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Aquém Tejo

Há quem do Tejo só veja o além porque é distância. Mas quem de Além Tejo almeja um sabor, uma fragrância, estando aquém ou além verseja, do Alentejo a substância.

Há quem do Tejo só veja o além porque é distância. Mas quem de Além Tejo almeja um sabor, uma fragrância, estando aquém ou além verseja, do Alentejo a substância.

Um pouco mais…

Um pouco mais…

 

Um pouco mais além… Éramos Ases.

Um puco mais audazes… Campeões.

Mais umas palmas… Éramos Ídolos.

Um passo mais… E seria a Glória.

Um pouco mais de rasgo… Éramos Génio.

Um sopro mais… Éramos Deuses.

Um pouco mais de brilho… Éramos Estrelas.

Um pouco mais de luz… Éramos Sol.

Um pouco mais de sol… Universo.

 

Mais ambição…Éramos Poder.

Mais poderosos… Prepotentes.

Mais prepotência… Ditadores.

Um pouco mais de lume… éramos Fogo

Um pouco mais de fogo… já ardíamos.

 

Um pouco mais de água… seremos Mar.

Um pouco mais de mar… somos Amar.

Um pouco mais de’Amor, só…

Um pouco mais de’Amor.  E seremos Homens!

                                   Só um pouco mais!

 

 

 

Escrito em1986.

Publicado no Boletim da Associação Portuguesa de Poetas,Junho de 1987.

 

Foto0589.jpg. Foto de D.A.P.L.

 

SYRIZA e ÍCARO!

SYRIZA e ÍCARO!

 

No passado dia 24, sábado, divulgámos o poema "ÍCARO!", inspirado no correspondente mito da Grécia Antiga (1100 A.C. – 146 A.C.), mas numa desconstrução desse mito.

215px-Landon-IcarusandDaedalus.jpg

No dia 25, domingo, houve eleições na Grécia atual.

View_of_the_Acropolis_Athens_(pixinn.net).jpg

Saiu vencedor o partido SYRIZA. Uma vitória que, de algum modo, também desconstrói o tradicional dos resultados nas eleições nos diversos países europeus.

Pelo menos, por agora, SYRIZA atingiu o paradigma de ÍCARO, poema! Está “bem lá no cimo, entre nuvens”. “…Entre os seus sonhos!

Agora é preciso construir a realidade. Conseguirá SYRIZA continuar a voar, “com asas tão de cera”?!

Perdoarão os Deuses tamanha ousadia?!

Ou farão como no tradicional mito da Grécia Antiga e haverá o final de Ícaro como no mito clássico?!

 

Europa. Gustave Moreau in. pt.wikipedia.org..jpeg

 

Europa, cujo nome também deriva de um mito grego, fará aqui o papel dos Deuses. Que papel?!

Lembre-se a EUROPA, melhor, quem nela manda, que Ícaro, na realidade atual, não é um mito, não é sequer e apenas um partido, é todo um Povo, uma Nação que afundando-se levará com ela outras Nações e outros Povos. E o mito Europa desfazer-se-á, lenta(?), mas inexoravelmente.

 

Fontes:

Ícaro – Wikipédia, a enciclopédia livre

pt.wikipedia.org/wiki/Ícaro 

Grécia Antiga – Wikipédia, a enciclopédia livre

pt.wikipedia.org/wiki/Grécia_Antiga

Europa (mitologia) – Wikipédia, a enciclopédia livre

pt.wikipedia.org/wiki/Europa_(mitologia)

 

 

 

Numa Cidade sem Tempo...

 

Numa Cidade sem Tempo

                         Com(Templo)!

 

Contemplo o branco!

Sempre a brancura das paredes a povoar-nos a Memória.

Ressequida a paisagem: tons castanho, creme, ocres, amarelos

De quando em vez, uns verdes (lapsos de pintor)

Vermelhos (lembranças de lutas, de conquistas, violências).

Transversais barras riscam o branco da monocromia:

- Margens dum espaço de rodapé colorido.

 

E o horizonte… a perder de vista!

Sem limite, a terra nos marca o Destino

Nos espraia sem (ha)ver praia.

É ponto de partida e de chegada.

 

Por aqui ficaram muitos Povos

Perderam-se nas searas, na terra fértil.

E sendo perecíveis as sementes, morrendo e nascendo cada ano…

Quiseram intemporizar-se nas paredes, nas pedras que ergueram.

Cantaram hinos em mármores e granitos!

Que o Pão nos sustenta, mas todos-os-dias

Se come, se dorme e… se morre um pouco.

