Há quem do Tejo só veja
o além porque é distância.
Mas quem de Além Tejo almeja
um sabor, uma fragrância,
estando aquém ou além verseja,
do Alentejo a substância.
Há quem do Tejo só veja
o além porque é distância.
Mas quem de Além Tejo almeja
um sabor, uma fragrância,
estando aquém ou além verseja,
do Alentejo a substância.
Terminou ontem a série “Serangoon Road” no décimo episódio. Não se prevê continuação. Não posso dizer que tenha sido desinteressante, que não foi, via-se com bastante agrado, mas era uma narrativa algo previsível, sem grandes rasgos de novidade, estruturando-se em esquemas narrativos habituais, neste modelo de seriado. Mas era de um conteúdo fresco e claro, não desnecessariamente rebuscado e de fácil leitura e entendimento.
Não foi, todavia, ou por isso mesmo, que não sei, uma série que tenha caído no goto dos espetadores. Na habitual estatística dos blogues do SAPO, nos dados dos últimos trinta dias, aparece apenas em 13º lugar, atrás de outros temas e de outras séries que já passaram há mais tempo na RTP2: "Código do Crime", "Hospital Real", "El Princípe", "A Mafiosa", "A Fraude". (Interessante: parece que as séries giram todas à volta de crimes!!!)
Mas vamos então ao conteúdo do episódio e da série.
Neste, talvez por ser o derradeiro, a estruturação dos casos, em caso particular / específico e caso geral, coincidiu.
O objetivo foi dar-nos a conhecer sobre o assassinato de Mrº Winston Cheng, de que já sabíamos algo.
O homem de mão foi efectivamente Lee Kim Fong.
Mas quem foi o mandante? Às ordens de quem trabalhava este jovem assassino? E o serviço que Mrº Cheng estava a realizar era encomendado por quem? (…)
Foi um descascar de cebola. A tríade de detetives, Sam, Dona Patrícia, Sue Ling, ajudada por Kang, que já reatou a amizade com Sam e pela jovem namorada de Winston, última pessoa conhecida que o vira vivo, esta trindade, transformada em quinteto, foi descobrindo, pouco a pouco, como as coisas se passaram.
Por detrás do assassino de mão, estava o célebre empresário dos amores frustrados, James Lim e coadjuvante ou acima deste, o jovem chefe da sociedade secreta “Dragões Vermelhos”, Kay Song, sendo que ambos eram sócios. Paralelamente ou mexendo os cordelinhos também, ainda que não diretamente relacionado com o assassinato, estavam os serviços secretos da nova potência em ascensão, aproveitando o vazio a surgir, pela abalada dos britânicos, isto é, a CIA, na pessoa do respetivo chefe, Wild Bill.
Desconhecedor de toda esta tramoia estava “O Tigre”, o velho chefão da sociedade secreta dos “Dragões”, “O Avô”.
A este foram apelar, reverenciosamente, Sam e Patrícia, na ânsia de descobrirem a verdade, de ser feita “justiça”, ainda que à moda de Chinatown e face às ameaças simbólicas e factuais a que Dona Patrícia fora sujeita.
Foi uma macabra oportunidade para presenciarem, observarem e aprenderem, sobre o funcionamento, as regras, as leis, o modus operandi daquela sociedade secreta e sobre quem efetivamente manda e irá continuar a mandar, naquele submundo e concomitantemente na própria superfície da Cidade.
Kay Song, o neto obediente e extremoso, face à oposição do Avô, relativamente ao seu comportamento e atitudes, e à sentença que este lhe ditara, não esteve com meias medidas e, na frente de todos, não teve pejo em sufocar, lentamente, o progenitor com uma almofada, assassinando-o, conquistando-lhe o poder e mostrando, aos presentes e testemunhas, do que é e será capaz futuramente.
Para todos os efeitos declarou solenemente que o Avô sofreu um ataque cardíaco e que os presentes são disso testemunhas! Pediu-lhes para saírem, que queria fazer o luto, enquanto queimava os documentos comprometedores que os detetives levavam e o incriminavam.
Sabemos quem matou, direta ou indiretamente, o dono da “Agência de Detetives Cheng”. Herança para Dona Patrícia e seus colaboradores que, a darem-lhe continuidade, também saberão que regra de ouro será não aceitarem casos que envolvam sociedades secretas.
