Há quem do Tejo só veja
o além porque é distância.
Mas quem de Além Tejo almeja
um sabor, uma fragrância,
estando aquém ou além verseja,
do Alentejo a substância.
Há quem do Tejo só veja
o além porque é distância.
Mas quem de Além Tejo almeja
um sabor, uma fragrância,
estando aquém ou além verseja,
do Alentejo a substância.
De certo modo já me tinha imposto não voltar a escrever sobre Futebol.
Mas é lá isso possível?! Consigo lá resistir a deixar um comentário nalgum post de algum blogue que ache mais interessante?!
Foi o que ocorreu, anteontem, dia dezoito, quando li alguns posts sobre a “bomba” há muito anunciada e esperada, que rebentou lá para Londres, para os lados de Chelsea… e que estilhaçou à escala global. E cujos ecos também aterraram neste blogue!
Mourinho fora despedido…
E, ao ler os posts: “O Exemplo José Mourinho”, no Blogue “Rabiscos de um Maldisposto”; “Mourinho…Real?”, no Blogue “Lados AB” e “José e o pecado original”, no Blogue “Bolas e Letras”; não resisti a deixar alguns comentários.
E, é com base nesses comentários que quero “alinhavar” algumas ideias avulsas sobre o tema… num post específico em “Aquém-Tejo”!
A ocorrência da saída de Mourinho vinha-se anunciando… A situação internamente era insustentável! Diria até, péssima! Apesar das imagens de auto e hetero confianças mútuas…
Só se aguentou tanto tempo, porque... envolvia muitos milhões, conforme se viu na sequência do despedimento. Fora a situação outra, e as "partes" não se teriam aguentado tanto tempo, nem a "corda teria esticado" tanto! Mais cedo teria havido a famigerada "chicotada psicológica".
Porque, hoje, no futebol, o que conta é só e apenas o Dinheiro. "Money! Money!"
E nenhuma das partes quereria abrir mão do dinheiro… Finalmente lá terão chegado a acordo.
Quanto a regressar a Madrid ou a outro qualquer Clube de topo, o “metal” soará sempre mais alto. A publicidade, o marketing, o merchandising… O Real Madrid é uma montra, cheia de manequins e modelos, em todos os sentidos. Se o "pilim" troar a jeito, vai para Madrid ou outro lado qualquer, que não lhe faltarão clubes...
Quem dera a todos os desempregados, por esse Mundo fora, terem indemnizações milionárias e empregos à espera...
Que são esses mesmos "desempregados" que também alimentam "Treinadores Únicos" e "CRsetes"!
Quanto a Eva estar na origem do “pecado original”, na “origem de todos os males”, é o que diz a “mitologia” judaico-cristã! E também a islamita, acho eu, pois temos todos de ascendente o "Patriarca Abraão", cuja ascendência primitiva seria precisamente o "Pai Adão e a Mãe Eva"!
No caso vertente… a questão com a médica terá sido o despoletar de muitas situações, nomeadamente no balneário, ou não?! Estarei enganado?!
Como dizem os franceses… “Cherchez la femme!”
Pelo menos, e por agora, o clube voltou às vitórias.
E ao afirmar isto, com tudo isto, friso, que não deixo de ser admirador de Mourinho!
Resolvo ilustrar este tema, não com alguma imagem futebolística, mas, talvez paradoxalmente (?), com a reprodução de uma pintura de MASACCIO, representando “Adão e Eva a serem expulsos do Paraíso”!
E esta imagem é plena de metáforas.
Que isto da Vida não é só futebol... Também é Arte!
Partindo ainda do pressuposto da questão formulada ontem, isto é, que Sua Excelência o Senhor Ministro da Educação, o atual ou o que provavelmente se seguirá numa próxima legislatura, nunca irá ler a pergunta que coloco hoje…
Assente nessa premissa, e apesar disso, não deixo de questionar novamente.
E lecionar numa Escola de uma Zona Suburbana, maioritariamente enquadrada em Bairros Sociais, turmas de início de 2º Ciclo, 5º ano, com alunos provenientes de diferentes Escolas do 1º Ciclo, maioritariamente habitantes desses bairros, de famílias com bastantes dificuldades das mais diversas ordens: económicas, sociais, de integração. Alunos carenciados inclusive na alimentação básica, para além das carências afetivas e relacionais, tão comuns nessas idades e meios; provenientes de famílias disfuncionais, muitas monoparentais, progenitores ausentes física e psicologicamente; pertencentes a etnias, raças diversas; de diferentes nacionalidades e língua materna de base também diferente; de religiões também diferentes.
