Há quem do Tejo só veja
o além porque é distância.
Mas quem de Além Tejo almeja
um sabor, uma fragrância,
estando aquém ou além verseja,
do Alentejo a substância.
Há quem do Tejo só veja
o além porque é distância.
Mas quem de Além Tejo almeja
um sabor, uma fragrância,
estando aquém ou além verseja,
do Alentejo a substância.
Na sequência do postal de ontem, ilustrado com trabalhos de artesanato da “Notável Vila de Nisa”, hoje, dia de início da Primavera, edito um postal ilustrado com dois belíssimos exemplares de Arte Popular (Pop Art, se lhe parecer ou soar melhor).
As fotos foram tiradas no ano passado, em Janeiro, ainda a milhares de milhas desta confusão da Covid. Ainda o “bicho” andava lá para as bandas da China e pensaríamos que por lá ficaria… Todavia, conhecendo que estas coisas dos vírus, lá das bandas do Oriente, acabam por vir cá parar. Tal como o Sol, bem como a Primavera.
Adiante… Aprecie estes belíssimos trabalhos artísticos, SFF. Estavam expostos na sede do Turismo. Bem pode visitar e comprar, se tiver disponibilidade.
E, porque estamos numa onda de Poesia, e amanhã é “Dia da Poesia”, apresento uma quadra de um poema já antigo, inspirado nas “Artes Tradicionais Alentejanas” e publicado no blogue.
Divulgamos hoje o nosso post nº 50. Que é também o 1º trabalho que colocamos em 2015. E, como não podia deixar de ser, pois também é esse o nosso propósito, damos a conhecer neste enquadramento uma poesia sobre o nosso Alentejo.
Este conjunto de vinte e seis quadras foi escrito em 1982, numa época em que trabalhava no Alentejo e resultaram da observação poética da planície transtagana nessa altura. Alguns aspetos ter-se-ão modificado. Atualmente há realidades que, à data, eram ainda ficção científica. De qualquer modo é um flash desse tempo nesse espaço, que nos é tão querido e idealizado.
ALENTEJO
Horizontes infinitos
Extensões de montados
Manchas de olivais bonitos
No meio, campos lavrados.
Campos a perder de vista
Vista do cimo do monte
Altaneiro como crista.
No vale, a horta e a fonte.
Montes quase abandonados
Sem caseiro nem patrão
Pois carros motorizados
A casa trazem o aldeão.
Casas de branco caiadas
Barras azuis e amarelas
Cheias de esmero, asseadas
Alegra os olhos vê-las.
Rasteiras, bem alinhadas
De quando em vez solarengas
Varandas, janelas bordadas
Casas, nossas avoengas.
Chaminés de sol e lua
Portas de cantaria
Abrindo a casa à rua
Dão beleza à frontaria.
Ruas de casas juntinhas
Fazem terras afastadas.
De noite é ver as luzinhas
Dar vida à planura, encantadas.
De dia banhadas pelo sol
Alegria e tormento
A brancura dum lençol
A secar na planície, ao vento.
Do Alentejo aldeias
De gente calma e fagueira
Amiga de trocar ideias
Embora nem sempre à primeira.
Gente mais moça abalando
P’ra Lisboa e outras bandas.
Os mais velhos vão ficando
Até que Deus queira, em bolandas.
Pela manhã, o Destino
Os leva à soalheira
Aquecer sangue latino
Que já falta companheira.
Durante a manhã, as comadres
Dominam as ruas mercando
E estando fora os compadres
Com as amigas vão conversando.
À tarde e à noitinha
Após um dia de trabalho
Homens enchem a tendinha
Causa de brigas e ralho.
Mas após tanta fadiga
No campo, a maioria
Faz bem beber uma pinga
Dá esquecimento e alegria.
Terminar a cavaqueira
Que à janta a mulher chamou.
Esperar sentado à lareira
Que a novela começou.
Migas, açorda e mais
Sopa de cachola e tomate
De miolos, gaspacho, é demais
Tanto pão e tanta arte.
Hoje não é tanto assim
Comida vai variando.
Borba, Redondo, enfim
Rico tinto acompanhando.
Após a janta, o descanso
Que amanhã é de trabalho.
Antes, um breve remanso
Aquecendo-se ao borralho.
De manhã o sol levanta
Trabalhador para a jornada.
Dantes a pé, agora espanta
A quem tem motorizada.
