Há quem do Tejo só veja
o além porque é distância.
Mas quem de Além Tejo almeja
um sabor, uma fragrância,
estando aquém ou além verseja,
do Alentejo a substância.
Há quem do Tejo só veja
o além porque é distância.
Mas quem de Além Tejo almeja
um sabor, uma fragrância,
estando aquém ou além verseja,
do Alentejo a substância.
Quando escrevi o texto, ainda não tinha sido anunciada a demissão do Ministro, como frisei. Tudo foi escrito na suposição de que havia sido feita uma advertência, houvera um pedido de desculpas.
Ao publicar o post, tive conhecimento da notícia do pedido de demissão, que fora prontamente aceite.
Por uma promessa de bofetadas, para já, e apenas, no facebook. Virtuais, portanto.
Um pedido de desculpas, público, do ministro, como foi feito, era um Dever de Cidadania a cumprir. E foi cumprido.
O Primeiro-Ministro tinha que interferir? Sim, mas na esfera específica do seu âmbito de atuação. Por isso é o Primeiro entre os Ministros. Não tinha que vir publicitar o facto ou pedir desculpas públicas. Esse Dever era do Ministro.
Menorizou o Ministro, menorizou-se enquanto Chefe do Governo; fragilizou o governo, já de si tão inseguro.
(Remeto novamente para a ilustração dos “Caprichos” de Goya, o contexto de fundo: o estendal de roupa.)
O pedido de demissão e a respetiva aceitação imediata, (todos deduzimos como estas decisões são “cozinhadas nos bastidores”), vão trazer vantagens ao País? A nós Cidadãos?!
(...)
Acham que, com estes gestos, vão calar os opositores?!
Bem, pelo contrário! Eles vão continuar à coca para atacar perante qualquer pretexto: chapada, pontapé ou piropo!
Parafraseando o aforismo do post anterior, ainda mais agora, que o “cântaro mostrou ser de barro!”
Muita gente por aí bate palmas, canta de galo. Com todo o direito certamente!
Mas, será que nós, a grande maioria dos Cidadãos que não ganhamos nada com as prebendas governativas, com as “danças de galos no poleiro”, beneficiamos alguma coisa com as mudanças ministeriais, com as alterações governamentais?!
Pense bem, Senhor Leitor, Senhora Leitora!
(...)
É evidente que não!
Nós, só pagamos a Despesa!
(Que não se esqueça, caríssimo leitor e caríssima leitora, que, tudo isto é “cozinhado” nos bastidores.
Quem sai? Quem entra? Quem fica? E os correlativos fluxos de caixa?! "Quem sobe, Quem desce"!)
Mas o Ministro tinha que ser obrigado a ficar, se, supostamente, não queria? E o Primeiro a mantê-lo, se também não era do seu agrado?!
Não, como é evidente!
Mas se tão depressa se “fartaram”, porque o Primeiro o escolheu? E, porque o Ministro aceitou?
Que nestas mudanças há sempre despesas, desnecessárias, e as que, eventualmente, advirão.
E, quem paga?!
E poderão questionar-me também.
E que é tudo isso, comparativamente com essa história dos “Papéis...”?
Mas, então ficamos calados e a tudo dizemos “Amén!”?!
A fábula que vos vou contar ouvia-a à minha avó que já cá não mora, mas me a segredou ao ouvido, numa noite de insónia. Deve ser lida com sotaque de português do brasil, suave e adocicado, para que o “Acordo” seja levado com mais amenidade.
Tem quatro atos e a respetiva ação decorre em dois momentos: no “Hoje” e no “Amanhã”.
O “Hoje” é um dia que já é uma tarde… O sol já riu e chorou, buscou agasalho e refrigério, amou e desamou, já teve esperança e agora desalento.
O “Amanhã” tem o condão de, apesar do “Hoje” taciturno e deprimido, desesperançado e triste, trazer sempre a ilusão ou esperança possível de que “ amanhã é um novo dia” e o sol vai nascer radiante e luminoso.
O Hoje e o Amanhã situam-se num “Reino da Bicharada”, situado algures num espaço e num tempo em que os animais ainda falavam, pois que ainda havia liberdade de expressão e os ditos agiam, pensavam e sentiam como nós os humanos.