Levantaram-se colunas, menhires erguidos proclamaram

Louvores à Fertilidade, à Deusa – Terra (Mãe – Fecunda)!

E ao Homem, agente transformador (Fecundante!)

E Templos e Igrejas, aos Deuses

Sublimação dos homens, cristalização dos Ideais. Apenas!

Que os Deuses nunca existiram, Além da Imaginação

                                                                            Dos Homens.

 

Nem sem ela, o Céu e o Olimpo.

 

Ficaram as folhas de acanto, petrificadas, nos capitéis coríntios.

 

Em linguagem marmorificada, dizem-nos: 

“ – Antes de os homens existirem à face da Terra

Mesmo antes de a terra o ser

Já nós éramos.

Éramos muito antes do Antes.

Somos muito antes mesmo de serem o que são, as folhas que somos.

Muito antes das Plantas.

Existimos muito antes de nos chamarem o que nos chamam.

 

Só muito Depois vieram os homens.

E vieram muitos e depois muitos mais por nós passaram, até que nos chamassem.

Pedras nos chamaram, calhaus, pedregulhos, pedra rija e outros nomes…

Que esquecemos.

Até que nos dignificaram, chamando-nos mármores.

E Sempre por nós passaram, por muitos e muitos Tempos, os Elementos em nós

Permanecendo imutáveis. Intemporais.

Até que há pouquíssimo tempo passaram uns Homens, de certeza dados à Poesia

Que em nós viram plantas, flores ou somente eles próprios, ou partes suas

Ou as suas partes sublimadas.

E, sendo eles mortais, temporais como as plantas

Quiseram simplesmente eternizar-se, eternizando-se, transformando-se-nos.

 

E, eis-nos contemplando a Cidade dos Homens, deste alto, infinitamente intemporais

Marcando num curto espaço das nossas vidas, como Pedras, a precaridade da vida dos homens

De número tão infinitos, mas tão finitos de Tempo.

 

E os homens, mesmo os que Homens foram, continuaram passando.

 

Chegados e partidos!

 

E nós aqui estamos em capitéis coríntios, sobre colunas graníticas

Formando o Templo.

Sustentando o Céu, que sobre nós se ergue!”

 

E, nesta cidade crescida das lavouras

Do rasgar do ventre criador pelos arados

Dos campos ondulantes de trigais

(Ilusão de mares balouçados pelos ventos)

Lembra-me outra cidade… minguada de terras

Sem arados nem trigais, mas com excesso de águas

Navegando na laguna, transbordando por ciclos.

Afundando-se no berço em que nasceu e prosperou.

 

(Nos Lóios, em painéis de azulejos

Essa arte sublime de portugueses

Corre a vida de Lourenço

Patriarca – santo de Veneza.)

 

Contraste com esta cidade que contemplo

Sempre minguada de águas e terras a perder de vista.

 

Em ambas, a marca do tempo nos lembra

A precaridade da Existência.

 

Se uma se afunda lentamente

O mar fazendo ondas no chão da Catedral

A corrosão do ar salgado leprosando os calcários…

Nesta, não falarei de monumentos construídos, destruídos, reconstruídos…

Lembrarei somente esse macabro achado:

Revestida de ossos, a Capela assim chamada

Nos situa no presente – futuro que recalcamos.

 

E que dizer das praças?!

Nas mais belas praças, lugar de Homens

O sol num céu azul

A luz ferindo a vista

Reflete-se do branco das paredes…

No centro, gotejando, a água das fontes

Corre pura e cristalina.

 

Se na do Geraldo a fonte, de perfeita

“Bien merece ser coronada”.

Na de Moura, um globo, o Mundo

Distribui com parcimónia a água

Pelos quatro pontos cardeais.

 

E por que corrermos mais

Se nesta cidade se resume

A nossa condição maior de Portugueses

O nosso orgulho de Humanidade?

 

Nesta cidade com Templo

De colunas e capitéis coríntios

Não sustentando teto ou abóboda

Erguido apenas ao Sol e à Lua

Coberto de manto azul durante o dia

Ou céu estrelado pela noite…

 

(Exceto quando chove ou está Encoberto

Que nestas pequenas cousas reside

A nossa condição de humanos.

E, nas pequenas coisas do dia-a-dia

Também há muita Poesia!)

 

… Nesta Cidade, dizia…

Ficamos contemplando o Templo

Desenhado sobre fundo branco

E Céu azul.

Esquecido o tempo.

Nesta Cidade sem Tempo!

 

 

 

Escrito em 1987.

Publicado em “Poiesis” – Volume VIII, Editorial Minerva, Dez. 2002.

 

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