Há quem do Tejo só veja
o além porque é distância.
Mas quem de Além Tejo almeja
um sabor, uma fragrância,
estando aquém ou além verseja,
do Alentejo a substância.
Há quem do Tejo só veja
o além porque é distância.
Mas quem de Além Tejo almeja
um sabor, uma fragrância,
estando aquém ou além verseja,
do Alentejo a substância.
Esclarecimento a Crónica “Falta de Serviços Essenciais…”
e
Crónica de Descontentamento (s) VII… E desabafos...
Na crónica que escrevi, em 09/03/19, referi alguns disfuncionamentos referentes aos CTT.
Agora, devo constatar que o postal enviado a 07/03 chegou ao seu destino a 11/03, demorando quatro dias. Situação regular, que corresponde a dois dias úteis, que de permeio houve fim de semana.
Também constatei, no dia 12/03, que a cabine telefónica, nos CTT da Capital de Distrito, já funciona. Segundo me foi informado, há cerca de um mês.
Ótimo. Parabéns e que assim continuem. A funcionar como deve ser!
O postal ilustrativo deste post é a digitalização de um dos que a “APBP – Artistas Pintores com a Boca e o Pé” habitualmente edita e que, há vários anos, vimos adquirindo.
É também uma forma de ajudarmos estes Artistas, divulgando a sua Arte!
E aproveito para enviar mais uma “carta” com os meus descontentamentos…
No referente a chuva, ela continua sem aparecer… Vislumbrou-se no início do mês, mas rapidamente se eclipsou.
Em contrapartida, começaram os Incêndios.
Isto dito assim, tão a seco, até parece que são uma fatalidade natural, já esperada…! Que não são! Por mais que nos queiram impingir mediaticamente essa anomalia.
Falta muito, sempre muito trabalho de prevenção. Por mais que se faça, dificilmente estará completo a tempo e horas.
Basta olharmos a beira das estradas, as próprias autoestradas, dentro dos próprios limites destas… e dentro das próprias cidades.
Em Almada, friso, está um designado “Koi Park”, frente ao Fórum, rente à A2, na saída da “Ponte 25 Abril”, que é um matagal há anos, sem limpeza. É imperioso e urgente que seja feita, ademais numa zona com tanto tráfego e congestionada nos acessos.
E porque é que os meios de comunicação dão tanta cobertura mediática aos fogos?! Tanto espetáculo desnecessário. Porque não são objetivos, concisos, informativos e formativos?!
E para quando a implantação de unidades de transformação dos milhares de toneladas de inertes produzidos com as limpezas, em vez de as termos que queimar?!
E ainda esta situação do tempo meteorológico…
Em Portugal, estamos em seca severa… Em Moçambique, vemos toda aquela desgraça… E, mais uma vez, a exploração da miséria alheia, do sofrimento atroz, trazido à ribalta comunicacional. Uma certa contensão, precisava-se!
Estas ocorrências regulares pelo mundo fora, quando acontecidas em países pobres, subdesenvolvidos, têm repercussões muito mais catastróficas.
E tanto investimento feito em guerras totalmente absurdas e desnecessárias! Que os "Donos do Mundo” fomentam pela ganância. Tanto que podiam fazer pelo Bem da Humanidade, dotando os países pobres das infraestruturas basilares. E esta responsabilidade é prioritária dos respetivos dirigentes desses países! Realce-se!
Em primeiro lugar, quero apresentar-me: o meu nome vulgar é Castanheiro. Dispenso a designação latina e o nome botânico, bem com a origem familiar.
Desde que me lembro, morava ainda no viveiro onde nasci, perto de Coimbra, que guardo um sonho secreto, que não confessava a ninguém, mas agora já posso revelar: o de um dia vir a ser uma Árvore de Natal.
