Há quem do Tejo só veja
o além porque é distância.
Mas quem de Além Tejo almeja
um sabor, uma fragrância,
estando aquém ou além verseja,
do Alentejo a substância.
Há quem do Tejo só veja
o além porque é distância.
Mas quem de Além Tejo almeja
um sabor, uma fragrância,
estando aquém ou além verseja,
do Alentejo a substância.
Esta série francesa, de 2009, que tem estado a ser transmitida pela RTP2, desde 29 de Março transato, com sete anos de atraso, mas ainda muito a tempo, pois reportando-se a um passado paradigmático, de há setenta anos, mantém todo o interesse.
Quanto mais não seja pele imperiosidade de lembrar, de uma forma bastante didática, um passado que convém não esquecer.
Que a memória dos Homens é curta e, pasme-se (!) até negacionista.
Entrou ontem, dia 19 de Maio, na sua 5ª Temporada.
Intitula-se no original “Un Village Français”, vertida naturalmente para português, como “Uma Aldeia Francesa”.
Decorre a ação em Villeneuve, uma cidade, sim, cidade, porque Villeneuve, de aldeia, não tem nada. Os recursos de que dispõe: câmara municipal, “polícia política”, “gendarmerie”, hospital, hotel, restaurante “5 estrelas”, estação de caminho-de-ferro, camionagem, indústrias, vários grupos profissionais, que me lembre, categorizam-na mais como cidade do que como aldeia. Apenas no ensino se comparará a uma aldeia, dado que, do que me apercebi, só tem ensino primário.
Mas vamos adiante, que ninguém me convidou para padrinho.
Cidade fictícia, situa-se no Departamento do Jura, no Franco Condado, no Leste de França, junto da fronteira com a Suíça e perto da “Linha de Demarcação”, que separou a França em “Zona Ocupada” pelos alemães, e a designada “Zona Livre” sujeita ao governo de Vichy.
A cidade fica na zona ocupada.
A ação desenrola-se de 12 de Junho de 1940, data de início da ocupação alemã, até 1945, já após a Libertação.
Nesta série, os personagens organizam-se por laços familiares, englobando o núcleo central da família, mas também membros colaterais numa estrutura mais alargada; e ainda personagens segundo laços sócio- profissionais.
As relações amorosas entrecruzam-se nestes grupos.
Estrutura-se em sete temporadas, das quais já foram visualizadas as quatro primeiras, iniciando-se, agora, a quinta.
Cada temporada tem um título englobante dos temas narrados e reporta-se a um tempo específico, sendo que, em cada episódio se estrutura e desenrola a narrativa respeitante a um dia, por várias vezes, dias com algum significado histórico, no respeitante à ocupação e à guerra ou concernentes à história política ou social de França.
Vejamos a 1ª Temporada, 1940: “Viver é escolher.”
Tem seis episódios e decorre de 12 de Junho de 1940, dia de início da ocupação da França pelos alemães, como vencedores. Até ao sexto, respeitante ao dia 11 de Novembro, dia de feriado nacional em França, habitualmente de grandes festejos nacionalistas, porque celebra o dia 11 de Novembro de 1918, em que os alemães, através do Kaiser, se renderam, capitulando e assim se deu fim à “Grande Guerra”, assim designada, porque nessa data ainda não houvera outra de caráter mundial e com efeito tão devastador. E os alemães foram vencidos!
Episódio 1 – O Desembarque – 12 de Junho de 1940
Episódio 2 – Caos – 24 de Junho de 1940
Episódio 3 – Atravessar a Linha - 30 de Setembro de 1940
Episódio 4 – Assim na Terra como no Céu – 15 de Outubro de 1940
Episódio 5 - Mercados Negros – 7 de Novembro de 1940
Episódio 6 – Rajada de Frio – 11 de Novembro de 1940.
Desta temporada apenas vi o 1º e o último episódio.
Esta 2ª temporada, também de seis episódios, já relata ocorrências de 1941, de Janeiro a Março.
Não me debrucei sobre nenhum dos episódios, apenas vi excertos de alguns.
