Há quem do Tejo só veja
o além porque é distância.
Mas quem de Além Tejo almeja
um sabor, uma fragrância,
estando aquém ou além verseja,
do Alentejo a substância.
Há quem do Tejo só veja
o além porque é distância.
Mas quem de Além Tejo almeja
um sabor, uma fragrância,
estando aquém ou além verseja,
do Alentejo a substância.
Finalmente, consegui retomar a escrita sobre esta série.
Teil/Episódio
IV
Tempos Sombrios/ Ventos de Mudança
E as dúvidas foram esclarecidas. Houve mesmo um Episódio IV, no passado domingo, 24 de Janeiro. O último da mini série, agora em reposição e que eu não vira na 1ª apresentação em Outubro. E, apesar de haver eleições presidenciais e de ter acompanhado parte do programa respetivo, ainda assim optei por visualizar este quarto e derradeiro episódio.
Muito lúgubre, este episódio final. Afinal aconteceram as mortes dos personagens e narradores principais.
Bertha, em 1957. Tendo o marido Gustav morrido em 1950.
A narrativa prolongar-se-ia ainda pelos anos sessenta, até à morte de Alfried, em 1967.
Este episódio quatro relata os principais acontecimentos destes personagens e da Firma, nos anos pós Guerra até à morte de Alfried, o segundo narrador.
O tempo narrado vai continuando, centrado no presente, 1957, protagonizado por Bertha, doente, no seu quarto. Que aguarda ansiosamente a vinda do filho Alfried.
Voltamos a este ponto, porque ele é fulcral no enredo. Porque Bertha adoeceu (AVC), sequencialmente à discussão com o filho primogénito, Alfried, herdeiro e dono legítimo da Firma. E precisa, urgentemente, que ele se lhe apresente...
Este foi preso, no final da II Grande Guerra, em 1945. Imagens que finalizaram o 3º episódio. Em 1948, foi julgado em Nuremberga, como criminoso de guerra, condenado a doze anos de prisão e foi-lhe confiscado o património.
Assim se esclarece a minha dúvida sobre a questão dessa condição de “criminosos de guerra”.
O pai Gustav não foi condenado devido à idade e estado de saúde. Morreria em 1950, junto da mulher, Bertha, no castelo dos Alpes Austríacos, para onde se retiraram no final da Guerra.
Ele e o filho já não se veriam, estando este ainda na prisão, aonde a mãe o foi visitar. Informou-o da situação da empresa, do que dela restava, que o irmão Berthold administrava.
Alfried, proprietário da Krupp, como criminoso de guerra da Família, perdera tudo. Mas tentavam reaver todo o património, através de advogados e processos judiciais.
Neste episódio, as desavenças, tricas, conflitos explícitos ou recalcados, entre os membros da Família, expressam-se na narrativa.
No centro, Alfried, como dono da Firma. Que a Família e a Firma fundem-se e interpenetram-se. Confundem-se!
Além do conflito entre Alfried e a Mãe, que o aguarda ansiosa..., mais adiante veremos para quê..., também são apresentados os conflitos entre Alfried e o irmão Berthold, que tomou conta do que restava da Firma e das empresas, enquanto aquele esteve na prisão e que, regressado antecipadamente ao previsto, 1951, Berthold não quer largar mão da respetiva gestão. Apesar da posse jurídica ainda ser do irmão mais velho, na sequência da célebre Lei Krupp, pela qual os bens da firma lhe foram transmitidos por herança direta, em 1943, por decisão de Hitler, sem pagamento a imposto sucessório!
As desavenças com Harald também já vinham sendo reveladas, embora menos fortes que as manifestadas com Berthold. Mais centradas no facto de aquele, não sendo primogénito, se sentir e ser preterido, em todos os aspetos, nomeadamente no afeto maternal.
O desentendimento com o filho Arndt é quase total, pela sua “personalidade extravagante”, a sua não aceitação, a rejeição mútua, o abandono a que este foi sujeito, pelo divórcio forçado da mãe, em 1941, que o criou.
Só que o filho é o herdeiro legítimo da Firma, e será a ele que os direitos sucessórios serão, em princípio, transmitidos. Filho que não manifestava qualquer apetência para essas funções empresariais.
Alfried saíra da prisão muito antes do tempo previsto. Em 1951, apenas seis anos após ter entrado, quando se previra doze anos. Saiu escondido numa carrinha, que havia repórteres e fotógrafos à porta da prisão e houve que ludibriá-los.
Arranjou-se logo com uma namorada, Vera, seria a célebre do baile em Munique, nos dourados anos trinta, antes da eclosão da Guerra? Deram uma volta ao mundo, para espairecerem, que seis anos de reclusão, mereciam um ano sabático de diversão.
Ao regressar, em 1952, quis voltar a assumir os destinos da Firma. Só que o irmão Berthold dela tomara conta nos anos de ausência e não queria deixar esse poder do pé para a mão.
A situação da firma é outra das temáticas do enredo. A sua situação patrimonial. Os direitos de propriedade. A sua reconstrução. A sua colocação em funcionamento. O tipo de produção a desenvolver, o fabrico de armas, sempre altamente rentável, foi uma das hipóteses equacionadas, apesar da proibição. O financiamento a obter para a realização dos investimentos. A sujeição ou não às leis condicionantes do seu funcionamento impostas pelos aliados. O tipo de propriedade e a definição do proprietário. A situação da transmissão da herança ao filho de Alfried, Arndt. O imposto sucessório a pagar, caso esta situação se concretizasse. Desta situação haviam sido isentos, no início do século, pelo Kaiser, quando a herança transitou para Bertha e, em 1943, Hitler também os isentou, quando a propriedade passou para Alfried. Em 1957, não havia ninguém com poder discricionário na Alemanha para poder decidir tal situação.
Havia que equacionar outra solução para a Firma.
Muitas situações mudariam na política alemã e ocidental. A correlação de forças entre os vários intervenientes na Guerra e os respetivos papéis, alterou-se. Os parceiros circunstanciais na derrota alemã, Aliados e União Soviética, eram agora inimigos. A Alemanha dividida entre zonas de influência. A génese da “Guerra Fria”. Sempre a Guerra! Que o Ser Humano não aprende!
