“MAD MEN” - American Movie Classics – AMC
“MAD MEN"
Série Americana na RTP2
Temporada 7
Episódios 12 e 13
“Sterling Cooper”: fusão ou confusão na “MacCann-Erickson”
E como se processou a integração dos quadros da antiga “Sterling” na "MacCann"?
Não foi nada fácil essa integração. Nessa fusão houve necessariamente muita confusão, principalmente nos quadros superiores. Imbuídos dum espírito de senhores dominantes numa empresa de pequenas dimensões, mas em que detinham um estatuto elevado, alguns dos sócios executivos tiveram dificuldade de integração ou não se integraram de todo.
Roger Sterling, principal acionista da firma com o seu próprio nome, que vendeu, não teria propriamente o objetivo de voltar a trabalhar. Reformou-se, que era esse o seu móbil. Gozar a vida. À grande e à francesa, daí ter juntado os trapinhos com uma canadense, que falava francês e com quem foi passear para a Cidade Luz, Paris!
Mas foi ele o elo de ligação entre a velha firma e a nova. Entre os quadros da “sua Sterling” e os executivos da “MacCann”. E essa interligação foi difícil de concretizar com alguns deles, ao ponto de Jim Hobbart, presidente da “MacCann”, o ter acusado de lhe ter vendido uma “maçã podre”.
Peggy Olson, redatora supervisora, vivenciou algumas dificuldades na sua passagem para a nova empresa, mais por questões inerentes ao funcionamento da empresa recetora. Que não dispunha, ou não disponibilizou desde logo, de um espaço próprio e específico para o seu trabalho, não lhe cedendo um escritório, nem os equipamentos necessários ao seu funcionamento. Essa ausência de ação traduzia, na ótica da profissional, uma falta de consideração pelas suas funções e estatuto, que ela tão arduamente conquistara, numa firma e num mundo sócio profissional liderado e dominado por homens. Finalmente ser-lhe-iam dadas as condições à sua cabal integração na nova empresa, conforme já abordámos no post anterior.
Até à sua transferência para a “MacCann”, foi permanecendo pelos escritórios da “Sterling”.
Aí lhe apareceria o próprio Roger, vindo da “MacCann”, angustiado e sequioso de álcool, que na nova empresa esse hábito não era cultivado, pelo menos à escala em que se abusava na sua firma, com o seu apelido batizada. Vasculhou o móvel-bar, mas não encontrou nada. Valeu-lhe Peggy, oferecendo uma garrafa de vermute, que compartilharam os dois. E foi vê-los, ele tocando piano e ela a andar de patins nos escritórios da “Sterling”, agora quase despidos de mobiliário, uns verdadeiros salões de baile e patinagem artística.
(E eu que julgava que só eu é que, por essa mesma época, finais de 60, inícios de 70, andava de bicicleta roda 28, em círculo, na cozinha da minha avó Rosa! Mas não sob os efeitos de qualquer vermute!)
Pois sob esse efeito e de cigarro de lado na boca, conforme documenta a imagem seguinte, Peggy assim entrou triunfalmente, na nova empresa, senhora e dona do seu estatuto de mulher emancipada profissional e socialmente, demonstrando à saciedade e à sociedade conservadora da nova empresa, ser uma mulher livre e libertada! Uma menina pop!
Imbuída desse espírito, impregnada desses valores também, Joan, que aliás fora a mentora de Peggy, julgou que faria uma entrada triunfal, com passadeira vermelha, na MacCann. Mas saíram-lhe furados todos os cálculos, todas as conjeturas.
Mercê de um conjunto de estereótipos e preconceitos, a que não seria de todo alheia a sua condição de mulher, sobreposta ao seu visual de mulher fatal, esteve sujeita a um conjunto de equívocos, desde ser rebaixada a trabalhar às ordens de um jovem muito menos experiente e capaz, até pedir ajuda a um executivo, que achou que ela o fora convidar para uma escapadela de fim-de-semana, para na alcova conquistar estatuto profissional e mercês do patrão.
O confronto com o presidente da empresa não foi menos redentor. Pelo contrário. Não valeu qualquer argumento, muito menos supostas ameaças de sindicatos ou movimentos libertários ou denúncias nos jornais da cidade. Que ela ignorava as páginas de anúncios publicitários que a “MacCann” comprava diariamente nos principais diários nova-iorquinos.
Ontem, como hoje, os media têm Dono! Na altura, os principais meios de comunicação eram os jornais, pese embora o peso que a rádio também tinha e a crescente importância da televisão. O cinema também era importante, relativamente muito mais do que é agora.
Internet era ficção científica!
E Tudo Isto Tem Dono ou Donos!
Vale-nos atualmente e, apesar de tudo, a Internet. Um espaço de Liberdade!
Mas Joan não teve sorte nenhuma, mas também não cedeu nem se sujeitou a ser humilhada nem enquanto profissional nem na condição de mulher.
E preferiu deixar a empresa e o emprego, vendendo as suas ações e participação na firma por metade do preço, que foi isso que o presidente da MacCann, Jim Hobbart, lhe ofereceu. Cinquenta cêntimos, por cada dólar por ela investido.
E com esse dinheiro se foi e investiu na sua produtora de filmes industriais, de que também já falámos no epílogo.
Pete não só se integrou desde logo bem, que era “menino bem”, e sabia safar-se, como ainda ganhou emprego ainda melhor, de que também já falámos no respeitante ao episódio catorze e derradeiro.
Don, supostamente a “baleia branca” da “Sterling”, não saiu nem branca, nem preta, nem cinzenta, nem baleia. Saiu-lhes uma balela!
Na célebre reunião de diretores criativos, eles eram tantos e tão iguais, que Dan se confundiu.
Não se fundiu e fugiu.
Ver-se entre tantos e tão iguais, todos com mesuras simpáticas para com um palestrante chato, sempre a falar de um homem que todos conheciam, em quem todos pensavam, de que todos sabiam os hábitos, as atitudes e comportamentos, os costumes e que todos queriam convencer nos seus trabalhos publicitários, “o Homem Médio Americano”, que não era um, mas muitos milhões… fez Don devanear e vaguear nos topos dos arranha-céus da “Grande Maçã”, sair dessa reunião, não à procura de um “Homem Médio”, que não era apenas um, mas muitos milhões, mas à procura dele próprio, um único e apenas, na busca da sua identidade perdida, do seu original trocado.
E correu os “Estates”, na célebre “Estrada 66”, se não foi nessa foi noutra qualquer até lá ter chegado e no seu Cadillac, que na época tudo quanto se achava gente andava de Cadillac, e foi até à Califórnia frequentar um retiro espiritual na sua busca interior, que esperemos se tenha encontrado e achado.
E assim falamos, ou não, na integração/não integração na nova empresa, que muito fica por dizer, por contar, especular e questionar.
Talvez ainda fale de dois episódios verídicos, vividos na segunda metade da década de setenta, relacionados com os computadores, na época, “verdadeiros monstros”. Enormes! Tão só e apenas!