Há quem do Tejo só veja
o além porque é distância.
Mas quem de Além Tejo almeja
um sabor, uma fragrância,
estando aquém ou além verseja,
do Alentejo a substância.
Há quem do Tejo só veja
o além porque é distância.
Mas quem de Além Tejo almeja
um sabor, uma fragrância,
estando aquém ou além verseja,
do Alentejo a substância.
Simone de Oliveira com Patrícia Reis – 3ª Edição: Novembro de 2013, Matéria-Prima Edições.
Tinha curiosidade em desbravar o livro.
E assim foi. Entre 5º e 6ª feira, foi lido, nalguns excertos relido. Muito bem escrito, muito bem contado, estórias da vida da Artista, multifacetada, umas mais apimentadas que outras. Simone é incontornavelmente uma figura pública da Cultura Portuguesa, desde os inícios dos anos sessenta. Música, teatro, canções, espetáculo.
Tinha pica na leitura, ademais bem contado e bem escrito, melhor se lê.
(Só assisti, melhor, assistimos, a um espetáculo ao vivo com a Simone, aí pelos inícios dos anos noventa, 91 ou 92 (?), nas Ruínas do Convento do Carmo.)
Mas em televisão, na rádio, desde meados de sessenta, principalmente 65, passou a fazer parte do nosso universo musical e do nosso imaginário.
Tinha uma voz que arrepiava. Em 69, foi aquele deslumbramento, aquela canção, aquele poema, aquela música, aquela interpretação. Arrebatadora!
Interessante a explicação, dada pela própria, sobre essa interpretação e o relacionamento dela com Henrique Mendes (pag. 46).
Anos sessenta, início dos setenta… a vivermos em ditadura, com todas as restrições à Liberdade, em todas as suas vertentes: pessoais, cívicas, sociais, políticas, culturais. Computadores, internet, redes sociais, revistas cor de rosa, “big brother”, tudo isso era ficção. Jornais, revistas, meios de comunicação, jornalistas tinham outra postura. Também estavam condicionados à censura, não havia liberdade de expressão. Falava-se nas ligações dos artistas, de boca em boca, exagerava-se até, mas pouco publicavam sobre a vida particular. Menos ainda os próprios a divulgavam, como agora, que mostram tudo, da raiz do cabelo até à unha do pé.
Bem, no livro, passados tantos anos, é interessante ler o que a Artista conta sobre essa emblemática interpretação com que ganhou o festival de 1969! Os acontecimentos tinham outra repercussão. Presenciámos, vimos em direto na TV, aquela atuação! Aquela garra!
Depois, a perda da voz, acompanhámos essas truculências da vida. A recuperação, numa forma diferente. Lembro-me perfeitamente do festival de 73, em que voltou a participar. (Até houve um concurso, promovido não sei se pela Emissora Nacional se pelo Rádio Clube Português, sobre uma das canções, penso que “Minha Senhora das Dores”.) O Ary quase monopolizou o Festival, escrevendo a maioria das letras.
Também fala da “rivalidade” com Madalena. E também da amizade entre ambas. Existindo, certamente. À data, realçava, de facto, essa picardia entre as duas. Existisse ou não, era muito alimentada pelos meios de comunicação da altura. Rainhas da Rádio, Rainhas disto e daquilo. Nunca votei nesses concursos, não tinha acesso aos respetivos cupões, não abundava o dinheiro para gastar em trivialidades, nem elas existiam no fim de mundo aonde vivia, aonde vivíamos todos, nesses tempos obscuros. O mundo da época, segunda metade da década de sessenta, não tinha nada a ver com o de hoje. Mas lembro-me, era miúdo, do Festival de 66, ganho pela Madalena e, eu, na altura, torcia por ela e pelo “Ele e Ela”.
Estas coisas podem parecer futilidades sem importe, mas naqueles tempos, pouco havia com que se interessar. Houve o célebre Mundial de 66, nesse ano na Inglaterra. E como foi empolgante e como se criaram tantas expectativas, goradas no fatídico jogo com a equipa anfitriã. E como Eusébio chorou e com ele chorámos.