Neste episódio houve momentos cruciais que importa relembrar.
A visita do neto Arndt à avó Bertha, no leito, que não seria de morte, que ela não era mulher para se deixar morrer na cama. Estava com uma enxaqueca!
Que não, não era enxaqueca, respondeu-lhe o neto, que a confrontou com o facto de ela ter oferecido milhões à mãe, para os deixar e ao filho, criança, que ficaria entregue à Família. O que sabemos Anneliese, a mãe, não aceitou, acabando por se divorciar, em 1941, mas levando a criança, que criou. Bem? Mal? O que é bem ou mal?, por vezes depende dos pontos de vista...
E Arndt além de a desmentir que estivesse apenas com uma enxaqueca, também lhe frisou que ela estava para morrer, que ele bem o sentia, e pareceu sentir-se bem ao dizer isto, que amor nele não havia. E abalou. E a avó bem o chamou, bem lhe pediu que voltasse, que não precisava ter medo dela, uma velha mulher, mas era tarde... Tarde demais para ambos!
E esta visita surpresa do neto, inesperada, mas que teria feito bem a Bertha se tivera tido outro desfecho, antecedeu a do filho, tão aguardada, desejada e necessária na estruturação narrativa. E, finalmente, após outros enlaces e desenlaces narrativos, alternando no tempo narrado, e nos assuntos abordados, surgiu o filho primogénito em cena, a visitar a Mãe!
E aí percebemos a urgência dessa visita. Porque tanto Bertha desejava que o filho chegasse.
Bertha agradeceu-lhe por ter vindo e, por favor, pediu-lhe que a perdoasse. Perdoa-me. Alfried, perdoa-me.
Já não precisas de continuares a seres forte, Mãe.
E assim, Bertha, perdoada pelo filho, poderia partir em Paz com a sua consciência, que ela sabia que o momento da Morte se aproximava. E aqui, nesta cena, podemos também observar o arrependimento de Bertha, pelo menos relativamente ao Filho. Algo que eu também questionara em relato anterior se aconteceria. E aconteceu! Não direi que “mais vale tarde...”, porque contar um conto é mesmo assim. Os acontecimentos cruciais mais aguardados são guardados para o fim... Foram momentos sublimes de redenção, este encontro entre Mãe e Filho, que a Música, sempre a Música!, sublinhou com pássaros a cantarem no jardim!
E a Morte aconteceria, que a morte chega sempre. Não sem que, antes, Bertha, erguendo-se do leito, com dificuldade, se fosse olhar uma última vez, no espelho, de corpo inteiro. E nele se espelhasse a sua Alma e toda a narrativa, e ao olhar-se, ela se visse e olhasse e revisse tudo o que nos contara. E ao virar-se, que ela já se vira e se olhara, se mostrara, mostrando-se-nos, se revelara, revelando-se-nos, na sua história, que também fora História; da sua família, que fora a Família; da sua firma, que fora a Firma; da sua Alemanha, (ou Alemanhas?!), ela, ao virar-se, encontrou finalmente a Morte, que a esperava após esse derradeiro Olhar!
Caiu. E, deste modo, caindo, morreu!
E a narrativa podia até ficar por aqui. Fora Filme, melhor até, Teatro, e não ficaria mal tal desfecho. A Morte de Bertha, a heroína principal.
Mas talvez Bertha tivesse sido, neste enredo, apenas uma das narradoras da história que foi História.
E esta história inicialmente centrada em 1957, como presente, também evoluiu no futuro, que passou a presente. E essa História, agora, aos nossos olhos, é já tudo Passado.
E a história que nos foi contada por Bertha, por Alfried, e pelo realizador e argumentista (?), ainda se focalizou em momentos de charneira, que saltei no meu estoriar.
Em 1952, na sede da Krupp, o reassumir de funções por Alfried, ainda possuído de sonhos megalómanos de devolver todo o antigo esplendor à Firma.
Mais tarde, em Hamburgo, em negociações com Berthold Beitz, conhecido especialista industrial, para este o ajudar a reestruturar a Firma. Beitz teria futuramente um papel crucial nessa função até à morte de Alfried, 1967, e, após a sua morte, nas mudanças múltiplas e diversas operadas na Firma até à sua estrutura organizativa enquanto Fundação. Papel e função que ele desempenhou, inclusive negociando com o filho de Alfried, Arndt, que renunciou aos seus direitos sucessórios, em troco de uma avultada renda vitalícia anual.
Desta forma, estruturando a empresa numa sociedade por ações e a firma numa fundação, sequencialmente à renúncia de Arndt, alterando completamente a sua orgânica jurídica, entre outros aspetos, evitaram o pagamento de imposto sucessório, que, dado o valor patrimonial das empresas, seria uma enormidade.
Que isto é assim, os ricos quanto mais ricos são, mais o querem ser. E, obviamente, custar-lhes-ia imenso pagar uma conta enorme que reverteria para o Estado e, supostamente, para os cidadãos. Mas qualquer cidadão quando transmite uma pequena herança pagará os respetivos impostos. Mas proporcionalmente a quem custará mais?!
Mas isso pouco importa na narrativa, apenas nesta estória que eu vos conto.
E ainda relativamente a Beitz, convém mencionar que sendo ele alemão e também industrial, ele foi um dos alemães, que, durante a Guerra, ajudaram muitos dos perseguidos pelos nazis, ele e a sua mulher, pondo-se em risco a si e a toda a sua família. Paradoxalmente, ou precisamente por isso, Alfried foi buscá-lo para seu coadjutor e conselheiro na Firma, onde desempenhou papel fulcral.
Relativamente aos papéis desempenhados durante e após a Guerra, também o realizador nos alertou para o facto de que famílias, que haviam sido perseguidas, martirizadas e “usadas” como força de trabalho escravo nas empresas da Krupp, exigiram indemnizações e que Alfried se prontificou a pagar.
A transformação da estrutura jurídica da Firma seria concluída em 1967, e teve direito a anúncio à Comunicação Social, com destaque para a Imprensa, ainda o veículo comunicacional predominante na época. Realça-se este aspeto, para relevar a importância crescente que os Media foram adquirindo gradualmente na nossa Sociedade, até atingirem o Poder que atualmente detêm. E que já faz parte da nossa vivência pessoal! Da nossa história!
