Amoreira da Barca D’Alva (II)
O Maná da Natureza!
(Árvore com História!)
Nas fotos dos postais anteriores, e neste, pudemos e podemos observar as mudanças na fisionomia da Amoreira da Barca D’Alva. Na foto anterior, quase, quase no Inverno, a árvore está praticamente despida de folhagem. Agora, já em plena estação, estará completamente desprovida das folhas. Que estarão, maioritariamente, atapetando o chão, decompondo-se em matéria orgânica, carbono e outros elementos minerais, que as chuvas transportarão às raízes, nutrindo e abastecendo a planta.
Em Maio, em pleno e “maduro Maio”, chegará a vez de ser a Amoreira a alimentar outros seres vivos. Carregadinha de frutos, “amoras de pau”, é um maná para a passarada. Melros, vestidos de preto acetinado, bico amarelo, os machos; em voo rápido e fugaz, são um constante ir e vir, abastecendo-se dos saborosos frutos pretos. Estorninhos vão numa revoada, este passaredo em bandos, pousando nos ramos, debicando amoras. Outras aves, de menor porte, cujo nome desconheço, também visitam a secção da frutaria deste supermercado gratuito. Dá gosto ver! E ainda mais ouvir a chilreada. Ademais os rouxinóis com o seu melodioso cantar! (Gravei vídeos, mas ainda não sei transpô-los para o blogue! Adiante…)
E assim esta Árvore cumpre um dos seus papéis. Alimenta passarolos, passarinhos e passarocos, e estes também cumprirão a função que o vegetal lhes destina. Comendo as amoras, espalharão as sementes da árvore, nos mais diversos locais da campina.
Mas como chegou esta planta da Barca D’Alva ao Alentejo?!
Não veio por semente, não foram os passarolos que a trouxeram. Também não foram as cegonhas! Veio de comboio. Mas não como árvore completa, com tronco, raiz e folhas.
Veio apenas um pedaço de um ramo, aliás dois ou três pedaços de ramos, que abacelei no quintal, em 1979. Passados dois ou três anos, o ramo que vingou, criando raízes e folhas, transplantei-o para o “Vale de Baixo”, bem no início dos anos oitenta, do século XX. E aí está a Amoreira, provinda da Estação de comboio da Barca D’Alva, um clone de árvore que por lá estava à data. Ainda por lá haverá alguma Amoreira?!
Mas faltam fios no novelo desta história…
Em 1979, trabalhava no Norte de Portugal, bastante longe do meu Alentejo. Praticamente só vinha à terra com intervalos de meses. Nos fins de semana, quando tinha tempo, aproveitava para turistar. O Norte tem imenso para visitar.
No Carnaval, aproveitei para ir ver as “Amendoeiras floridas”, que formavam e certamente ainda formarão uma paisagem de incontornável beleza natural. Fazendo a viagem de comboio do Porto até à Barca D’Alva. Nessa data ainda havia comboio até esta estação e até seguiria para Espanha. Portugal ainda não fazia parte da CEE, nem a Espanha. Ambos os países haviam saído, há escassos anos, das ditaduras. Ainda não havia a liberdade de circulação hoje existente. (... Hoje?!)
Fiz a viagem de ida e aguardei por outro comboio para regressar ao Porto. Tive algum tempo de espera, não sei precisar quanto, mas foi suficiente para obter alguns ramos de uma amoreira que havia na estação. Terei pedido certamente a algum funcionário da CP. Naquele tempo, nas estações de comboio havia sempre moradores, funcionários, chefe de estação, guarda da passagem de nível, outros trabalhadores. Eram quase todas ajardinadas, arborizadas e relativamente bonitas.
De regresso, aos ramos obtidos, embrulhei-os em jornais embebidos em água, para os manter humedecidos. Ainda voltei ao Alentejo e então abacelei os ramos, dos quais um vingou. Esse é o clone de Amoreira que havia ou ainda haverá na Estação da Barca D’Alva. Término, à data, da lindíssima Linha do Douro.
Falam em reabrir os troços que fecharam na década de oitenta. Um crime?! Falta de visão e estratégia?! Aconteceu por todo o País.
Mas ali, no Douro!...
Mais tarde, já neste século, sobrevieram os reconhecimentos internacionais: Douro Vinhateiro - Gravuras de Foz Côa.
Por aqui me fico, que ainda faremos a visita de comboio.
Continuação de Excelente Ano Novo. Ano Bom!