Há quem do Tejo só veja
o além porque é distância.
Mas quem de Além Tejo almeja
um sabor, uma fragrância,
estando aquém ou além verseja,
do Alentejo a substância.
Há quem do Tejo só veja
o além porque é distância.
Mas quem de Além Tejo almeja
um sabor, uma fragrância,
estando aquém ou além verseja,
do Alentejo a substância.
Respostas das Entidades, para quem enviei o texto publicado nos postais anteriores, acompanhado de uma carta específica para cada uma delas.
CP - Caminhos de Ferro Portugueses, E.P. - enviei carta a 90/02/01, para a Administração.
Resposta textual obtida da CP, datada de 90/02/23:
“Analisamos com muito interesse o relato enviado por V. Exª, que agradecemos.
Apresentamos as nossas desculpas pelos inconvenientes surgidos, originados sobretudo por avarias de material motor e pela necessidade de conceder enlace a passageiros vindos do Norte com destino ao Leste, que de outro modo se veriam obrigados a esperas muito mais longas.
Quanto à utilização de Automotoras Nohab, tal facto deve-se a necessidades de rentabilização do material disponível e das condições de exploração.
Esperando poder voltar a contar com V. Exª entre os nossos clientes, apresentamos os nossos melhores cumprimentos.”
Rubricado por: “O Director de Operações Sul”
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Assembleia da República
Para a Assembleia da República também enviei o texto. (Consultando a Wikipédia, à data, a composição da Assembleia seria como segue: PSD, PS, CDU, PRD, CDS. O Primeiro-Ministro era o Professor Doutor Cavaco Silva.) Não me lembro se enviei especificamente para cada grupo parlamentar, se genericamente para a Assembleia.
O texto enviado foi acompanhado pela carta seguinte, também com a data de 90/2/1:
«Excelentíssimo Senhor Deputado
Tomo a liberdade de me dirigir a Vossa Excelência, na qualidade de eleitor do distrito de Portalegre, no sentido de referir, através duma ocorrência factual, um assunto que vem problematizando muitos dos habitantes do distrito, mais concretamente a situação dos comboios. Não tenho, todavia, a pretensão de abordar o tema duma forma exaustiva, outros já o fizeram melhor.
Segue, em anexo, um texto testemunhando o ocorrido, acompanhado de algumas questões – reflexões sobre o tema e outros, que aparentemente díspares, a ele estarão bastante ligados, pelo agravamento da interioridade do Distrito.
Agradecendo a atenção prestada
Subscrevo-me de Vossa Excelência»
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Caro/a Leitor/a, acha que recebi respostas de todos os grupos parlamentares?!
A resposta a esta pergunta só a poderei dar em próximo capítulo deste “Folhetim do Comboio de 1990”!
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(P.S. - A foto? Original. De Rosas do meu Quintal. É de uma Roseira que trouxe do Apeadeiro da Mata, local de chegada da narrativa deste folhetim "Viagemde comboioem 1990". Local também de partida para as muitas viagens que fiz de comboio, nos anos setenta, oitenta e inícios de noventa, do séc. XX. Estava junto à casa da guarda da passagem de nível. Daí, colhi um ramo que abacelei. E aí virá a Primavera em que florescerá novamente, em todo o seu esplendor. E que venha a Primavera e que traga chuva. Que o Inverno só nos tem trazido frio. Muita Saúde e muito Obrigado.)
«Algumas pessoas comentavam que os dias de azar não são só as 6ªs feiras, mas como não sou de superstições, antes acredito que o futuro é fundamentalmente construído por nós próprios, gostaria de deixar algumas questões em aberto, à consideração de quem de direito e obrigação, sem pretensões a esgotar o assunto:
1 – Se, numa mesma viagem, há três avarias com três máquinas diferentes, será que estas, à saída das oficinas, estavam em condições para circulação?
2 – Ninguém prevê ou se preocupa com a eventualidade de possíveis acidentes a ocorrer, dadas as precárias condições de segurança em que se viaja? A memória é assim tão curta?
3 – Os tão propagandeados meios técnicos, a implantar nos comboios e que permitiriam uma resolução mais rápida de eventualidades como as descritas, continuam apenas a ser lembrados na altura dos acidentes? Depois são rapidamente esquecidos?
4 – Quando tanto se fala em investimento e progresso que, na Linha do Leste, em 1990, parece escrever-se RETROCESSO, será que ainda aqui veremos circular as máquinas a vapor? Estamos no Ano Europeu do Turismo!
5 – Será que teremos que passar a levar auscultadores para suportar o barulho da automotora? (Ou a CP passa a fornecê-los no acto de compra do bilhete?)
6.1. – Será que o objectivo das medidas recentemente tomadas (a extinção de certos ramais, acrescente-se também) pretende afastar os passageiros da utilização dos comboios como meio de transporte?
6.2. – Mas onde foram criadas alternativas válidas para muitas populações do Interior? Onde estão as boas estradas? Onde estão os bons meios de transporte rodoviários?
6.3. – Será de facto economicamente mais rentável, para o país, transportar passageiros por camioneta do que pelo comboio?
6.4. – Servindo-se das estruturas já existentes, não haverá modalidades de transporte ferroviário mais económicas do que as utilizadas?
(Supondo que será essa a razão principal da supressão de muitas das vias férreas.)
7 – Em suma, pretender-se-á, a longo prazo, uma ainda maior desertificação do Interior e um congestionamento e macrocefalia dos grandes centros urbanos?
8 – Será que o Interior está fatalmente destinado à florestação eucaliptal acompanhando a fuga das populações campesinas?
9 – Julgar-se-á que a actual divisão especializada das economias periféricas europeias e a respectiva superestrutura é eterna? Isto é, pensar-se-á que a estrutura da CEE é imutável e perene e que nós vamos ter sempre quem nos forneça muitos dos produtos que consumimos e injecções de capital financeiro para os adquirir?
Será que a nossa pasta de papel vai ser eternamente necessária nos países industrializados?!
Será que …? Será…?
Talvez sejam questões a que nós não mereçamos resposta… Talvez!»
Cova da Piedade / Lx, finais de Janeiro de 1990
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Estas foram as questões e considerações que formulei e enviei às Entidades com competências no assunto, juntamente com o texto descritivo da ocorrência.
(Valem o que valem, face ao contexto em que se inscrevem, ao tempo a que se reportam, e à importância de defender o Interior, sempre tão esquecido, há várias décadas.)
Enviei este texto completo, (sem negritos, estruturados para efeitos de blogue), para CP, para Assembleia da República, para Câmara Municipal de Portalegre, para Jornal “Fonte Nova”, para Jornal “Expresso”.
(Abordarei as respostas obtidas em próximo postal.
O/A Caro/a Leitor/a dirá que isto já parece um folhetim. E com razão, reconheço. Obrigado!)