Voltando à história de Alfried, este morreria em 1967, sentado, julgo que no escritório da sua casa e só, como praticamente sempre viveu.
Em fundo, na Música, ouviam-se um solo de trompete e um piano, num dueto lastimoso.
O episódio terminaria com Arndt, na sua Villa Blad Tagri, de Marraquexe, atendendo o telefonema de Beitz, informando-o da morte do progenitor. E, sequencialmente, na sua viagem de descapotável, embrenhando-se no árido deserto; de óculos escuros, não sem antes ter limpo o rímel, esborratado de alguma lágrima que vertera pelo pai. Final de dinastia e término de episódio!
Pelo meio, ocorreram mais alguns pormenores narrativos, na perspetiva dos vários narradores, sobre si mesmos ou sobre outros personagens, que fui omitindo na minha estória narradora.
Perdoem-se-me esses lapsos.
Que a estória já vai longa e tarda a respetiva publicação, que deveria ter ocorrido logo no início da semana. Afazeres...
A estruturação narrativa dos episódios desta série centra-se, temporalmente, em 1957, o tempo presente.
A ação decorre em Essen, na Villa Huguell, onde Bertha Krupp convalesce, de um AVC (?), na sequência de discussão com o filho Alfried, novamente por causa da possível sucessão na Firma, neste caso face ao neto, filho de Alfried e Anneliese, Arndt de nome.
Também em Essen, mas na casa de Alfried, este e o irmão Harald também fazem o respetivo balanço das suas vidas. Do passado e do futuro. Lembrando Harald o sofrimento do irmão, por ter desistido de Anneliese.
Enquanto convalesce, Berha aguarda que o filho primogénito, Alfried, a venha visitar e pedir perdão, ignora Harald, que não é Krupp, e vai desfiando as suas memórias, em conversa com a criada de quarto.
Através da sua peculiar visão do mundo, ficámos a conhecer episódios da sua vida pessoal e familiar, entrosados na História da sua Pátria, a Alemanha e da sua Mátria, a Empresa Krupp, de que ela era a herdeira universal e que ela considerava, de algum modo, também a sua Família, estruturando este conceito de forma alargada a todos os trabalhadores da Empresa: os Kruppianos.
Faz essa análise e retrospetiva, de certa forma, distanciada no tempo, mas também com uma certa distância quase autista, como se os acontecimentos em que a sua Família esteve diretamente envolvida, foi participante ativa, teve um papel decisivo, fossem isentos de juízos de valor. Estivessem para além da realidade Ética, do Bem e do Mal.
Alguma vez se observa nesta mulher um olhar crítico, reprovador ou de arrependimento face aos atos e barbaridades a que a sua ação, enquanto dona da Firma Krupp, a possa ter levado direta ou indiretamente?!
Seja no plano da sua família nuclear, a relação com o filho primogénito; quer avaliando as consequências dos seus atos face à sua Pátria e ao Mundo, na sequência das trágicas duas Guerras Mundiais, em que as empresas Krupp tiveram um papel decisivo no fornecimento de armas. Ao regime nazi, na Segunda e aos vários beligerantes da Primeira, mesmo que estivessem em lados opostos das trincheiras.
É algo que me impressiona, questão que já levantei num post, é se estas Personagens que têm um papel crucial nas Guerras, as atuais também, se estas pessoas que produzem, financiam, fornecem as armas, alimentando as Guerras, não se interrogam sobre este seu papel tão cruel e destruidor da Humanidade!
E parafraseando as produções da Krupp, fabricar tanques de guerra ou tratores agrícolas será a mesma coisa?! Produzir eletrodomésticos ou bombas terá o mesmo efeito?!
E aqui faço um intervalo musical, imaginando, e lembrando como o som vai acompanhando a narrativa, seja com um solo de piano, uma orquestra melodiosa ou quando o realizador nos quer alertar para a carnificina das guerras, em que se ouvem os corvos a grasnar.
A Música, repito, tem um papel fundamental na condução da narrativa!
O realizador é também o narrador, melhor, o narrador principal, porque mesmo colocando a narração centrada em Bertha e Alfried, é ele, com o argumentista, que conduzem a narrativa pelas vias que pretendem. E, já frisei. Acho que ele(s) deram um determinado rumo à História, não relevando ou omitindo aspetos parcelares.
Por ex. a questão dos “Crimes de Guerra”. Esta questão é aflorada pela voz de Harald, considerando-se injustiçado por ter pago doze anos de prisão na União Soviética, por ser um Krupp, quando a própria mãe não o reconhece como tal!
Mas é alguma coisa mencionada relativamente a Alfried e ao pai Gustav, neste também no respeitante à 1ª Grande Guerra?!
E, relativamente a Bertha, esteve ela acima e para além de todas essas coisas?!
A ação de Bertha centra-se principalmente na continuidade sucessória da Firma, encaminhando Alfried para a assunção destas funções. Tanto mais que o pai, Gustav, ia ficando mais velho e doente.
E, nos finais de trinta e princípios de quarenta, era essa a primordial preocupação de ambos os progenitores.
A relação com o Poder Político é sempre um dos leit-motiv do enredo. Esta Família esteve sempre umbilicalmente ligada ao Poder. Ao Político, nomeadamente. Nesses conturbados anos, encabeçando Hitler esse Poder, esse relacionamento nem sempre foi linear.
As visitas dos poderosos à Villa Huguell eram uma das formas de se criarem ou estreitarem esses laços de interdependência.
Com o Kaiser Guilherme II essas visitas eram frequentes, tendo este até um quarto específico na Villa. O Quarto do Kaiser! Que era um local de refúgio para Alfried!
Hitler não tinha esse privilégio, evidentemente. Não tinha condição Real.
Na 1ª visita, em 1937, Bertha nem se dignou recebê-lo e aos seus apaniguados.
“Não vou receber esses campónios! Diz que estou com uma enxaqueca.” Recomendou ao marido, Gustav. E ficou a espreitá-los e ouvi-los nos corredores.