Mas estou a perder-me do livro…que não aborda o futebol.
Mas aborda muitas mais coisas e mais importantes. Mas fará o favor de procurar o livro, adquirir, para oferecer às suas Velhotas ou Velhotes. E lê-lo, primeiro, antes de oferecer.
Acontecem regularmente eventos culturais, de diversos âmbitos, sendo que, por vezes, é difícil escolher em quais participar, dada a sua simultaneidade.
Foi o que aconteceu, ontem, sábado, dia dezasseis de Janeiro, da parte de tarde.
Entre os vários que me podiam despertar a atenção, houve dois que me cativavam muito especialmente, a horas relativamente simultâneas, em dois locais emblemáticos, no que a este aspeto se refere: Cultura!
No C.I.R.L. – Clube de Instrução e Recreio do Laranjeiro, programava-se uma Sessão de Cante, com diversos Grupos Corais, do Alentejo Interior e do Alentejo da Diáspora. Grupos Masculinos e Femininos!
Na Oficina da Cultura, em Almada, previa-se uma Sessão de Poesia - “O que é a Poesia?”, integrada no Programa da Exposição do 21º Aniversário de A.A.C.A. – Associação de Amigos do Concelho de Almada.
Ambas prometiam. Balançava entre os dois acontecimentos. A qual deles assistir? Ir um pouco a cada um, o que acabaria por resultar em não ficar de coração em nenhum deles?!
Para onde acham que balancei mais?!
O ideal é quando estes eventos ocorrem em tempos diferentes. Ou ainda melhor, quando, no mesmo evento, se juntam as duas vertentes: Cante e Poesia!
Bem, comecei por ir ao C.I.R.L., estavam os Grupos a chegar e a sala a compor-se, mas já com bastante gente. Ficar, não ficar?!...
Acabei por ir para a Sessão de Poesia, a que assisti na totalidade, não me consegui desligar, dado o interesse que me suscitou, só tive pena de não ter “dito” um Poema, apesar de ter havido apelos nesse sentido, pelo organizador, ao público presente.
No final, ainda passei novamente pelo C.I.R.L., mas a Sessão de Cante já terminara. Um “Compadre” trajado à moda alentejana e ao modo alentejano de bem receber, me incentivou a ir ao 1º andar, ao beberete, que o pessoal estava nos comes e bebes. E até fui, observei, mas não fiquei. Sinceramente, nestas cenas nunca me sinto muito à vontade. E fui-me embora.
Aguardo outra sessão de Cante!
E, como já referi, em boa hora, fui à Sessão de Poesia, a que assisti, e que passarei a relatar alguns aspetos essenciais.
Subordinou-se ao tema “O que é a POESIA?”
Após as apresentações e explicações prévias e enquadrantes do evento, decorreram as intervenções substantivas propriamente ditas, conforme o previsto.
O Professor de Literatura, Gabriel Silva, teceu uma narrativa magistral, subordinada ao tema em epígrafe, num discurso claro e apelativo, riquíssimo de conteúdo, num didatismo de exemplar maestria, e de uma enorme simplicidade explicativa e compreensiva, mas extraordinariamente rico em termos de substância ideativa, que fascinou todos os ouvintes.
A partir de exemplos muito concretos, de três objetos que expôs e nos mostrou para elucidar a sua narração, objetos, de maior ou menor valor, mas significativos e significantes para si, e cumulativamente para nós, através do seu discurso, do seu narrar e da sua forma de narrar, nos fez entrar, encadear, enfeitiçar, qual Xerazade, numa história de um rei sofrendo de um encantamento, provocado por um anel. (…) (…)
“Esse anel de encantamento é a Poesia!”
Uma narração e uma história que mereciam ser passadas a escrito, talvez até estejam, não sei… Não tive oportunidade de dialogar posteriormente.
