Há quem do Tejo só veja
o além porque é distância.
Mas quem de Além Tejo almeja
um sabor, uma fragrância,
estando aquém ou além verseja,
do Alentejo a substância.
Há quem do Tejo só veja
o além porque é distância.
Mas quem de Além Tejo almeja
um sabor, uma fragrância,
estando aquém ou além verseja,
do Alentejo a substância.
- Landa Machado, Liliana Guerreiro, Liliana Josué, Lu Lourenço e Luís Branco.
De cada um, selecionei uma Poesia, como habitualmente.
Aprecie, caro/a Leitor/a.
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LANDA MACHADO
“SE QUERES SABER”
“Se queres saber de mim
Numa tarde de sol-pôr
Pede às rosas no jardim
Que te mostrem sua cor
Se quiseres entretanto
Saber de mim com certeza
Estarei em qualquer canto
Onde houver amor, beleza
E se de mim tens saudade
Longe não precisas ir
Estou onde há amizade
E alguém saiba sorrir
Se me queres encontrar
Pergunta à noite estrelada
À luz branca do luar
Vou subindo a minha estrada”
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LILIANA GUERREIRO
“LISBOA”
“Acabaram as férias e eu regresso do Sul
Com a alma cheia daquele mar manso e quente
Vejo um belo céu tão brilhante tão azul
Tornando a luz de Lisboa resplandecente
Entro na ponte atravessando o rio Tejo
As saudades, que eu já tinha, vão embora
Minha cidade, não sabes quanto te desejo
Quero passear nas tuas ruas, a toda a hora
As tuas cores, os teus cheiros, os teus sons
Envolvem-me com tanto carinho e tanto amor
Enchendo-me de tanta força e tanta energia
Fazendo desaparecer toda a amargura e dor
Depois de chegar a casa, abro todas as janelas
Para ver teu lindo sorriso dourado pelo entardecer
Antes que o sol se vá embora com as estrelas
E as sombras da noite brinquem até amanhecer”
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LILIANA JOSUÉ
“POEMA DEDICADO A ELES”
“ Vivo a solidão do tempo
no verde de cada folha
deste espaço que era vosso
a ti mãe eu dava a mão
numa indefinida e disfarçada ternura
não queria que te afoitasses
na erva mal aparada
ou no degrau do portão
a ti pai oferecia um sorriso
discreto e meio embaraçado
por me pareceres sempre mais longe
mesmo que tão unido ao meu peito.
Junto ao poço pejado de rachas e musgos
permanecíamos em cúmplice silêncio
em jeito desajeitado
que para nós era perfeito
voltem para mim
fazem-me falta
mesmo no meu sono fatigado”
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LU LOURENÇO
“MEU CANTO NA CIDADE”
“Estes blocos de cimento
que vejo da minha janela
são desalento, cansaços,
Infância sem mimo e regaços,
jardins com sebes e vento.
São o céu enegrecido
com densas nuvens cinzentas,
trovoada, enchente e lama,
nestas gentes da cidade
que tem pão e agasalho
mas vivem sem irmandade.
Ah, se umas gotas de orvalho
viessem humedecer
o horizonte na janela!
Eu seria barco à vela,
Borboleta em voo alado,
Primavera a acontecer,
E a alegria de viver
num jardim à beira-mar
sem blocos de cimento armado
P’rós meus sentidos turvar.
Baloiço no meu quintal,
entre azedas e papoulas,
sem medos, freios, algemas.
E o sol, a pino, a brilhar
Sem blocos de cimento armado
P’rós meus sentidos matar.”
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LUÍS BRANCO
“QUEM ÉS TU”
“Quem és tu que interrompestes-me em meio à multidão?
Quem és tu cujo olhar penetrou-me a alma e descobriu o
menino que abriga-se em mim?
Quem és tu que com tuas lágrimas regastes a minha esperança?
Quem és tu que do nada criastes-me um novo mundo?
Quem és tu que atraiu-me para mais perto?
Quem és tu que fizestes com que as minhas mais sólidas
estruturas balançassem com o soprar das palavras que saiam da
tua boca?
Quem és tu cujos lábios despertaram-me a fome?
Quem és tu que abristes a gaiola onde jazia minh’alma?
Quem és tu que como as filhas de Aqueloo fizestes-me
adormecer para a razão?
Quem és tu que tornastes-me o adeus uma tortura cruel?
Quem és tu que fizestes com que meu coração acelerasse seus
batimentos?
Quem és tu que fizestes com que a minha respiração fosse
alongada?
Quem és tu que fizestes-me agir como menino?
Quem és tu que com tuas lágrimas fizestes-me chorar por
dentro?
Quem és tu que com teu sorriso levastes-me ao devaneio?
Quem és tu que fizestes-me sonhar com o impossível, desejar o
inalcançavel, querer o proibido, amar profundamente o
efêmero e tocar o intangível?
Minha agonia é saber que talvez nunca te conheças.
Minha agonia é conhecer todas as distâncias que nos separam.
Minha agonia é sentar-me aqui e escrever meus versos, versos
invólucros, versos que talvez nunca leias e que a ninguém
importa.
Minha agonia é ser assim, sentimento.”
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Notas Finais:
- Se alguém de entre os Antologiados, neste grupo ou em qualquer dos anteriores, não concordar com a divulgação, agradeço que me comunique, Se Faz Favor.
- Se, por acaso, verificar algum erro “tipográfico”, ou de outro tipo, involuntário, frise-se, também agradeço que me dê conhecimento.
