Há quem do Tejo só veja
o além porque é distância.
Mas quem de Além Tejo almeja
um sabor, uma fragrância,
estando aquém ou além verseja,
do Alentejo a substância.
Há quem do Tejo só veja
o além porque é distância.
Mas quem de Além Tejo almeja
um sabor, uma fragrância,
estando aquém ou além verseja,
do Alentejo a substância.
Que tem a letra a ver com a careta, além da letra inicial – V?!
Ainda se ouvem os ecos da vacina da gripe, já aí vem a vacina da Covid. Faz falta, sim!
Discutem-se os possíveis critérios de vacinação, as prioridades, quais os grupos que deverão ser vacinados primeiro: se os velhos, se os novos, se certos grupos profissionais, se utentes de instituições, se trabalhadores desta ou daquela atividade…
(Ao mesmo tempo, já os detentores de opinião formada sobre tudo e sobre nada, opinam, peroram, procuram influenciar, manipulam, formulam juízos de valor sobre critérios supostos, em estudo, ou já saídos nos media.)
Também vou na onda!
Antes de tudo mais, o que acho importante é que as vacinas sejam realmente eficazes. Que correspondam, em termos de efeitos, ao que delas se espera. Isto é, que permitam neutralizar o vírus, erradicar ou combater a Covid, a curto, a médio, a longo prazo.
Que não tenham efeitos colaterais. Que tenham sido devidamente testadas, dando garantias da sua eficácia, da sua fiabilidade. Que nas testagens efetuadas não tenham sido detetados danos residuais sobre os pacientes. Projetar efeitos a longo prazo, realizar previsões a esse plano temporal, não será fácil, mas é conveniente que, ao ser aplicado um plano de vacinação, nós possamos ter confiança no que tomamos, a que nos sujeitamos.
(Esclareço: Não faço parte de movimentos anti vacinas. Não, de modo algum!)
E os visons?!
Esses, a modos que vão ter uma vacinação radical! (Perdoe-se-me a ironia, pois que considero o assunto sério.)
No Reino da Dinamarca… um daqueles países do Norte da Europa, que habitualmente ficam bem na fotografia, no respeitante a índices de desenvolvimento, já começaram a matar milhões de visons.
Foi detetada uma variante do corona nestes animais, alguns humanos foram contaminados e antes que essa nova estirpe do vírus alastre e coarte a eficácia da vacina que irá ser utilizada nos humanos, o governo dinamarquês decidiu mandar abater todos os visons. O que já começou a ser feito, não sei se concluído. É tanto o drama, que a Senhora Primeira Ministra, do dito Reino, até chorou em público, sobre o assunto.
Mas atentemos bem na questão.
Esses bichos fofinhos são criados em quintas, certamente com todas as comodidades e confortos. E para quê?!
Para serem mortos e esfolados e as apreciadas peles serem convertidas em abafos de humanos. Para estes se pavonearem, satisfazerem a sua vaidade, enfeitados com as ditas, de não sei quantos animais assassinados, para seu bel prazer.
E questiono-me… O que é feito, nessa situação, às carcaças desses animais esfolados? São reutilizadas como subprodutos? São incineradas? Enterradas, como parecem ter sido as carcaças desses infelizes bichitos afetados ou em vias de infeção corona viral?
Reflitamos. Este abate em massa dos animais é de facto constrangedor.
Mas o que não o é menos, pelo contrário, é o que está na sua base.
Isto é, a criação de animais, a uma escala de milhões para serem abatidos para satisfação só e apenas da Vaidade Humana, para Ganância de alguns, pela febre do Lucro de uns quantos.
(Não venha a Senhora Primeira Ministra chorar lágrimas de crocodilo, porque o que está errado e é chocante, é este modelo de produção!)
Depois de dois dias sem publicar, fiz como que uma espécie de luto, volto à Série!
Mas, já estou como Signe. Farto daquela Família!
Que viver naquela e com aquela família é um verdadeiro pesadelo!
Diz ela: “Vivo com uma família que estraga tudo e não quer saber de mim!”
Os que fazendo parte daquela família alargada, ali vivem naquela Casa, Solar Gronnegaard, vive cada um a seu jeito, não querendo saber nada de Signe. Basicamente todos se aproveitam dela, da Casa, cirandando por ali, nos seus interesses, sem cuidar dos dela.
Thomas, sempre numa boa, tudo bem, que a passa ajuda muito, teve o desplante de semear cannabis por entre o cânhamo industrial. A fiscalização que, nestes aspetos é rigorosa, mandou cortar tudo e queimar. Lá se foi a produção agrícola. E Signe, que projetara ser agricultora, vê os seus sonhos serem consumidos pelo fogo.
O namoro com Martin, com um papel também relevante no Clube de Andebol, em que John é treinador, também se foi abaixo com o estatelamento de Martin, socado pelo Mister, pai da moça.
