROS
Um dia qualquer, nos encontraremos.
Amar-nos-emos na primeira
e derradeira cama,
em lençóis negros de mortalha.
E para sempre ficaremos juntos.
Inseparáveis até ao Fim.
Que faremos?
Quantas vezes me pergunto.
Que faremos?
Que será de nós no Depois, no Amanhã?
Como eu gostaria de crer no Amanhã.
Ter Fé no Futuro, no Além.
Como eu invejo os que crêem!
Têm um sentido, um rumo, um fim,
Para além do dia-a-dia.
Quem sou eu?
Desenraizado, apátrida, ateu.
Não acredito em nada, nem ninguém.
Nem no Homem, nem em Deus.
Nem em mim mesmo.
Digo.
Falo.
Amanhã desdigo e contradigo-me.
Como eu gosto de retornar às origens,
à minha Pátria,
à minha terra,
ao seio materno.
Ouvir os primeiros vagidos,
tentar os primeiros passos,
beber na Fonte da Vida,
buscar a Luz da Existência,
apertar-me nos teus braços…
Até cansar-me.
E fugir.
De ti, de mim, de todos.
E começar tudo de novo.
Recomeçando este ciclo infernal.
Este circuito em espiral
até ao cansaço, à exaustão.
Para voltar ao Princípio,
à pureza inicial dos Sentidos
e da Razão.
… De novo.
Publicado: Revista “Família Cristã – Rubrica “Lugar aos novos” – Ano XXXI, Março 1985 – (Manuel Francisco)]
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REALIZAÇÃO
Todos os dias procuro encontrar-te
a ti, minha sombra esquecida,
minha luz vagamente amortecida
Mal te toco, das mãos me abalas.
Todas as manhãs, a mim prometo:
- Hoje, será um dia diferente.
Mas todos os dias me sinto preso
às peias do meio em que vivo.
Sinto que se me aperta em meu redor
a prisão que eu mesmo inventei.
Já nem sei se quero libertar-me,
tal é o torpor que me ataca.
Como único meio que me resta
salto a barreira do espaço.
Fujo para um mundo sem tempo
e aí construo o meu mundo,
sem fogo, água, nem ar.
Feito só de ilusão e sonhar.
[Escrito: finais dos anos 70?
Publicado: Revista “Família Cristã”, Rubrica “Lugar aos novos”, Ano XXX – Fev. 1984, (Manuel Francisco).]
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Um Quadro
Comprei um quadro, um quadro, uma tela
Um quadro, uma tela.
Pintado em pano, em pano de vela
Em pano de vela
De barco ou de caravela.
Barco já morto.
Pescado no Tejo
No Tejo a morrer.
Comprei um quadro, um quadro qualquer
Comprado no Rossio, a uma mulher
A uma Mulher.
Mulher, meia-idade, idade vivida.
Que está vendendo, vivendo sofrida.
Já teve um emprego.
Já esteve empregada.
Agora… Está no prego.
Vende quadros.
Mais nada!
[Escrito em 1976/77.
Lisboa.
Publicado em:
III Antologia de Poesia Contemporânea, de Luís Filipe Soares – 1986.
Revista “Família Cristã”, Rubrica “Lugar aos novos” – Fev. 1988, (Manuel Francisco).
Blogue:15/03/15.]
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Notas Finais:
As fotografias são originais de D.A.P.L., de 2016, obtidas em vários locais de Portugal: Algarve e na Grande Lisboa, em 2016.
Não foram tiradas com o objetivo de ilustrarem este ou aquele poema específico. Não houve na objetiva fotográfica qualquer objetivo preciso. Constituem um acervo de fotos global que possuo e, de entre as disponíveis, seleciono as que, na minha visão personalizada, se adequarão mais ou menos à documentação do texto poético. Por vezes, certamente, só eu visualizarei a relação. Talvez!
De qualquer modo, atrevo-me a opinar que valorizam e enriquecem o texto. De forma livre, é certo!
Mas que é a Poesia sem a Liberdade (Poética)?!