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Aquém Tejo

Há quem do Tejo só veja o além porque é distância. Mas quem de Além Tejo almeja um sabor, uma fragrância, estando aquém ou além verseja, do Alentejo a substância.

Há quem do Tejo só veja o além porque é distância. Mas quem de Além Tejo almeja um sabor, uma fragrância, estando aquém ou além verseja, do Alentejo a substância.

«O Chamiço, antiga freguesia do Priorado do Crato» (I)

 (Cap. I)

pelo Prof. Manuel Subtil

in. “A Mensagem”. p.5

«Em muitos mapas corográficos de Portugal, figura, ainda hoje, como freguesia do Crato, a velha povoação do Chamiço, situada a meio de uma linha recta cujos extremos são Vale do Pêso e Monte da Pedra.

E contudo o Chamiço desapareceu há muito tempo como povoação, e há mais tempo ainda como freguesia.

Quem, indo da Torre das Vargens, viajar pela linha de Cáceres, que atravessa o distrito de Portalegre, poderá ver, à esquerda, entre as estações da Cunheira e de Vale do Pêso, quando já se avista o perfil airoso da Serra de S. Mamede, uma espessa mancha de arvoredo, constituído por azinheiras, principalmente o cercado de velhas paredes. São as Tapadas do Chamiço.

Em tempos passados, essas tapadas denunciariam, logo de longe, a existência ali de uma povoação; porque no antigo Priorado do Crato, onde predominava o regime compáscuo, só eram permitidas tapadas nas proximidades dos povoados, para uso exclusivo dos seus habitantes. Tudo o mais era aberto e livre.

Situado num vale sem horizonte, em sítio pedregoso e triste, onde os terrenos são de fraca produção, o Chamiço foi sempre povoação pequena.

Assim, quando, em 1527, o rei D. João III ordenou que os Corregedores das seis Comarcas do reino mandassem proceder ao arrolamento de todos os moradores, achou-se que o Chamiço tinha trynta e seys moradores (a). Em 1708, segundo a Corografia Portuguesa do Pe. António Carvalho da Costa, tinha só 22 fogos.

Era, porém, freguesia mais antiga do que Monte da Pedra, que não existia ainda em 1527, e até mais antiga do que Flôr da Rosa, que só foi elevada a sede de freguesia em 21 de Setembro de 1749, por Decreto do Grão Prior Infante D. Pedro, irmão do rei D. José.

A igreja era pequena e só tinha três altares, no século XVI, com duas portas: uma na modesta fachada, outra lateral. Anexa à igreja havia uma pequena sacristia, em comunicação directa com o altar-mor.

Era orago da freguesia o mártir S. Sebastião, cuja imagem – que ainda existe, já retirada do culto, na igreja paroquial de Vale do Pêso – era muito venerada, como advogada contra as epidemias, tão frequentes naqueles tempos.

Não havia baptistério: a pia baptismal estava a um canto do corpo da igreja, à esquerda da porta principal, e esta era voltada para poente, como as da maioria dos templos católicos.

No vértice da empena da frontaria estava colocada a única sineta existente, sob uma pequena cúpula apoiada em quatro colunelos.

Os moradores do Chamiço eram, na sua maioria, pobres trabalhadores que, ou serviam como criados ou viviam de apascentar gado – lanígero principalmente – próprio ou alheio.

Como acabou a freguesia do Chamiço? Porque desapareceu uma povoação que, apesar de pobre e pequena, se manteve durante alguns séculos independente?»

(…)

*******

(a)– Mestrados e priorado do Crato em Alentejo – Arquivo Nac. Da T. do T. Gav.5, M.I, nº 47.

*******

(Notas: Segui o mais fielmente o original do Jornal. A divisão em capítulos pretende estruturar a leitura nos postais. Não tenho fotos de minha autoria do Chamiço.

Remeto para outros postais em Aquém Tejo e Apeadeiro da Mata. S.F.F.

E, também.)

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