Finalmente consigo organizar-me para dar continuidade à divulgação dePoesia da XX Antologia da APP – 2016. Agora um sexto grupo, neste post nº 490.
Este será o grupo dos eFes, em que também me incluo.
Seguem-se os Poemas de: Feliciana Garcia, Felismina Mealha, Fernando Corte Real, Fernando Sousa, Filipe Papança, Filomena Fonseca e Francisco Carita Mata.
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FELICIANA GARCIA
(Maria do Tempo)
“POEMA DEDICADO À MINHA FILHA (MÃE)”
“Aquele pedacinho lindo
Que um dia de mim nasceu,
É hoje, mulher e mãe.
E tem tal e qual como eu,
Dois pedacinhos também.
Abençoai-nos Senhor,
São pedacinhos de mim
Gerados pela linda flor,
Que nasceu no meu jardim.”
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FELISMINA MEALHA
“PEQUENA ODE AO BERÇO”
“Abres-te a Sul como quem diz:
“Sejam Bem-vindos!”
E, desde o Moinho do Nica
Desces pressurosa até à quinta!
Aí, espraias-te, como um mar chão…
E abres a nossos olhos, as belas terras do Pão!
Ferragial da Volta
Cerca Grande
Cerca do Sr. Loução…e,
Ao fundo… a Corte com a charneca…
Os Barrancões, a Crimeia…
E caminhas abrasada, até ao Garvão!
Por esses caminhos, quantas estórias
Meu irmão?
A Funcheira, em cujo cais, tantas lágrimas,
Foram ali derramadas
Em cada separação!
A escola! A algazarra!
A brancura das batas
As canções de roda
As Amoreiras, o muro
As letras… o futuro!
O tempo escuro, muito escuro…
Mas, ao fundo, a luz da esperança!
A casa! Oh, a casa!
Lugar onde sempre encontrei
A força, a coragem, a preocupação, a luta!
A abordagem dos temas, os lemas…
O carinho, a alegria, a segurança!
A vida, ofereceu-me sem reservas
Uns olhos de ver contente,
A minha terra, a minha gente!
O meu chão seco, ou florido,
E as aves voando em bando
Acordando este meu grito!
Ia atrás delas, voando
Com minhas asas de sonhos
Cheia de sonhos…cantando!
Havia naquela casa
Dois pares de olhos tão belos
e dois corações tão perfeitos,
que me fizeram pensar
Que o mundo se multiplicava
em corações e olhares
Daquele jeito… perfeito!
Oh! Como eu guardo dessa casa
E desses corações, as asas
Com que voei tanta vez,
até cair e acordar desse sonho tão bonito…
Tão perfeito, que o bendigo,
por dele me recordar!
Terra! terra de cheiros agrestes
da esteva, do rosmaninho,
do alecrim, da arruda…
Terra muda, mas gritando
a fome desses teus filhos,
Que desde muito novinhos,
Saudosos… te iam deixando!...
Terra, que tanta luz me ofereces-te
Tanta beleza me deste
Tanto verde salpicado de amarelo,
Aonde esse Sol tão belo, se revia namorado!
Oh terra onde nasci!
Nunca me esqueço de ti,
O meu presente…é passado!
Cantar-te-ei minha terra
Ao Sol nascente de Julho
Ao Sol poente de Agosto
Ao Sol rubro de Setembro, prometendo…
Um amadurecer dos frutos
E de homens resolutos
Que vão nascendo e morrendo
Tanto vermelho papoila
Gritando na Planície,
E desenhando nos trigais
Verdes-rubros, por de mais…
Uma Bandeira de esperança!
Uma Bandeira, Saudade,
dos meus dias de criança!”
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FERNANDO CORTE REAL
“CASCA DE NOZ”
“Eu…
Que me sinto às vezes uma casca de noz
E como um barco desço o rio das madrugadas
Que tenho no teu corpo a mais bonita foz
Sou um tonto à deriva nestas águas inspiradas.
Eu…
Que por vezes não entendo os teus sinais
Nem tenho na distância o sabor da felicidade
Que desejava ver no silêncio dos meus ais…
Só me afundo no perfume de uma saudade.
Eu…
Que nesta vida não sou mais nem menos
Nem quero a distinção de quem passa por mim
Que a diferença só traz sonhos obscenos
E todos vamos caminhando para o mesmo fim.
Eu…
Que ando nesta selva de gritos prepotentes
Em que as árvores morrem sem saber porquê
E não é o vento que nos mata as sementes
Mas o poder com o machado que ninguém vê.
Eu…
Que já estou cansado de não ter o sossego…
A Paz que desejava quando quero aqui escrever
Não as palavras a que o mundo tem apego
Mas tudo o que me impede de ser livre e o dizer.
Eu…
Que levantei o rosto para ver a desgraça
Daqueles a quem são negados direitos universais
Navego por este rio e digo a quem passa…
Eu sou poeta, às vezes casca de noz, e nada mais.”
As Fotografias são todas originais de D.A.P.L. - 2016, tiradas em vários locais do País: Alentejo, Algarve, Grande Lisboa. Fazem parte de um acervo de que disponho e com que, habitualmente, ilustro os posts. De uma forma bastante livre, é certo. O que se verificará também neste, no respeitante aos vários Poemas. Me desculpem os Poetas e Poetisas! Mas lembremo-nos do conceito: "Liberdade Poética"!