Do episódio três, “Aula Prática”, lembro-me da entrada dos alemães na Escola, na sequência de uma denúncia, à procura de uma arma de fogo, supostamente guardada pelo professor Jules Bériot, e que viria a ser descoberta no relógio de parede. Uma velha arma de caça, já enferrujada, do seu avô.
A tudo assistiram as crianças, nesta aula prática, presenciando, no seu dia-a-dia, o abuso discricionário da ocupação alemã.
Episódio 1 – A Lotaria – 10 de Janeiro de 1941
Episódio 2 – O Aliciamento – 5 de Fevereiro de 1941
Episódio 3 – Aula Prática – 12 de Fevereiro de 1941
Episódio 4 - O teu Nome assemelha-se um pouco a Judeu – 4 de Março de 1941
Episódio 5 – Perigo de Morte – 10 de Março de 1941.
Episódio 6 – Golpe de Misericórdia – 11 de março de 1941.
“Esta 3ª temporada retrata as ocorrências em Villeneuve, durante o Outono de 1941, de Setembro a Novembro.
O quotidiano dos habitantes degrada-se. A ocupação e as consequências da guerra acentuam-se.
Os racionamentos, a penúria e falta de víveres essenciais, o mercado negro, as requisições forçadas, os toques a recolher e o recolher obrigatório, as arianizações, fazem sentir-se pesadamente nas populações.
Sofre-se no corpo, os espíritos exaltam-se...
Mas cada um vive as suas próprias escolhas, que nem sempre são tão fáceis quanto aparentam.
Há os que colaboram com os alemães, os que celebram o marechal (Pétain), mas também os que radicalizam a luta, arriscando as suas próprias vidas e a de familiares.
O Amor circula sempre no ar, ou não tivesse esta série também o seu lado romanesco bastante acentuado.”
Estas foram algumas ideias base que explanei no relato sobre os “Episódios”.
Remeto também para a narração respeitante ao episódio 6 – “La Java Bleue”.
Nesta temporada já consegui ver alguns episódios, nomeadamente o sexto, que também contextualiza a ação, remetendo para uma festa tradicional francesa, os festejos de “Les Catherinettes” e para uma canção romântica, em voga na altura, intitulada “La Java Bleue”.
A 4ª temporada, iniciada a 3 de Maio e esta semana concluída, 18 de Maio, centra-se fundamentalmente na problemática dos judeus e na sua deportação para os campos de concentração.
E na ação da Resistência e dos Resistentes, fundamentalmente estruturados em dois grupos: os comunistas e os gaullistas e na sua tentativa de realização de ações conjuntas.
Intitula-se “A hora das escolhas”, e reporta-se a 1942 e ao mês de Julho, nos primeiros seis episódios e ao mês de Novembro, nos restantes seis.
Episódios:
1 – “Le train” – “O comboio” - Dia 20 de Julho.
2– “Un jour sans pain” – “Um dia sem pão”, ou melhor, “Um dia sem comida” – Dia 21.
3 – “Mille et une nuits” – “Mil e uma noites”, parafraseando Xerazade: Dia 22
Começo com a tentativa de resposta à pergunta formulada na última narração.
O que fora fazer Rita De Witte, de bicicleta, na direção do local onde o namorado, Jean Marchetti, participava na armadilha montada aos Resistentes?!
Pois, lamento, mas não vos posso informar. Ontem só consegui visualizar o final do episódio e a possível resposta a essa interrogação já teria sido apresentada.
Só pude ver a partir do facto de Rita manifestar o seu descontentamento face a Jean, o informar que se iria embora, que não se esquecia do que ele fizera à sua mãe, nem o ia perdoar.
Bem pôde ele manifestar-lhe que tudo fizera por Amor, que isto do amor é como um cesto roto, cabe lá tudo o que se quiser... Que, se não fora assim, e a mãe nunca a libertaria, (há mães muito possessivas com as filhas...), que tinha um filho dele, que a amava, a não queria perder, que iria com ela para a Suíça...