E, no final, ficámos a ver Dona Patrícia e Sam a contemplarem o fogo-de-artifício comemorativo do “Festival da Lua”. Antes houvera a “Festa de Celebração da Família” e todos se divertiram também, evocando Winston, que era assim que ele gostaria. Sue e Conrad também se alegraram, como jovens que são, e futura família a constituir. E Kang e a mulher também deram azo à sua expansão comemorativa.
Sam lembrava a sua amada Claire, que se preparava para partir.
Por ordem de Dona Patrícia, foi despedir-se dela, na esperança de a trazer para o seu quartinho de Chinatown.
Ilusão a dele, que a moça, apesar das juras de amor eterno de ambos, face às expectáveis mordomias do marido, Frank, não teve dificuldade em escolher, apesar de algumas hesitações dos guionistas, para nos deixarem nalgum suspense.
Já o carrão do marido a seguir viagem e ela planta-se na sua frente. Parado este, seguem ambos a caminho do barco que os levará para a Europa.
Boa viagem!
Quem também estará de viagem será Mrº Miller, do M16, que com a ajuda preciosa, mas traiçoeira, de Harrison Conrad, que lhe terá fornecido dados sobre o Vietname, conseguiu ser transferido para Washington. Certamente também promovido, pelo menos para melhor posto!
Em contrapartida, que isto são os alcatruzes da nora, uns sobem, outros descem e o chefe da CIA, Wild Bill, também foi chamado para os EUA, mas não me pareceu que pelas melhores razões. Que ele apercebeu-se da “traição” de Conrad, provavelmente não a podendo provar, mas deixou-lhe profecia: “Quem semeia ventos, colhe tempestades…” e interpelação: “O que vê quando se olha ao espelho, Harrison?”
Mas deixemo-nos desta considerações proféticas e interpelativas, que ainda nos falta dizer que quem contratou Mrº Winston Cheng no trabalho de investigação foi o irmão do empresário de amores frustrados, o professor, ligado aos sindicatos e que está preso por esse motivo, mas que foi uma ajuda preciosa para os investigadores da Agência. Indicou que só o irmão saberia exatamente quem matara e porque mandara matar Mrº Winston.
E Sam e Kang souberam e também assistiram à morte macabra do empresário, que foi decapitado, na frente de ambos, pelo assassino cruel e sanguinário, Lee Kim Fong.
(...)
E por aqui me fico. Que fica muito por contar.
Porque a narrativa era muito mais complexa do que aparentava.
Porque reescrever, sobre o que outros contaram, não é assim tão fácil.
Porque eu não estou nem pretendo fazer, ou refazer, o romance.
Porque, apesar de aparentemente leve, o conteúdo, por vezes, era pesado.
E porque isto é apenas um post, num blogue…
E porque quero publicar e tratar de outros assuntos que preciso.
(…) – (…)
Mais uma vez, que nunca é demais, o meu Muito Obrigado, se me acompanhou até aqui!
Nestes dois episódios, antepenúltimo e penúltimo, prossegue a narrativa da série, estruturando-se no modo habitual.
O caso particular do episódio oito assentou em duas meninas australianas que resolveram sair do continente-ilha, almejando chegarem a Londres pelos seus próprios meios, a bordo de um navio, “Orion Star”, inconscientes dos perigos desnecessários a que se sujeitavam.
Pelo meio, foram ameaçadas pelo comandante, raptadas por um “Falcão” tatuado no braço de um ladrão de rua, puseram-se em perigo na sua leviandade, houve recurso aos serviços da “Agência Cheng”, cooperação de Sam, e, no final, uma das moças, conivente no seu pretenso rapto para obter dinheiro, chantageando o pai da amiga, acabou por ser encontrada no jardim zoológico de Singapura a contemplar a verdura do arvoredo!
No caso geral, busca de pistas sobre o assassinato de Winston Cheng, a viúva, Dona Patrícia, acabou por se cruzar com a rapariga de vestido claro, que lhe fora deixar o relógio de bolso numa sacola, junto à porta da Agência e ao falar com ela, veio a saber que a jovem fora mais que amiga do marido, de quem tinha um filho de quatro anos, função maternal que cumprira a contento de Winston, que Dona Patrícia é estéril.
A moça apenas quer ajuda para criar a criança, não sei se Dona Patrícia se comoveu e irá auxiliar e sobre novas pistas acerca do assassinato também não se adiantou muito.
