“Uma Aldeia Francesa” - Temporada 6 – Episódio 12
“Un Village Français”
(Episódio Global nº 60)
(21 de Junho de 2016)
RTP 2
Episódio 12 – "Libération" – “Libertação”
Setembro de 1944
Os Caminhos da Paixão
“Daniel e Hortense, sós e vilipendiados pela multidão, (turbamulta), apressam-se a deixar a cidade.
Antoine prendeu Marchetti. Bériot pede-lhe para o transferir secretamente para Dijon, mas a notícia espalha-se como um rastilho de pólvora.
Em breve, Antoine, Suzanne, Marchetti, Daniel e Hortense vão enfrentar o seu Destino…”
(E o Destino é uma incógnita.
Escrevo este texto já a 24 de Junho, feriado municipal em múltiplas localidades do País e no dia seguinte à votação da saída do Reino Unido da União Europeia.
Destino?!
Não posso deixar de relacionar a série com a realidade e lembrar que Hitler, um dos causadores, aliás, o principal (?) "motor" da eclosão dessa guerra, também chegou ao poder através de eleições.
E também associar ao facto de que o quase certo candidato republicano, à presidência dos Estados Unidos da América, é essa figura turbulenta, mas podre de dinheiro, que dá pelo nome de Donald Trump! Imaginasse o sobrinho do Tio Patinhas o seu nome atribuído a tal personagem!
E esses factos têm alguma coisa a ver com o direito inalienável de que qualquer cidadão tem ao exercício de expressão livre do seu voto?!)
Mas estas deambulações à volta da série, talvez aparentemente sem sentido, levam-nos ao final do episódio e da 6ª temporada, em que Jules Bériot, de pedra e cal na prefeitura, inaugura, melhor, batiza uma praça da Cidade de Villeneuve, com o nome sugestivo de “Place Marie Germain”!
E discursa, perorando loas políticas, justíssimas, relativamente a Marie, “símbolo da Resistência”, mas descabidas, demagógicas, quando as atribui “à população de Villeneuve”. Que sabemos foi de tudo menos Resistente. No mínimo, situacionista. Quando não colaboracionista e delatora.
Mas essa população compunha o friso da imagem em volta da Praça, tudo gente bem composta e bem vestida, como convém numa inauguração. Os mesmos que arrastaram Hortense pelas ruas, esmurraram Daniel e enforcaram Alban, nessa altura descabelados de corpo, de roupa e de boca.
Que ainda iremos a esses excertos.
E também no ato inaugural, os verdadeiros e poucos realmente Resistentes: Suzanne, Anselme, Edmond..., que olharam estupefactos, de soslaio, o prefeito, quando ele lançou essa tirada politiqueira da “população resistente”!
Os políticos são assim mesmo. Há que afagar o ego aos potencialmente votantes, nem que seja proferindo atoardas e mentiras. O que interessa é ganhar votos!
E os resultados são os que mencionámos anteriormente, com os resultados que sabemos no caso alemão e que a série documentou...
E incógnita nos dois outros casos, atuais.
E o prefeito terminou o discurso e a série, com vivas à República, à Resistência, à França, com muitas palmas entusiasmadas dos figurantes, comedidas dos verdadeiros Resistentes, que Bériot passou-lhes a perna. E cantando a “Marselhesa”.
“Allons enfants de la Patrie!”
(E este é também o apelo aos jogadores em França, para o embate com a Croácia. Que também não posso deixar de relacionar com essa realidade. Que melhor seria que as disputas entre povos se resumissem aos jogos, ao desporto em geral. Que este ano também é de Jogos Olímpicos e lembremo-nos como agiam os antigos gregos!)
E quem assistia, como espetador, a esse discurso encomiástico do prefeito Bériot, era Antoine e um outro jovem colega, também fardado com o traje do exército de França, que é para esse fim que Antoine destina o próximo ano da sua vida.
