Há quem do Tejo só veja
o além porque é distância.
Mas quem de Além Tejo almeja
um sabor, uma fragrância,
estando aquém ou além verseja,
do Alentejo a substância.
Há quem do Tejo só veja
o além porque é distância.
Mas quem de Além Tejo almeja
um sabor, uma fragrância,
estando aquém ou além verseja,
do Alentejo a substância.
Na verdade, também não tenho a certeza. Está num Jardim público de Corroios - Seixal, perto da mercado e da Junta de Freguesia e de uma antiga fábrica, de que subsiste a chaminé de tijolo.
Julgo que será uma variedade de Cedro (?), mas não tenho certezas e posso estar totalmente enganado. É bastante antiga, como comprova o tronco. E tem a particularidade de se estender horizontalmente junto ao solo! (Foto de 26/03/2024.)
Volto a escrever sobre esta atividade agrícola tão peculiar.
Ao observarmos estes trabalhadores a desenvolverem esta labuta, há algo que se releva de imediato.Para além do esforço físico exigido, a maestria do desempenho, o empenhamento e cuidados que se observam, esta tarefa é puramente humana, com recurso a um instrumento elementar: a machadinha.Basicamente temos: a Árvore, o Homem e a Ferramenta! Uma interação entre três elementos, numa luta desigual, em que o sobreiro, numa postura aparentemente passiva, premeia a capacidade do profissional que o enfrenta neste combate. Ofertando-lhe, como prémio, a preciosidade da sua casca, da sua couraça protetora: a cortiça!
A tecnologia é por demais rudimentar. Apenas a machada. Ela mesma também tão original e tão adaptada à função a exercer e à dimensão do seu possuidor e dono. A lâmina de corte é em forma de meia-lua. Para, ao cortar, ao vincar os cortes longitudinais ou transversais, ao descascar, permitir o descasque, sem ferir, sem magoar a planta. É uma ação de luta, mas também se vislumbram sentimentos de carinho, de consideração, ousaria dizer até de amor pela árvore, que resiste, mas também se entrega a quem a abraça, sim, para medir o tronco, conhecer as possibilidades de agir ou não, também se abraçam as árvores! E sempre, sempre, o ser humano - o trabalhador; o ser vegetal e o utensílio humano aliado à sabedoria, à técnica, ao fazer, ao saber fazer. Ancestral! Medieval! Centenário! Milenar?!
O cabo de madeira, de azinho(?), termina não cilindricamente, mas num espigão, para penetrar a casca, para a descascar, retirar a cortiça do tronco, sem o ferir. Com a machadinha, tanto se usa a lâmina, quanto o espigão, numa alternância funcional, para se obter o resultado final: o sobreiro descascado, descortiçado. Descortiçamento!
Finalizando este postal: num mundo em que a tecnologia invadiu todos os modos de produção, seja na agricultura, na pecuária, agropecuária, agroindústria, em todas as indústrias, em todos os setores económicos: secundário, terciário; esta função, labuta, faina agrícola, mantém-se artesanal. Artística, até!
Até quando?! Até quando haverá Homens capazes de exercer este mister ancestral?!
(Esta pergunta, dúvida, inquietação, foi-me transmitida, de certo modo, pelas vozes de alguns dos intervenientes neste processo, quando fomos conversando.)
(Apresento mais uma foto documental, em que se observam dois dos intervenientes diretos: o Eng. Nuno, da Sertã e outro senhor, da Cunheira, de que ainda não consegui saber o nome. E as respetivas machadinhas em funcionamento, labutando com o sobreiro. Também se repara noutro senhor, do Crato, que se encarregava de acarretar as pranchas da preciosa cortiça para a camioneta. Aqui, sim, já as modernidades são usadas, há décadas. Não os antigos carros de bois, até aos anos cinquenta, quiçá inícios de sessenta, do século XX, mas as furgonetas.)
Ainda apresentarei foto global com todos os participantes, interventores diretos ou não.