Sam andou, como sempre, numa fona a desatar os nós dos enredos dos casos peculiares, pouca assistência deu a Claire Simpson, nem lhe pode oferecer qualquer futuro estável. Isso mesmo lhe diz ele, após ter saído da curtição no opiário e também Lady Tuckworth alertará a rapariga para esse futuro sem saída com o detetive de Chinatown.
No episódio nove, a Lady reforçará esse facto junto do rapaz, quando este se dirige à recepção da Delegação Australiana, que, afinal, o edifício luxuoso é da representação austral e não americana, como eu julgava.
Pelos vistos, Claire seguiu os conselhos de Lady, não é qualquer uma que tem a sorte de ouvir bons conselhos de uma Lady, e, já no final do episódio nove, como chamariz para o décimo, ouviremos Frank, marido de Claire, a dar conhecimento a Sam de que o casal iria viajar junto, para a Europa.
O marido fez muito bem em dar conhecimento ao detetive, não só porque compartilharam a mesma mulher, como, sendo ele detetive, nunca se sabe não iria Sam andar a vasculhar do paradeiro de sua amada. Assim já ficou a saber, não precisa de procurar!
E sobre americanos e paixonetas, lembramos Conrad, jovem agente da CIA e apaixonado por Sue Ling, que por esse enlace se deixou enlaçar nos novelos e chantagens do M16, na personagem de Mrº Miller, a quem ficou de fornecer informações dos serviços secretos americanos, o que ele cumpriu.
No episódio nove, já farto das exigências e caprichos daquela raposa matreira, praticamente mandou-o às urtigas, deixando o último envelope, supostamente sobre o Vietname, no chão.
E já que falei várias vezes sobre o nono e penúltimo episódio, falta-me abordar a especificidade do caso habitual.
Também desta vez envolveu australianos.
Uma jovem e promissora jornalista australiana foi achada esfaqueada na cama com um amigo de Sam, um aborígene herói da segunda guerra, Robert Collier, Robbo, sem que este se lembrasse de nada.
Acusado e preso, o assunto deu pano para mangas, chamou a atenção do jornalista Macca, do chefe da Delegação Australiana, certamente embaixador e lá esteve Sam e a firma detectivesca a resolverem o caso.
Só a paciência, crença e confiança absoluta de Sam no amigo e salvador do tempo da ocupação japonesa, possibilitou ao ex-soldado herói salvar-se da forca. Que muitas forças ocultas, em que os preconceitos racistas dominavam, o ex–soldado é negro aborígene, direcionavam-no para morte certa.
Afinal, o verdadeiro assassino da jovem fora um Lee Kim Fong, que assim impossibilitou a concretização dos sonhos de uma talentosa jornalista, que não chegou a sê-lo nem demonstrá-lo.
E também se deduziu que esse mesmo destrambelhado pode ter sido o assassino de Mrº Winston Cheng.
E por aqui me fico, nesta estória, contada de modo tão parcelar. Por hoje! Que está para começar o décimo e último episódio, que quero acompanhar.
Não foi um seriado muito interessante, mas viu-se com agrado.
A série continua na sua saga, que não é assim tão longa, pois as produtoras, pelos vistos, só lançaram uma temporada, na dimensão mais estandardizada, que são dez episódios!
A ação decorre, quase exclusivamente, espacialmente em Singapura e, de facto, temporalmente em 1964, quando aconteceram os célebres conflitos raciais e religiosos.
O episódio três enquadrou-se, na sua narrativa, no âmbito e no meio dessas ocorrências de conflitos entre as comunidades malaia e chinesa.
Sam Callaghan, de origem australiana, mas vivendo na Cidade, à data, ainda em vias de se separar da Federação Malaia, é um de entre os milhares de cidadãos de múltiplas origens, a viverem em Singapura e que irão constituir a base do “melting-pot”, que estruturá a nacionalidade da futura Cidade Estado e é, atualmente, a base da sua identidade.
É o personagem principal, herói da narrativa, sempre em busca de “boas” realizações, membro ativo da firma de detetives, “Cheng Detective Agency”, dirigida por Dona Patrícia Cheng. (Dona é a forma de tratamento que acho dever atribuir-lhe.)
Su Ling, sobrinha de Dona Patrícia, não sei se de sangue, se por afinidade, é outro dos elementos ativos e imprescindíveis da equipa.
