Há quem do Tejo só veja
o além porque é distância.
Mas quem de Além Tejo almeja
um sabor, uma fragrância,
estando aquém ou além verseja,
do Alentejo a substância.
Há quem do Tejo só veja
o além porque é distância.
Mas quem de Além Tejo almeja
um sabor, uma fragrância,
estando aquém ou além verseja,
do Alentejo a substância.
Entrou em vigor, hoje, uma nova Lei que, no âmbito do Código Civil, categoriza os animais numa outra perspetiva, deixando de ser considerados, perante a Lei, como “coisas” e perspetivados como “seres vivos dotados de sensibilidade”.
Legalmente, não duvido que, no papel e, em teoria, há um progresso.
Na prática faltará mudar comportamentos, a começar, em primeiro lugar, pelos de muitos “donos” de animais.
Que os animais não são coisas, que são seres vivos dotados de sensibilidade, julgo que a grande maioria das Pessoas conscientes sempre teve noção desse facto.
Muitos “donos” de animais não!
Reforço esta afirmação, basta observarmos os respetivos procedimentos face aos animais em variados contextos.
Uma que me ocorre imediatamente, também já aqui levantada, situa-se no procedimento futuro das autoridades, dos poderes instituídos, quer a nível central, quer a nível local, perante “espetáculos” em que os animais são objetivamente torturados perante milhares de “seres ditos humanos” para respetivo gáudio e contentamento e, em muitos casos, esses acontecimentos são ainda transmitidos televisivamente. (?)
Haveria muitas outras questões que poderia levantar, nomeadamente sobre este assunto mais específico e também sobre a questão mais geral. Seria um nunca acabar de interrogações, algumas já referenciadas em textos anteriores.
Não quero deixar de abordar uma última, por agora, meio em jeito de sério e também a ironizar. Lá vai!
Quando se fala em animais, tal a diversidade e riqueza da Terra neste âmbito, a que animais nos referimos? Apenas àqueles que habitualmente são considerados no contexto de “domésticos”, ou a todos, desde o mosquito ao cavalo?!
*******
E nem ou mesmo a propósito, ontem, a RTP2 transmitiu mais um dos seus excelentes Programas.
(Lembrar-me-á, caro/a leitor/a, que há muito não abordo nada sobre séries. É verdade. Tenho visto algumas, tenho seguido “1992”, que nos prepara para “Gomorra”, mas não me tem puxado ainda para a escrita.)
Bem! Mas, ontem, a RTP2 transmitiu o filme documentário “Sal da Terra” sobre Sebastião Salgado, a sua trajetória de vida e a sua Obra!
Uma vida heroica, uma Epopeia, a sua Vida e a Obra artística produzida.
Um registo histórico e documental, através da lente fotográfica, sobre a Humanidade, o Ser Humano, a Vida e a Morte, a Condição Humana, nalguns dos seus registos mais trágicos e aterradores; noutros, na sua capacidade de redenção e subsistência nos limites inimagináveis, para quem vive vidas comuns.
A inserção e comunhão do Humano no contexto da Natureza e dos outros Seres Vivos, igualmente “Obras” da mesma “Criação”: “Génesis”.
Sublime!
Apesar de em muitos dos “relatos”, “Koweit”, “Jugoslávia”, “Ruanda”, ser aterrador!
Aterrador, pela capacidade, loucura descomunal, do “ser humano” ao infligir tamanho sofrimento, tamanha atrocidade ao seu semelhante e tamanha destruição na Natureza! E como essa prática é recorrente, acontece nos nossos dias, sem qualquer justificação plausível, e ocorre bem perto de nós!
Este refletir podia levar-nos para o primeiro ponto da crónica e ainda e também através de outra pergunta.
Sendo, supostamente (?), o Homem, o Ser Vivo mais inteligente à face da Terra, conhece algum outro Ser que provoque tamanha destruição do seu Semelhante e do Ambiente em que vive e de que depende a respetiva sobrevivência?!
(…)
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E ainda…
E sobre essa “nova categorização” dos animais e contrapondo à condição humana.
E em quantas situações e quantos milhares, milhões, de Seres Humanos não levam uma existência desprovida de quaisquer direitos, muito menos que coisas, em vidas e condições abjetas, abaixo do limiar das condições de sobrevivência?
Com quantas Pessoas, seres Humanos como nós, não nos cruzamos, no nosso dia-a-dia, nos mais diversos locais das nossas cidades, em situações por demais problemáticas e a que maioritariamente “olhamos” indiferentes?
E quantos de nós não nos sentimos já tratados como “objetos descartáveis”, mesmo e até por quem e pelas entidades que nos deviam tratar como Seres pensantes, de ideias, ideais e afetos, de inteligência e sensibilidade e nos consideram meros números, eventualmente consumidores, ávidos de coisas e de dinheiro para comprá-las?!
E com esta questão, termino. Muitas outras ficam na gaveta...
E lembro que hoje é “Primeiro de Maio” – “Dia do Trabalhador”!
E remeto para o que já escrevi.
P.S. – Depois das três da tarde, fui a uma conhecida superfície comercial que anunciou os célebres mega descontos percentuais. E não constatei a loucura do primeiro ano!
A vida, e especificamente a vida em sociedade, para além do plano de realidade e materialidade em que se contextualiza, está também normalmente enquadrada no plano do simbólico. Não só do que realmente é, mas também do que significa ou que se pretende que signifique a nível social.
Desde tempos remotos que o Homem, a Humanidade, procura encontrar e atribuir significado(s) à existência diária, à(s) rotina(s) do dia a dia. Ao longo dos milénios, o Homem foi deixando marcas desses significados ou da procura/busca de significação para a sua existência.
