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Aquém Tejo

Há quem do Tejo só veja o além porque é distância. Mas quem de Além Tejo almeja um sabor, uma fragrância, estando aquém ou além verseja, do Alentejo a substância.

Há quem do Tejo só veja o além porque é distância. Mas quem de Além Tejo almeja um sabor, uma fragrância, estando aquém ou além verseja, do Alentejo a substância.

Sabe que planta é / são esta(s)? – XV

Ainda no Jardim da Gulbenkian

(Piquenique 1 de Agosto 2021 - III)

Roca da Velha. Foto original. 2021.08.01.jpg

O Jardim – Parque da Gulbenkian é um oásis em Lisboa.

Surpreendente a floresta criada no meio da Cidade. (A Praça de Espanha também está bastante diferente, mas ainda não deu para uma apreciação global e avaliativa. Mas, na questão de circulação automóvel, pareceu-me melhor. Mas ainda terei que ajuizar com mais atenção.)

Voltemos à Gulbenkian e apreciação do coberto vegetal do Jardim. Alguns aspetos de pormenor e outros de por maior. De algumas plantas conheço nome vulgar, de outras não. Nomes científicos, mais corretos, em latim, não conheço. Lamento!

A foto de capa: Roca da Velha

Imagem de por maior: Canavial, de Canas da Índia

Canavial Gulbenkian. Foto original. 2021.08.01.jpg

Lantana

Lantana Gulbenkian. Foto Original. 2021.08.01.jpg

Roseira florida.

Rosa na Gulbenkian. Foto Original. 2021.08.01.jpg

Rosas muito bonitas existem no Roseiral da Gulbenkian. Mas perdem muito do fulgor dos roseirais, porque o arvoredo que limita o espaço a sul – sudoeste cresceu imenso e priva-as de luz solar. Digo eu… Jardim ou parque sem roseiral, não é jardim nem parque, em Portugal!

Azevinho

Azevinho. Gulbenkian. Foto Original. 2021.08.01.jpg

Acanto

Acanto. Foto Original. 2021.08.01.jpg

As imagens seguintes são de plantas cujo nome desconheço.

Jardim Gulbenkian. Foto original. 2021.08.01.jpg

Sabe os respetivos nomes?!

Jardim Gulbenkian. Foto original. 2021.08.01.jpg

Se souber, agradecemos que os nomeie, Se Faz Favor!

Jardim Gulbenkian. Foto original. 2021.08.01.jpg

Obrigado. Muita Saúde. Bons Passeios e Passeatas. E Piqueniques!

 

Numa Cidade sem Tempo...

 

Numa Cidade sem Tempo

                         Com(Templo)!

 

Contemplo o branco!

Sempre a brancura das paredes a povoar-nos a Memória.

Ressequida a paisagem: tons castanho, creme, ocres, amarelos

De quando em vez, uns verdes (lapsos de pintor)

Vermelhos (lembranças de lutas, de conquistas, violências).

Transversais barras riscam o branco da monocromia:

- Margens dum espaço de rodapé colorido.

 

E o horizonte… a perder de vista!

Sem limite, a terra nos marca o Destino

Nos espraia sem (ha)ver praia.

É ponto de partida e de chegada.

 

Por aqui ficaram muitos Povos

Perderam-se nas searas, na terra fértil.

E sendo perecíveis as sementes, morrendo e nascendo cada ano…

Quiseram intemporizar-se nas paredes, nas pedras que ergueram.

Cantaram hinos em mármores e granitos!

Que o Pão nos sustenta, mas todos-os-dias

Se come, se dorme e… se morre um pouco.

Levantaram-se colunas, menhires erguidos proclamaram

Louvores à Fertilidade, à Deusa – Terra (Mãe – Fecunda)!

E ao Homem, agente transformador (Fecundante!)

E Templos e Igrejas, aos Deuses

Sublimação dos homens, cristalização dos Ideais. Apenas!

Que os Deuses nunca existiram, Além da Imaginação

                                                                            Dos Homens.

 

Nem sem ela, o Céu e o Olimpo.

 

Ficaram as folhas de acanto, petrificadas, nos capitéis coríntios.