Constituem uma trilogia fundamental e peculiar, irmanada na resolução de casos mais ou menos difíceis, em que se empenham como almas de anjos de bondade e altruísmo, aspergindo um pouco de harmonia num mundo tão desencontrado. Fazem a sua parte no extinguir dos fogos, tal qual o colibri! Sempre na defesa dos mais fracos e dos que “tiveram algum azar na vida”!
Kang, de quem Sam é sócio na firma de import/export, de garrafas de uísque, galinhas, discos dos Beatles e dos Rolling Stones, e do que vier à mão e possa ser transportado no barco da “empresa”, acaba por ser também envolvido nas pesquisas detetivescas, ainda que não seja da sua especial apetência.
Mas Sam, emparelhado com as suas parceiras, consegue, com a sua bonomia, envolver nas suas pesquisas as personagens mais improváveis.
Em cada episódio, empenham-se construtivamente na resolução, pelo lado mais optimista de entre os possíveis, de casos que lhes vão indo parar às mãos na Agência.
Paralelamente, vão progredindo nas pistas sobre a morte de Winston Cheng. Preocupa-os o último caso em que ele estava a trabalhar, questionam-se sobre a eventualidade do envolvimento de sociedades secretas, que era uma premissa que Winston equacionava sempre, não aceitando casos em que elas estivessem enquadradas.
Uma das recentes pistas, ou sinal eventual, apresenta-se num relógio de bolso, com foto de um casal, (Winston e Patrícia ?) que uma moça mostra a uma colega, num bar em Chinatown, no final do episódio três.
Ao findar o episódio seis, esse mesmo relógio será deixado, num envelope, à porta da Agência, por uma senhora, encoberta por lenço e sombrinha, um vestido claro, alegre e vistoso, que Dona Patrícia apenas conseguiu ver ao longe, no dealbar da esquina da Rua.
Assim se vai desenvolvendo o enredo: resolução de caso peculiar, em cada episódio e avanços, mais ou menos significativos, no caso mais geral.
No episódio três, o pano de fundo da temática enquadrou-se nos tristemente célebres conflitos raciais e religiosos, “racial roots”.
O caso particular incidiu nos novelos de um amor impossível, documentado fotograficamente por Winston Cheng, entre um rico empresário chinês, viúvo, James Lin (?) e uma senhora casada, Susana Chong (?), da alta sociedade singapuriana, mulher de um político proeminente.
Dona Patrícia Cheng, na sua ânsia de descobrir pistas sobre o assassinato do marido, Winston, e na posse dessas fotografias enigmáticas e parcelares, destemida e serenamente, não receou avançar, num riqueshaw, por entre a turba multa…
E foi mais um conjunto de situações rocambolescas em que os detetives particulares se envolveram… e resolveram.
Sempre à espreita, a espionar e espiolhar, estiveram as agências oficiais, CIA e o M16, este na pessoa da raposa matreira, Mrº Miller, que tudo espia e manda documentar fotograficamente.
Mais disfarçadamente, que até agora ainda os não vimos, estarão também os serviços secretos dos russos, dos chineses…
(…)
No episódio cinco o assunto principal incidiu sobre a falsificação de um remédio de combate à malária, cujo componente principal era traficado e posteriormente diluído, de modo a surtir menos efeito debelador da doença. Paralelamente, era transacionado no mercado negro, a preços elevados, o remédio original e eficaz, a que só podiam aceder os que tinham posses.
Nesta falcatrua estavam envolvidas, uma empresa farmacêutica de marca e renome, a empresa do marido de Claire Simpson, a West Pacific e todas as empresas a ela ligadas, australianas, americanas, inglesas; um gangue de criminosos, a própria polícia e o M16, central de espionagem inglesa.
O papel de cada um deles era diferenciado e contextualizado, mas estavam todos enrolados no mesmo esquema de falcatrua e corrupção, mais direta ou indiretamente.
Para atacar esta tramóia, mais uma vez, esteve a equipa da firma “Cheng Detective Agency”, que, neste caso, teve a colaboração de Claire Simpson, pela primeira vez contactando com a verdadeira realidade de miséria em que viviam os aldeãos que trabalhavam na firma do marido. E para os interesses escondidos em que se moviam os seus detentores.
(…)
“- A senhora expõe-me e eu exponho-a a si.” Disse Mrº Miller, o chefão do M16, para Claire Simpson, quando esta se dispunha a divulgar esses interesses conluiados.
(…)
No episódio seis a temática envolveu diretamente a sociedade secreta “Dragões Negros”.