Lavoura, azeitona e cortiça
São trabalhos desde outrora.
Conforme a época, a liça
Novas culturas agora.
O tomate, o girassol
Culturas de regadio.
As barragens são um rol
Mas não chegam p’ró sequio.
Os serviços na cidade
Algumas indústrias também.
Desemprego, ansiedade
De quem quer algum vintém.
Pau bucho, chifres, cabaças
Argila, pedrinhas e linho
Nelas, flores e sonhos traças
Objetos de amor e carinho.
Trabalho feito com as mãos
Na cortiça, ferro ou barro.
Homens de arte, artesãos
Ourives de bilha e tarro.
Mas artistas todos são
De pincel ou de trator
Na tela ou terra chão.
Basta trabalhar com amor.
Amor que a nós, Homens, une
E à terra que nos viu nascer.
Mais nos liga que nos desune
Todos juntos a conviver.
Escrito nos inícios de 1982.
Publicado na VII Antologia do Círculo Nacional D’Arte e Poesia, 2003.
Uma das temáticas deste blog é a divulgação de Poesia. Até ao momento, apenas ainda divulguei poemas meus e quase todos já publicados noutros suportes.
Outro tema é a divulgação de eventos e/ou instituições culturais que, devido aos condicionalismos da nossa Cultura, são injustamente pouco conhecidos, mas que cumprem um papel muito importante na realização de atividades culturais e contribuem de uma forma muito eficaz para o exercício de uma cidadania ativa para muitos Homens e Mulheres deste País.
Dentro destas duas premissas, cabe-nos hoje dar a conhecer o:
CÍRCULO NACIONAL D’ARTE E POESIA
O CÍRCULO NACIONAL D’ARTE E POESIA é uma Associação de caráter cultural fundada em 1989, por escritura lavrada a 7 de Julho. É, portanto, uma instituição que já fez vinte e cinco anos.
Esta associação, cuja fundação se deve à iniciativa de Maria Olívia Diniz Sampaio, que ao longo destes anos tem sido sempre a sua Presidente e, sem exagero, a sua verdadeira Alma, surgiu da necessidade sentida de dar voz aos poetas que guardavam os seus poemas nas gavetas, não os publicando e aos pintores e outos artistas que nunca expunham os seus trabalhos.
Razões mais do que suficientes para a concretização deste Projeto que viu luz há um quarto de século e que teve na sua génese mais nove sócios fundadores: Vitor Castelinho, António Inverno, Rosa Soledade Couto, Ermelinda Naia, Maria de Lurdes Agapito, Francisco Lopes, António José Diniz Sampaio, Luís Filipe Soares e Paulo Armindo.
Os objetivos por que foi criado têm sido cumpridos, sendo que regularmente o Círculo edita um Boletim Cultural, o Nº 118, neste final de 2014, como habitualmente dedicado à temática do Natal. Na concretização deste documento ilustrativo dos trabalhos desenvolvidos pelos sócios, conta a Direcção com a coordenação de dois dos sócios fundadores: António J. D. Sampaio e Luís F. Soares.
Através destes Boletins têm sido divulgados trabalhos poéticos dos mais de trezentos sócios que se foram associando ao longo destes anos, sendo que entretanto alguns foram morrendo e outros desistindo, por variadas razões, como é comum em instituições deste cariz voluntário e amador, no bom sentido da palavra. Contudo e provavelmente devido à persistência da sua fundadora sempre novos elementos se têm incorporado a este grupo de artistas.
Nestes Boletins, para além da Poesia, tema dominante, há habitualmente um texto biográfico, com um breve questionário sobre um dos sócios: poetas, pintores ou outros artistas. Também surgem prosas, sejam contos, crónicas, lendas, biografias ou entrevistas ficcionadas a poetas e artistas célebres e algumas breves informações de interesse da comunidade associada. Por vezes também um memorial de alguém recentemente desaparecido, cuja figura artística algum sócio ache por bem realçar. Em suma, estas algumas das temáticas que surgem neste veículo de divulgação cultural, cumprindo inteiramente um dos objetivos por que foi criado, pois, de forma despretensiosa, simples, mas eficaz, muitos poetas, escritores e artistas divulgam os seus trabalhos.
Muitos destes Boletins têm sido ilustrados por bonitos desenhos.