E respondendo à questão do colega porque não cantava a “Marselhesa”, ele lhe respondeu que cantara no ano passado, ou seja, certamente no “cortejo” que os Resistentes efetuaram na Cidade, comemorativo do 11 de Novembro de 1918.
E finalmente, através de Antoine, vamos ao início deste episódio doze e ligar com o final do anterior, décimo primeiro.
Antoine de pistola em punho, enquanto chefe da polícia, apontava a Marchetti, mandando desaparecer Loriot, que não podia confiar nele.
E Marchetti com o filho ao colo, situação tão eficaz como se fora algemado, pediu a Antoine que não condenasse Loriot, homem que acreditava na amizade e era um bom polícia.
Colocado na prisão juntamente com os milicianos não fuzilados, ainda pediu que procurassem a mãe do filho, que não o enviassem para a assistência pública.
Afogueado, chegou Bériot, elogiando Antoine, pelo seu feito.
Superiormente recebeu, via telefone, ordens de Dijon, através de Lanzac: “Quero o Marchetti no meu gabinete esta noite!”
E Bériot nem pestanejou em obedecer.
Só que a notícia da prisão correra pela cidade e a “purga” chefiada por Anselme e Suzanne depressa se apresentou junto à esquadra a exigir o “carniceiro”, que a populaça queria fazer justiça pelas próprias mãos.
Bériot, mestre da representação, lembremos que ele também era cantor e ator, colocou a faixa da República em diagonal no peito e apresentou-se perante a “purga” e conseguiu convencê-los que não haviam apanhado Marchetti.
“- Já viu que enganamos os nossos amigos para salvarmos os inimigos?!” Comentou para Antoine.
E, aproveitando a momentânea dispersão, acabaram por fugir pelas traseiras e ainda houve tempo de Rita apanhar a criança, enquanto Bériot fugia no carro para Dijon, acompanhado de um polícia e levando o “carniceiro”.
A “purga” acabou por invadir a esquadra, Suzanne deu uma chapada a Antoine, que foi agredido à coronhada pelos homens armados. Estes, indiscriminada e raivosamente, dispararam rajadas sobre os milicianos, abatendo-os como coelhos, (pobres, dos animais!), com exceção de Alban.
Melhor lhe fora ter morrido de bala!
Arrastaram-no, torturaram-no...
Anselme e Suzanne, aparentemente indiferentes, assistiam, que, se quisessem, poderiam ter intervindo favoravelmente.
“- Bériot pirou-se. Antoine anulado. Fazemos o que queremos.” Disse o homem.
“- E o que queremos?”, retorquiu a mulher.
Alban esbracejava, defendia-se, contava o seu historial... apelava a verdadeira justiça...
“- Até ontem os resistentes não eram muitos... O que fazem não é justo.”
“- Despachem-se!” Ordenou Suzanne.
E enforcaram-no!
Antoine e Geneviéve assistiram, impotentes, a todo este espetáculo macabro. E choravam.
E quem também subiu e soube o caminho, as etapas dum hipotético gólgota, foi Hortense, mais uma vez arrastando no opróbrio o marido, Daniel.
Em prisão domiciliária, aproveitando um pedido de água por um dos dois guardas, Daniel despejou um sonífero em ambos os copos. Que Hortense, sempre com o seu jeitinho de mulher sedutora, conseguiu que fossem bebidos.
E adormecidos os guardas, ei-los de malas aviadas, a caminho da casa de um amigo que lhes emprestaria um carro para fugirem.
Até lá, onde nunca mais chegariam, foram percorrendo a sua via, não direi sacra, que Hortense não era nada dada a essas religiosidades, mas o caminho espinhoso da paixão.
E foram sendo reconhecidos e apedrejados verbalmente.
“Vamos dar uma voltinha à Alemanha.”