E com todas as dificuldades acrescidas nestes tempos de Crise: Progenitores desempregados, falta de meios de subsistência…
E, acrescente-se, integrar um naipe assim diversificado e constituir uma turma de 30 alunos!
Terá, Sua Excelência, o Senhor Ministro de Educação, ideia do que é ser Professor e ser Aluno numa Turma assim constituída?!
E ser Pai e ter Filhos numa Turma assim de 30 alunos?
Divulgamos hoje o nosso post nº 50. Que é também o 1º trabalho que colocamos em 2015. E, como não podia deixar de ser, pois também é esse o nosso propósito, damos a conhecer neste enquadramento uma poesia sobre o nosso Alentejo.
Este conjunto de vinte e seis quadras foi escrito em 1982, numa época em que trabalhava no Alentejo e resultaram da observação poética da planície transtagana nessa altura. Alguns aspetos ter-se-ão modificado. Atualmente há realidades que, à data, eram ainda ficção científica. De qualquer modo é um flash desse tempo nesse espaço, que nos é tão querido e idealizado.
ALENTEJO
Horizontes infinitos
Extensões de montados
Manchas de olivais bonitos
No meio, campos lavrados.
Campos a perder de vista
Vista do cimo do monte
Altaneiro como crista.
No vale, a horta e a fonte.
Montes quase abandonados
Sem caseiro nem patrão
Pois carros motorizados
A casa trazem o aldeão.
Casas de branco caiadas
Barras azuis e amarelas
Cheias de esmero, asseadas
Alegra os olhos vê-las.
Rasteiras, bem alinhadas
De quando em vez solarengas
Varandas, janelas bordadas
Casas, nossas avoengas.
Chaminés de sol e lua
Portas de cantaria
Abrindo a casa à rua
Dão beleza à frontaria.
Ruas de casas juntinhas
Fazem terras afastadas.
De noite é ver as luzinhas
Dar vida à planura, encantadas.
De dia banhadas pelo sol
Alegria e tormento
A brancura dum lençol
A secar na planície, ao vento.
Do Alentejo aldeias
De gente calma e fagueira
Amiga de trocar ideias
Embora nem sempre à primeira.
Gente mais moça abalando
P’ra Lisboa e outras bandas.
Os mais velhos vão ficando
Até que Deus queira, em bolandas.
Pela manhã, o Destino
Os leva à soalheira
Aquecer sangue latino
Que já falta companheira.
Durante a manhã, as comadres
Dominam as ruas mercando
E estando fora os compadres
Com as amigas vão conversando.
À tarde e à noitinha
Após um dia de trabalho
Homens enchem a tendinha
Causa de brigas e ralho.
Mas após tanta fadiga
No campo, a maioria
Faz bem beber uma pinga
Dá esquecimento e alegria.
Terminar a cavaqueira
Que à janta a mulher chamou.
Esperar sentado à lareira
Que a novela começou.
Migas, açorda e mais
Sopa de cachola e tomate
De miolos, gaspacho, é demais
Tanto pão e tanta arte.
Hoje não é tanto assim
Comida vai variando.
Borba, Redondo, enfim
Rico tinto acompanhando.
Após a janta, o descanso
Que amanhã é de trabalho.
Antes, um breve remanso
Aquecendo-se ao borralho.
De manhã o sol levanta
Trabalhador para a jornada.
Dantes a pé, agora espanta
A quem tem motorizada.
Lavoura, azeitona e cortiça
São trabalhos desde outrora.
Conforme a época, a liça
Novas culturas agora.
O tomate, o girassol
Culturas de regadio.
As barragens são um rol
Mas não chegam p’ró sequio.
Os serviços na cidade
Algumas indústrias também.
Desemprego, ansiedade
De quem quer algum vintém.
Pau bucho, chifres, cabaças
Argila, pedrinhas e linho
Nelas, flores e sonhos traças
Objetos de amor e carinho.
Trabalho feito com as mãos
Na cortiça, ferro ou barro.
Homens de arte, artesãos
Ourives de bilha e tarro.
Mas artistas todos são
De pincel ou de trator
Na tela ou terra chão.
Basta trabalhar com amor.
Amor que a nós, Homens, une
E à terra que nos viu nascer.
Mais nos liga que nos desune
Todos juntos a conviver.
Escrito nos inícios de 1982.
Publicado na VII Antologia do Círculo Nacional D’Arte e Poesia, 2003.