Há quem do Tejo só veja
o além porque é distância.
Mas quem de Além Tejo almeja
um sabor, uma fragrância,
estando aquém ou além verseja,
do Alentejo a substância.
Há quem do Tejo só veja
o além porque é distância.
Mas quem de Além Tejo almeja
um sabor, uma fragrância,
estando aquém ou além verseja,
do Alentejo a substância.
0 – Volto a interromper a divulgação dos Poemas da XIII Antologia do C.N.A.P., para expor alguns aspetos sobre outras temáticas.
Também penso ainda voltar às Séries. Que até me informaram que se iniciou “Guerra e Paz”!
1 - Já que me debrucei em dois posts sobre questões de política, numa perspetiva “tout court”, isto é, no sentido imediato do termo, não vou deixar de continuar a debruçar-me sobre alguns temas que me despertem mais a atenção, quando achar conveniente. A não ser que me desiluda completamente…
Friso e repito, que essa é uma forma de expressão da Liberdade, que a Democracia nos deu e que a Internet permite exercer num contexto alargado.
2 - Esta nova Governação, bem como a nova Legislatura, dada a sua novidade formal, trouxera-me algumas esperanças, quiçá ilusões, que alguma coisa mudasse em termos de conteúdo.
Mas o que tenho observado, nomeadamente na Educação, deixa-me algumas perplexidades.
3 - Será que algum dos candidatos a próximo Presidente da República conseguirá pôr cobro a esta situação que é a de nos mais diversos campos e muito especificamente na Educação a legislação estar sempre a mudar?! Será?!
4 - Mudou o Governo, mudou bastante o enquadramento político partidário que sustenta esta governação, criou-se até um suporte governativo inédito em Portugal, algo que se suponha ser impensável, todavia, as metodologias, as estratégias governativas não mudaram nada.
5 - Mal tomou posse, este Governo logo tratou de alterar as Políticas legislativas onde mal tinham começado, especialmente na Educação. Onde era preciso haver alguma estabilidade, dado que o ano letivo já havia arrancado, em Setembro, quando o Governo tomou posse bem mais tarde, assim como a entrada em funcionamento da nova Assembleia da República.
Além de que o Ano Letivo começa a ser preparado pelos principais Agentes Educativos, bem antes de começar. Em muitos aspetos, de um ano letivo para o outro.
E as eleições para a Assembleia da República foram só a 4 De Outubro!
Mas não, mal se iniciou esta Legislatura e este Governo tomou posse trataram logo de alterar questões fundamentais como seja a da Avaliação.
Questão principal:
- Não teria sido possível manter o que estava em funcionamento, deixar correr o ano letivo normalmente, ir fazendo análises e auscultações periódicas sobre o que eventualmente se pensasse mudar, no final fazer uma avaliação global e parcelar sobre os aspetos considerados críticos, e decidir então se haveria mudanças ou não e, caso fosse necessário mudar global ou parcialmente, implementar essas mudanças apenas no próximo ano letivo (2016/2017)?!
Algumas Inferências:
- Se há algo que tem sido pernicioso ao longo destes quarenta anos de Democracia e concretamente na Educação, têm sido as constantes mudanças que têm havido. Muda o governo, muda a legislação, mudam completamente os procedimentos, mesmo já tendo o ano letivo começado.
- Não há uma coerência estruturante na Educação. Não há um Projeto Educativo consistente, não há um pensar global sobre a Educação, se se pretende uma Escola Pública de qualidade, se o Ensino Privado deve ou não continuar a ser financiado pelo Estado, qual o modelo de Avaliação a implementar… (…)
E, já agora, gostaria de levantar outras Questões.
- Será que os Exames fazem assim tanto “mal” aos alunos? Provas escritas, provas orais são assim tão traumatizantes?! Não serão também formas de aprender, de aprender a agir, de agir num contexto específico, sem dúvida alguma mais rigoroso do que é habitual numa sala de aula… Mas não será também essa uma outra forma de aprender, nomeadamente a saber estar nesse contexto específico de maior rigor e exigência?!
- A exigência e o rigor serão prejudiciais ao desenvolvimento, ao crescimento harmónico, dos jovens alunos?! Ao longo da Vida nunca irão vivenciar situações de stresse semelhantes ou muito mais desafiantes até, do que aquelas que se vivem numa sala de exames?
- Rigor e exigência promovem a desigualdade?
- O trabalho mata os Cidadãos?
