Círculo Nacional D’Arte e Poesia
Antologia
Continuamos com a divulgação da Poesia publicada na 13ª Antologia de Poesia do CNAP, 2015.
Neste post nº 264, damos a conhecer, “Poeta Caminhante ”, de Maria Ana Tavares , Arronches.
"Poeta Caminhante"
"Vai, com as estrelas,
Sua luz de encantamento
E o luar e o mar e o vento…
Seu manto de silêncio e solidão
Abre-se a acordes de harmonia
Oriundos do além-crer,
Vindos em sonhos de infinito…
Seu coração vive e respira
A música que só ele escuta,
A beleza que só ele entende,
A luz que só ele apreende,
Em tudo à volta que se lhe oferece,
Para dar a tudo que vive e sente…
E vai, em seu caminho
De ardentes rosas, radiantes,
Que para ele se abrem ao passar,
Cercando-o de perfumes cambiantes
Em seivas de espinhos transformantes
Enquanto vai, mais e mais adiante,
Em sua busca, que o faz sempre ir…
Poeta ástreo e solitário,
Criatura errante, ensimesmada,
De olhos para lá do horizonte,
Caminhante do tempo e das estrelas,
De coração aberto ao Universo
Que, inteiro, se abre em seu caminho,
Dando-se em rimas de cósmica visão…
E vai, figura em trevas-luz envolta,
Em busca do adiante etéreo
Que ao longe entende, sem o alcançar,
Sonhando asas que o levem lá,
Vibrando rimas que o façam Ser,
Escutando, intuindo, andando,
Até poder, até morrer, até viver…"
Maria Ana Tavares, Arronches.
Ilustramos com um desenho original de F. M.C.L., de inícios deste milénio.
“Vai, com as estrelas, / Sua luz de encantamento/ …” (M. A. T.)
Ler também: Caminhadas .
E Ícaro .
POEMA FIGURADO (III)
Perdido de si
Há muito quedado estava, ali, naquela ilha.
Náufrago do desejo, da incerteza, do saber, do não saber
como fazer, do ser.
Aportado, só, se apossara dele a ansiedade, o medo,
a dúvida, o desespero.
Uma palmeira, simples companhia
alimento duma alma dolorida.
Em redor, o mar…
A água mãe, a mãe das águas
as primeiras águas…
O líquido primeiro, de que fomos e de onde nascemos.
Memória ancestral, primórdio da existência
Repetida por cada ser nascido, renascido…
O rebentar das águas…
O libertar das águas
E a prisão primordial das águas. Sempre!
E tamanha a solidão, a angústia.
Finalmente, um barco!
Um cargueiro, um barco de guerra…
Pouco importa.
De momento, é um barco
E com ele a salvação.
(Hipotética, apenas.)
Perdido, nos caminhos de si
Enorme a barba, de isolamento
Ergue os braços, gesticula, acena, pula
Chama a atenção, grita, pede socorro, ajuda
a quem passa.
Pouco importa que barco, de carga ou cruzador.
Há que tirá-lo da ilha-prisão em que se encontra.
Inocência a sua!
Revelar-se assim aos outros. Descobrir-se.
Dizer-se desesperado, faminto, pedindo ajuda…
Cheio de fome de’amor.
Criancice a dele.
Comportamento infantil.
Há que riscar tudo.
Tapar, esconder com garatujas, riscos,
a verdade.
Esconder. Revelar. Esconder.
Tapa – Esconde – Revela – Descobre.
É um desenho de criança
Não é um desenho para a sua idade.
Há que recalcar
mas descobrir
deixar antever, tapando,
o desespero
a angústia
a solidão
em que se encontra.
Um Homem só, barbudo
numa ilha
Uma palmeira. O mar em volta
p’lo mar envolta.
Lá longe… o sol e umas gaivotas.
E quase próximo, um barco
pouco importa cruzador ou cruzeiro.
Há que pedir-lhe ajuda
Para sair da ilha.
Há muito quedado está, ali, naquela ilha!
Escrito em 1988.
Publicado em “A Nossa Antologia”- X Volume – A.P.P. – Associação Portuguesa de Poetas - 2002.
POEMA FIGURADO (II)
Um ramo de flores para a Mãe
A paisagem agora… era
um ramo de flores:
margaridas, violetas, campainhas.
Um “bouquet”, como sói dizer-se.
O simbolizado da água era o seu destino.
Oferecido à água, seu altar, alter-ego.
Ressaltava a forma, a noção d’espaço, profundidade.
Um laço, carregado, as segurava pelo caule
Um laço de enlace, de liga, ligação,
De aperto, estreiteza, afecto de coração.
Escrito em 87/88.
Publicado em “A Nossa Antologia”- X Volume – A.P.P. – Associação Portuguesa de Poetas - 2002.
"Mãe é Mãe", diria D.A.P.L.
Desenho de Picasso 23.5.61
In: lucidatranslucida.blogspot.com
Hoje, continuamos com um poema que também procura ganhar um sentido mais espacial.
É a versão manuscrita. E foi inspirado num desenho.
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Nota : Versão deste poema publicada em - “A Nossa Antologia” – APP – Associação Portuguesa de Poetas - X Volume - 2002 .
https://aquem-tejo.blogs.sapo.pt/exposicao-de-poesia-visual
Hoje, voltamos à POESIA!
Mas, numa perspectiva diferente.
Continuamos com trabalhos da década de oitenta. Mas com Poesia procurando tanspor a realidade textual, apenas grafema, possível fonema... limitativa da mensagem que se pretende transmitir.
Voltamos a ÍCARO, mas agora um poema desenhado, conquistando outro espaço, pronto a voar...
Uma das versões do tema e também já publicado.
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(Uma versão deste poema desenhado foi publicada no Diário de Noticias em 1987.)
https://aquem-tejo.blogs.sapo.pt/exposicao-de-poesia-visual
http://aquem-tejo.blogs.sapo.pt/syriza-e-icaro-20653
http://aquem-tejo.blogs.sapo.pt/la-no-cimo-entre-nuvens-19938
Riscos … E rabiscos
Caem estrelas, das mãos duma criança
Flores semeia numa folha d’esperança
Com o lápis assenta o bico duro…
Brotam rabiscos desenhados no futuro.
Arado lavra a folha de papel…
Um mar suave pintado sem pincel.
Emergem riscos projetados nesse mar
Neles, p’rá criança, golfinhos a nadar.
Mais além… Rabisca outros traços
Talvez nós, talvez laços
Enleados em baraços.
Mas não! Não há qualquer confusão!
Ladrando, aqui, está um cão.
Ali e acolá, em branco… espaços…
Mas logo, logo já… Nestas linhas, nestes maços
Estão meninos aos abraços.
E, nesta garatuja… Antes que nos fuja…
Um gatinho a miar
Mais longe… num céu aberto
Pombinhos a voar.
Um xi-coração
Uma festa, um afago…
Tudo risco, nada apago
Deste afeto que te trago
Em cada traço, cada risco
Garatuja e rabisco
Traçado p’la minha mão!
Publicado em :
Boletim Cultural Nº __do Círculo Nacional D'Arte e Poesia, Junho 2002.
“A NOSSA ANTOLOGIA” – Associação Portuguesa de Poetas, XI Volume, 2003