Apresentamos a capa do nº 72 que se debruça sobre vários Poetas. Para além de José Régio, traz poemas sobre Camões, António Sardinha, Conde de Monsaraz, Fernando Pessoa, Cesário Verde, António Boto, Bocage, Alexandre Herculano, Miguel Torga, João Villaret, Teixeira de Pascoais, Ary dos Santos, Antero de Quental, Florbela Espanca, Sofia de Mello Breyner, António Aleixo, Manuel da Fonseca, para além de vários Poetas do CNAP.
Ainda nesta temática das “Letras” há uma outra vertente também muito importante que o Círculo tem cumprido. Com uma regularidade mais ou menos bianual são editadas Antologias, sendo que neste ano já está em preparação a XIII, com previsão de saída em 2015, o vigésimo sexto ano de vida da instituição.
Nestas Antologias, auto financiadas pelos participantes e com a coordenação de Maria Olívia Diniz Sampaio, são publicados poemas dos sócios que o pretendam. Para além das belas e variadíssimas poesias, com frequência várias delas são ilustradas com bonitos desenhos. O mesmo sucede nas capas e contracapas em que diversos Artistas têm demonstrado o seu estro, enriquecendo cada uma delas e melhorando-as ao longo destes anos.
Interessante realçar que, até ao momento, as doze antologias já publicadas foram quase todas produzidas na “Gráfica Guedelha, Lda.” - Portalegre.
No decurso destes vinte e cinco anos, são dezenas os poetas e poetisas que viram as suas obras publicadas e divulgadas entre centenas, quiçá, milhares de leitores.
Estas Antologias são sempre apresentadas em recitais públicos, que habitualmente decorrem em Lisboa e em Arronches. Esta é também uma das facetas do Círculo, a promoção de recitais de Poesia de que têm sido realizados muitos ao longo destes anos, bem como outros saraus culturais e lançamentos de livros, em diversas Instituições de Lisboa e também no Alentejo.
Uma outra vertente do trabalho cultural desenvolvido incide sobre as Artes Plásticas. Por esse motivo são promovidas regularmente exposições de pintura, escultura, artesanato, fotografia, de artistas associados, nas mais diversas Instituições, muito principalmente ligadas às Juntas de Freguesia ou Câmaras Municipais, mas também outras: Casa do Alentejo, Padrão dos Descobrimentos, onde também se realizaram espetáculos, que é outro campo de divulgação artística que o Círculo também já implementou.
Terminou recentemente uma Exposição no Centro Cultural Multiusos da Junta de Freguesia da Penha de França e está a decorrer, desde 24 de Novembro e até 23 de Dezembro outra Exposição, no Centro de Dia de São Sebastião da Pedreira.
Ao todo e se fosse possível fazer uma retrospetiva seriam dezenas os eventos já realizados, bem como as Instituições que possibilitaram a sua concretização e muitos os artistas que nelas participaram.
Inclusive, também já se realizaram visitas guiadas a localidades e monumentos.
Há ainda uma outra atividade regular, promovida semanalmente pelo C.N.A.P., que são os “Convívios Poéticos” às quintas – feiras que, de 2002 a 2012, se realizaram no “Café Martinho da Arcada”, das 16 às 18 horas e que, desde 2012, são organizados na Pastelaria “Central da Baixa”, na Rua do Ouro 94/98, também no mesmo horário. Nestes convívios comparecem os sócios, seus familiares e amigos ou outras pessoas que o pretendam e são uma forma de conhecimento e interação entre os participantes, oportunidades de leitura, de recitação, de “dizer” Poesia, de divulgação de trabalhos realizados.
Para terminar, reportando-me à Presidente do Círculo Nacional D’Arte e Poesia, Maria Olívia Diniz Sampaio, ao fazer um balanço das atividades da Associação, valeu a pena todo o esforço, o empenho, o trabalho desenvolvido, os sacrifícios realizados ao longo deste quarto de século. Como foi referido, a divulgação da Poesia e das Artes, dos Poetas e Artistas, através dos boletins, das exposições, das antologias, dos recitais, dos espetáculos, a colaboração de tantas entidades e tão diversas, todos estes são aspetos positivos da ação do Círculo neste quarto de século. Como aspeto negativo apenas o facto de, ultimamente, algumas Juntas de Freguesia já não cederem os espaços para eventos.
E, como parar é morrer, o Círculo tem já em preparação um “Encontro de Poesia”, a realizar-se, em princípio, a 20 de Março de 2015, na Biblioteca Camões, em Lisboa.