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Aquém Tejo

Há quem do Tejo só veja o além porque é distância. Mas quem de Além Tejo almeja um sabor, uma fragrância, estando aquém ou além verseja, do Alentejo a substância.

Há quem do Tejo só veja o além porque é distância. Mas quem de Além Tejo almeja um sabor, uma fragrância, estando aquém ou além verseja, do Alentejo a substância.

"Ciclo de Cinema Católico” - Fórum Romeu Correia - Almada

6º “Ciclo de Cinema Católico” 

 

Fórum Municipal Romeu Correia

Auditório Fernando Lopes Graça

Almada

 

9 a 13 de Dezembro de 2015

21h 30’

 

(Entrada Livre)

 

Já tenho divulgado neste blogue várias iniciativas culturais realizadas no Concelho de Almada. Uma parcela pequena das que efetivamente se realizam. Das que tenho o grato prazer de assistir.

Uma parte efetivamente diminuta das possibilidades que esta Cidade nos oferece. Também nem de todas me debruço nos posts.

Solar Zagallos Almada - Foto original DAPL.  2015jpg

 

Não será demais frisar novamente que “Almada é uma Cidade de Cultura e Arte”!

Nos mais variados e diversos contextos em que estes termos podem ser equacionados…

 

Um dos campos culturais que mais me motivam é o Cinema, a 7ª Arte, nos seus vários enquadramentos.

No Fórum Romeu Correia decorrem, ao longo do ano, vários Ciclos de Cinema.

Já aqui me debrucei sobre o 10º Ciclo de Cinema Brasileiro.

Outros decorreram entretanto, mas que não assisti.

 

Está a decorrer, conforme título em epígrafe, o 6º “Ciclo de Cinema Católico”.

 

Tangerines   in c7nema.net.  jpg

 

Ontem, tive o grato prazer de assistir ao filme estoniano/georgiano, “Tangerines”, de Zaza Urushadze.

 

Já foram exibidos os filmes “Um Homem para a Eternidade”, de Fred Zinnemann e “Os Olhos da Ásia”, de João Mário Grilo.

 

Prevê-se, para hoje, sábado 12 de Dezembro, o filme “Timbuktu”, de Abderrahmane Sissako.

 

O filme de ontem, 6ª feira, e o de hoje, sábado, substituem o inicialmente previsto “Os Dez Mandamentos I e II”, de Roberto Benigni, que não pôde ser apresentado, segundo me esclareceram, porque tiveram um problema com a legendagem do original.

 

Amanhã, domingo dia 13 de Dezembro, está previsto o admirável filme soviético “Andrei Rublev”, de Andrei Tarkovsky.

Lembro-me de o ter visualizado, quando foi estreado em Portugal, na década de oitenta, 1983, no saudoso Cinema “Quarteto”.

 

Sobre este Ciclo de Cinema e a sua designação, gostaria de questionar.

 

Que sentido faz nomear este Ciclo de Cinema como “Católico”, apenas Católico?!

 

Tenho consciência que a organização pertence a pessoas e estruturas da Igreja Católica, ponto final. Presumo que de Almada. Mas esse aspeto, per si, justifica o nome?!

 

Não será reducionista “etiquetar” o Ciclo como “Católico”?!

A temática da filmografia é muitíssimo mais alargada, sob todos os aspetos, tanto num contexto espacial como temporal. Em todos os âmbitos culturais. E sociais. Religiosos até!

Num contexto de “Mundo Global”, o título do Ciclo limita muito e “à priori” restringe demasiado os assuntos, os temas, os problemas que posteriormente são abordados nos filmes que são riquíssimos e muito bem escolhidos.

 

Será que não faria mais sentido designar o “Ciclo” com um título mais abrangente e mais globalizante, tanto no que respeita às temáticas, como aos objetivos, salutares, frise-se, que este “Ciclo de Cinema” nos proporciona?!

 

Se fosse intitulado de “Cristão” seria mais abrangente tanto espacial como temporal e culturalmente. Ainda assim seria reducionista.