Futuramente, voltarei ainda, talvez noutro dia, novamente a mais algumas proposições ou questões sobre Educação. Talvez…
Mas agora quero deixar mais algumas questões de âmbito mais alargado:
1 – Continua a fazer sentido persistir em “dividir”, este País tão pequeno, em “Esquerdas” e “Direitas”, como se não fossemos todos Cidadãos Nacionais de pleno Direito?!
2 – E insistir em criar e executar políticas sempre sob este prisma reducionista, de divisão, de malquerenças e equívocos?!
3 – Não haverão questões, situações, de tal ordem importantes que justifiquem uma abordagem nacional, independentemente de divisões e questiúnculas político-partidárias, que justifiquem “um sentar à mesa” de Pessoas capazes e avalizadas para a resolução de problemas globais e nacionais?!
Se os nossos políticos não reparam, nem quando andam de feira em feira, de mercado em mercado, sugiro que observem o estado calamitoso em que estão os cascos antigos de muitas das nossas Cidades, Vilas e Aldeias.
É só passearem-se, com olhos de ver, e repararem como se encontram muitos dos bairros antigos e zonas emblemáticas das nossas povoações.
A começar pela Capital!
Este é um campo que deveria ser um desígnio nacional!
Recuperar e investir nas zonas antigas das nossas povoações!
E este seria um trabalho sem fim que envolveria Todos, a todos os níveis.
E também passaram moços e moças, uns mais novos, outros mais velhos, de mochila ou sem mochila, sozinhos e sozinhas ou esperando amigos e amigas, mas sempre acompanhados dos inseparáveis tele instrumentos, sejam móveis ou fones, com f ou ph, não sei se serão tabletes, conheço melhor as de chocolate… que não sei, e não sei distinguir, toda esta novel e sempre renovável instrumentália, em constante atualização, que por mais atualizado se esteja, nunca se está!
Mas fica sempre bem chegar à Escola, que sendo Escola, mas se outrora foi Liceu, ainda e apesar de há mais de quarenta anos já não ser, ainda o é. Digo, e repito, fica bem chegar à Escola ou ao Liceu, provido dessa up-date, modernidade tele comunicacional e ainda vestir o último grito da moda, nem que sejam umas calças todas rasgadas e umas sapatorras com sola de palmo!
E, muitos, a maioria (?), dependendo da zona onde se mora, chegará de carro, que para isso os papás e as mamãs também servem. Porque os meninos e meninas já muito independentes e autónomos em muitas coisas e loisas, que nem os papás e as mamãs sonham, ou nem querem sonhar, nisso de se deslocarem para a Escola são terrivelmente dependentes!
E também levando Sonhos e Esperanças, esperançadamente apenas à distância de um simples clique de polegar ou de um arrastar digital sobre um pequeno écran!
E, eu, na minha varanda, a vê-los ir!
E também terão partido, que eu sei que partiram, e até vi partir e me despedi, quando estava no jardim… Partiram outras e outros mais velhos, mas ainda jovens, também cheios de Sonhos e de Esperanças, para mais longe e para outras Escolas, para outras terras, cidades e até países, para outros níveis de ensino, que nestes contextos, nestas classificações e comparações, se consideram de Superior. E também deixaram os Pais, também cheios de Sonhos e Esperanças também!
E, eu, na minha varanda, a vê-los ir?!
E direi que não tive Saudades?!
Pois o que direi, tão só e apenas, é que desejo que a Esperança e os Sonhos se tornem Realidades!
(Publicado em XX Antologia da APP - "A Nossa Antologia" - 2016.)
As questões formuladas são diretamente dirigidas a quem tem a amabilidade de as ler, sendo que será pouco provável que o seu principal destinatário, alguma vez venha a executar tal tarefa.
Questão:
Será que Sua Excelência, o Senhor Ministro de Educação, tem conhecimento que muitos Professores lecionam em Escolas distantes da respetiva residência, fazendo por isso muitas centenas de quilómetros, alguns diariamente, no trajeto Casa – Escola – Casa?!
Partindo ainda do pressuposto da questão formulada ontem, isto é, que Sua Excelência o Senhor Ministro da Educação, o atual ou o que provavelmente se seguirá numa próxima legislatura, nunca irá ler a pergunta que coloco hoje…
Assente nessa premissa, e apesar disso, não deixo de questionar novamente.