Obrigado e Saúde!
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Hoje, terceiro dia de Verão, este vem envergonhadíssimo! Que até no Alentejo chove! Mais parece uma Primavera retardada. Um mês de Março ludibriado!
Continuo com esta temática. Neste caso, sendo uma planta, tem a categoria de Árvore.
(Um dos nomes comuns tem referências bíblicas – Novo Testamento. O nome científico não conheço, nem desta nem de nenhuma outra, nem dos animais ou outros seres. Não sei Latim.)
É muito fácil identificá-la. É muito frequente em parques, jardins, quintais, ruas, ruelas, avenidas, alamedas, praças, pracetas e pracinhas, das nossas cidades, vilas e aldeias.
Começaram agora a floração, embora esta fase de desenvolvimento das plantas varie ligeiramente, consoante a respetiva localização geográfica.
A pergunta poderá surpreender. Terão as Árvores também História ou terão pelo menos a sua história?
Já apresentei imagens de árvores impregnadas de História ou uma oliveira várias vezes centenária, quiçá milenar, é ou não um ser vivo carregado de História?! Um verdadeiro monumento vivo!
E esta “auracária-de-norfolk”, estando embora em propriedade particular é quase um ex-libris da Aldeia, pois faz sempre recorte na paisagem, nos mais diversos ângulos sobre a localidade.
Esta que apresentamos quantos anos tem? Diz-se que cada anel de ramos representa um ano de crescimento. Quem a semeou? Quem a plantou? Quando?
As árvores têm a sua História, a sua origem enquanto espécies, muito antes da Humanidade. E como seres vivos são complementares e interdependentes de e com os outros seres vivos, nomeada e especificamente com o Homem.
Todas as árvores têm a sua idade marcada nos respetivos anéis de crescimento. Ao cortar-se uma vêem-se perfeitamente no tronco esses círculos concêntricos que delimitam o quanto a árvore se desenvolveu anualmente, segundo as estações.
A Amendoeira, como espécie, é originária da Ásia Menor, outras fontes referem o Norte de África. É uma árvore tipicamente adaptada ao clima mediterrânico.
Esta, cujas fotos apresentamos, tem cerca de quarenta anos. Foi semeada no início da segunda metade da década de setenta do século XX, num caqueiro, resto de um asado ou infusa de barro que se partira, ficando apenas o fundo e parte do vaso.
Neste caqueiro coloquei terra estrumada e a semente, uma amêndoa de casca. E aí nasceu a planta.
Quando atingiu uma certa altura, passados dois, três anos, talvez, transplantei-a para o local onde se encontra. Plantada, protegia-a com uma rede para que o gado, as ovelhas, não a comesse. Devidamente regada no verão aí está ela, entrando nos quarenta…
Não é muito produtora, alguns anos em que muito apressada, ou enganada pelo tempo, logo floresce em dezembro e começa a frutificar, vêm geadas e tudo se perde.
Mas permanece e resiste ao clima destemperado do Alentejo interior e às vicissitudes da vida isolada, com poucas irmãs, por vezes com dificuldade na própria fecundação.
É proveniente de semente que trouxe de amendoeiras que bordejavam a estrada Crato – Aldeia, na zona das “Covas de Mau Vinho” até à “Meia Légua”, junto à “Lage do Meio Dia”. Havia várias, mas só já resta uma que ainda há pouca permanecia florida frente à Tapada da “Meia Légua”, onde muitos anos guardei ovelhas, nas férias. Provavelmente terá sido dessa ou de outra que havia perto que trouxe a amêndoa de casca para semear no vaso improvisado, mas usual na época, para plantar “flores”.
Todos os anos, ultrapassando todas as contrariedades, alegra o espaço e o caminho que bordeja com o seu manto alvar e virginal.