 

Se a designação fosse “Ecuménico”, o título aproximar-se-ia cada vez mais do conteúdo e móbil do Ciclo, mas ainda assim não abrangeria toda a riqueza ideativa da respetiva filmografia.

 

Talvez, e repito talvez, o termo “HUMANISTA” seja o mais adequado. Apesar de nos podermos também interrogar se com esta palavra, ao centrarmos o tema no “HOMEM”, não estarmos também, de algum modo, a restringir a ideia de “DEUS”.

E a “idealização divina” perpassa sempre explícita ou implícita nas temáticas abordadas.

Mas não terão os credos religiosos na sua base o “HOMEM” na sua elevação para “DEUS”?

E não é o Homem que importa “trabalhar”, para o fazer “alcançar” Deus?!

 

Um contraponto à crescente "desumanização" das Sociedades.

 

Deixo estas reflexões à consideração dos organizadores.

 

Ah! E Parabéns pelos belos e excelentes filmes que nos proporcionam!

 

 

 Nota Final: Foto original de D.A.P.L. - Solar dos Zagallos, Sobreda, Almada, 2015.

 

 

 

Adão e Eva

ADÃO e EVA

 

No Paraíso, inocentes… Adão e Eva

Estavam. Eram.

Duas crianças no Éden… da Infância.

Desconhecendo. Desconhecendo-se.

 

Não diz o mito, mas…

O que em Adão é serpente

Tentou a Eva.

E, nas crianças, fez crescer o Homem e a Mulher.

 

A Mulher – Maçã deu de seu fruto de Afrodite

Ao Homem – Adão.

E o Homem, da Mulher provou…

O fruto.

Ambos comeram da maçã… Da Árvore da Sabedoria.

Igualaram-se aos Deuses.

 

Conheceram. Conhecendo-se.

 

E o Paraíso Perdido foi… na Infância

Eternamente gratificante na Memória

Dos Homens.

 

 

Escrito em 1989.

Publicado em: Boletim Cultural Nº 47 do Círculo Nacional D’Arte e Poesia, Jul. 1997.

 

 

 

Albrecht_Dürer_-_Adam_and_Eve_(Prado)_2.jpg

 

Adão e Eva (1507), pintura de Albrecht Dürer (1471 - 1528); Museu do Prado, Madrid - wikipédia, enciclopédia livre

ADEUS!

Adeus: A Deus

 

Nos fios do telégrafo, do telefone

Aos magotes, em fila, empoleiradas

Já se juntavam as andorinhas.

Numa chiadeira ampliada a microfone

Chegando-se umas às outras, encostadas

Quase enchiam várias linhas.

 

Linhas, tantas linhas

Percorrendo as folhas dos cadernos…

Carinhos de cuidados sempre eternos.

Caminhos de letras, a soletrar

A descobrir, a conjugar

Formando palavras, ideias

Compartilhando, trocando, vivendo a meias

Amigas, amizade, de amar.

 

E, as andorinhas sobre as linhas, a chilrear

A soletrar.

 

E, adeus disseram… palavra difícil de achar

Mais difícil de dizer.

 

Adeus… Até mais ver!

Haveremos de voltar.

 

E partiram sobre o mar.

 

Seguiam o apelo que as chamava

As chamava sobre o mar…

 

Era o cheiro das searas

O gosto de amadurar.

Era o cantar das cigarras

Pedindo largar de amarras

Necessitando voar.

 

E, ei-las a navegar!

 

Largar âncora, deixar porto

Aterrar. Chegar. Aeroporto.

Nova âncora lançar.

Dividir-se: entre o ir e o ficar.

 

Adeus. A DEUS!

 

Haveremos de voltar…

 

 

Escrito em 1987.

Publicado em: Cancioneiro Infanto-Juvenil para a Língua Portuguesa – 1º Concurso Poético – Vol. I – “ EU MORO NA MINHA MÃE” – Instituto Piaget -1990

Andorinhas!

Numa Cidade sem Tempo...

 

Numa Cidade sem Tempo

                         Com(Templo)!

 

Contemplo o branco!

Sempre a brancura das paredes a povoar-nos a Memória.