E lecionar numa Escola de uma Zona Suburbana, maioritariamente enquadrada em Bairros Sociais, turmas de início de 2º Ciclo, 5º ano, com alunos provenientes de diferentes Escolas do 1º Ciclo, maioritariamente habitantes desses bairros, de famílias com bastantes dificuldades das mais diversas ordens: económicas, sociais, de integração. Alunos carenciados inclusive na alimentação básica, para além das carências afetivas e relacionais, tão comuns nessas idades e meios; provenientes de famílias disfuncionais, muitas monoparentais, progenitores ausentes física e psicologicamente; pertencentes a etnias, raças diversas; de diferentes nacionalidades e língua materna de base também diferente; de religiões também diferentes.
E com todas as dificuldades acrescidas nestes tempos de Crise: Progenitores desempregados, falta de meios de subsistência…
E, acrescente-se, integrar um naipe assim diversificado e constituir uma turma de 30 alunos!
Terá, Sua Excelência, o Senhor Ministro de Educação, ideia do que é ser Professor e ser Aluno numa Turma assim constituída?!
E ser Pai e ter Filhos numa Turma assim de 30 alunos?
Tenho plena consciência que a Pessoa a quem a questão se dirige, prioritariamente, nunca a irá ler, contudo, a pergunta é formulada:
Será que, Sua Excelência o Senhor Ministro de Educação, tem a noção do que é lecionar, em Portugal, no Ensino Básico e Secundário, a Turmas com 30 Alunos?!
Neste post nº 170, volto aos contos, ou estórias, como gosto de lhes chamar...
Estórias do arco-da-velha, assim eram nomeadas. Gostaria de as designar, agora, como "Estórias do Arco da Dona Augusta", parafraseando uma série de situações...
Esta é uma "estória" sobre aspetos de como era a Escola, antigamente.
Não há aqui qualquer saudosismo, nem qualquer constrangimento sobre essa "Escola de Outros Tempos".
São apenas vagas lembranças desses mesmos tempos.
Ocorreu-me divulgar este texto, também já escrito há alguns anos, hei-de ver quando, e que também ainda não fora publicado, inédito, portanto!
Trazê-lo a lume, agora, que em breve irá começar novo ano letivo. Neste dia sete, de Setembro, que na época era também a sete, mas de Outubro, que o ano letivo se iniciava. E, digamos, sem quaisquer artificialismos, chegava muito bem!
E tenho dito neste intróito. Faça favor de ler a estória e espero que goste.
Uma questão de orelhas
O Zé entrou na escola primária na década de sessenta, a sete de Outubro, data fixa da altura.
No primeiro dia de aulas a mãe foi levá-lo e, ao despedir-se, disse à professora:
- Senhora Professora, dele só quero uma orelha no final do ano!
Esta expressão fez-lhe muita confusão e ficou a matutar nela.
No dia anterior fora o pai que lhe dissera, à noite, após o jantar:
- Amanhã vais para a Escola. Olha que não quero aqui orelhas de burro em casa!
Para burros, aqui na rua, basta o burro do Mestre Paulo.
O dito burro conhecia ele. Toda a gente conhecia. Era tema do anedotário local.
Mas orelhas de burro?! Já ouvira contar, mas não sabia bem o que era.
Quanto a ficar só com uma orelha no final do ano, não se conformaria com tal.
Também nunca percebera muito bem o que isso significava: se, no final do ano, voltaria para casa só com uma orelha, mas mantendo tudo o resto, ou se dele restaria, no final do ano, apenas uma orelha, ficando o restante na escola.
Não tardou muito até saber o significado dessas expressões.
Mal começava a escola, também se iniciavam os famigerados trabalhos de casa.
No dia seguinte a serem marcados, logo no início da aula, a professora pedia os trabalhos de casa e todos colocavam os cadernos em cima da carteira.
A professora foi chamando os alunos um a um...
Após observar as contas, dar uma vista de olhos à cópia, punha um visto, guardando os cadernos, para ler as cópias mais tarde. Também prestava atenção ao asseio dos cadernos, alguns tão cheios de nódoas, de quem fazia os deveres na mesma mesa onde comia e enquanto comia... Também reparava para a limpeza da roupa.
Chegou a vez do Oliveira, da 2ª classe, mas já um corpanzil. Corpo grande alma de pau, dizia a avó. Anda cá, Oliveira! Oliveeera! Gritava-lhe, quando ia para o campo da bola, um naco de pão, surripiado sem que a avó o visse escapulir para a brincadeira...
