Quadras Tradicionais VI
“Cantigas ao Desafio”
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Cantigas de Amizade
“És baixinha e redondinha
Ligeira no andar
Quando nos encontramos
Temos sempre que conversar.
Já cantei uma cantiga
Com esta já lá vão duas
Eu peço à redondinha
Que me cante uma das suas.
Já que me pedes que eu cante
Vou-te fazer a vontade
Eu não sei que graça tem
Ouvir cantar quem não sabe.
Cantas bem, não cantas mal
Cantas assim como a mim
A mestra que te ensinou
Também me ensinou a mim.
O cantar não é da arte
Da geração se procura
O cantar é a memória
Que Deus dá à criatura.
O cantar da meia-noite
É um cantar excelente
Acorda quem está dormindo
E alegra quem está doente.
Para cantar e bailar
É que meu pai me criou
Sou ‘alegria da casa
Enquanto solteira estou.
Quero cantar e bailar
Quero ser a’divertida
Quem sabe d’hoje a um ano
Se eu ainda serei viva.
Vai de roda, cantem todos
Cada um, sua cantiga
Que eu também canto a minha
Que a mocidade me obriga. *
Eu cantando me divirto
Qualquer coisa me entretém
Assim vou passando o tempo
Sem ter amor a ninguém.
Não canto por bem cantar
Nem por belas falas ter
Canto só para quebrar olhos
A quem não me pode ver.
Acabaste de cantar
Agora começo eu
Começa o meu coração
A dar combate ao teu.”
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Notas Finais:
1 – Estas cantigas foram recolhidas por uma Senhora de Aldeia da Mata, neste Outono de 2016, e que nos pediu o favor de não divulgarmos o respetivo nome.
2 – Como pode verificar, já vamos no sexto conjunto de “Quadras Tradicionais” e temos vindo a alargar o leque das respetivas Fontes.
3 – A Senhora designou-as precisamente por “Cantigas ao Desafio”, conforme de facto o eram. Subintitulei-as como “Cantigas de Amizade”. Porque elas são um Hino à Amizade!
Uma memória dos que ainda estão connosco e lembrança dos que já se ausentaram. Que para esses também se reporta a nossa estima e recordação.
4 – Estas são tipicamente de “Cantigas ao Desafio” e a respetiva sequência, organizada pela Senhora, induz-nos precisamente nessa metodologia de cantar.
Quando os grupos das raparigas e de rapazes cantavam, fosse nos arraiais, nos bailes, em lazer; ou no trabalho, nos ranchos das azeitonadas ou noutras atividades campestres, quando os trabalhos eram quase totalmente manuais. Também nas idas e vindas para e do campo, nos trabalhos diversos, conforme já mencionei em “Quadras Tradicionais IV”.
5 – A 1ª “cantiga” é original da mencionada Senhora, como forma de introduzir o “Desafio” com D. Maria Belo, em quem se inspirou.
6 – Da nona “cantiga” / quadra, D. Maria Belo apresentou-nos uma outra versão. Situação corrente nestas “cantigas”, em que, por vezes, são apresentadas versões ligeiramente diferentes, conforme também constatámos na Revista “A Tradição”.
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“Vai de roda, cantem todos
Cada um, sua cantiga
Primeiro é a do rapaz
Segundo a da rapariga.”
7 - E, para finalizar, espero que tenha gostado!
8 – Mais uma vez, ilustro com uma foto original de D.A.P.L., obtida no “nosso quintal”, em 2015.