Nada a demoveu, sarcasticamente lhe induziu se o filho seria dele (?!), que nunca o conheceria e partiu mesmo para a Suíça.
E, nisso, ele ajudou-a em tudo o que pôde. Primeiro a saber o modo e o como, o caminho de ir e, segundo, acompanhando-a e, como já disse, querendo segui-la para viverem nesse país.
Deixaria a polícia, teria outra identidade, ela também, e começariam nova vida, esquecendo o passado.
Nada, nada a fez voltar atrás e seguiu só, descendo a montanha, na direção do vale, onde corria o rio e, no outro lado, a libertação.
E ele também só, a chorar, de certa maneira, redimindo-se, capaz também de atos abnegados e altruístas, apesar de todas as perfídias cometidas.
E mais! Notando a presença de um policial de fronteira, ajustando o seu rifle telescópico e pronto a disparar, pediu-lhe que o não fizesse, e face à respetiva recusa, ordenou-lhe que parasse, mostrando-lhe o seu cartão também de polícia. Perante a persistência do atirador, que tinha ordens expressas de matar, não esteve com meias medidas e ele próprio puxou da sua pistola e assassinou o colega.
Estranhos, insondáveis e dramáticos, os caminhos do Amor, que levam a atos supostamente impensáveis de quem é tão apegado ao Dever.
Deste modo, a sua amada seguiu descansada, como ele e nós pudemos observar, através do monóculo da arma do colega.
Assim também ele se terá, de certo modo, libertado, aliviado, do mal que aos outros tem feito, reportando para si mesmo um castigo, a que não ficará certamente impune. Aguardemos futuras narrativas, em próxima temporada.
O que sei, tive conhecimento pela boca de Raymond Schwartz, que lia as “Notícias”, jornal local, que dava conhecimento da morte de Albert Crémieux, com foto estampada na primeira página e outra de Marie Germain, mas não me perguntem sobre o respetivo destino.
Estranho o Destino que nos dá conhecimento do ocorrido, através da boca de Raymond que, como sabemos, fora amante de Marie, cuja quinta onde ocorreu o acontecido, aliás, lhe fora oferecida pelo próprio.
E a forma como ele larga o jornal para o chão: páginas caídas, espalhadas e esvoaçando pela rua enlameada...
Arrancou com o carro e a nova amante (?), namorada (?), já mulher? Também não sei ainda, nem ele nos convidou ou participou do casamento...
Esta, que se chama realmente Joséphine, empregada na firma, antes de subir para o carro com o patrão, questionou-o sobre qual era sua posição sobre os acontecimentos narrados.
Muito diplomaticamente, desviou-se da resposta, que era empresário e o que fazia eram negócios.
Como também sabemos ele fora e era um dos grandes fornecedores dos alemães ocupantes, com quem negociava bastante.
Os factos, que presenciava e lia através do “Notícias”, não lhe seriam indiferentes, como é óbvio, tanto no aspeto pessoal, como social e de cidadão francês. Conveniências!
Sabemos que, em futura temporada, virá a envolver-se também com a Resistência. O apelo da Razão e do Afeto, digo eu, far-lhe-ão tomar um posicionamento.
Que, para todos os efeitos, é isso que tem feito. Fez as suas próprias escolhas e, até ao momento, e principalmente, tem agido do lado dos ocupantes. Em seu próprio benefício, diga-se.
E não há mais notícias?!
Ah! Há, sim!
Sabemos que Lucienne gostou muito das novas experiências com o marido, Jules, a ponto de pretender saber onde foram as aprendizagens.
Embasbacado, tímido, meio atrapalhado, acabou por induzir que foi em novas oportunidades!
E, por aqui ficamos, que talvez ainda traga outras novas.
Que, em princípio, irá iniciar-se, hoje, a 5ª Temporada!
E, ainda me ocorre reportar que o ex- Presidente da Câmara, Daniel, vai abandonar Villeneuve, com a família nuclear que lhe resta. Irá para Besançon, para casa de uma tia!
E, também finalmente, pudemos ver o pequenote e traquinas Tequiero!