Decididamente a rapariga vai ficar para Tia!
Mas ela tem sangue de Verónica e, certamente, as respetivas mitocôndrias.
Tenta vender a Casa, prioritariamente a Frederik, cada vez mais alienado, vivendo isolado na casa de campo, com vista para braço de mar ou lago, que não observo sinais de marés. Abandonado pela mulher e filho, que é impossível viver com ele, dedica-se à pesca e abate de árvores centenárias. Acompanha-o a filha Hannah, mas mesmo esta será expulsa pelo pai, cada vez mais em perigo, para si mesmo e para os que o rodeiam.
Frederik não quer comprar.
Gro também não, exalta-se também com Signe, mas acaba por lhe oferecer um empréstimo de 200 mil, para ela continuar com o negócio agrícola e os seus Sonhos!
Signe não aceita.
Todavia, face aos fracassos: na venda do solar, no pretendido abandono da família alargada, na impossibilidade de voltar, ainda que temporariamente, à família de adoção, e a uma noite mal dormida no carro, à beira do porto, Signe retorna à sua Casa. O Solar Gronnegaard, seu, por Direito Familiar!
Começa por convidar a sair, melhor, expulsa o bando de artistas que Thomas, em mais uma das suas ideias luminosas dos anos sessenta, para aí levara, para formarem uma casa ou família comunitária, que não me lembro bem do termo exato.
Depois decide reunir todos os familiares que ali vivem: Tomás, Emil, Leone, Gro e Isa, entretanto também retornada com Melody.
E decide aceitar o empréstimo de Gro, impondo condições. E define regras e normas de conduta aos irmãos e Thomas, que são os que mais coabitam os espaços e deles usufruem.
Restringe e confina cada um deles a espaços específicos na Casa, proíbe-os de circularem livremente pela sua própria parte da Casa, fechando inclusivamente uma das entradas ao 1º andar.
Impõe-lhes uma renda pela utilização dos locais que lhes destinou, pois, de facto, tudo é sua propriedade. Aos que terão mais dificuldades financeiras, define-lhes trabalho na Casa, que há muito que fazer.
Ou seja, assumiu as rédeas da sua própria propriedade, de que eles usufruíam a seu bel prazer, sem pensarem nela.
Assumiu o Poder. Da sua própria Vida e Destino.
Interiorizou o papel de Matriarca, da matriarca Veronika, que, neste aspeto de Educação, deixara os filhos cada um para seu lado. Custa-me dizer, mas a palavra exata será que ela falhou na educação dos filhos, mais dedicada ao seu lado artístico.
Signe tomou esse papel de Educadora.
Impôs limites, regras, normas. Definiu quem manda ali. Quem é quem!
E, pelo menos aparentemente, todos aceitaram.
Isa até a elogiou: “És fantástica!”
No final, Robert regressou novamente cheio de amor por Gro.
Seguindo o seu conselho, fora a Hamburgo visitar os filhos, falar com a mulher Cláudia, mas voltou. Decidido a comprar um apartamento em comum, com quartos para os filhos os visitarem.
Por enquanto, regressaram ainda ao apartamento de Gro, em Copenhague, desejosos de renovarem os votos de amor eterno.
Mas quem tinham à espera, no corredor do andar?
Hannah, sobrinha de Gro, filha de Solveig e Frederik, que fora expulsa por este e de que não sabiam o paradeiro.
Aflita com o comportamento do pai, recorre à única ajuda, que julga possível.
A tia Gro, de certo modo também a Matriarca daquela Família!
Nota final:
Hoje decidi ilustrar o post com uma imagem diferente.
E o que será?!
Poderá ser o protótipo de uma nova instalação de Veronika, ainda não “descoberta” por Gro; também poderá ser o esboço de um berço ou porta bebés para Melody, mas também não.
E o que é?
É o desenho de uma “mitocôndria”, de que sabemos Signe será portadora das de Veronika.
E, hoje, ficamos por aqui, aguardando o desenrolar de próximos episódios, que não me admira que Signe ainda agarre a veia artística da Mãe biológica!
Porque as condições daqueles prisioneiros são inumanas, terríficas. E, neste ponto, julgo que os guionistas também pretendem acentuar uma questão de denúncia, de uma clara e aviltante violação dos Direitos Humanos.
Também foi aterrador aquele excerto em que Frederik se lançou à irmã e quase a estrangulou.
Já antes fora assustadora a sua atitude com o procurador e o advogado, quando naquela reunião, enquadrada numa receção aparentemente cheia de nove horas, mas apenas de pura hipocrisia e falsidade, Frederik se passara, perante a verdadeira chantagem, disfarçada de lábia cheia de finura, em que o procurador procurava extorquir, disfarçadamente, mais dinheiro. Realmente seria difícil manter a calma, para mais para Frederik sempre destrambelhado.
