Quadras Tradicionais IV - “Cantigas” de Amor e Desamor!
“São saias, meu bem, são saias…”
Preâmbulo:
Voltamos, no blogue, à Poesia.
À Poesia popular e tradicional.
“São saias, meu bem, são saias
São saias que andam na moda
Cautela-te amor, não caias
Que as saias não têm roda.
Gosto de ouvir cantar
Moças da fala toeira
Quando chegam aos arraiais
São as que ganham bandeira
Amar e saber amar
Amar e saber a quem
Amar a luz dos teus olhos
Não ter amor a mais ninguém.
Janelas avarandadas
Mora lá algum doutor
No caminho me disseram
Que era a mãe do meu amor.
Ó minha mãe, minha mãe
Ó minha mãe, minha amada
Quem tem uma mãe tem tudo
Quem não tem mãe não tem nada.
Eu gosto de ti, não sei
Não sei se isto é gostar
Sei que me sinto feliz
Quando te ouço falar.
Foste dizer ao meu pai
Que eu andava a namorar
O meu pai te respondeu
Que a inveja faz falar.
Foste dizer mal de mim
Ao rapaz que me namora
Se muito me queria antes
Muito mais me quer agora.
Malva rosa, malva rosa
Malva rosa sem ter pé
Quem te disse, ó malva rosa
Que o meu amor era José.
Maria, Isabel e Ana
Rosa, Teresa, Rosalina
Júlia, Josefa, Damásia
Antónia, Bernarda, Jaquina.
Francisco, por ti me arrisco
Por ti perco o meu valor
Se foras padre Francisco
Eras o meu confessor.”
NOTAS:
Estas quadras ou “cantigas” populares eram cantadas nos bailes e arraiais de Aldeia da Mata, nos anos quarenta, ainda nos anos cinquenta, do século XX, pelas raparigas, segundo a “moda e o estilo das saias”.
Os arraiais eram no meio da rua: Largo do Terreiro; no “Santo António”, perto da Cruz; à porta da Ti Rosa Bela.
Havia pessoas que cantavam muito bem: a Joaquina Amélia, a prima Rufina também cantava bem e, noutro tempo, também a Ti Natália cantava muito bem.
Nos arraiais habitualmente só se cantava. Umas cantavam melhor, outras pior.
Também cantavam ao desafio.
Os bailes eram feitos nos salões.
Nos salões eram fundamentalmente os tocadores de concertina que estruturavam os bailes.
Os salões que havia nessa época eram:
O Salão Martinho – era na Estrada Nova.
O Salão Trindade – era na Rua da Travessinha.
Nos bailes nos salões também se cantavam estas “cantigas”, nos intervalos em que descansava o tocador.
Havia também a “Sociedade”, que era para os “Mestres” e para as raparigas convidadas, era para as pessoas “consideradas mais finas”.
Na Sociedade também tocavam a grafonola.
E também se faziam bailes nas casas particulares, a que iam tocadores de harmónio.
Na Aldeia, os tocadores de harmónio, na época, eram: o Mestre Alfredo, o Ti Joaquim Branco, o Ti “Chanfana”.
Estas quadras, “cantigas”, eram fundamentalmente cantadas pelas raparigas, embora algumas pudessem ser cantadas indiferentemente por rapazes e raparigas.
Os rapazes cantavam outras.
E também cantavam ao desafio.
O Srº Manuel Mendes também cantava muito bem.
As raparigas também cantavam estas quadras / “cantigas”, quando andavam a trabalhar, tanto no campo, como em casa. E mesmo sem se estar a trabalhar, estando a conviver.
No campo: na azeitona, na monda, nas desfolhadas. E no caminho da ida e volta do trabalho também se cantava.
Toda esta recolha de “cantigas”, bem como estas informações, foram prestadas por D. Maria Belo Caldeira (04/11/1928).
Foto original de D.A.P.L. – “Malva Rosa” – 2016.