 

Em linguagem marmorificada, dizem-nos: 

“ – Antes de os homens existirem à face da Terra

Mesmo antes de a terra o ser

Já nós éramos.

Éramos muito antes do Antes.

Somos muito antes mesmo de serem o que são, as folhas que somos.

Muito antes das Plantas.

Existimos muito antes de nos chamarem o que nos chamam.

 

Só muito Depois vieram os homens.

E vieram muitos e depois muitos mais por nós passaram, até que nos chamassem.

Pedras nos chamaram, calhaus, pedregulhos, pedra rija e outros nomes…

Que esquecemos.

Até que nos dignificaram, chamando-nos mármores.

E Sempre por nós passaram, por muitos e muitos Tempos, os Elementos em nós

Permanecendo imutáveis. Intemporais.

Até que há pouquíssimo tempo passaram uns Homens, de certeza dados à Poesia

Que em nós viram plantas, flores ou somente eles próprios, ou partes suas

Ou as suas partes sublimadas.

E, sendo eles mortais, temporais como as plantas

Quiseram simplesmente eternizar-se, eternizando-se, transformando-se-nos.

 

E, eis-nos contemplando a Cidade dos Homens, deste alto, infinitamente intemporais

Marcando num curto espaço das nossas vidas, como Pedras, a precaridade da vida dos homens

De número tão infinitos, mas tão finitos de Tempo.

 

E os homens, mesmo os que Homens foram, continuaram passando.

 

Chegados e partidos!

 

E nós aqui estamos em capitéis coríntios, sobre colunas graníticas

Formando o Templo.

Sustentando o Céu, que sobre nós se ergue!”

 

E, nesta cidade crescida das lavouras

Do rasgar do ventre criador pelos arados

Dos campos ondulantes de trigais

(Ilusão de mares balouçados pelos ventos)

Lembra-me outra cidade… minguada de terras

Sem arados nem trigais, mas com excesso de águas

Navegando na laguna, transbordando por ciclos.

Afundando-se no berço em que nasceu e prosperou.

 

(Nos Lóios, em painéis de azulejos

Essa arte sublime de portugueses

Corre a vida de Lourenço

Patriarca – santo de Veneza.)

 

Contraste com esta cidade que contemplo

Sempre minguada de águas e terras a perder de vista.

 

Em ambas, a marca do tempo nos lembra

A precaridade da Existência.

 

Se uma se afunda lentamente

O mar fazendo ondas no chão da Catedral

A corrosão do ar salgado leprosando os calcários…

Nesta, não falarei de monumentos construídos, destruídos, reconstruídos…

Lembrarei somente esse macabro achado:

Revestida de ossos, a Capela assim chamada

Nos situa no presente – futuro que recalcamos.

 

E que dizer das praças?!

Nas mais belas praças, lugar de Homens

O sol num céu azul

A luz ferindo a vista

Reflete-se do branco das paredes…

No centro, gotejando, a água das fontes

Corre pura e cristalina.

 

Se na do Geraldo a fonte, de perfeita

“Bien merece ser coronada”.

Na de Moura, um globo, o Mundo

Distribui com parcimónia a água

Pelos quatro pontos cardeais.

 

E por que corrermos mais

Se nesta cidade se resume

A nossa condição maior de Portugueses

O nosso orgulho de Humanidade?

 

Nesta cidade com Templo

De colunas e capitéis coríntios

Não sustentando teto ou abóboda

Erguido apenas ao Sol e à Lua

Coberto de manto azul durante o dia

Ou céu estrelado pela noite…

 

(Exceto quando chove ou está Encoberto

Que nestas pequenas cousas reside

A nossa condição de humanos.

E, nas pequenas coisas do dia-a-dia

Também há muita Poesia!)

 

… Nesta Cidade, dizia…

Ficamos contemplando o Templo

Desenhado sobre fundo branco

E Céu azul.

Esquecido o tempo.

Nesta Cidade sem Tempo!

 

 

 

Escrito em 1987.

Publicado em “Poiesis” – Volume VIII, Editorial Minerva, Dez. 2002.

 

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