“La Souriciére” – “A Ratoeira / A Armadilha”: 12/11/1942
Na apresentação de cada episódio há uma estruturação técnica sempre comum, sob vários aspetos. Um deles é um introito em que, de algum modo, nos ligamos ao episódio anterior e ao que vai ser apresentado a seguir, como se fosse um leit-motiv do mesmo. No final, também nos apresentam algo que nos deixa em suspense para a temática do episódio seguinte.
No anterior, décimo primeiro, em ambos estes excertos da narrativa, foi dada relevância a uma mesma personagem, que nestes últimos episódios tem sido destacada no enredo. Trata-se de Rita De Witte.
(Sinceramente, não sei se esta tem sido a metodologia de todos os episódios. Neste, observei-a.)
Voltando à personagem.
No introito, apresentou-se ela perante o namorado, Jean Marchetti, na subprefeitura, após ter vindo do médico, conhecedora da existência da carta, ignorante do respetivo conteúdo.
Apreensiva, temerosa e com cautela, que muitos dissabores já passou, confrontou-o, muito subtilmente e com cuidado, sobre eventuais notícias que ele pudesse ter da mãe, sem nunca aflorar algo que a pudesse indiciar de conhecimento da missiva. Os medos serão múltiplos e diversos.
A conversa ficou-se por muitas e meias palavras, sentimentos aflorados e retraídos, tensão de ambos os protagonistas, que ele é um personagem cheio de contradições, aliás, próprias de qualquer ser humano, por demais em tempos tão conturbados e incertos. E ela é uma mulher só, num mundo hostil, uma náufraga perdida, em que o amado é um pedaço de madeira, frágil e inseguro, mas o único que lhe ofereceu um amparo e sustento e mais um rebento a nascer.
E que, apesar de todas as improbabilidades, a ama, a quer fazer sua mulher, e ser pai da criança a caminho.
Rita andou todo o episódio ausente.
Foi motivo de preocupação exacerbada do amante, que, inclusive, esqueceu as suas prioridades profissionais, ordenando imperiosidade na sua procura (!)
Dirigiu-se, arrogante e prepotente, a casa do médico Daniel Larcher, arrombou-lhe a porta, agrediu-o, invadiu-lhe os espaços, até ao quarto onde agonizava Madame Morhange, que aproveitou para, no leito de morte, o confrontar com a sua crueldade e cupidez, que fora ele que deportara a mãe da própria amada, a quem ela dera conhecimento do facto.
Desesperado, louco por saber do possível paradeiro de Rita, ameaçou de morte Sarah, chantageando Daniel, que apenas lhe disse o que sabia, que Rita planeava fugir para a Suiça.
Providencialmente, chegou o tão desejado Henri de Kervern, namorado de Madame Morhange, que enfrentou a fera enraivecida, lhe disse, com os punhos, o que ele há muito pedia, que é um pulha, um canalha, um escroque. E estatelou-o no chão.
Só assim a besta fugiu.
Fugiu. E foi dedicar-se, de alma e coração, ao frenesim da sua missão. Prender, matar ou enviar para a morte franceses como ele, mas que vem perseguindo já anteriormente ao começo da guerra e da própria invasão nazi. Comunistas, bolcheviques, judeus e agora também os gaulistas. Em suma, os oprimidos e os lutadores pela Liberdade.
À data, já ao serviço dos boches, dos nazis, dos ocupantes. Querendo agradar-lhes, servi-los e dar-lhos como prémio.
Assim montaram a “ratoeira / armadilha” para apanharem os resistentes que se reunirão na quinta de Marie. Mercê da delação de Albert Crémieux, que mantem a sua falsidade e colaboração com os seus próprios algozes até ao fim.
Constate-se o aparato nessa armação, com todos os meios que os representantes de Vichy dispunham. Todos os efetivos policiais, exceto Vernet; um batalhão de “gendarmes”, o subprefeito em pessoa, Servier, servil instrumento da ocupação.
