“Momentos de Poesia”: - «PORTALEGRE» - «RECANTOS»
«PORTALEGRE»
«Portalegre arruína-me a pessoa
de sol, brancura,
candura mesquinha
de tanta ladainha
proibida montanha
que me esgatanha a sede de morrer
porque fazes isto aos poetas cidade branca?
Vou ao verso ver a serra
e da Penha vejo-me caído
o sol torrando a face
moreno, caído eu sou
que só sendo ainda me destruo a ver o tempo passar
como os dias são longos
como são terrivelmente longos
na cidade onde nasci
Quero sair e volto aqui
queria partir para onde já não sei
tão longe fica o tempo
que sozinho escandalizo a vergonha de ficar
Cidade veneno
tão branca e bela
vou ferver num tacho furado
velho como os sofás esburacados
por pontas de cigarro no Alentejano
isto já do tempo moço de minha mãe
que aqui chegou e resignou
instalou, alheou à serenidade mórbida das igrejas
É uma cidade branca
um cemitério vivo com riscas amarelas
e nada mais além duma praça vazia
outrora árvores
um úmero estacionamento
o fermento da vida que passa
não jaz ao músculo que alcança
a assim se amansa
a vontade de aqui ficar a ver e ruir
numa noitada de praça vazia
onde as cadeiras sozinhas
esperam a tarde do café de amanhã
E cidade veneno da vida que me deste
que sotaque me ensinaste
que mentira eu sozinho
ganhei de mim ao ver o sonâmbulo que nunca fui
mas insonso a cada dia mais só
só insónias
tudo para ter de ser poeta
e ver padecer a cidade
aos dias e noites infinitos
na cidade branca
veneno de vida
onde brando, bebo, choro e vejo passar
o tempo lento de ver passar
o tempo a passar
e nada se passar
a roupa talvez
e de nada serve a vida na cidade branca
que me fez poeta por passar
o resto dos dias a pensar
em como o tempo dever passar.»
Pedro Fidalgo
In. “Momentos de Poesia Historial (e Poesia e Prosa de 48 Autores)”, 2016.
Autora: Deolinda Milhano, Portalegre.
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«RECANTOS»
«Portalegre com teus recantos
És a cidade dos meus encantos
Com os teus sete conventos
E as tuas sete portas
Não esquecendo o teu mirante
Onde se deslumbra o viajante.
Nas tuas belas serras
Reina um ar mais puro,
Num canto do Alto Alentejo
És de todos um privilégio
E com a tua beleza encantas
Quem passa e quem aqui vive.
Minha cidade de eleição
Onde nasceram meus filhos
Pois eu sou de lá da raia
Doutra que trago no coração
Mas tu és minha predilecção
A cidade dos belos recantos
Onde já chorei meus prantos.
Por ti fiquei enamorada
Por teus jardins e museus
Não esquecendo as belas fontes
Desde a Fonte do Neptuno
Até à fonte dos Amores
Quando subindo a serra
Se vêem lindas janelas de flores.
Tu, cidade do Alto Alentejo,
Como já Régio cantava
Fazes lembrar as romarias
Desde a feira das cerejas
Até à festa dos Aventais.
Confraternizas com as demais
És linda com as tuas belas
Paisagens, igrejas e monumentos
Não esquecendo o centenário Plátano
Onde me posso sentar
Para aí descansar e recordar
Os meus tempos de estudante
Em que descobri este lindo vale
Entre a Penha e São Mamede.
Não pensando aqui morar
Afinal vim a casar.
Por ti outra não troco
Nem por aquela onde nasci!
És minha cidade de eleição
Pois estás no meu coração
Cidade dos belos Recantos
Onde já chorei meus prantos!...»
Maria Mercedes Camoesas Fidalgo
In. “Portalegre em Momentos de Poesia”, 2011, Edições Colibri.
Coordenação de Deolinda Milhano, Portalegre.
A foto é um original de D.A.P.L. – 2015.