Uma jovem, Hue Lin, neta do ancião do clã e irmã do atual chefe operacional, Kay Song, após dada como desaparecida e as consequentes preocupações dos interessados, foi localizada morta, a boiar num braço de rio.
Paralelamente, junto à porta da Agência, Dona Patrícia encontrou uma caixa de madeira, de transporte de mercadorias, contendo uma criança recém nascida, vivinha da costa.
Terão os dois factos algo em comum?!
(…)
Após Sam ter conhecimento pelo chefe da polícia, Amran, um funcionário chinês, que, apesar da sua condição de policial, sempre consegue ser prestável com Sam, de que a rapariga não morrera afogada, que a morte ocorrera antes, resultante de complicações de parto… os dois factos são ligados pelos detetives e todo um processo de investigação entrou em curso.
E, uma vez mais, a “nossa” “Agência de Detetives Cheng”, resolve o caso o mais satisfatoriamente possível.
(…)
Habitualmente, cada episódio enquadra-se num contexto cultural específico da Cidade e da narrativa e, neste, contextualizava-se em China Town, bairro dos chineses e numa sua festividade, o “Festival Chinês do Espírito Esfomeado”.
E uma criança jurou a pés juntos à sua mãe que vira esse “Espírito Esfomeado” na pessoa de Sam.
(Não admira, pois é mesmo esse ar que ele muitas vezes aparenta. Na cultura ocidental chamar-lhe-íamos “Alma Penada” / “Alma Perdida”!)
O episódio sete enquadra-se nas lutas políticas e partidárias, desta fase crucial de Singapura e no papel dos vários agentes e interesses envolvidos. (Não necessária, nem apenas ideológicos, mas também nesta perspetiva e nas lutas geoestratégicas subjacentes, pelo contolo de uma cidade charneira, num espaço em convulsão geopolítica internacional, em plena guerra fria. Confronto entre ideologias e interesses: económicos, financeiros, … envolvendo britânicos, americanos, australianos, russos, chineses, malaios...)
A luta dos independentistas, o papel dos sindicatos, a perseguição aos comunistas, …
Neste episódio reaparece o personagem do empresário chinês, do amor impossível pela dama da alta sociedade, James Lim, que pretende que a “Agência Cheng” encontre o irmão, o Professor Lim Chee Kit, acusado de ser o mandante de uma ação bombista, que apenas destruiu, simbolicamente, um brasão da Cidade e cujo efeito mais devastador foi o de ter impedido a ida ao cinema, do parzinho amoroso Conrad - agente da CIA e Sue Ling - agente de “Cheng Agency”.
(…)
Pelo meio vários nós se atam e se desatam, de amores e de amizades.
(…)
Aguardemos o episódio oito!
*******
No esquema central da narrativa, no respeitante ao enredo romanesco, perpassa o namoro entre Claire e Sam, tomando ela, no episódio seis, a decisão de abandonar o marido, para ir viver com Sam, com a sua concordância.
No episódio sete, deu conhecimento do facto ao marido, Frank Simpson, à entrada para uma das habituais festividades na Embaixada Americana (?).
Abandonou todas as suas mordomias, em troca de uma verdade sentimental, dirigindo-se para a casa do amante, Sam. Mal sabia ela, onde ele se encontrava.
Calcorreou o seu calvário, da casa de Sam, para a de Patrícia, da desta para o barco de Kang e do tugúrio deste, para outro ainda mais marginal. Nem mais nem menos, que um opiário, onde Sam jazia adormecido e entorpecido pela droga.
Veremos como ela e ele irão lidar com a nova realidade em que se envolveram, passando da de amantes clandestinos para hipotético casal de noivos, a viverem à luz do dia e com as mordomias de Sam.
Outro romance que se foi delineando, muito timidamente, cheio de incertezas e dúvidas, foi o de Conrad, agente da CIA e Sue Ling, agente de “Cheng Detective Agency”.
No episódio sete essa concretização foi confirmada pelas partes envolvidas, personagens a quem e só a quem deveria interessar e deveria ser selada com uma ida ao cinema. Deveria, digo eu, porque não chegou a ser…
Que esse namoro mal nasce e já está sentenciado pela ação e prepotência da agência de espionagem inglesa, M16, na pessoa de Mrº Miller…
Que chantageia Conrad com o conhecimento comprovativo do passado estudantil falseado de Sue e as ações do jovem namorado, Conrad, para apagar esse passado forjado por um amigo despeitado da rapariga.