E até um novo personagem que tem andado a contracenar com a também fascista, Jeannine, de nome Philippe Chassagne, à procura de protagonismo, finalmente alcançado, que soubemos, foi nomeado novo presidente de câmara, que Daniel Larcher já não servia, nem compactuava com o colaboracionismo.
Todo este aparato para tentarem prender, de preferência matar, mais propriamente, chacinar compatriotas! Que era esse o seu propósito.
Aguardemos o episódio doze, derradeiro desta 4ª temporada.
E que viram e vimos nós também no final do episódio?!
Um ciclista que se aproximava.
Mais um membro da célula que vinha para a reunião?!
Que apenas houvera chegado um outro ciclista, Marcel Larcher. Comunista, mas muito voluntarioso e idealista, insistira em comparecer, apesar das recomendações de Edmond, mais conhecedor que ele do funcionamento partidário e dos cuidados da clandestinidade. Que um outro camarada, Roger, não comparecera previamente, sinal que haveria algum perigo e a reunião deveria ser suspensa.
O aviso transmitido por Jules Bériot à “menina” da “Maison Berthe” terá sido eficaz.
(Muitas, muitas situações ficam cortadas nesta minha narração, mas é de todo impossível transcrevê-las. Também não sou o guionista, não é?)
E, voltamos ao ciclista.
Marchetti pediu o binóculo para visualizar.
E quem viu ele, juntamente connosco?
Pois, nem mais nem menos que a sua amada Rita!
E que fará ela, ali, naquele momento tão crucial, agora que estão quase a atacar?!
Tanta força e energia, tantos recursos, para atacarem gente quase indefesa e não se voltarem contra os ocupantes que planeiam continuar a invadir a Zona Sul! E que perspetivam os franceses ocupados, como diminuídos.
E aqui bem caberia falar de Hortense... Que bem personifica a situação da França ocupada, face aos ocupantes.
Mas não. Vou terminar com o que previra começar.
A morte assistida de Madame Judith Morhange.
Assistida pelo médico Daniel Larcher, em ambos os sentidos, e pelo seu amado, Henri de kervern.
Ambos choravam.
Antes de se tornar “invisível”, ainda pode contar os horrores que presenciara em Drancy!
“Des nouvelles d’Anna” – “Notícias de Anna”: 12/11/1942
Anna, reporta-se a Anna Crémieux, judia austríaca, mulher de Albert, judeu francês, antigo industrial e, atualmente, resistente gaulista, a viver clandestino no campo e que foi preso no final do episódio anterior, nono, a 11/11/1942.
Afinal, constatei, com base na carta enviada por Anna a Albert, que Hélène, a filha de ambos, não fora resgatada, conforme eu julgava.
A partir dessa missiva, houve notícias de Anna para o marido, enviadas de Drancy.
Notícias deturpadas por Marchetti e colega, que redigiu nova carta, alterando-a, de modo a dar falsas esperanças a Albert de que, caso ele colaborasse, poderia vir a ter novamente a mulher e a filha, que Marchetti intercederia nesse sentido junto de Servier e dos alemães.
E, Albert, fragilizado pela prisão, pelo isolamento em que estivera, desesperado da ausência de ambas, que não falava de outro assunto, cedeu. E delatou todos os nomes dos colegas resistentes, local de refúgio e reunião, meios de que dispunham...
E, no próximo episódio, 11º, os polícias franceses irão montar uma armadilha aos Resistentes Gaulistas.
Abominável atitude e desmesurada ambição destes polícias, que preferem prender e levar à morte os seus compatriotas, que lutarem pela Libertação da sua Pátria!
Mas Marchetti fez ainda pior.
Porque houve outra carta, esta enviada a Rita, pela sua mãe, presa nesse mesmo campo temporário, em trânsito para um dos campos de concentração e extermínio, no Leste da Europa.
No final do episódio, constatamos que Rita de Witte, grávida de Jean, foi à consulta do Drº Daniel, contrariamente ao que o amante lhe recomendara, mas pela questão fortuita do outro médico da cidade ter faltado ao serviço. (Situações das que ocorrem nos seriados, para empolar a narrativa.)