Houve oportunidade de intervenções, e todas elas foram elogiosas para o palestrante e para a palestra. (Acho este conceito pobre… Lição, de Mestre, é mais preciso. Mestre, no sentido clássico do termo.)
Nem que fosse apenas para “beber” esta Lição, valera a pena ter ido à Oficina!
E deu-se início à divulgação de POESIA!
Ana Neto deu-nos a conhecer Poesia de Manuel Alegre. Gil Marovas declamou um Poema sobre Catarina Eufémia!
Seguiram-se Momentos Poéticos, a cargo da “Tertúlia Poética” – “As Portas que Abril Abriu”, com Vicktor Reis e a colaboração musical de Helder Charneira e João Azenha.
Disseram Poesia o próprio Vicktor Reis, também apresentador destes momentos poético-musicais, e ainda Maria Teresa Reis e Irina Bettencourt.
Cantou e encantou Beatriz Grilo!
Esta apresentação poética e musical, que estes artistas levam a efeito em vários contextos culturais, consistiu em prestações de poesia entremeadas de canções.
Irina declamou Poemas do livro “Cem Poemas para salvar a nossa Vida”, uma Antologia poética organizada por Francisco José Viegas.
Declamou “Quem não ama não vive”, de António Boto e “A brevidade dos rostos da vida”, de Gregório de Matos.
Beatriz cantou-nos sempre belas e saudosas canções, estruturadas sempre em belíssimos Poemas, apelando à nossa participação.
Lembrou-nos “Lisboa, menina e moça” e “Traz um amigo também”.
Maria Teresa Reis disse dois Poemas de sua autoria, dedicados ao Mar. “Louvor ao mar” e “Em busca de Neptuno”.
Beatriz voltou a estar em cena, cantando “Canção de madrugar” e “Maio, maduro Maio”.
Voltou novamente Irina, dizendo, “Eu cantarei um dia de tristeza”, de Marquesa de Alorna e “Formoso Tejo meu”, de Francisco Rodrigues Lobo.
Seguiu-se um interlúdio musical, “Musicó”, protagonizado pelos solistas Helder Charneira e João Azenha.
Maria Teresa, defendendo a tese que um dos domínios da Arte é também o Sonho, deu-nos a conhecer outro Poema da sua autoria “Utopia”.
Vicktor Reis além das apresentações também foi chamando o público à participação, mas ninguém se abalançava a tal. (Eu próprio estive para isso, mas não me atrevi!)
E, então, o apresentador também desempenhou papel de “diseur” ou “dizedor”? E disse o Poema “Que flores são estas?”, que não sei se é de sua autoria ou não.
E estava para se processar o encerramento com mais uma canção de Beatriz, quando esta anunciou que um amigo iria dizer uma Poesia.
Um jovem, Leonardo Faria, que disse uma Poesia, composta de três quadras, de um Amigo (Imaginário?). “Construi-me a mim próprio…” No final, confidenciaria ser de sua autoria.
Registo aqui uma particularidade neste Poeta, além do facto de ser jovem, mas nesta Sessão estiveram vários jovens, ressalto o seu processo de leitura. Enquanto nós, os “cotas”, lemos de um papel A4, ou de um livro; os mais dotados de memória, declamam ou dizem de cor, este, jovem, leu do telemóvel.
Pois, muito bem, gostei, e porque é jovem, continue, que o que escreve é bonito, disse bem, e a Poesia precisa de gente que a divulgue a partir do telemóvel. É sinal que se adapta à modernidade!
E, para finalizar em beleza, com “chave de ouro”, Beatriz brindou-nos com a belíssima “Desfolhada”, que o público teve o grato prazer de acompanhar.
Este post está ilustrado com uma digitalização do convite para a Exposição da A. A. C. A. – Associação dos Amigos do Concelho de Almada, amabilidade de “João Flávios”, a quem agradeço.
Mas fico a aguardar uma fotografia, ou várias, da Exposição, para ilustrar num post específico.