Os múltiplos e variados monumentos megalíticos deixados por culturas milenares, as pinturas rupestres atestando vivências de há milhares de anos, são alguns dos exemplos materiais mais antigos dessa busca de significação para a existência e rotinas diárias.
As várias culturas dominantes, ao sobreporem-se sobre as anteriores, vão incorporando conceitos dessas mesmas culturas “dominadas”. Os romanos incorporaram elementos de cultos antigos, nomeadamente na Península Ibérica. O Cristianismo teve idêntica atitude, cristianizando/sacralizando os dias, os lugares, as festividades, os cultos romanos e pré-romanos, integrando-os num contexto cristão. Todos os dias foram santificados. Todos são dedicados, pelo menos a um santo. Os dias mais “santificados”, habitualmente, têm subjacentes outros cultos mais antigos, dias e noites que já eram significativamente importantes em culturas mais ancestrais. E esse simbolismo, apesar de não explícito atualmente, está muitas vezes implícito, digamos, num “inconsciente coletivo”, apesar de não consciencializado na prática diária.
Todos os meses têm os seus simbolismos, uns mais recentes, outros mais antigos. E sempre as sociedades, no seu evoluir e fluir constantes, vão “construindo” datas, dias, a que vão atribuindo significados e significações mais ou menos duradoiras, mais ou menos perecíveis e voláteis. A sociedade atual, caraterizada essencialmente pela materialidade, pela volatilidade, mobilidade e mudança e pelo consumismo, traço dominante da nossa sociedade atual, de um tempo ainda relativamente recente, tem marcado os dias, cada dia como “um dia especial”. Hoje é “DIA de…”
Hoje, e vi nos blogues, é “Dia do Silêncio”… Seria uma oportunidade para estarmos, hoje pelo menos, um pouco mais calados. E a Comunicação é, por vezes, tão “ruidosa”!…
Mas foi precisamente hoje, “Dia do Silêncio” que mais me apeteceu falar, melhor, escrever, eu que tenho andado arredio da escrita, também dedicado a outros afazeres e também ao descanso.
Mas falava de MAIO…
Maio, mês das “Maias”, do “Maio”, dos “Maios”. No e do “1º De Maio”.
Maio também incorpora o “Dia da Mãe” e também tem outros dias de nomeada, nomeadamente no plano religioso. É também o “Mês de Maria”… O treze de Maio. Também já foi de comemorar o “28 de Maio”… Fez parte da nossa História… Também, neste mês, quando, no campo, os nossos progenitores trabalhavam de sol a sol, era também, no primeiro de Maio, o 1º dia de sesta. Alguém saberá o que é isso, excetuando um ex Presidente da República, que ainda continua por aí a “dizer das suas”?! Talvez precisamente por causa da sesta…
E numa época em que tanto nos preocupamos com a saúde, também é "Mês do Coração". E dia doze, "Dia do Enfermeiro". (...) Também se comemora o "Dia Internacional da Família" e o "Dia internacional dos Museus".
E "Dia da Espiga", Quinta Feira da Ascensão...
Enfim... Voltando ao início...
O Dia primeiro de Maio é um dia de muitos e antigos significados. Uma das significações mais recentes associa-se às lutas dos trabalhadores por melhores e mais dignas condições de trabalho e de vida. A partir das lutas operárias do século XIX, continuadas no século XX. Pelas Américas, pelas Europas…
Em Portugal, antes de 1974, era de luta clandestina, era reprimido comemorar esse dia. Não era permitido de festejar. Mas era uma aspiração a que o fosse.
O primeiro “1º de Maio” em Liberdade, em 1974, foi um dia de luta, mas também de festa, de fraternidade. Passou a ser feriado nacional. Posteriormente, os tempos foram mudando. Ainda que seja feriado, em muitos contextos socio-profissionais deixou de o ser. “…Todo o mundo é composto de mudança…” nem sempre para melhor.
Há setores que se justifica, em que é imprescindível que os funcionários trabalhem, ou pelo menos alguns deles, de modo a assegurarem os serviços fundamentais. Hospitais, por ex.
Mas há outros que é completamente desnecessário, ou pelo menos é prescindível. Por ex., haverá alguma necessidade imperiosa para que as grandes superfícies comerciais estejam abertas no 1º de Maio?! Mas é isso que acontece. Uma conhecida superfície comercial, que dispensa que a nomeie, pois não me paga nem precisa que eu faça publicidade não só abre, como faz promoções excecionais. Há dois anos foi uma verdadeira loucura.
Este ano os sindicatos do setor programaram greve, e esta era uma greve inteiramente justificável, diga-se. Mas segundo depreendi, pelo menos de acordo com o que observei no supermercado que me fica mais perto, a adesão terá sido pouca. Estava cheio de gente a comprar e com bastante pessoal a trabalhar.
Então questiono-me sobre o que é que representa, hoje, o 1º de Maio?!
Continuam a ser promovidas manifestações mais ou menos festivas, mais ou menos de lutas…
Mas o Dinheiro que rege as nossas sociedades, o Consumismo que nos devora a todos e nos consome na nossa febre de consumir, determina o nosso modo de viver, rege os nossos comportamentos, condiciona as nossas atitudes, superintende os nossos valores. E somos todos escravos do consumo.
Será, agora, o 1º de Maio mais um dia para dedicarmos à veneração do “Deus Dinheiro”, para festejarmos numa das “Catedrais do Consumo”?
Outros significados, diversas significações, diferentes simbolismos.
Esperemos que, um dia… não tenhamos saudades do Feriado do 1º De Maio!