Após consultada e, ao despedir-se, o médico, numa atitude simpática, interpelou-a sobre se ela terá gostado de ter tido notícias da mãe.
Perante a admiração da mesma, questionou-a se ele não lhe deu a ler a carta.
“- Que carta?!”, interrogou-o, Rita, estupefacta e apreensiva.
Nós que estamos de fora, como telespetadores, a observar tudo, vimos bem o que o malvado fez... todavia, figura ambivalente, um espelho da França, que simultaneamente que assim procede, também anda a tratar de tudo para casar com a moça, arriscando-se, bem como a própria carreira, ao pretender ligar-se a uma mulher judia!
Aguardemos o próximo desenrolar do enredo.
Mas estamos abordando sobre cartas... E como foi o correio?
Quem serviu de correio, clandestino, foi Madame Morhange, antiga Diretora da Escola, que foi “devolvida” do campo de Drancy, por estar muito doente, mercê da intervenção de Servier. E foi recebida na casa do médico, Daniel Larcher, pois ela pretendia que este lhe “achasse” o namorado, Henri de Kervern, bem como entregar-lhe as cartas. Só que estas foram surripiadas por Marchetti, como vimos, e que lhes deu aquele destino...
Daniel teve uma ação fundamental neste episódio, desdobrando-se nos seus múltiplos papéis.
Tio extremoso de Gustave, a quem ajudou nos trabalhos de casa; para além do médico de serviço, sempre pronto a ajudar os pacientes; e do seu papel de “Resistente”, não propriamente oficial, elo de ligação mais ou menos voluntário, entre todos. Tem ainda tempo para aturar a mulher, Hortense, que o manipula sistematicamente, que faz dele “manso”, aconchegando-se-lhe no corpo, como uma criança carente e mimada, após ter regressado de um jantar com o boche torturador e assassino.
Quem ficou despeitada e perturbada, com a perceção desse evidente arrulho, foi Sarah, que tendo vindo inesperadamente da Zona Sul, de manhã, certamente para matar saudades, se depara com a evidência dos factos. Supostamente viria para ser amante, mas factos são factos e dez anos de casamento, para Daniel, não se atiram assim borda fora. E de amada, reduziu-se à condição de criada e foi fazer ovos estrelados!
Mas altiva, bela, jovem e recatada (?), não deixou de lhe atirar: “Ela faz de si o que quer. Vou partir amanhã. Prefiro desenrascar-me sozinha!”
Veremos o que acontecerá no futuro!
E preparando e lutando pelo Futuro destacam-se os “Resistentes”.
Após um conciliábulo, parcialmente fortuito, entre Jules Bériot e Marcel Larcher, em casa de Madame Berthe, comunistas e gaullistas, reúnem-se de forma estruturada. Confianças e desconfianças recíprocas, resolvidos alguns mal entendidos iniciais, alterada a chefia da célula comunista, no decurso da própria reunião, acabam por definir estratégias de atuação, futuras reuniões e ações conjuntas, na luta contra o inimigo comum: o invasor e ocupante alemão e os colaboracionistas e o governo de Vichy.
Aguardemos que, como também já referimos, Albert Crémieux, também da célula gaullista, denunciou-os e Marchetti prepara-lhes uma ratoeira.
Nesta reunião houve, acidentalmente, o esclarecimento de um assunto que já vem na narrativa há vários episódios e que tantos atritos tem provocado na célula comunista. O da possível delação de Suzanne relativamente a Yvon.
Foi aqui desvendado, fortuitamente, que ela não fora a traidora, nem terá havido propriamente um traidor. Apenas fora Edmond que, na sequência do atentado, fora visto pelo polícia Vernet, a sair do local onde se acoitava Yvon. E Vernet, também participante na reunião, pois é resistente gaullista, e que, como policial, nunca esquece um rosto, reconheceu Edmond.
(Não compreendi todas as cambiantes desta situação, pois talvez não tenha visto o episódio.)
Não quero deixar de ainda abordar um pequeno, de somenos importância (?), pormenor.