Veremos no que dá essa chantagem para que Conrad vigie a sua própria agência, CIA e dê informações ao M16!
Singapura, pela sua situação geográfica, pelo momento histórico que se vivia, pelos conflitos que no mundo se digladiavam na designada “guerra fria”, ocupava à data, no espaço e no tempo, uma posição de charneira, no contexto geo político, económico e financeiro e era, por isso, um ninho de vespas de espionagem e contra espionagem.
*******
Para finalizar, abordo a estrutura técnica da narrativa.
A sequência técnica da narrativa fílmica assenta sempre no mesmo esquema estrutural.
Inicia-se cada episódio com um resumodos anteriores, apresentando excertos breves, pequenos trechos fundamentais, relevantes para o que será abordado e desenvolvido.
Em seguida, um brevíssimo prólogo do episódio a ser apresentado.
Posteriormente, surge o “Genérico” da Série.
Inicia-se, então, o “Desenvolvimento” da narrativa do episódio em causa.
No final, deixam sempre um prenúncio do que surgirá em episódio posterior.
Série dramática, numa coprodução australiana – singapuriana: (ABC – Australian Broadcasting Corporation e HBO Asia – Home Box Office).
A ação decorre em Singapura, onde também foram filmados, maioritariamente, os vários trechos. Data de 2013, englobando dez episódios previstos, uma temporada.
O tempo da narrativa situa-se na primeira metade da década de sessenta, em 1964 (?), período conturbado daquela Cidade Estado, situado entre a proclamação das respetivas “independências”: do Reino Unido e da Federação da Malásia. Saída da administração colonial inglesa, conflitos raciais: “race riots”, surgimento de movimentos comunistas…
Tempos tumultuosos, como aliás têm sido os do pós-guerra, por todo o mundo.
Auge da “guerra fria”, numa região charneira onde se digladiam os campos opostos.
Regiões que haviam sido ocupadas pelos japoneses na 2ª grande guerra, e como foi selvagem essa ocupação no Extremo Oriente (!) Personagens marcadas por essas experiências traumáticas.
Mas a série consegue ser otimista nos vários desfechos que foi tendo nos dois episódios que já decorreram.
Deste modo, a RTP2 mudou o rumo das séries, e fez bem em mudar; apresentando esta, ocorrendo no Extremo Oriente, numa zona nevrálgica de entrecruzamento de culturas: chinesa, malaia, indiana, javanesa, ocidental... Com um elenco também multicultural e multirracial.
(De qualquer modo, não posso deixar de questionar, melhor, interrogar-me, sobre esta mudança de “rumo” da RTP2, rendendo-se às grandes produtoras.)
Todavia, assim, dá lugar a novas panorâmicas e esta série apresenta-se bastante “luminosa”.
Isto é, algumas das últimas séries europeias,”Amber”, “A Fraude”,“Jordskot”, “A Mafiosa”, “1992”, a que se prevê, “Gomorra”, apresentam, a maioria delas, problemáticas bem realistas e muito importantes de nos mostrar, como denúncia deste atual mundo macabro em que vivemos, mas acabam por não nos dar quaisquer sinais de redenção possível.
Bem sabemos que essa é a Verdade! Mas, nos seriados, uma certa “ilusão” não deixa de embelezar um pouco a narrativa e torná-la mais aliciante e apelativa.
E esta série, “Serangoon Road”, traz algum otimismo no conteúdo. Digamos que é uma série “à moda antiga”.
O personagem principal é Sam Callaghan, ator Don Hany. Um “herói” australiano, defensor dos justos e lutando por ideais altruístas, ajudando os elos mais fracos. Tem uma firma de importação / exportação com um parceiro chinês, viciado no jogo, presa fácil nas teias das seitas de jogo chinesas.
Sam também está bem marcado pela sua experiência de vida, que em criança foi preso e torturado pelos ocupantes japoneses.
A estrutura global da narrativa gira à volta da morte de Winston Cheng, dono de uma Agência de Investigação, cujo presumível assassinato, a esposa, Patricia Cheng, atriz Joan Chen, quer investigar e descobrir as razões motivadoras, assumindo ela a direção da “Cheng Detective Agency”.
Os fios dessa pesquisa vão-se desenrolando gradualmente, episódio a episódio, mas como é apanágio nestes seriados, só será, supostamente, desvendada a verdade no derradeiro, o décimo. Pouco a pouco, vamos sabendo mais um pouco!
