Quadras Tradicionais V
Laços
Pontos Prévios:
Voltamos à “Poesia Tradicional”, como referi no post anterior.
E cabem uns breves esclarecimentos.
Quando escrevo “voltamos”, friso que a expressão verbal não se enquadra no célebre “plural majestático”.
Escrevo no plural, porque neste trabalho há a participação de várias Pessoas:
- As Pessoas que fizeram a recolha das “cantigas”, referenciadas no final de cada grupo de quadras.
- A Autora das fotografias que ilustram o post.
- Para além do/a Caro/a Leitor/a, que tem a amabilidade de nos visitar. E ler!
E vamos às Quadras.
Laços, porque são laços que nos unem a todos: de Família, de Amizade, de Estima.
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Eu não quero mulheres com poupa
Nem em casa mando entrar
Não quero que venha o cuco
Atrás da poupa a cantar.
Na Rua de Santo António
Não se pode namorar
De dia, as velhas à porta
De noite, os cães a ladrar.
Quando eu era pequenina
Usava fitas e laços
Agora que sou casada
Uso os meus filhos nos braços.
Quando eu era solteirinha
Usava sapato branco
Agora que sou casada
Nem sapato nem tamanco.
Quando eu era pequenina
Ainda não comia pão
Davam-me os moços beijinhos
Agora já mos não dão.
Ó papo-seco
Que levas no cabaz
Peras e maçãs
Para dar ao meu rapaz.
Não ponhas nem disponhas
Loureiro ao pé do caminho
Todos passam, todos colhem
Do loureiro um raminho.
Minha mãe mandou-me à mestra
Aprender o bê – á – bá
Minha mestra me ensinou
A beber café com chá.
Andas vestido de azul
Andas à “inestidade”
Andas ao gosto do mundo
Andas à minha vontade.
Quem me dera, dera, dera
Estar sempre a dar a dar
Beijinhos ao meu amor
Abraços sem descansar.
(“Cantigas” / Quadras coligidas por D. Maria Belo.)
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Se fores lavar ao rio
Lava na pedra do meio
Se ouvires cair pedrinhas
Apanha-as, mete-as no seio.
Amor com amor se paga
Porque não pagas amor?
Vai pagar à tua amada
Não sejas mau pagador.
(“Cantigas” / Quadras coligidas por D. Isabel Caldeira.)
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Eu tenho um chapéu branco
Para à noite namorar
O chapéu vai-se romper
E o namoro acabar.
Eu amei um António
Agora amo um João
Também o vento se muda
Do Norte para o Soão.
O comboio da Beira Baixa
Tem vinte e quatro janelas
Mais abaixo, mais acima
O meu amor vai numa delas.
(“Cantigas” / Quadras coligidas por D. Maria da Costa.)
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Eu venho de lá tão longe
À fama destes barulhos
Pensava que eram bolotas
Encontrei-me com cascabulhos.
(“Cantiga” / Quadra coligida por D. Maria Constança.)
(“Recolha” efetuada em 2016 – Aldeia da Mata.)
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Fotos originais de D.A.P.L.
Pôr do sol, na Fonte das Pulhas.
Flores do nosso quintal.