Mas em 1938 já foi diferente.
Entretanto Alfried assumira a direção produtiva do armamento nas fábricas e, na frente ocidental, as tropas alemãs posicionavam-se perto das fronteiras.
Nesse ano houve nova receção ao Fuhrer.
Aí, já Bertha esteve presente.
Quem não teve direito a participar foi a nora Anneliese. Que, coitada, até chorou e se embebedou! Valia a pena!...
Mas aqueles ainda eram os anos dourados pré guerra, em que os alemães, na sua maioria, efabulavam Hitler e o seu poderio.
Mas também foi narrado que Fritz Thyssen havia sido enviado para um campo de concentração, na sequência de carta contestatária enviada ao Ditador.
Que, em contrapartida, ofereceu o emblema dourado do partido, a Gustav, envaidecendo Bertha!
Pelos vistos já não seria campónio...
E na estrutura narrativa, a distância entre o tempo presente, 1957, e as lembranças do passado vão-se aproximando.
Anos quarenta. A guerra no auge. Os irmãos, Harald e Eckbert, nela participantes. O último aí morreria. Carl morrera antes, num voo de treino.
1943, ano crucial no desenvolvimento da guerra.
Da Villa Huguell, Bertha avistava os sinais dos bombardeamentos, ao longe. Aviões sobrevoavam os céus.
Alfried, finalmente, assume a direção completa da Firma, que, por decisão de Hitler, passara a ser sua propriedade.
E foi no correspondente conselho de administração que, até Bertha fez a celebérrima saudação verbal e com o braço estendido.
Mas, foi também nesse ano que a Gestapo prendeu os tios Tilo e Bárbara!
1945: As fábricas destruídas; Alfried deambulando entre os escombros; o conselho avisado de um funcionário kruppiano, para fugir... as jovens judias aparecendo e escapulindo-se novamente para as ruínas... os aviões aliados sobrevoando os ares... e, na música, os corvos grasnando.
E o tempo narrativo salta novamente para 1957. Conversa ou debate entre irmãos, Harald e Alfried, que acentua: “Sou um Krupp. Foi para isso que me preparei desde criança!”
Como se fora um Rei, preparado pela Rainha – Mãe, Bertha Krupp, direi eu.
E o tempo retorna novamente a 1945, em que Alfried, assumindo essa condição de Krupp, na Villa Huguell, pelos vistos poupada aos bombardeamentos, dá uma última volta pelos salões austeros e, impecavelmente trajado, desce a escadaria para ser levado num jipe aliado, li que das tropas canadenses, para ser preso.
E, em termos de imagens, assim termina este episódio, não sem que a Música, extraordinária e maravilhosamente, nos embale na leitura do genérico.
A narrativa sobre o 2º Episódio terminava com os seguintes parágrafos:
(...) “A importância de se chamar Alfried!”
“Será que Alfried vai dar lições de voo a Anneliese?!
Aguardemos o 3º, não sei se último, episódio!”
Quanto a este episódio ter sido o 3º, disso não há qualquer dúvida. Se terá sido o último, de facto, não sei de todo.
No referente às lições de voo, no vertente episódio, não me apercebi que Alfried tivesse dado lições desse tipo a Anneliese. De natação, talvez. Ou ela a ele. Que os vimos a nadar num lago dos Alpes, tal qual Deus os mandou ao Mundo!
Fosse qual fosse o tipo de lições que terão dado um ao outro, o certo é que houve casamento. Ocorrido em 1937, em Potsdam. Um casamento muito simples, com três ou quatro convidados, que mais não foram precisos, e da Família do noivo, não concordando com o enlace, ninguém compareceu. Bem que, para a realização de um matrimónio, bastam os noivos, as testemunhas e o celebrante!
E neste ponto vamos à importância do Nome. Que por isso mesmo, porque a matriarca da Família, Bertha, verdadeira Krupp, não concordando com o casamento, porque o filho, Alfredo de nome, e também veramente Krupp, não se podia casar com qualquer uma, só porque era esse o seu desejo, sem o consentimento da Mãe. Não se podia sequer casar, porque tinha que se dedicar à Firma.
E casando-se, Alfredo acabou por se descasar, porque levando a noiva, já mulher, e já em vias de ser mãe, para a Villa Huguell, a sua Mãe, Bertha, fez de tudo o que é possível e imaginário para fazer a vida negra à nora, Anneliese, inclusive oferendo-lhe milhões para ela se ir embora.
E tanto a maltratou e destratou psicológica e socialmente, e tanto pressionou o filho para que ele se descasasse, que este assim acabou por fazer, divorciando-se, abalando Anneliese, mas levando o filho de ambos, Arndt, nome do primeiro Krupp. Que nem o nascimento da criança, e neto, e contra todas as expetativas do recém casal, nem o menino adoçou o coração da avó, que o desprezava também, ignorando-o, que é uma das maiores formas de desprezo!
Estes factos ocorriam nos finais de trinta, princípios de quarenta, já Hitler consolidado e incrustado na cadeira do Poder!
E, neste episódio assiste-se a essa consolidação até à paranoia final. Embora centrando-se a narrativa na Família, (uma Família Real?) muitos dos aspetos da tragédia são remetidos para segundo plano. Que o primeiro plano são as próprias tragédias familiares. A morte trágica de dois filhos, um dos preferidos, Carl e Eckbert. O AVC? do pai, o impasse sucessório na Firma, pela indecisão continuada de Alfried. Que finalmente, assumiu essa decisão em 1943. E houve loas e braços estendidos no Conselho de Administração, inclusive de Bertha, exceto do próprio Alfried, que não percebo porquê, dado ele ter pertencido e desempenhado cargos importantes no âmbito do partido nazi!
E este aspeto é um dos que no filme não são abordados pelo realizador ou pelo argumentista (?). A omissão, (propositada?) dos papéis e funções desempenhadas por Alfried, no contexto da hierarquia nazi. (Razão, aliás, porque no post anterior, de 18/01, “Personagens Reais” remeti para links em que estes aspetos são mencionados.)