O que foi o Professor e Diretor da Escola, Jules Bériot, fazer a casa de Madame Berthe, caftina da cidade, pelos vistos, pela primeira vez, tendo ele uma mulher tão bela, jovem e sedutora, em casa?!
Terá ido angariar alunas para algum curso noturno?! Para umas novas “Novas Oportunidades”? Preparar para exame ad-hoc à Universidade?
Não, ele foi precisamente buscar aconselhamento, com a experiente Madame, para dar outra cor e uma nova oportunidade ao seu casamento.
E, pelo que foi supostamente visto e ouvido, parece ter dado resultado.
Será a partir de agora que começam a tratar-se por tu?!
“Une Évasion” / “Uma Evasão” - 23 de Julho de 1942
(Episódio nº 28 – 6ª feira – 6 de Maio de 2016)
Desde que se iniciou, na passada 3ª feira, a transmissão desta 4ª temporada, intitulada “A hora das escolhas”, foram apresentados quatro episódios, todos reportados a 1942 e ao mês de Julho:
1 – “Le train” – “O comboio” - Dia 20.
2 – “Un jour sans pain” – “Um dia sem pão”, ou melhor, “Um dia sem comida” – Dia 21.
3 – “Mille et une nuits” – “Mil e uma noites”, parafraseando Xerazade: Dia 22
4 – “Une évasion” – “Uma evasão”- Dia 23.
Nesses escassos quatro dias do mês de Julho, em que decorre a ação, desde que o comboio chegou a Villeneuve, com famílias judaicas a caminho de serem deportadas para os supostos “campos de trabalho”, muitos acontecimentos ocorreram nessa prisão improvisada a que crianças, velhos e adultos, homens e mulheres, estiveram temporariamente sujeitos na cidade.
Situações dramáticas, como a da alimentação de tantas pessoas, num contexto de penúria geral na cidade sujeita a racionamento e senhas para compras de bens.
(Não posso deixar de me reportar para a realidade e lembrar que essa situação de carência de bens, com especial realce para os alimentares, porque mais imprescindíveis, foi geral em toda a Europa, mesmo nos países que não estavam diretamente envolvidos na guerra. Como, no caso, Portugal, onde o racionamento e o comprar com senhas também foi comum durante o mesmo período.
Todo o trabalho produtivo era canalizado para o designado “esforço de guerra”.
Pasme-se e medite-se sobre a insanidade humana: andar a produzir só para destruir! E além de matar, deixar milhões morrerem à fome. Porque a guerra afetou todos: agressores e agredidos e esta situação dual alterou-se completamente no decurso da mesma.)
Mas deixemo-nos de “devaneios”... e não nos desviemos da matriz essencial deste meu contar.
Uma das situações ocorridas, mais dramáticas e chocantes, foi a separação das crianças dos respetivos progenitores.
Ontem, na parte final do episódio, era suposto que as crianças se juntariam novamente aos pais e mães... Ação resultante do esforço negocial do Presidente da Câmara e de Madame Morhange, a porta-voz do grupo de judeus.
Era suposto... E, inclusive, chegou mesmo a concretizar-se parcialmente. Que Madame Crémieux conseguiu juntar-se com a filha, Hélène, e, ao chegar, anunciou que o autocarro com as crianças já aí vinha.
E é de imaginar o alvoroço, especialmente daquelas mães ansiosas, esperando a chegada dos filhos, mais ainda quando se ouviam os motores de carros se aproximando...
E chegaram! Mas anunciando-se com alarido e choque, estacionaram carros de tropas alemãs, soldados e oficial, boches, melhor dizendo.
Chegaram gritando e ameaçando tudo e todos, que o oficial berrou, para melhor atemorizar, que todos iriam pagar, porque houvera uma evasão, de entre os prisioneiros.
E, perante a abordagem e aproximação do chefe dos “gendarmes” franceses, não esteve com meias medidas, e pespegou-lhe um valente chapadão, que o deixou estatelado no chão!
E esta chapada e o estatelanço do “gendarme” traduzem, metaforicamente, a situação da Nação francesa colaboracionista. Estatelada no pó, às ordens do exército alemão.
