“Ronaldo à venda por 100 milhões”
Ponto Prévio:
Ao escrever num blog, ainda que fazendo-o da forma peculiar como o faço, um pouco arredio do “modus operandi” deste contexto comunicacional, não posso deixar de, por vezes, “interferir” nesse mesmo enquadramento de comunicação e refletir ou opinar sobre acontecimentos mais ou menos mediáticos, de caráter universalista e global.
E haverá assunto mais universal e global que o futebol e especificamente quando se trata do jogador Cristiano Ronaldo?!
Daí que não posso deixar de comentar a seguinte notícia:
“Ronaldo à venda por 100 milhões”
Pedro Carreira
15/05/15
“O Real Madrid está disposto a deixar sair Cristiano Ronaldo no final da época. A direção liderada por Florentino Pérez já deu indicação a Jorge Mendes, agente do jogador, para começar a tratar da venda, mas nunca por menos de 100 milhões de euros.” (…)
Não posso deixar de frisar. Chocante, não?!
Não só pelo valor numérico. 100.000.000 de euros!! São muitos zeros à direita de cem.
Mas pela situação, em si mesma.
À VENDA!!! Uma Pessoa à venda, pois é suposto que de uma Pessoa se trata, que é posta à venda como se de uma mercadoria qualquer se tratasse.
Bem sei, que não é uma qualquer mercadoria.
Mas o sujeito em questão é posto à venda pelo clube a que pertence, através do seu presidente de direção que transmitiu essa intenção ao intermediário das vendas. Como se fosse um produto, de alto valor diga-se, mas um objeto de uso, que deixa de interessar. Para todos os efeitos é disso que a venda trata.
O facto de a futura e provável transação envolver pelo menos cem milhões de euros, valor de troca, deixa de ser a venda e compra de uma pessoa? Um “dono” que vende e outro que irá comprar?
O facto de envolver uma organização importante, neste caso, um clube de nomeada, deixa de ser uma pessoa, representante de uma empresa, a vender outra pessoa sobre a qual tem posse, tem direitos de propriedade?!
Como se designa uma estrutura social em que pessoas são donas de outras pessoas?! Tem um nome não tem?! (…)
Bem sei que no futebol é assim que funciona “grosso modo”, que os jogadores assinam contratos, que tomam decisões, têm agentes é certo, mas em última instância são os próprios que decidem, mas de quem é o “passe”?!
Qual o contexto de autonomia que tem o jogador na tomada de decisão?
Os clubes têm ou não “direitos de propriedade” sobre os jogadores?!
É um contrato negocial inter-pares em plano de igualdade e reciprocidade ou os clubes têm efetivamente o direito de “posse” sobre os jogadores?
Será que o modelo negocial e funcional do futebol não poderá comportar uma estrutura mais civilizacional, mais democrática, menos a lembrar modelos de sociedades ancestrais em que homens eram donos de outros homens?! Quicá!
Ler também:
P.S.
– Não deve ser fácil a um qualquer jogador de renome e valor mundial viver a permanente pressão a que está sujeito, não só no contexto de execução das suas funções, o jogo em si mesmo, o desporto propriamente dito, com todas as acutilâncias que o definem, mas todo o enquadramento social, mediático, todas as vivências associadas e os reflexos que têm no jogador enquanto ser humano, pessoa com todas as suas forças e fraquezas…
Em que medida a ida da “partenaire” se terá refletido no rapaz? E vê-la e sabê-la, que os media estão sempre a comentar, já “noutra onda”, que reflexos teve no seu mar?!
Enquanto durou o “affaire”, ganharam ambos, mas não venha ela dizer que não “cresceu” profissionalmente através da “ligação” que manteve com o “craque”…
Mas tudo isto são “fait-divers”… Mas, por vezes, também temos que “entrar nestas ondas”.