Ressequida a paisagem: tons castanho, creme, ocres, amarelos

De quando em vez, uns verdes (lapsos de pintor)

Vermelhos (lembranças de lutas, de conquistas, violências).

Transversais barras riscam o branco da monocromia:

- Margens dum espaço de rodapé colorido.

 

E o horizonte… a perder de vista!

Sem limite, a terra nos marca o Destino

Nos espraia sem (ha)ver praia.

É ponto de partida e de chegada.

 

Por aqui ficaram muitos Povos

Perderam-se nas searas, na terra fértil.

E sendo perecíveis as sementes, morrendo e nascendo cada ano…

Quiseram intemporizar-se nas paredes, nas pedras que ergueram.

Cantaram hinos em mármores e granitos!

Que o Pão nos sustenta, mas todos-os-dias

Se come, se dorme e… se morre um pouco.

Levantaram-se colunas, menhires erguidos proclamaram

Louvores à Fertilidade, à Deusa – Terra (Mãe – Fecunda)!

E ao Homem, agente transformador (Fecundante!)

E Templos e Igrejas, aos Deuses

Sublimação dos homens, cristalização dos Ideais. Apenas!

Que os Deuses nunca existiram, Além da Imaginação

                                                                            Dos Homens.

 

Nem sem ela, o Céu e o Olimpo.

 

Ficaram as folhas de acanto, petrificadas, nos capitéis coríntios.

 

Em linguagem marmorificada, dizem-nos: 

“ – Antes de os homens existirem à face da Terra

Mesmo antes de a terra o ser

Já nós éramos.

Éramos muito antes do Antes.

Somos muito antes mesmo de serem o que são, as folhas que somos.

Muito antes das Plantas.

Existimos muito antes de nos chamarem o que nos chamam.

 

Só muito Depois vieram os homens.

E vieram muitos e depois muitos mais por nós passaram, até que nos chamassem.

Pedras nos chamaram, calhaus, pedregulhos, pedra rija e outros nomes…

Que esquecemos.

Até que nos dignificaram, chamando-nos mármores.

E Sempre por nós passaram, por muitos e muitos Tempos, os Elementos em nós

Permanecendo imutáveis. Intemporais.

Até que há pouquíssimo tempo passaram uns Homens, de certeza dados à Poesia

Que em nós viram plantas, flores ou somente eles próprios, ou partes suas

Ou as suas partes sublimadas.

E, sendo eles mortais, temporais como as plantas

Quiseram simplesmente eternizar-se, eternizando-se, transformando-se-nos.

 

E, eis-nos contemplando a Cidade dos Homens, deste alto, infinitamente intemporais

Marcando num curto espaço das nossas vidas, como Pedras, a precaridade da vida dos homens

De número tão infinitos, mas tão finitos de Tempo.

 

E os homens, mesmo os que Homens foram, continuaram passando.

 

Chegados e partidos!

 

E nós aqui estamos em capitéis coríntios, sobre colunas graníticas

Formando o Templo.

Sustentando o Céu, que sobre nós se ergue!”

 

E, nesta cidade crescida das lavouras

Do rasgar do ventre criador pelos arados

Dos campos ondulantes de trigais

(Ilusão de mares balouçados pelos ventos)

Lembra-me outra cidade… minguada de terras

Sem arados nem trigais, mas com excesso de águas

Navegando na laguna, transbordando por ciclos.

Afundando-se no berço em que nasceu e prosperou.

 

(Nos Lóios, em painéis de azulejos

Essa arte sublime de portugueses

Corre a vida de Lourenço

Patriarca – santo de Veneza.)

 

Contraste com esta cidade que contemplo

Sempre minguada de águas e terras a perder de vista.

 

Em ambas, a marca do tempo nos lembra

A precaridade da Existência.

 

Se uma se afunda lentamente

O mar fazendo ondas no chão da Catedral

A corrosão do ar salgado leprosando os calcários…

Nesta, não falarei de monumentos construídos, destruídos, reconstruídos…

Lembrarei somente esse macabro achado:

Revestida de ossos, a Capela assim chamada

Nos situa no presente – futuro que recalcamos.