E algo que nunca vemos, mas que é um dos papéis imprescindíveis das árvores e de qualquer planta, até da mais rasteira ervinha. Dá-nos todos os dias, durante cada dia, através da fotossíntese, a sua dose de oxigénio, que nos é tão indispensável à nossa vivência diária.
A nossa vida é complementar e interdependente da das plantas.
Nunca lhes somos suficientemente gratos.
Realidade que não visualizamos, que a maioria de nós desconhece, que poucos de nós valorizam. Mas é um bem inestimável e incomensurável, esse contributo da mais humilde violeta, para além do inebriante perfume das suas flores ou mesmo de qualquer erva daninha! O oxigénio, O2, que todos os dias nos ofertam, sem nada nos pedirem em troca!
P.S.
Estou a escrever este post scriptum a 1 de Setembro de 2015, 3ª feira, pela tarde. Vantagens de escrever online. Pode-se sempre reescrever!
E é só para frisar que, este ano, a Amendoeira foi extraordinariamente produtiva!
É de inteira justiça frisar este facto!
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E volto a escrever diretamente no post.
Para informar que, em 2017, a árvore floriu apenas em Fevereiro. No dia um de fevereiro de 2017, apenas estavam em flor os ramos do lado leste e sul. Os do lado norte e oeste, ainda estavam em botão.
Este Inverno tem sido muito problemático. Apenas arrefeceu e começou a chover, ainda que pouco, no final de Janeiro. Até aí, houve sol, temperaturas moderadas e nada, absolutamente nada, de chuva. Que só caiu mesmo nos últimos dias desse primeiro mês. Terá esse facto influenciado a floração da árvore?
Como será a produção neste Verão de 2017?!
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Ainda outra questão, esta técnica. Se, hoje, oito de Fevereiro - 2017, refizesse facilmente este post, colocaria as fotografias mais realçadas, nomeadamente noutra dimensão. Merecem! Só que não é fácil refazer o post.
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Hoje, dia 9/Março/2018, volto a escrever no post.
No ano de 2017, todos sabemos como foi o Verão. Incêndios desde 17 de Junho, até 15 de Outubro.
Verão sequíssimo. Contudo a árvore deu quase 1000 amêndoas.
E a árvore também secou, apesar de ter um rebento nascido, que já protegi do gado.
Neste Inverno de 2018, o quintal e o caminho ficaram mais pobres. A árvore já não floriu!
E, finalmente, e só em Março, choveu de jeito. Hoje, até demais. Chuva e vento!
Na altura em que a formulámos ainda os media estavam ofuscados pelo brilho do Ouro da Bola...
Entretanto a dúvida que nos suscitava a questão foi respondida. Os orgãos de comunicação social acabaram por responder...
Se isso nos preocupava?!... Se isso nos interessava?!... Se isso nos dizia respeito?!... ?!... ... ...
Intrigou-nos a situação, que nos levou a formular a pergunta. Verdadeiramente pretendíamos também "despertar" leitores e leituras... Sem querer parecer imodesto, há já alguma temática neste blog que merece ser lida! E comentada! É sempre importante termos algum "retorno" sobre o que escrevemos...
Mas não foi por isso que estivémos estes dias sem "postar".
Pois então...
Depois deste interregno de alguns dias, voltamos a divulgar Poesia.
E uma linda fotografia, inédita e original!
Viagem…
De uma jovem para o futuro!
… … …
No seu ombro, encosto e recosto
A menina que fui.
Projecto e sonho
Outros sonhos que me fazem ser árvore da vida
Gaivota voando
Planando sobre o mar.
Na hora dos afectos, outros afectos e sentimentos…
Se cruzam nas estradas e caminhos
Que quero percorrer.
No meu navio
É o mastro que me falta
A bússola que me norteia.
Chegou a hora de largar amarras
Lançar-me a navegar…
Mas, sempre, tendo o seu porto
de afectos
onde me abrigar.
Escrito em 2006/07.
Publicado em: X Antologia do Círculo Nacional D’Arte e Poesia, 2009.