“Uma Aldeia Francesa” - "Dito de Espírito" em "Nome Próprio"
“Un Village Français”
"Tequiero" e "Marcel Pagnol"
Série RTP2
O prometido é devido!
Embora eu, por vezes, ao abordar alguns temas, faça intenção de retornar-lhes para esclarecer algum aspeto e expresse essa intencionalidade, nem sempre o tenho feito e nem sempre me é possível concretizar essa intenção prometida.
Neste caso não quero deixar de o fazer.
Até para mostrar que a memória, de certo modo, nos atraiçoa nalguns aspetos, passados cinquenta anos.
E também porque localizei o livro de Francês: “Regardons vers le Pays de France”; Coimbra Editora, Limitada; 1967. Coordenação de Túlio R. Ferro Ramires Braz. Era destinado a “Classes du Deuxième Cycle des Lycées”.
Embora na estória que contei sobre o texto de Marcel Pagnol tivesse havido esse “dito de espírito” sobre o seu nome, o interlocutor direto de Marcel não foi o seu Professor de Latim, M. Socrate, mas sim o colega do lado, Jacques Lagneau.
Apresento o excerto do texto do post, com que iniciei as minhas prosas sobre a série “Uma Aldeia Francesa”.
“Lembra-me um célebre texto de Marcel Pagnol, apresentado no livro de Francês do antigo 3º ano (anos sessenta), atual 7ºano de escolaridade, que tanto me intrigava na altura e só bem mais tarde compreendi. Quando, no primeiro dia de aulas, o Professor lhe perguntava o nome, ele respondia “Je suis Pagnol”. Esta frase escrita percebe-se, mas quando dita oralmente pelo próprio, à data e certamente para quem ouvia, soaria “Je sui’spanhol”. E o mestre perceberia que Pagnol se dizia espanhol! E tudo isto dava uma grande confusão no texto, que eu só mais tarde entenderia, pela diferença entre texto escrito e oralidade. Mas, naqueles primeiros anos de Língua Francesa era difícil entender esses cambiantes.
(Estou a lembrar-me de factos de há algumas dezenas de anos e também de cor. Quando tiver acesso ao livro tentarei transcrever esse excerto!)”
E, agora, o excerto do texto, que faz parte de um trecho maior, intitulado no livro como “La Première Classe de Latin”, em que Marcel Pagnol nos conta sobre a sua primeira aula de Latim, no primeiro ano, no Liceu de Marselha.
Esse trecho integra-se no livro do autor, “Le Temps des Secrets. Souvenirs d’Enfance III. (Éditions Pastorelly)”
(Interessante que, na série, o 1º episódio da 3ª temporada também se designa “O tempo dos segredos”, ocorrências de 28 de Setembro de 1941!)
Parte do texto:
«...
..., mon voisin demanda:
- Comment t’appelles-tu?
Je lui montrai mon nom sur la couverture de mon cahier.
Il le regarda une seconde, cligna de l’oiel, et me dit finement:
- Est-ce Pagnol?
- je fus ravi de ce trait d’esprit(4), qui était encore nouveau pour moi.
(...)»
Nota de rodapé ao texto:
« (4) – Un trait d’esprit est l’expression vive, ingénieuse d’une idée. Ici le trait d’esprit consiste dans un jeu de mots amusant: “Est-ce Pagnol?” et espagnol se prononcent de la même manière.»
Não continuo com mais transcrição do excerto do texto, sendo os sublinhados de minha autoria.
Quem tiver oportunidade, dispondo do antigo livro de Francês, ou tendo o original de Marcel Pagnol, pode continuar a leitura do excerto, em que o “dito de espírito” continua com o nome do colega de Marcel, de sobrenome Lagneau, que oralmente se pode também confundir com l’agneau, “o cordeiro” e é sobre esse dito que há intervenção do Professor de Latim.
Por hoje, não maço mais com estas minhas idiossincrasias, obrigado por me ler até aqui e até breve!
Permito-me lembrar-lhe que tudo isto veio a propósito de, no 1º episódio da 1ª temporada, ter sido atribuído o nome de “Tequiero”, à criança nascida no consultório de Drº Daniel, filho da refugiada espanhola. Criança que foi adotada pelo casal Larcher!