O Oliveira pegou no caderno, com aquela cara meio apalermada, sempre meio ausente das realidades... Andas sempre com a cabeça na bola! Parecia ouvir a avó.
Ao mostrar o caderno amarrotado, a professora torceu logo o nariz.
Então isto é caderno que se apresente?! E os trabalhos?
O Oliveira tentou abrir a boca, deglutiu a voz, fez-se vermelho e embatucou!...
No caderno estava iniciada uma cópia que não fora terminada, porque teve que ir marcar um golo na equipa do Saco, o bairro a que pertencia, contra a equipa do Terreiro, o outro bairro em que se dividia a aldeia: Terreiro – Saco, os dois rivais locais.
E os trabalhos?! Gritou a professora, atordoando os ouvidos do Oliveira...
Das contas apresentava apenas uma salganhada sem nexo, porque para a aritmética é que ele não dava mesmo nada e a tabuada ficara enredada nos passes mágicos dos adversários e nos gritos de gooollooo!!... do Sporting, que o Artur Agostinho ecoava na Emissora Nacional, aos domingos à tarde.
O grito da professora chamou-o à realidade. Oliveira!!! O-li-vei-ra!... Sílabas e letras bem pronunciadas e sublinhadas. Queres ficar novamente de burro?! Ficas de castigo no intervalo, a fazer os trabalhos e agora vou mostrar-vos o que é ficar só com uma orelha!
Enfim, o Zé iria saber o que era isso. Ainda bem que não era a sua orelha!
A professora mandou o Oliveira sentar-se, começando a puxar-lhe uma das orelhas, sem deixar que ele se levantasse, pois com o braço esquerdo segurava-o na carteira, enquanto com a mão direita lhe puxava a respectiva orelha, que esticava, esticava... Era agora que ele ficava sem uma orelha, pensava o Zé e lá se cumpria a profecia da mãe, se calhar de todas as mães. Dele, só quero uma orelha no final!
Ainda bem que era o Oliveira, também a oliveira tem tantos ramos e folhas que, mais ramo menos folha, tanto faz. Ficava o Oliveira sem orelha e a oliveira sem folha.
Mas a professora acalmou e a orelha do Oliveira ficou a ganhar e, por enquanto ainda, no respectivo lugar, apesar de muito vermelha, cheio de dores o miúdo.
Quanto à segunda expressão orelhas de burro, só mais tarde, já próximo ao final do ano, haveria de saber o seu significado.
O Joaquim da Corneta andava na 4ª classe, sendo o mais velho da escola. Já repetira vários anos. Tinha este anexim, já de família, todos os irmãos o herdaram do pai, o ti Xico da Corneta, sendo que esta alcunha era quase um sobrenome.
À medida que se aproximavam os exames da quarta classe havia revisões de preparação, testando com provas escritas e orais os conhecimentos de cada um.
Quando chegou a vez do Joaquim a professora foi desesperando gradualmente.
Na leitura e interpretação do texto trocou alhos com bugalhos, nos problemas de Aritmética e Geometria derrapou ao comprimento e largura, estatelou-se na prova dos noves, porque já era velho, na História e Geografia trocou rios com serras, astros e linhas de caminho-de-ferro. Foi um desastre. O comboio descarrilou de vez.
Pensar em bater-lhe a professora pensou, mas achou que não valia a pena, não só por ser mais velho, como para tanta asneira não havia porrada que chegasse. Mas tinha que castigar, para dar o exemplo, para haver respeito. Vai daí usou a estratégia mais radical.
Enfiou-lhe na cabeça as ditas orelhas de burro, um círculo com duas grandes orelhas do dito animal e mandou-o colocar à janela, com a cabeça de fora, estando assim exposto todo o dia, sujeito aos ditos e dichotes dos passantes, que teciam comentários, uns divertidos, outros humilhantes ou toleirões, conforme quem lhos atirava à cara.
Notas Finais.
Imagem de livros antigos da Escola, in: ciberjornal.wordpress.com.
Do saudoso Artur Agostinho in: restos decolecçao.blogspot.com e tesouroverde.blogspot.com.
Sobre "Orelhas de burro", busquem aqui e encontrarão imagens engraçadíssimas!
(Posteriormente foi publicado em: Boletim Cultural do C. N. A. P. Nº 125 - Ano XXVII - Nov. 2016.)