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Aquém Tejo

Há quem do Tejo só veja o além porque é distância. Mas quem de Além Tejo almeja um sabor, uma fragrância, estando aquém ou além verseja, do Alentejo a substância.

Há quem do Tejo só veja o além porque é distância. Mas quem de Além Tejo almeja um sabor, uma fragrância, estando aquém ou além verseja, do Alentejo a substância.

“Momentos de Poesia”: - «PORTALEGRE» - «RECANTOS»

Portalegre - sentido único. Foto original DAPL 2015 jpg

 

 

«PORTALEGRE»

 

«Portalegre arruína-me a pessoa

de sol, brancura,

candura mesquinha

de tanta ladainha

proibida montanha

que me esgatanha a sede de morrer

porque fazes isto aos poetas cidade branca?

 

Vou ao verso ver a serra

e da Penha vejo-me caído

o sol torrando a face

moreno, caído eu sou

que só sendo ainda me destruo a ver o tempo passar

como os dias são longos

como são terrivelmente longos

na cidade onde nasci

 

Quero sair e volto aqui

queria partir para onde já não sei

tão longe fica o tempo

que sozinho escandalizo a vergonha de ficar

 

Cidade veneno

tão branca e bela

vou ferver num tacho furado

velho como os sofás esburacados

por pontas de cigarro no Alentejano

isto já do tempo moço de minha mãe

que aqui chegou e resignou

instalou, alheou à serenidade mórbida das igrejas

 

É uma cidade branca

um cemitério vivo com riscas amarelas

e nada mais além duma praça vazia

outrora árvores

um úmero estacionamento

o fermento da vida que passa

não jaz ao músculo que alcança

a assim se amansa

a vontade de aqui ficar a ver e ruir

numa noitada de praça vazia

onde as cadeiras sozinhas

esperam a tarde do café de amanhã

 

E cidade veneno da vida que me deste

que sotaque me ensinaste

que mentira eu sozinho

ganhei de mim ao ver o sonâmbulo que nunca fui

mas insonso a cada dia mais só

só insónias

tudo para ter de ser poeta

e ver padecer a cidade

aos dias e noites infinitos

na cidade branca

veneno de vida

onde brando, bebo, choro e vejo passar

o tempo lento de ver passar

o tempo a passar

e nada se passar

a roupa talvez

e de nada serve a vida na cidade branca

que me fez poeta por passar

o resto dos dias a pensar

em como o tempo dever passar.»

 

Pedro Fidalgo

 

In. “Momentos de Poesia Historial (e Poesia e Prosa de 48 Autores)”, 2016.

Autora: Deolinda Milhano, Portalegre.

 

 *******

«RECANTOS»

 

«Portalegre com teus recantos

És a cidade dos meus encantos

Com os teus sete conventos

E as tuas sete portas

Não esquecendo o teu mirante

Onde se deslumbra o viajante.

Nas tuas belas serras

Reina um ar mais puro,

Num canto do Alto Alentejo

És de todos um privilégio

E com a tua beleza encantas

Quem passa e quem aqui vive.

Minha cidade de eleição

Onde nasceram meus filhos

Pois eu sou de lá da raia

Doutra que trago no coração

Mas tu és minha predilecção

A cidade dos belos recantos

Onde já chorei meus prantos.

Por ti fiquei enamorada

Por teus jardins e museus

Não esquecendo as belas fontes

Desde a Fonte do Neptuno

Até à fonte dos Amores

Quando subindo a serra

Se vêem lindas janelas de flores.

Tu, cidade do Alto Alentejo,

Como já Régio cantava

Fazes lembrar as romarias

Desde a feira das cerejas

Até à festa dos Aventais.

Confraternizas com as demais

És linda com as tuas belas

Paisagens, igrejas e monumentos

Não esquecendo o centenário Plátano

Onde me posso sentar

Para aí descansar e recordar

Os meus tempos de estudante

Em que descobri este lindo vale

Entre a Penha e São Mamede.

Não pensando aqui morar

Afinal vim a casar.

Por ti outra não troco

Nem por aquela onde nasci!

És minha cidade de eleição

Pois estás no meu coração

Cidade dos belos Recantos

Onde já chorei meus prantos!...»

 

Maria Mercedes Camoesas Fidalgo

 

 

In. “Portalegre em Momentos de Poesia”, 2011, Edições Colibri.

Coordenação de Deolinda Milhano, Portalegre.

 

A foto é um original de D.A.P.L. – 2015.

 

 

 

 

 

 

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