Apenas se subentende a importância e projeção que ele possa ter tido, quando, em 1943, na sequência da prisão dos tios, Tilo e Bárbara, os irmãos, e mais especificamente Harald, lhe pedem ou sugerem para ele intervir junto de Hitler. Mas, mesmo aqui somos mais levados a interpretar esse pedido, pela importância da Firma, armeira de Hitler. Até porque a resposta de Alfried vai nesse sentido, frisando a ineficácia do armamento dos Krupp no contexto da Guerra, tendo revelado falhas, de que o ditador tinha conhecimento.
Ditador e louco lhe chamo eu, porque, na altura, os protagonistas e narradores desta História, não o afirmavam, nem ousariam expressar verbalmente, embora disso já tivessem plena consciência e, aliás, medo atávico. Lembremos que, à data, além da prisão dos familiares, também já o grande industrial Tyssen havia sido preso e enviado para um campo de concentração, tempos antes. E com este dado também podemos, de algum modo, ajuizar sobre as atitudes destas grandes personagens, que inicialmente apoiaram o fuhrer, mas que se foram apercebendo da espiral de loucura em que este os foi enredando e levando à destruição.
Nesta conversa, Alfried dá conhecimento ao irmão de que o pai, em 1938, também ajudou a resistência, aqueles que conspiraram, sem sucesso, contra Hitler. Surpresa de Harald, pelas atitudes públicas do pai, Gustav, quando alguém ousava dizer mal de Hitler na sua frente, em que ele se retirava ostensivamente.
Nesta narrativa, aquela que o realizador desenvolve, observa-se que ele pretende mostrar a ambivalência da Família com o Poder Político, que no caso específico de Hitler, era também sustentada pelo medo. Medo das represálias associadas à loucura do Ditador e de toda a estrutura repressiva em que assentava o aparelho de Estado!
Mas não posso considerar que ele, realizador, seja isento. Penso que, de algum modo, pretende (?) branquear o papel desta Família neste contexto, da relação com o nazismo. Porque se é verdade que a relação que tiveram, bem como a da Alemanha em geral, com Hitler, e nesta série podemos considerar que a Família, de certa maneira, é uma metáfora da Nação Alemã, digo, que a forma como os alemães e os kruppianos especialmente se relacionaram com Hitler, no final, foi de medo, mas primeiramente foi de admiração e adulação.
E foi a Nação Alemã, no seu todo, que levou Hitler ao Poder. Não podendo esquecer que as Potências Ocidentais e Orientais também para isso contribuíram, com o seu fechar de olhos às diatribes de Adolfo!
Voltando ainda à narração sob a perspetiva da realização, tenho que frisar que não observei, talvez me tivesse escapado, qualquer referência ao papel de Alfried no contexto político do nazismo, ainda que ele nisso tivesse tido participação ativa.
Contudo, já no final do episódio, quando Alfried se passeia e contempla a destruição das suas fábricas, obra sua também, porque que “quem com ferros mata, com ferros morre”, nessa cena, quase final, surgem dos escombros duas jovens judias aterrorizadas, que depressa se escondem novamente entre as ruínas.
Sabemos que são judias, porque a estrela na farda assim as identifica. Aqui, o realizador dá-nos uma evidente “piscadela de olho” para o facto comprovado de Alfried ter usado, nas suas fábricas de Essen, trabalho escravo de judeus dos campos de concentração, nomeadamente de jovens mulheres.
Mas esta cena eu só a compreendi nesta reposição e após ter lido, na wikipédia, vários artigos, nomeadamente o que referi no post anterior, que focam este aspeto.
Sim, porque para percebermos bem o enredo da série temos que pesquisar sobre a história dos personagens. E nisso a net fornece-nos alguma informação disponível, supomos que também credível.
Porque com base na narrativa dos personagens principais, Alfried e a Mãe, pouco sabemos sobre estes subterrâneos familiares, porque eles pairam, especialmente Bertha, acima dessas coisas.
E, segundo o narrador – realizador/argumentista, também há omissões!
E, por agora, a minha narração também fica por aqui. Para ficar também incompleta e, porque não?, também tendenciosa.
Voltarei à narrativa! Que muito fica ainda por contar!
Tendo ocorrido ontem a visualização do 3º episódio da Série "A Família Krupp", tinha-me proposto redigir um post narrativo, como tenho feito sobre as Séries que aprecio.
Contudo, hoje foi de todo impossível realizar tal tarefa.
Resolvi deixar dois links, em inglês, porque não consegui em português, sobre as duas personagens reais, que são os principais protagonistas da Série e, no contexto do enredo, os narradores da trama.
E as respetivas fotos, que até no tamanho, que assumem aqui no post, retratam e espelham a importância relativa de cada Personagem na vida real! E na série. O domínio da Mãe sobre o filho!
Para os leitores e leitoras que se interessam por esta série, as informações nestes sites ajudam e enquadram, contextualizam e explicam aspetos que na ficção narrativa estão mal explicados ou são apenas sugeridos.
Lendo os textos da wikipédia fica-se a perceber muito melhor!
Porque a Série é excelente, mas...
Ainda escreverei e publicarei um post sobre o III Episódio.
“A Educação de Alfried” / “O Peso de um Nome – O Poder de um Símbolo”
Na RTP 2, passaram ontem, domingo, dia 10 de Janeiro, após o excelente documentário, “Maravilha das Maravilhas” o 2º episódio da mini - série “A Família Krupp”, numa reposição do que haviam apresentado em Outubro e sobre a qual já escrevi neste blogue.
Volto a rever a série, até porque não tive oportunidade de ver um episódio na primeira transmissão. Por outro lado, esta é uma daquelas séries que me “enchem as medidas”, e que se revê sempre com muito agrado, há sempre aspetos que nos escapam numa primeira visualização, tanto mais quando se quer escrever sobre a mesma. Volto, igualmente, a escrever sobre a temática, reportando também para o que já escrevi anteriormente.
Uma série excelente sob todos os aspetos, antes de tudo o mais pela temática abordada, a vida de uma “Família”, num sentido muitíssimo alargado, não esqueçamos o conceito de “Kruppianos”, que para o bem e para o mal, muito mais para este lado, infelizmente, se entrosou indelevelmente com a História da Alemanha, da Europa e do Mundo!