Sam Callaghan ajuda, de forma altruísta, a senhora Cheng. E esta o que pretende é que se faça Justiça. Friso esta afirmação, proferida pela senhora, uma chinesa muito bonita e serena. Este ideal é crucial, pois, contrariamente ao que se propala habitualmente nestas filmografias, ela não pretende vingança, mas sim Justiça!
Há uma diferença acentuada na mensagem subliminar.
Em cada episódio ocorre um caso particular que a Agência, em que além de Patrícia também trabalha uma sobrinha, Su Ling (?), procura resolver com a ajuda de Sam.
No 1º episódio livraram da morte um marinheiro americano, negro, que era acusado injustamente, por outros marinheiros, brancos, de outro ramo da armada americana, da morte de um colega branco, de quem ele era o melhor amigo.
Graças a Sam, ao seu colega da firma e à empresa de detetives, ele foi salvo da morte por afogamento a que os verdadeiros culpados o haviam destinado.
No 2º episódio, uma senhora chinesa que fora casada em Singapura, também com um chinês, até 1942, data da invasão japonesa, regressou da China, em 1964, à procura do marido que entretanto se casara com uma javanesa, de quem tinha uma filha.
Só neste parágrafo se vê a complexidade da narrativa que eu estou a simplificar.
Cabe explicar que à senhora, na sequência da invasão pelos nipónicos, o marido enviou-a para a China, para junto dos pais, na expetativa de a poupar das atrocidades dos invasores. Entretanto a guerra acabou em 1945, a China, sujeita às mudanças ocorridas, fechou as fronteiras e a senhora ficou lá retida, só tendo conseguido fugir quase vinte anos depois.
Ao regressar de barco a Singapura e a salto, como se costuma dizer e literalmente falando, a senhora deparou-se com muitos obstáculos que, mais uma vez, Sam e a sua equipa conseguiram resolver a contento e de forma positiva.
E deprende-se ser esta a característica do enredo da série.
Vão surgindo situações mais ou menos complexas em cada episódio, que vão sendo resolvidas positivamente, enquanto aos poucos, também se vai destrinçando o enredo fundamental.
Resta dizer que o “Herói”, como qualquer um que se preze, também tem uma namorada, melhor, “um caso”, com uma senhora casada, Claire Simpson, não sei ainda se inglesa se americana, esposa de Frank Simpson, negociante, que se ausenta frequentemente em viagens.
Oportunidades para Sam e Claire irem pondo o amor em dia, que, afinal, moram na mesma Rua, Serangoon Road, que intitula o seriado e que fica entre “Little India”, bairro de indianos e “Kallang”, bairro residencial. Como eles se irão desenvencilhando deste novelo, veremos…
Nos subterrâneos da narrativa e da vida da cidade e da rua, uma seita de chineses, “O Dragão Vermelho”, numa estrutura de clã, que controla o jogo e os “negócios”, naquela parte da Cidade.
Ainda ligado ao campo das investigações, noutra perspetiva, mas também colaborando, encontramos Macca, ator Tony Martin, jornalista australiano, amigo de Sam, ajudando-se mutuamente, trocando favores recíprocos.
Naquele espaço e contexto temporal, não pode faltar um agente da CIA, Conrad Harrison, ator Michael Dorman, jovem agente que, além das investigações inerentes ao seu cargo, também investiga sobre a possibilidade de arrastar a asa à sobrinha de Patricia Cheng, cujo nome ainda não tenho a certeza.
E tendo sido Singapura uma peça imprescindível do “British Empire”, e recentemente independente, não podem faltar os representantes de Sua Majestade, arrumando as malas, de regresso a casa.
E, por agora, é o que posso perorar sobre a narrativa da série.
Já há muito tempo que não escrevia sobre séries, ainda pensei escrever sobre “1992”, mas preguicei.
Recomecei com esta nova, que só ainda decorreram dois episódios. Que acho divertida de acompanhar. E apetece-me, e faz bem, seguir uma temática assim um pouco mais ligeira do que tem sido habitual nos últimos tempos.
Acompanhe-me também nestas narrações, se faz favor!
(As imagens têm registadas as respetivas fontes. As dos bairros são atuais, não são da época. Se quiser ver algo da época, faça favor de consultar este vídeo. Obrigado pela sua atenção e paciência.)