E perante um deboche de um qualquer Menanteau, sapateiro, ali mesmo e de memória, Daniel o lembrou que, no auge da perseguição aos judeus, sendo Larcher ainda presidente da câmara, ele denunciara um seu vizinho.
E Menanteau, o sapateiro, deu corda aos sapatos, meteu o rabo entre as pernas e foi pregar para outra freguesia e atirar pedras para outro lado.
Mas perante mais um linchamento de um boche, para mais conhecido de Hortense, Daniel, deu mais uma de herói humanista, não deixando que fuzilassem o militar.
Heroísmo? Humanismo? Inconsciência, face à situação e à sua incapacidade de fazer frente a homens armados e sedentos de justiça, rápida e eficaz?
A situação complicou-se de todo para o casal.
Reconhecida Hortense, foi o descalabro.
Daniel foi agredido à coronhada e desmaiou. Ao recuperar os sentidos, sem óculos, valeu-lhe uma criança que lhos deu. “Monsieur, ...”
A praça deserta...
Hortense foi arrastada pela multidão enfurecida, sedenta de vingança, sujeita a todos os epítetos, que não vou aqui reproduzir, mais uma vez friso que, neste blogue, não uso palavrões, mesmo que contextualizados, como seria o caso. Por enquanto!
Transportada numa carroça do refugo, como se fora lixo, acompanhada pela turbamulta, gentes desgrenhadas de aspeto, de traje e de boca, os mesmos que irão aplaudir Bériot, mas já trajados a rigor.
Vários ostentando as braçadeiras e empunhando as bandeiras da República!
Anselme e Suzanne comparticipavam.
Esta não podia perdoar. Fora Hortense quem lhe denunciara o namorado, Marcel Larcher.
Gustave Larcher, sobrinho, a quem a tia apelara, cuspiu-lhe na cara.
Conjeturado o que lhe fazer, que castigo aplicar-lhe, um mais macabro que outro, decidiram cortar-lhe o cabelo.
Suzanne assistia, consentindo e estimulando, pese embora não lhe trouxesse o amado de volta, conforme Hortense lhe ripostara.
Esta chorava.
A populaça gritava, dichoteando.
Hortense vivia o episódio bíblico da mulher adúltera...
Lucienne com aquele seu ar compungido observara o enforcado, visualizara a caminhada de Hortense.
Talvez pensasse a sorte que tivera, que o seu amor tivesse ficado mais ou menos secreto, apesar de haver uma Françoise!
E o pai de Françoise haveria de ser sepultado, sob o nome de Étienne Charron, com direito a padre e orações fúnebres. Acompanhado apenas, para além dos cangalheiros, de Bériot e Lucienne, que lançou uma rosa vermelha.
“Amén!”
E para tentar finalizar esta narração, lembrar de amores, que na série estiveram sempre presentes na narrativa.
Suzanne concedeu-se uma pausa nas suas diatribes revolucionárias e foi retemperar forças com Loriot, sempre de beiço caído por ela.
O “bigode mais jeitoso” queria saber se no coração da mulher haveria um cantinho para “um funcionário sem princípios nem ambição”...
“Marcel foi o meu grande Amor, Antoine, um erro em todos os sentidos...”
(...)
O primeiro marido há muito que fora descartado para a Bretanha e da filha não falou.
Antoine que, como já vimos, foi cumprir um ano de serviço militar no exército francês, selou compromisso de casamento, de cartório e igreja, com Geneviéve, quando voltasse.
Daniel vela Hortense, de cabelo cortado, à espera que cresça, por debaixo do turbante.
Rita e Ezechiel preparam-se para partir para a Palestina.
“- Quero fazer crescer frutos no deserto!”
(Frutos no deserto cresceram é certo. Mas também, tantos, tantos espinhos!)
Mas deixemo-nos de mais comentários e aguardemos a hipotética sétima temporada, que nos dará (?) o desfecho futuro de várias personagens.
Au revoir!
Aldeia-francesa-T-7-amores-e-desamores!