Por onde começar a escrever?
Realço um dos aspetos sobre o qual, na primeira visualização, não me debrucei, nem prestei a atenção merecida. A Música! Esta enleva-nos e leva-nos na narrativa, guiando-nos de forma mais ou menos subtil, de modo mais ou menos declarado e acentuado, pelo enredo, de acordo com a ação e as personagens, até ao genérico final. Pena tenho que, sendo muito apreciador de música, pouco dela conheça, a ponto de identificar a sua origem, a sua autoria, e no genérico pouco se pode “apanhar” sobre estes dados, a não ser continuar a ouvir, como se as imagens não tivessem deixado de fluir. Nos filmes, também gosto sempre de ler os genéricos, quanto mais não seja para continuar “saboreando” o “enredo” musical. Quando a música agrada e o conteúdo da narrativa também, fica-se naquele torpor existencial, de quem esteve a “viver” uma ficção, uma irrealidade, de que se tem consciência, mas da qual não nos apetece ausentar.
Para além da realização, Carlo Rola, destaco as personagens e os seus intérpretes. Para além da temática por demais elucidativa e atraente.
Os atores são excepcionais! (E como esta palavra exprime muito melhor o seu significado quando escrita com p.) Mas quem os conhece?! É esse o nosso problema com as séries do Continente Europeu, sejam elas as espanholas, as francesas, as italianas, as dinamarquesas, as alemãs. Nos últimos quarenta anos, fomos sendo gradualmente arredados da filmografia europeia continental. De modo que, pouco conhecemos de atores e realizadores.
Iris Berben/Bertha, Barbara Auer/Margareth, Benjamin Sadler/Alfried, … Alguém conhece?
Bem, para continuar na temática deste 2º episódio, talvez abordar o assunto segundo o subtítulo que atribuí a este episódio. “A Educação de Alfried” / “O Peso de um Nome – O Poder de um Símbolo”.
A narradora principal é Bertha Krupp (1886 – 1957), a mãe de Alfried (1907 – 1967), que ela prepara, desde criança, para dirigir os destinos da firma. Este é um segundo narrador, que, de algum modo, contrapõe ou propõe, também a sua versão dos factos, à medida que vai crescendo e ganhando maior peso na estrutura narrativa, bem como na vida da própria Família.
Em todos os episódios, o presente da narrativa ocorre sempre em 1957. Neste, Bertha já à beira da morte, que sofreu um AVC, na sequência precisamente de discussão azeda que teve com o filho, esperando que ele chegue para se reconciliar (?); para que ele lhe peça desculpa, como lhe ordenou, ou dar-lhe as últimas instruções sucessórias, dado que foi para isso que ela o educou e se imiscuiu sempre na sua vida?
Simultaneamente são-nos apresentadas cenas marcantes da vida pessoal da Família, contrapondo à vida no exterior, nas fábricas e na Alemanha. E estes são tempos conturbados.
Em 1915, Gustav von Bohlen (1870 – 1950) e o Kaiser Guilherme II (1859 – 1941), num campo de treinos, testam o novo canhão, elucidativamente batizado de “Bertha”, com um alcance de vários quilómetros e uma precisão milimétrica. Com ele, haveriam de bombardear à distância, nas frentes de batalha e a cidade de Paris.
Em 1916, imagens de Verdun, corpos destroçados e agonizantes, os horrores da Guerra, um cavalo branco vagueia na paisagem juncada de cadáveres e homens mutilados. Ouve-se o grasnar de corvos, necrófagos.
Seguidamente, e ao som de música que não pode ser mais serena, ouvem-se acordes de piano, e, na Vila Huguell, anuncia-se e prepara-se a vinda do Kaiser, na sua décima visita aos Krupp. Alfried ainda criança, vestido de marujo, mas já a aprender, para as suas funções sociais.
Mais tarde, em conversa na caserna, o Kaiser desabafa com os seus generais sobre o que pensa dos Krupp, “que enriquecem com cada granada, que vendem armas a todos os contendores, uns mesquinhos…”
Paralelamente, Bertha e o marido Gustav, na alcova, em refrega de amor, numa guerra bem mais proveitosa, tiveram sete filhos, também comentam essa visita do Imperador. Gozando e antegozando o momento triunfal do orgasmo.
Que a Guerra, essa, foi perdida pela Alemanha, pelo Kaiser, não pelos Krupp, como a mãe Bertha ensina ao filho. Que também supervisiona nas suas lições, dadas em casa, por uma preceptora. Grego, Latim, Matemática… “Não podes cometer erros… Tu és o nº 1! E sempre serás! A perfeição é um Dever. Tens que ser forte. Mais forte que os outros. (...)”
Que a Guerra, para os Krupp era um negócio, como o próprio Imperador frisou para o seu Estado-Maior, já desalentado, por não ver avanços na mesma e constatar a “falta de patriotismo” dos mesmos.
E foi, desse negócio, que Gustav, marido de Bertha e pai de Alfried, gestor da firma, quis ver as contas saldadas, exigindo à firma inglesa “Vickers Limited” o pagamento de 250.000 libras pelo fornecimento de armamento.
Os “Senhores da Guerra” são assim mesmo!
E surgem os tempos críticos da Revolução Alemã (1918 – 1919), e a fuga para a Áustria, para a Villa Bluhnbach, nos Alpes. Antes houve que queimar toda a papelada eventualmente comprometedora…
E passar por uma rusga do Exército Revolucionário do Ruhr, serem aprendidos os valores, relógio, carteira, anel, mas perante o símbolo, tudo lhes foi devolvido e passaram livremente. O poder de um Nome e de um Símbolo!
Em 1920, nos Alpes, no palácio, no campo, na cidade tranquila, Alfried, continuava a sua aprendizagem para a vida.