Quando se aproximava a quadra natalícia, logo alguns senhores e senhoras, sempre acompanhados de crianças meigas ou traquinas, ou assim-assim, mas quase sempre alegres e festivas, quando não birrentas e mimadas, vinham comprar árvores de natal ao viveiro onde eu nasci. Invariavelmente escolhiam uns pinheiros ou abetos, já cortados, habitualmente sem raízes, para levarem consigo. Muito me intrigava o porquê de levarem plantas naquele estado, incapazes de se agarrarem à terra e medrarem, desprovidas do raizame que as uniria à Terra - Mãe. Mas, enfim, eles lá saberiam o porquê de tal atitude.
Por mais que me insinuasse, nesses quatro ou cinco anos em que estive no viveiro, nunca alguém se dignou olhar para mim com olhos de ver e levar-me pelo Natal. Atribuía essa falta ao facto de sermos tantas hastes, uns gravetos, na época natalícia já sem folhas, enfileiradas no viveiro, ainda sem ramos, um centímetro de espessura, um metro de altura… Também sentia uma pontinha de inveja pelo verde da caruma dos pinheiros, a ramagem acetinada, as agulhas aceradas, brilhantes e luzidias e pensava que seria por aí que as pessoas decidiam. Os olhos também comem! Mas quem vê caras não vê corações, murmurava eu, um pouco despeitado, pelas preferências dos compradores.
E imaginava-me a mim, na Primavera e no Verão, com as minhas folhas lanceoladas e serradas, o meu manto verde de cetim, os meus cachos de flores perlíferas, com aquele odor tão primordial, quando um dia, em campo aberto, eu pudesse medrar e florescer, crescer, que será esse o meu destino, o destino de todos nós! E no Outono?! Como serei eu com os meus cachos de ouriços eriçados que se irão abrindo, amadurecendo e soltando as belíssimas e saborosas castanhas?!... Também será nessa época, à medida que o frio vier chegando e as primeiras chuvas de Outono amolecerem os campos e as gentes, que a minha copa atingirá todo o seu apogeu de cores, amarelo, castanho, dourado, tonalidades de brilhantes irreais, de manto de realeza. Não sei em que estação mais gostarei de me ver refletido nas águas do rio, que perto de mim passa, Rio do Tempo e do Esquecimento, se através do verde acetinado e perlífero da estação das flores, se no clássico e farto carregamento dos ouriços verdes, na estação das praias, se pelos dourados e bruxuleantes amarelos, no barroco da estação outonal… Mas, por mais que me esforce, será sol de pouca dura. Com o frio, a chuva e ventos outonais, todo esse meu encanto se esvairá. As folhas, pouco a pouco, uma a uma, ou aos molhes, quais filhas ingratas, me deixarão, levadas pelo vento, esse matreiro, que as fará rodopiar em êxtases de prazer esvoaçante pelo astro, para depois as abandonar na lama dos caminhos, de onde serão arrastadas pelas águas das regueiras dos valados, para apodrecerem entre as silvas dos lameiros. E eu, cada vez mais só e despido me verei, sem folhas nem flores ou frutos, apenas eu e os meus ramos, uns tristes gravetos, como, quando no viveiro, entre dezenas de iguais desafortunados irmãos castanheiros. Nada que se compare com os pinheiros ou abetos, claro!
Estava eu nestas cogitações sobre o meu futuro quando, um dia pela manhã, houve grande alvoroço no viveiro. Começaram a tirar-nos dos canteiros onde estávamos, um puxão seco e firme, os tratamentos adequados, um acondicionamento para nos conservarmos e estávamos amontoados para partirmos, numa camioneta de caixa aberta, numa viagem em pleno dia, mas que foi um salto no escuro, pois não sabíamos ao que íamos. Fomos até um viveiro/entreposto de venda de árvores e arbustos.
Sonhei. É desta que vou para Árvore de Natal?! O tempo aproxima-se.
No entreposto fiquei junto de outros castanheiros como eu, próximo de algumas nogueiras, umas amendoeiras, ameixoeiras, sei lá, uma infinidade de árvores, arbustos e arvoredos. A um canto, abrigados, os invariáveis pinheiros e abetos!
Mas perguntar-me-ão, porque será que este castanheiro pretensioso quererá ser Árvore de Natal? Não terá olhos na cara?!