Mas, frise-se, que essa obsessão pela perseguição aos judeus e aos comunistas não era “idiossincrasia” apenas dos nazis alemães. Em França, como noutros países europeus, ela fazia parte da práxis dos regimes vigentes, pelo menos desde a década de trinta.
Na série, esse aspeto é bem presente, por ex. na atuação do chefe da polícia de Villeneuve, Jean Marchetti, cuja preocupação profissional é prender uns e outros.
E é isso que torna a fazer neste episódio: consegue prender Sarah Meyer, que se escondia em casa do presidente da Câmara, Daniel Larcher, com o seu consentimento e da ainda esposa, Hortense.
E nos quedamos por aqui.
Que sobre Hortense muito haveria que contar.
E o comboio que levará os prisioneiros ainda vai demorar...
Iniciou-se, na passada 3ª feira, 3 de Maio, a 4ª Temporada da Série “Un Village Français”. Também de 12 episódios, reportados igualmente a um dia específico de 1942, desde Julho a Novembro, conforme link da wikipedia, apresentado anteriormente.
Episódio 1 – “Le train” / “O comboio” – 20 de Julho de 1942.
Um comboio militar alemão aportou a VIlleneuve para deixar, temporariamente, cerca de uma centena de homens, mulheres e crianças, famílias completas, de judeus, em trânsito para um destino incerto, para os próprios, para os franceses residentes na cidade, para as próprias autoridades francesas colaboracionistas nessa ação. Para uns supostamente designados “campos de trabalho”!
No primeiro episódio, somos nós telespectadores, desde logo, também transportados para uma das situações mais trágicas, mais vis, mais absurdas, mais chocantes, mais humilhantes, mais degradantes, mais repugnantes, da 2ª grande guerra: a deportação de judeus, com todo o cortejo de horrores que lhe conhecemos. Sim. Que conhecemos e que, hoje, não podemos ignorar, ainda que passadas sete décadas.
Não é fácil abordar a temática desta temporada, como habitualmente tenho feito nas abordagens das outras séries, dado que os acontecimentos narrados têm uma base demasiado verdadeira e chocante, tanto mais porque, ao que observamos, passados setenta anos do final da guerra, a Humanidade não aprendeu, a respeitar-se. Nem a respeitar o Outro, enquanto Ser Humano!
Mais do que narrar sobre o enredo vou, antes, questionar:
- Como foi possível que tais acontecimentos tivessem ocorrido e durante tanto tempo, sob o olhar indiferente, complacente, colaborante, de tanta gente responsável?!
- Como foi possível que seres humanos tenham tratado outros seres humanos assim e daquele modo?!
- Mais... Como é possível, e agora no presente, que tais situações, ou semelhantes, ainda aconteçam e humanos continuem a cometer atrocidades iguais ou idênticas às perpetradas?!
- Que, ao longo destes setenta anos, a humanidade tenha continuado a exercitar todo um cortejo de horrores pelos mais diversos países, por esse mundo afora?
- E como é possível que os descendentes das vítimas, dos agredidos e sofredores nessa guerra atroz, sejam eles agora que agem como agressores, exercendo sevícias análogas às que sofreram os seus ascendentes?
- E como explicar que após setenta anos em que líderes tresloucados dirigiram os destinos de várias potências beligerantes nessa guerra, um deles, o detonador de todo aquele enredo catastrófico, eleito, ainda seja possível haver um candidato de igual cariz, a tentar ser eleito para a chefia do estado mais poderoso do planeta?
- Sim! Como é possível?!
Falta demasiado bom senso à Humanidade. Pelo menos a uma parte significativa dessa humanidade!
E fico-me por aqui, que o comboio chegou à cidade de Villeneuve, mas ainda não partiu.
Mas, e ainda sobre o enredo, não posso deixar de referir que assomam sinais de Esperança e Altruísmo nalgumas personagens, que, apesar de todas as atrocidades, nos fazem crer numa Redenção possível!
É de visualizar a Série e refletir sobre as ocorrências!