Em família, o nascimento de mais uma irmã; no campo, à caça de um veado, com o pai; igualmente com este, assistindo a negociações com russos, que Lenine precisava de instalar vias férreas, milhares de quilómetros de aço, que a Alemanha, em crise do pós guerra e sujeita às restrições que lhe foram impostas pelos vencedores, não podia expandir-se. E Lenine pagava, não com promessas, mas com ouro. E na Alemanha, milhares de Kruppianos não tinham trabalho, que é como quem diz, pão para a boca. Relutante, perante este negócio do marido, face ao comprador e à origem do dinheiro, que Bertha era a verdadeira dona da firma, mas convencida pela necessidade de salvar a firma, não apenas com o seu património pessoal, a mulher lá se convenceu, o negócio ter-se-á realizado e as fábricas terão sido salvas e milhares de bocas terão saciado a fome, com o dinheiro dos russos.
E, novamente em 1957, no leito, aguardando a vinda do filho querido, em conversa com a criada de quarto, Bertha lembra a educação que incutiu aos filhos, primordialmente a Alfried, com aquelas regras todas, segundo a criada, motivo talvez de pena, mas segundo a narradora, perfeitamente naturais, que ninguém nunca recebeu tanto dos pais como Alfried e nenhum filho saiu da linha. “Como pode ele acusar-me de que lhe destruí o casamento?!”
E vai novamente “arrumando as memórias”, ainda em 1920, mas já em Essen, na Villa Huguell e relembrando as revisões das lições de Latim, que fazia com o filho, enquanto bebia chá e, ele, desastrado, derrubava a chávena: nominativo, genitivo, acusativo, ablativo.
E na série, alternando-se as memórias e o confronto de ideias, entre a mãe e o filho. A visão dicotómica de cada um deles.
E Alfried, 13 anos, quis ir para uma Escola Pública, ele que tinha um preceptor particular em casa, podendo estudar ao seu ritmo muito mais avançado que o de outros eventuais colegas de Escola Pública, em que os mais lentos é que determinam o ritmo. Mas foi. Correu e brincou com os outros miúdos, que futuramente seriam seus subordinados na fábrica, jogou, estatelou-se no chão lamacento, rasgou as calças, foi com um colega, filho de operário, acolhido na respetiva casa, aí a patroa coseu-lhe o rasgão, regressou à Villa de cara enlameada e aí ouviu a avó: “Mas que tempos estes!... Queres continuar a ir à cidade? À escola?!... Nós somos os teus pares…Só nós!
Não sabemos se foi, porque não nos mostraram, mas acham que terá ido? Estávamos em 1920, República de Weimar, mas aproximavam-se, vertiginosamente, outros tempos.
E a narrativa, sob a perspetiva de Alfried, salta para 1932.
Em Munique, na Escola de Aviação e na Universidade, que frequentava. Teria 25 anos. Não queria ser chamado de Krupp, que era von Bohlen, nome do pai, que a mãe é que era Krupp.
Que o nome tinha poderes, abria-lhe todas as portas, mal fosse pronunciado. Conforme constatou no baile de máscaras, com Vera, que, primeiro, não lhe ligou, mas, após saber o nome mágico, escancarou-lhe as portas do paraíso… ao alcance das mãos. Tivesse ele querido…
E agora no Clube dos Industriais, com Tyssen, outro grande industrial alemão, este já rendido aos encantos de Hitler, tentando convencer Gustav Von Bohlen, pai de Alfried, marido de Bertha krupp, a deixar-se enfeitiçar também pelos encantos de Adolfo! “Temos que apoiar Hitler.” “Na Villa Huguell não se discute política.” “Hitler fascina as pessoas. Deixe que lhe apresente Hitler. Ficará convencido.” “Fazemos a nossa política externa.” Estes alguns dos excertos travados entre os dois industriais, de duas firmas distintas à época e que, atualmente, fazem parte do mesmo conglomerado de empresas.
Paralelamente, e agora através dos olhos narrativos de Alfried, assistimos à propaganda agressiva dos apoiantes de Hitler, nas escadarias da Universidade.
“Quem não votar em Hitler, estará a apoiar os comunistas!” Quantas vezes este slogan não tem já sido repetido, explícita ou implicitamente, em outros variados e diversos contextos?!
“Hitler é a nossa última esperança!” “Rumamos a uma nova Alemanha!”
Paralelamente, Gustav Von Bohlen, que era o administrador da firma Krupp, cujo apelido usava por deferência do Kaiser Guilherme II, quando se casara com Bertha e com a prerrogativa de o poder transmitir aos seus herdeiros, via-se cada vez com mais dificuldades de gerir a empresa, por falta de encomendas, vendo-se na contingência de ter que transferir novamente fundos do património pessoal de Bertha, para as empresas de Kiel, certamente para os estaleiros navais.
Precisava de começar a receber encomendas de Hitler.
“Há que convidar Hitler, para vir a nossa casa. É o Reich da Alemanha.”, dizia Gustav para Bertha.
Bertha muito relutante em aceitar tal situação: “Hitler é um campónio… gente dessa nunca entrará em nossa casa.”
Esta situação ocorreria a meados dos anos trinta.
Em 1936, vemos novamente Alfried, cada vez mais protagonista, no campo de aviação, no avião, a ser abordado por uma loura, frágil, qual Marlene, de nome Anneliese Bahr, que procurava o instrutor de voo, julgando que seria Alfried. Não tendo ele esta função, mas sabendo pilotar, prontamente se ofereceu, para tal tarefa, que aparentemente terá sido aceite.
E apresentou-se.
Alfried… só Alfried!
Poderíamos parafrasear : “A importância de se chamar Alfried!”
Será que Alfried vai dar lições de voo a Anneliese?!
E a saga da “Família Krupp” continuou nesta semana, presumo eu, que, ontem, não vi. E na 5ª feira também não vi o episódio na totalidade.
Então, como escrever sobre o que não vi?! Será que ontem, 6ª feira, terminou a mini série?!
Na 4ª feira, no episódio dois, Bertha Krupp, doente, continuou a sua narrativa, no presente, em 1957, falando com a criada de quarto, enquanto aguarda a visita do filho Alfried, dono, diretor, gestor da firma Krupp.
Paralelamente recorda o passado desses conturbados anos iniciais do século XX, que incluem a Grande Guerra, 1914 – 1918. De má memória, neles e deles, senhores que foram dessa grande guerra, que fornecedores foram e abastecedores de armamento, indireta ou diretamente causadores de milhões de mortos e mutilados, nas trincheiras de França, nas Verdun e outras batalhas, de tormentosas e inúteis lembranças.
