“Momentos de Poesia - Historial”: Poesias e Prosa (?)
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“BEM HAJAM!”
“MEU ALTO ALENTEJO” - “EM BUSCA DE MIM” - “OUVE!!!”
“MINHAS TRANÇAS MORENAS”
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Preâmbulo:
Volto à divulgação de textos de poesia e de prosa (?), a partir de publicações editadas no âmbito de “Momentos de Poesia”.
Selecionei textos de “Momentos de Poesia - Historial e Poesia e Prosa de 48 Autores”, 2016.
Sendo que, habitualmente, de outros autores tenho divulgado textos poéticos. Neste post, todavia, inicio com um texto em prosa. Mas será exclusivamente um texto prosaico? Lerá, caro/a leitor/a, com atenção, se faz favor, e nele encontrará muita poesia.
Por outro lado, este texto explica-nos, de forma muito poética, o contexto e o móbil de “Momentos de Poesia”. E um dos seus enquadramentos temáticos: “…o nosso amado Alentejo!”
Deste modo, e muito merecidamente, é ele que tem honras de abertura deste post, em que retorno à divulgação de Poesia de “Outros Poetas e Poetisas”.
Não tendo o texto um título, resolvi atribuir-lhe um, que sintetiza também o meu desejo face a todos os Antologiados: Bem hajam!
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“BEM HAJAM!”
"Quando há uns anos, a professora Deolinda solicitou o meu contributo para musicar um poema de sua autoria, que viria a ser o hino dos “Momentos de Poesia”, estava longe de saber (… santa ignorância…) que um grupo de pessoas de caráter altruístico dedicava a sua poesia ao arrebatante Alentejo!
Desde então, sempre que possível, assisto às tertúlias mensais promovidas pelos “Momentos de Poesia” que se revelam um bálsamo para a alma, uma elevação para o espírito. É, também, um espaço onde se declama a poesia dos consagrados! Também se dá voz ao repentista, ao anónimo poeta, a todos aqueles que de alguma forma contribuem para o enriquecimento destes encontros, sem pretensão de qualquer espécie.
A entoação da estrofe embala o coração, o recitar do verso inebria os sentidos, cada poema aviva as lembranças de uma infância feliz, pautada por dias amenos e fervilhantes das coloridas primaveras.
Vem à memória o canto simples do “papafigo” e a soberba melodia do rouxinol que, debaixo da frondosa sombra dos castanheiros, eu tentava imitar quase sempre sem êxito! Trepar às árvores para espreitar os ninhos, ou para vigiar uma vintena de cabras sempre em movimento, tinha como consequência a reprimenda da mãe, olhando com desespero para as calças rotas no joelho, ou o rasgão na camisa provocado pelo inoportuno galho!
Já não temos o Alentejo de outrora, derruído pelo tempo, quase votado ao ostracismo. As suas casas rasteiras, brancas, de largas chaminés, dão agora lugar às modernas construções para incrementar um turismo forte e atrativo, dizem uns, à descaraterização da secular paisagem, dizem outros. Mas, tudo se vai transformando, já se vislumbra, ainda que de forma ténue, a recuperação de velhas casas respeitando a sua traça.
Cantemos pois os versos dos nossos poetas, dos “Momentos de Poesia” que com sensibilidade e abnegação elevam sempre o nosso amado Alentejo!
Bem hajam!”
João Banheiro
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“MEU ALTO ALENTEJO”
“Oh! Meu Alentejo – meu Alto Alentejo,
Minha terra querida que me viste nascer!
Revivo em ti, instantes que pude viver
Num tempo de ouro – tu meu melhor ensejo.
Meu Alto Alentejo – minha casa amada
Meu canto sagrado – meu amparo e vida!
És sempre p´ra mim, a terra mais querida:
- Cidade ou campo, como és sempre adorada.
Oh! Como me sinto bem, estando aqui!
E sinto-o cada vez mais, morando em ti
Minha amorosa mãe, e minha saudade.
Sei que vou voltar a teus braços – querida!
Esses que encantam todos os meus sentidos
Cada vez mais e mais, a minha verdade.”
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“EM BUSCA DE MIM”
“Quem me dera voltar atrás
Àquela terra longínqua
Que talvez não passe de imaginária…
Lá veria o tempo passado e futuro
Filme sem palavras… mudo…
Abraço-me e sinto-me palpitar
Mas o que quero, não é o que sinto
E o que sinto, não sei contar
Então meus olhos fecho
Não quero que os vejam chorar
Eu que nasci por vulgar acaso
Pertenço ao signo do ar
Onde os deuses me tocam ao esvoaçar
E buscam como eu lugares para recordar
Dias perenes de felicidade
Tempos passados, lembrados
É assim que sinto e sei
Ao sentir que aqui não pertenço
Então pergunto a mim mesma
Vou para onde?”
Maria Helena Freire
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“OUVE!!!”
“Ouve-me aí, no longe.
Deixa-me falar-te de mim,
das cores do Tempo,
dos cheiros da cozinha aquecida,
dos mistérios da minh’alma.
Ouve-me aí, no longe.
Sem respostas,
sem críticas,
sem reservas,
sem receios.
Ouve-me aí, no longe,
acolhendo as palavras que calei
tempo demais…
Ouve-me aí, no longe,
nas palavras doridas e possíveis
eternamente adiadas…
Ouve-me aí, no longe.
E guarda o segredo que te digo!”
Maria Luísa Moreira
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“MINHAS TRANÇAS MORENAS”
“Às minhas tranças morenas
Chamaste lindas, um dia;
A quantas loiras pequenas,
Brancas como açucenas
Chamas Sol do meio-dia?
Estas tranças que dizias
Serem a vida p’ra ti
Indomáveis e bravias,
Caem p´los ombros vadias
Desde o dia em que te vi.
Já as não sei pentear
Nem arranjar como dantes;
Não vale a pena tentar,
Está longe o teu olhar
Nessas paragens distantes.
Pobres tranças, coitadinhas…
Por certo foram s’quecidas;
Se assim não fosse… tu vinhas.
Tristes delas… pobrezinhas
Qu’as ondas têm perdidas.
Bem m’importo eu já com elas,
Sejam ásp’ras ou serenas…
Se tu já não podes vê-las,
Nem dizer-me: - “São tão belas
As tuas tranças morenas.”
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In. “Momentos de Poesia Historial (e Poesia e Prosa de 48 Autores)”, 2016.
Autora: Deolinda Milhano, Portalegre.
Foto original de D.A.P.L., 2016 - Alentejo (Alto), ao entardecer / pôr do sol. Aldeia da Mata ("Fonte das Pulhas").