É imprescindível visitar esta Exposição!
E ainda volto a uma alfinetadela que gosto de colocar nestes textos, quando escrevo sobre “CULTURA LOCAL”.
Porque é que as televisões generalistas, especialmente as privadas, transmitem tanta… tanta… tanta quê…?!
“Nós Somos um Poema” / “Língua – Vidas em Português”
“Augusto Boal e o Teatro do Oprimido”
INTRÓITO
Terminou no domingo, 26 de Julho, a 10ª Mostra do Cinema Brasileiro, no Auditório Fernando Lopes-Graça, no Fórum Romeu Correia – Almada.
Estão de parabéns os organizadores pois proporcionaram a oportunidade de visualização de excelentes filmes e documentários sobre temáticas atuais ou relativamente recentes, assistir a prestações/representações de grandes artistas, alguns de nomeada, mas também outros que me eram praticamente desconhecidos. Oportunidade de relembrar músicas e canções, algumas integrantes do imaginário coletivo, desde os anos sessenta e setenta do século passado. Presenciar autores, atores, cantores e compositores, músicos, escritores, dramaturgos, cidadãos anónimos que, de viva voz, ainda que alguns já possam estar ausentes, nos evidenciaram como viva está a Cultura que se exprime nas várias Línguas, cuja matriz de base é o Português.
Gosto de ver os elencos de todos os participantes nas obras apresentadas, até porque no final, enquanto passa o genérico, aproveito para usufruir da música e é extraordinário constatar a imensidão de gente que é necessária para produzir qualquer documentário ou filme!
E não posso deixar de frisar que o acesso a todos estes espetáculos foi livre!
Talvez alguns reparos.
Bem sei que já está toda a gente com ar de férias, mas alguns destes espetáculos talvez merecessem algum debate posterior, não sei… digo eu.
Independentemente do eventual ou hipotético debate, que até poderá ser considerado excessivo, porque o importante é, de facto, fruirmos dos espetáculos, contudo acho que poderiam fazer uma breve avaliação, através de um simples questionário facultativo, a ser apresentado aos espetadores, no final.
Do conjunto de obras que vi, categorizam-se em dois grupos.
- Os filmes: “Vendo ou Alugo”, “Divã”, “Os 12 Trabalhos”, “Tapete Vermelho”.
- Os documentários: “Nós Somos um Poema”, “Língua – Vidas em Português”, “Augusto Boal e o Teatro do Oprimido”.
Dos últimos filmes que vi, destaco o último, com que a Mostra fechou com chave de ouro!
Uma excelente comédia, de 2006, do realizador Luiz Alberto Pereira, cujos atores principais mal conhecia. Matheus Nachtergaele, no papel excecional de Quinzinho, cujo sonho é levar o filho a ver um filme de Mazzaropi (1912 – 1981), o “Carlinhos”/Charlot, brasileiro, num cinema de uma qualquer cidade do Estado de São Paulo, onde ele esteja passando… No cumprimento de uma promessa que fizera a seu pai, que também o levara a ver filmes desse cómico.
No objetivo de realizar esse sonho, deixa a sua rocinha, no interior sertanejo de São Paulo, arrastando a família: a mulher - Zulmira, o filho - Neco e o burro, Policarpo, quatro Jecas ingénuos, trasladados de um tempo remoto dos anos cinquenta, confrontando-se com as realidades de um Brasil em constante transformação, do início do século XXI.
Num mundo em que os seus sonhos têm um difícil cabimento, mas em que apesar de tudo ainda são suscetíveis de realização, usando precisamente as armas do mundo globalizado. Pois, no final, todos reveem, com alegria, os filmes do cómico, numa sala lotada de um cinema Pathé.
O filme é suscetível de múltiplas leituras.
Uma delas é a homenagem a esse astro do cinema brasileiro, cuja carreira se desenrolou precisamente a partir de 1959, até à sua morte, 1981.