Apresenta-se o 1º Ato da fábula
Aproveitamos para lançar um repto: esta fábula ficaria muito bem se fosse ilustrada. Competência que nos escapa. Haverá algum eventual leitor que seja capaz de tal?!
Hoje - Ato Um
O Senhor Burro
O Senhor Burro que é trabalhador e honesto, pontual e assertivo, assíduo e proativo, experiente e motivado, com licenciatura e mestrado, que trabalha por objetivos, cumpre metas e horários, que é ‘burro de carga’, ‘pau para toda a obra’… foi despedido do local de trabalho que já exercia há vários anos.
Invocou as suas competências e qualidades, atitudes e valores, conhecimentos e experiência, sabedoria e sapiência, a dedicação à “Firma", o seu apego à "Casa”, mas nada! Era velho! Já não prestava para trabalhar, que pedisse a reforma antecipada, que mesmo penalizado, era melhor que nada!
Mencionou direitos. Que não, agora, “HOJE” “direitos são regalias”, poder trabalhar é um privilégio. Não há “direito ao trabalho”, os despedimentos são flexíveis…
Nota: Este ato pode ser representado por qualquer outro animal, especialmente burro, de qualquer idade e condição.
Hoje - Ato Dois
O Senhor Pato Ganso
No final do mês de novembro, o Senhor Pato Ganso abriu o seu e-mail para ver o seu estrato de conta e quanto recebera e verificou um acentuado decréscimo face ao que recebia habitualmente.
Foi falar com o contabilista da repartição onde trabalhava, não se tivesse este enganado.
Ouviu uma voz off, responder-lhe: você é pato, ainda por cima ganso, por isso recebe menos este mês, no subsídio de natal. Menos prendas compra. Hoje, é só pato ganso que recebe menos, amanhã será também o pato marreco. E assim por diante… Depois do pato vai o peru, direito à ceia de natal.
“Amanhã”
Ato Três
Dona Galinha Có Ró Có
Era dia de voto, de eleição, prática já enraizada entre os animais do Reino da Bicharada. Fora marcada a votação, para o primeiro dia do ano, primeiro de janeiro, que coincidira em domingo. Para poupar nos feriados, foram marcados o da “restauração”, o da “república”, o “primeiro de Maio” e o da “democracia”, todos neste mesmo dia! E mais alguns com outro significado, que assim se reduzia no feriado.
Dona Galinha Có Ró Có se apresentou para votar. Se vestira a preceito, de cravo no peito, cabelo arranjado, de ar anafado. Entrou na assembleia de voto e cacarejou: sou Galinha Có Ró Có, venho exercer o meu direito de voto.
Votar?! Galinha não vota! Galinha cacareja, está no galinheiro, põe ovo e dá pinto e, no fim, canja de galinha. Votar, só vota o Galo! Ouvia-se em off, a voz do “Pig Brother”.
Mas não, que tenho direito, que voto é livre, que é “Democracia”, respondia a Dona, abanava as asas, espanejava as penas.
Mas não, votar não votou, e tanto espanejou que a “ramona” a levou para caldo de galinha.
Ato Quatro
Dona Cachorra
Dona Cachorra, pêlo luzidio e preto, ar reluzente, feliz e contente, foi tomar o autocarro, para seguir para o trabalho.
Na paragem, viu sinal de “Aqui cachorro não entra!”, um sinal stop com imagem de cachorro preto em fundo, mas não ligou.
Tentou entrar no onibus, mas não, que não podia entrar, barraram-lhe a entrada, enquanto se ouvia “Aqui cachorro não entra!”, voz gravada em off, do mesmo “Pig Brother”. Mas Dona Cachorra, chamada de “Rosa”, argumentava que precisava de ir de autocarro, que tinha direito a ir, que tinha dinheiro, as vacinas em dia, os impostos pagos, trabalhava a horas, era cumpridora, honesta e trabalhadora, mãe de família, cachorra – diligente e fiel, sem parasitas, cidadã livre do Reino da Bicharada …
Será que Dona Cachorra Preta, chamada de “Rosa”, entrou e sentou no autocarro?...
Saber a resposta para esse Amanhã, só depende da Bicharada!