Ter, tenho, mas também gosto de sonhar, ou não temos todos esse direito? E sempre que nestes anos ouço meninos dizerem ir arranjar a sua Árvore de Natal, com tanta expectativa e carinho e falarem em luzinhas lindas a acender e a apagar, imagino-me com as estrelas do céu tremeluzindo na minha copa. Se me dizem colocar bolinhas coloridas, vejo sóis e luas cheias, brilhando nos meus ramos. Se me falam em anjinhos de papelão, imagino os meninos baloiçando nas minhas ramadas e subindo-me pelo tronco, na busca de sonhos e brincadeiras de heróis, um dia, quando eu for mais crescido e forte. Se me confidenciam que colocam presentes ao pé da Árvore, almejo eu o chão juncado de ouriços e castanhas apetitosas, que um dia poderei oferecer, em braçadas, aos passantes. Mas, mesmo assim, idealizando o meu futuro, nunca deixei de sonhar que um dia… poderia ser Árvore de Natal.
Nesse ano em que estive no entreposto, para venda, já próximo do Natal, muitas pessoas visitaram o viveiro, muito bem situado, junto à estrada nacional.
Umas compraram árvores, outras não, alguns arbustos e plantas de jardim levaram, mas eu fui ficando. Os invariáveis pinheiros e abetos truncados partiriam, certamente para o seu destino de lordes, pensava eu.
Numa tarde soalheira, um casal, com uma criança, entrou no viveiro/entreposto, para a trivial Árvore de Natal, julguei eu. A criança, vendo uns pinheiros, logo interpelou a mãe.
- Mãe, ali estão Árvores de Natal. Vamos levar uma?!
- Não, meu filho, ainda é cedo para o Natal. Só ainda estamos em Novembro, para o mês que vem é que é Natal. O pai quer comprar apenas umas tílias e nogueiras, envasadas, para transplantar para o valado junto à nossa casa.
O senhor observou as sobreditas árvores, mas não me ligou. A senhora passou bem junto de mim e foi então que joguei a minha cartada. Com esforço, empertiguei-me e consegui que um dos meus ramitos lhe tocasse no braço e se prendesse, ao de leve, na manga do casaco. Toquei-lhe no braço e… também no coração. Sussurrei-lhe:
- Leve-me, posso ser uma linda Árvore de Natal, um dia, quando crescer. Sempre foi esse o meu sonho!
E foi o que aconteceu. A senhora, com coração de criança e a criança, com coração de passarinho, de ave, convenceram o marido e pai a levar-me, para plantar no Valado.
Fui de carro e desta vez não fui amontoado no camião com dezenas de irmãos, primos e outros parentes mais ou menos afastados. Fui vendo a paisagem até ao meu destino. Pude escutar o que o casal e a criança falavam no carro, pude ver outros campos e arvoredos, cidades e vilas, muitos automóveis, vi até o comboio passar, a caminho de Lisboa, não sei. Vi, pude sentir e pressentir outros mundos.
Irá, enfim, o meu sonho realizar-se?
Será que, finalmente, irei ser Árvore de Natal?!
Notas:
- As digitalizações foram obtidas a partir de Cartões de Boas Festas de APBP (Artistas Pintores com a Boca e o Pé, Lda), Caldas da Rainha.
- A 1ª digitalização é de cartão de prendas (P638), cujo original foi pintado com a boca por Isabelle Jackson.
- A 2ª digitalização é de cartão de Boas Festas (P013), "Boas Festas", original pintado com a boca por Monika Kaminska.
- A 3ª digitalização é de cartão de Boas Festas (No.P 1212), "Há Natal na nossa Praça", original pintado com a boca por Ilona Fazakasné.
Este texto é a 1ª parte de um conto, de que saírá a 2ª parte mais tarde, após o Natal.
Tenho várias versões deste conto, algumas já publicadas noutros contextos, nomeadamente:
Boletim Cultural nº 109 do Círculo Nacional D'Arte e Poesia, Dezembro 2012.
Boletim Cultural nº 127 do C. N. A. P., Dez. 2016.
Jornal "A Mensagem" Nº 481 - Ano 44 - Nov./Dez. 2014