«Não foi milagre ressurgir, Senhor,
Num dia natural de primavera.
Tudo ressurge quando tem calor.
É por calor que toda a morte espera.
Milagre era acordar no inverno, era
Subir da cova frio como a dor,
E, com neve nas dobras da quimera,
Mostrar a Madalena a carne em flor.
Contra a seiva da vida e a sua lei
É que valia a pena demonstrar…
Viver dentro da morte é que era um salto!
Assim, vejo-te apenas como sei:
Um corpo que parou de levedar,
E veio à tona ver o céu mais alto.»
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Poema de “LIBERTAÇÃO” – 1944
In. ANTOLOGIA POÉTICA – Miguel Torga – 9ª Edição –Publicações Dom Quixote – Maio 2019 – pag.72
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J. Régio
Hoje, após algum ausência, volto a publicar um "post".
Este, sobre as Antologias de Poesia em que, até agora, participei.
Poucas é certo, mas em todas elas foi muito gratificante prestar o meu contributo.
Participar numa Antologia é sempre uma forma de compartilhar o nosso estro poético com outras Pessoas igualmente amantes da Poesia!
Seguem-se as digitalizações das capas das obras em que dei a minha colaboração...
Sentimento Alentejano
Alentejo é tempo é espaço
É nó apertado, é laço
Do qual nunca me desfaço.
É geografia, é história
É presente e passado em memória
É futuro, é luz de vitória.
É matemática, é natureza
É um ideal de beleza
De tão simples singeleza.
Guardado no pensamento
É sensação, é sentimento
É perceção em movimento.
É cheiro, sabor e perfume
É sol quente, que nem lume
É visão inebriante
No horizonte distante.
É luz do sol e calor
Em paisagem multicor
Consoante a estação.
Mas sempre no coração!
Grilos pintam a noite de sinais
Relas, ralos, briga de pardais
O cantar mavioso do rouxinol
À tarde, no final, ao pôr-do-sol.
Almejo sinfonia dos beirais
E outras sonoridades que tais
O murmúrio ondulante dos trigais
E outras lembranças iguais.
Perto ou longe, pouco importa
Que está sempre aberta a porta
Que ao âmago nos transporta
Ao profundo Ser, à calma
Da Alentejana Alma!
Nota:
Uma versão desta poesia foi publicada na V Antologia Poética de "Mensageiro da Poesia", 2006
Boletim Cultural de "Mensageiro de Poesia" nº 126 - Jan. / Fev. 2015..