Também o encararia, numa perspetiva de “realismo fantástico”. A mulher, Zulmira, mulher de poderes; as personagens episódicas, sugestionando o “Maléfico”.
Não poderei deixar de frisar, nesses curtos trechos do filme, a relação dessas crendices com as superstições portuguesas de igual teor. Os pés de cabra do demo, o seu esfumar-se, os supostamente poderes que ele daria a quem se deixasse por ele pertencer. A mamadeira da cobra…Tradições medievas, ainda e também há pouco tempo presentes na cultura popular do interior de Portugal.
As personagens também me lembram o universo felliniano. A sua ingenuidade, o seu calcorrear de saltimbancos anacrónicos em busca da realização de um sonho, o percorrer de um espaço e de um tempo, num mundo a que já não pertencem, mas em que procuram um lugar para materializar as suas aspirações, sem desistirem de sonhar.
A criança, na sua vitalidade e deslumbramento só me lembra Giulietta Masina.
E à realização do sonho de verem projetado o filme do seu ídolo e herói, segue-se o projeto de outro: cumprir a promessa à Senhora da Aparecida.
Nestes filmes, as músicas são algo de extraordinário!
Se tiver oportunidade, não deixe de assistir a este filme, num cinema perto de si! Ir-se-á divertir imenso!
Para além deste, os filmes, “Vendo ou Alugo” e “Divã”, também se integram no género comédia.
Com elencos de atores excecionais. (O que me custa escrever esta palavra sem o p!)
“Vendo ou Alugo”, de 2013, realização de Betse de Paula, relata as peripécias para a venda de uma mansão carioca antiga, junto da qual foi sendo construída uma favela, o que dificulta a respetiva transação.
Pertença de uma família de quatro mulheres, de quatro gerações, coabitando o mesmo espaço já um pouco decrépito, sem recursos suficientes para viverem segundo os seus antigos padrões de vida. Pelo que a avó sobrevive de expedientes, mais ou menos legais.
Contracenam nos correspondentes papéis familiares: Nathália Timberg, bisavó; Marieta Severo, avó; Sílvia Buarque, mãe e Beatriz Morgana, neta. E ainda, para além de outros atores, Marcos Palmeira, no papel de habitante e traficante da favela.
Há ainda o pastor, a empregada, o “coisa ruim”, as artistas do jogo da “canastra”…
História de múltiplas peripécias cheias de humor.
Imperdível de ver!
Só como nota final, gostaria de referir que alguns dos intervenientes neste filme têm também laços de parentesco na vida real.
“Divã, de 2009, do realizador José Alvarenga Jr, tem como atriz principal Lília Cabral, num soberbo desempenho, contracenando com José Mayer, para além de outros atores, também conhecidos das novelas.
É também uma excelente comédia de uma mulher de meia-idade, bem casada, bem vivida, aparentemente feliz consigo mesma e com a vida que leva, que de uma forma muitíssimo divertida e inteligente se (re)descobre a si mesma, através da psicanálise.
Cinco estrelas!
“Os 12 Trabalhos”
O título reporta-nos para o mito grego dos doze trabalhos de Hércules.
Porque o herói desta saga se chama de Héracles, papel principal desempenhado pelo jovem e promissor artista, Sidney Santiago e porque o seu trabalho de moto-boy na selva da cidade de São Paulo é um trabalho hercúleo dos tempos atuais.
Insere-se no género drama e mostra-nos como se desenrola a vida humana (humana?) na selva urbana desta metrópole brasileira e de como é crescer, fazer-se homem ou herói (?) da mitologia moderna.
E, este é um filme que também não deve perder, logo que esteja num cinema junto a você!
Ver filme em cinema não tem comparação com ver em TV e muito menos na internet.
É de 2007, realizado por Ricardo Elias.
Para além dos filmes resumidamente analisados, também projetaram os seguintes documentários:
“Nós Somos um Poema”
“Língua – Vidas em Português”
“Augusto Boal e o Teatro do Oprimido”.