Quando é que a Humanidade deixará de glorificar essas tamanhas atrocidades de guerra?!
A visita do Kaiser à Villa Huguell, âncora e porto de abrigo da família, quase no final da Guerra, a conversa de caserna daquele com o seu Estado-Maior, a contenda quase perdida; a opinião do mesmo sobre os Krupp, que os achava “sem honra nem patriotismo”, que vendiam armas a todos os contendores, o que era verdade, “uns mesquinhos”!
Alfried, também narrador principal, paralelamente, conversa com o irmão mais novo, Harald, também em 1957. Estas conversas são também um ajuste de contas deles entre si e com eles mesmos; uns com os outros, irmão com irmão e mãe com filho; e um deve e haver também com o passado, com o seu passado enquanto cidadãos na sociedade em que viveram e em que foram protagonistas principais dessa sociedade alemã, nessa primeira metade do século XX.
Atores, agentes, fautores da História Alemã, de muito má memória nesses cinquenta anos. O seu ajuste de contas é também com esse seu mau passado, de algum modo uma catársis necessária ao entrosamento com eles próprios e com a nova sociedade em que se inserem e onde continuam a ter papel relevante, no mundo pós guerra.
Protagonistas que foram dessa História, de má memória, sempre ligados ao Poder instalado, conseguindo sobreviver mesmo nos anos conturbados da revolução proletária do final da Primeira Grande Guerra, passando as fileiras do “Exército Vermelho do Ruhr”, 1920, para o aconchego das montanhas alpinas da Áustria.
Sempre negociando, comprando e vendendo, mesmo aos mais improváveis clientes, no caso Lenine, vencedor da Revolução Russa, que, no início da década de vinte, precisou de comprar milhares de Km de ferrovia, aos Krupp, pagando em ouro. Negócio que ajudou a firma a sair do desespero económico e financeiro em que se encontrava, acabada a guerra, sem encomendas do estado alemão vencido e com restrições impostas ao respetivo desenvolvimento industrial, pelas potências vencedoras, Inglaterra e França.
Que a Família Krupp, segundo os próprios, não era apenas a família nuclear e alargada aos consanguíneos, mas eram todos os que trabalhavam na firma, nas várias fábricas e serviços: “os Kruppianos”. Cada um no seu lugar e função, claro! E a verdadeira mentora da firma era Bertha, uma verdadeira Krupp, que o marido, Gustav, apesar de ser o gestor durante os primeiros quarenta anos do século, era-o, porque fora o marido que o Kaiser lhe havia destinado, no início do século, após a morte do pai, Fritz, em 1902.
Ela, Bertha, e o filho, Alfried, esses, sim, eram verdadeiros Krupp!
E era Gustav quem realizava esses negócios. Não interessava a cor do dinheiro.
Mas Bertha, apesar de inicialmente manifestar alguma relutância ideológica e moral face aos mesmos, acabaria por aceitá-los.
O que aconteceria também com Hitler nas décadas de trinta e quarenta durante a 2ª Grande Guerra.
Até gritaria e faria a célebre saudação nazi!
Que isto do Dinheiro e do Poder pode muito.
E, nestes episódios, a narrativa com a visão dicotómica e muitas vezes antagónica destes dois protagonistas, mãe e filho primogénito e herdeiro da firma, continuou em diferentes momentos marcantes dos cinquenta anos primeiros do século XX. Tendo sempre como base limite o ano de 1957, retrocede aos anos da 1ª Guerra, 1916, Verdun; aos anos vinte, revolução proletária; ao início dos anos trinta, ascensão hitleriana; aos anos da 2ª Guerra, 1943, os próprios filhos mais novos também na frente… ao final da guerra, 1945.
E esse confronto interpessoal centrava-se também no assumir da gestão das empresas por Alfried, que adiava sistematicamente essa decisão. Paralelamente o pai, Gustav, marido de Bertha, um Krupp apenas de nome, dirigia as empresas desde que casara na primeira década do século, adquirindo então o nome, mágico e emblemático, por decisão do Kaiser, mas a idade e a doença avançando, tornavam premente essa decisão.
E na vida pessoal do filho também a mãe intervinha. Destinando e determinando com quem casar, que isso o filho também lhe arremessara na cara, num dos confrontos de vontades em que se embateram.
E a assunção da gestão da firma viria a acontecer em 1943, em plena II Grande Guerra, já o prenúncio do fim se anunciava, os bombardeamentos na Alemanha já se vislumbravam ao longe. Mas foi aí, na reunião do conselho de administração, que Bertha também entoaria loas a Hitler!
E os bombardeamentos atingiram o Ruhr industrial e a cidade de Essen e as fábricas da firma, coração da indústria alemã, motor do armamento das forças armadas alemãs, isto é, de Hitler e do nazismo. E vê-se Alfried no meio dos escombros, das suas fábricas em ruínas, e aconselhado a fugir, ripostou “para onde?”. Sim, para onde poderia fugir, se a Alemanha estava acossada a Leste pelos soviéticos e a Oeste pelos aliados e, em breve, estaria ocupada e destruída pelos exércitos ocupantes? Só uma fuga tipo a que encetaram Hitler e os seus mais fiéis seguidores…
Alfried ficou e foi na sua Villa Huguell que os exércitos americanos o foram buscar. Estará preso alguns anos, até 1953.
E, como temos visto, em 1957, já reassumira as funções de direção das fábricas, porque era um verdadeiro Krupp e fora para isso que o haviam preparado desde criança.
E com este remate, também remato o final desta narração, porque também não tenho a certeza se a história desta família que se confunde com a História da Alemanha e do Mundo, durante a última metade do século XIX e a primeira do século XX, se essa história, narrada na mini série, terminou na 5ª, se na 6ª feira.
Mas ainda há uma questão final que gostaria de colocar.
Será que estes Personagens da História tiveram realmente consciência do seu papel malévolo nessa mesma História, enquanto fabricantes e fornecedores de armas e alimentadores das Guerras?!
Que muito conto fica por contar nesta narração, que não se pretende exaustiva relativamente à narrativa original!