 

E que dizer das praças?!

Nas mais belas praças, lugar de Homens

O sol num céu azul

A luz ferindo a vista

Reflete-se do branco das paredes…

No centro, gotejando, a água das fontes

Corre pura e cristalina.

 

Se na do Geraldo a fonte, de perfeita

“Bien merece ser coronada”.

Na de Moura, um globo, o Mundo

Distribui com parcimónia a água

Pelos quatro pontos cardeais.

 

E por que corrermos mais

Se nesta cidade se resume

A nossa condição maior de Portugueses

O nosso orgulho de Humanidade?

 

Nesta cidade com Templo

De colunas e capitéis coríntios

Não sustentando teto ou abóboda

Erguido apenas ao Sol e à Lua

Coberto de manto azul durante o dia

Ou céu estrelado pela noite…

 

(Exceto quando chove ou está Encoberto

Que nestas pequenas cousas reside

A nossa condição de humanos.

E, nas pequenas coisas do dia-a-dia

Também há muita Poesia!)

 

… Nesta Cidade, dizia…

Ficamos contemplando o Templo

Desenhado sobre fundo branco

E Céu azul.

Esquecido o tempo.

Nesta Cidade sem Tempo!

 

 

 

Escrito em 1987.

Publicado em “Poiesis” – Volume VIII, Editorial Minerva, Dez. 2002.

 

Ainda a nota… de Matemática?!

Apesar do novo "estardalhaço" que por aí anda com mais um "caso mediático", quantos já tivémos este ano? E onde vamos parar com este descalabro todo?! Pois apesar de tudo isso vamos continuar a "postar" mais um texto sobre as aventuras da menina Odete, de "estórias que parecem mentiras". Pois, até pode parecer mentira que nos mostremos relativamente alheios ao imediatismo das notícias...

Pois! Mas este excerto também é sobre notas, notas, notas, as notas é que motivam isto tudo, tal é a ambição, a cupidez do ser humano! De alguns seres humanos, diga-se...

Notas e moedas...

Euros. Foto de F.M.C.L.F.M.C.L.

Só que a menina Odete andava, na altura, preocupada com o "destrocar a nota de cinco contos", mas também com a nota de Matemática. A ação decorreria com o aproximar do final do ano letivo, certamente.

 

Capítulo III

 

Subindo a Avenida, encontrou o professor de Matemática que descia apressado. Pasta na mão, contendo um portátil, camisa desapertada, gravata ligeiramente deslaçada, casaco aos ombros, do fato de meia estação que usava, dirigia-se ao gabinete de arquitetos onde participava, em equipa, na elaboração de projetos de construção. (Melhor, de destruição! Tipo deita abaixo “arte nova” e faz torre de vidro refletor.)

 

- Setôr, você é que me vai desenrascar com esta nota.

 

- Ah, não me venha com conversas que estou cheio de pressas. (Pressa de chegar ao gabinete para a reunião, pressa que acabe a reunião, pressa de chegar a casa, pressa de acabar o dia e ir descansar, pressa de terminar o ano e virem as férias, pressa… pressa. Pressa da pressa…) E já dei a nota que havia de dar. Não faço alterações. Tem o que merece e até tem uma nota muito boa, não me diga que ainda queria melhor! Nas provas de ingresso terá oportunidade de melhorar. Se toda a gente tivesse as suas notas!..

 

- Setôr, não é bem isso…

 

- Pois, pois… depois falamos. Já estou mais que em cima da hora da reunião. (imaginava os colegas todos em volta da mesa, prontos para reunirem e ele a entrar, mesmo em cima da hora, a pisar a hora, a pisar o risco, a pedir desculpa, faz favor de dar licença, desculpe, por favor, até chegar ao seu lugar para se sentar…) desculpe, senão vou chegar atrasado… até à próxima, adeus. Há Deus?!

 

Acrescentaria: Há Justiça?! Há Justiça Divina?!

 

Nota de rodapé:

Uma versão deste texto foi publicada no Boletim Cultural nº 82 do Círculo Nacional D'Arte e Poesia, Ano XVIII, Maio 2007

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