Através deles muito perpassou do Brasil, de Portugal e de Países de Expressão Portuguesa.
“Nós Somos um Poema”, de 2007, é um pequeno documentário, mas extremamente rico de história da Música Popular Brasileira - MPB. Dos realizadores, Sergio Sbragia e Beth Formaggini.
Relata episódios da gravação do filme “Sol Sobre a Lama”, de 1963, de Alex Viany, incidindo sobre a parceria entre Pixinguinha e Vinicius de Moraes que compuseram a respetiva banda sonora, que ficara inédita.
Com imagens do próprio filme, gravações da época, por ex. a cantora Elza Soares a interpretar uma das modas num programa de rádio; para além de gravações atuais dessas canções, por netos dos referidos parceiros da MPB. E relatos de figuras significativas sobre esse trabalho desses dois génios da Música.
“Língua – Vidas em Português”, do realizador Victor Lopes,de 2002.
Um extraordinário documentário sobre a Língua Portuguesa. Ou melhor, parafraseando Saramago, é sobre as Línguas que se expressam em Português.
Não direi que é um documentário completo e exaustivo. E será isso possível, dada a riqueza da nossa Língua e a sua dispersão e difusão pelo Mundo, numa escala global?
Mas documenta, significativamente, como as Línguas que se expressam em Português se disseminam pelos vários Continentes e documenta-nos novidades completamente desconhecidas.
Ignorava de todo que, no Japão, houvesse para cima de cem mil pessoas que falam o Português. Migrantes de torna viagem, provenientes do Brasil.
Apresenta depoimentos de escritores e artistas, Mia Couto, João Ubaldo Ribeiro, Martinho da Vila, José Saramago, para além de cidadãos comuns que fazem as suas vidas expressando-se nesta Língua centenária, mas em constante transformação.
Na Índia, em Moçambique, no Japão, no Brasil, em Portugal…
Aqui, no Continente, não só o depoimento dos autóctones, mas também de imigrantes de Países das Comunidades de Língua Portuguesa, sediados ou em trânsito pela “Capital do Reino”, expressão antiga e desatualizada, mas que traduz a caraterística de Lisboa como cidade de acolhimento, desde a época dos Descobrimentos.
Significativa a opinação de Saramago, prestada com imagens de Lisboa em fundo…
E em que local foram feitas as filmagens?!
Pois, precisamente. Em Almada. No Cais do Ginjal!
Este é um filme documentário, é um registo histórico-social que não direi completo.
Precisa de documentar outros registos espaciais de expressão do Português, por ex. nos países de emigração de portugueses: na Europa, nas Américas, na África.
Também em Timor-Leste. Também em São Tomé…
Documentar também outros contextos sociais de expressão da Língua e das Vidas em Português.
Mas acho que é um recurso ótimo em salas de aula, nas Escolas, e não só em Portugal.
Oxalá! Titulo da canção de Teresa Salgueiro e dos “Madre de Deus”.
- “Augusto Boal e o Teatro do Oprimido”,2010, do realizador Zelito Viana.
Outro documentário histórico e social, imperdível sobre este modelo de Teatro e o seu criador e continuadores. As suas várias facetas intervencionistas, os seus espaços, tempos e modos de atuação cultural à escala global.
A sua ação político-social em contextos diversificados, no Brasil, em Países da América, da Europa, da África, da Ásia.
Com depoimentos do próprio Augusto Boal e familiares seus, de artistas como Edu Lobo e Chico Buarque e de outros intervenientes e seguidores, para além de excertos de dramatizações efetuadas por grupos que agem e interagem segundo este modelo de Teatro, pelos mais diversos locais do Mundo.
Todos estes documentários e filmes são de alto valor, tanto no plano artístico como documental, no conteúdo e forma como expressam estéticas e éticas das diferentes épocas, desde a segunda metade do século XX.
E que transcendem, em muito, o Brasil, pois neles se espelham também outras expressões culturais, com especial relevância as de matriz portuguesa e sul-americana.