Já anteriormente manifestara esse destrambelho, na visita ao irmão. (E em que condições se processam aquelas visitas!)
E eu que supusera que a leitura daquelas trocas de mensagens ente Emil e Solveig não o haviam perturbado. Que nada! Resolvera ir à Tailândia precisamente para se vingar!
Mas sendo inteligente como é e também profundamente apegado aos irmãos, especialmente aquele irmão, Emil, a quem o Pai, Carl, recomendara que o protegesse, em sua substituição, antes de se suicidar.
Todas estas situações marcam tragicamente Frederik, o perturbam, tornando-o um perigo para si mesmo, mais ainda para os outros que o rodeiam, como se viu.
(Neste ator, igualmente para os outros, realce-se o extraordinário desempenho do personagem, pessoa em permanente tensão.
Transparece nele, personagem, um forte recalcamento de pulsões primitivas. Que o ator muito bem evidencia.)
Mas, arrependido, tenso e perturbado como sempre, resolveu ir procurar o Governador, certamente daquela Província, sabendo que ele desenvolvia uma luta contra a corrupção, nomeadamente no respeitante ao Procurador e à Polícia.
E, interrompendo uma sua visita a uma Escola, arriscando-se a ser também preso ou mesmo morto, arrojou-se aos seus pés, tal qual faziam os antigos suplicantes em tempos ancestrais na nossa cultura ocidental, antes da constituição dos Estados de Direito e da consagração dos Direitos Humanos. E lhe rogou insistente e emotivamente que se dignasse ler o relatório que apresentava sobre o “julgamento” e prisão do irmão Emil.
E o Procurador leu e levou consigo para ler com mais atenção.
E, ao outro dia, o advogado, surpreendidíssimo, os informou que o procurador alterara a decisão judicial e que Emil seria libertado no dia seguinte, que podiam ir buscá-lo.
E foi Gro. Frederik não se atreveu!
E, nos entretantos, como correram as situações no Reino da Dinamarca?!
Bem e mal!
Bem, porque Signe lá vai dando conta do recado de agricultora.
Também diria que ainda dá em artista, tem veia de Veronika. Observe-se aquela instalação dos espantalhos nos campos de cânhamo. Num determinado campo visual e num certo contexto, pode ser considerada uma verdadeira “instalação artística”! Tal Mãe, tal filha! (Filha fica com letra minúscula, porque, artisticamente, Signe ainda não se compara com Veronika!)
Cumulativamente, a avaliação da Obra que ela adquirira foi um verdadeiro sucesso.
Para mais estando ela própria lá representada.
Todos ficaram agradavelmente surpreendidos com o impacto forte da peça.
“Pode mesmo ser a Obra-Prima dela!” Afirmou Kim.
A avaliadora valorizou-a de pelo menos novecentas mil coroas!
“Fizeste um negócio da China!”, lhe disse a advogada, Leone.
Também de amores as coisas estão a encaminhar-se bem e poderiam ter ido melhor.
Não fora...
Então o que correu mal?!
Estava Signe numa boa com o pretendente, julgo que se chama Martin, mas não tenho a certeza, quando chegou um intruso, indesejado.
Henrik, pai de Isa, veio com a própria, buscar a neta Melody e, apesar dos esforços de Signe e de Thomas, entretanto chegado, aquele conseguiu levá-la, melhor, roubá-la, para ser educada em família “normal”!
E por aqui ficamos. Que sobre normalidade e patologia há milhares de páginas escritas.
Neste décimo primeiro episódio pudemos observar o que aconteceu a Emil, na Tailândia. Quando tudo parecia indicar ser breve a sua libertação das amarras daqueles poderes discricionários e corruptos, metem-no outra vez na choça. Não sem antes o terem desancado. Com tanta porrada, malhado que nem maçarocas, quando o milho era descarolado com moeiras, nas eiras ensolaradas dos nossos campos. Arrastado pelo chão, como se fora saco de lixo, e atirado para um tugúrio nojento, desprovido de qualquer iluminação e provavelmente arejamento. Numa solitária, um verdadeiro horror! Uma desqualificação de qualquer atitude minimamente humana.
Penso que os realizadores da série pretenderam também apresentar uma denúncia político – social, mostrar como são as condições de vida em países como a Tailândia, tão idealizados em termos turísticos, mas com sistemas organizativos que não respeitam minimamente os mais elementares Direitos Humanos. Talvez, também, para as questões das drogas que, nalguns destes países, são completamente proibidas, com leis férreas nestes aspetos. Não só no referente ao comércio, como no respeitante ao próprio consumo.
E, em contraponto, de algum modo, comparar com a situação, por ex. no país de origem de Emil, a Dinamarca, em que estas realidades são completamente diferentes.
Talvez também alertar, para que ao viajar-se para esses países “exóticos” ter em atenção essas “particularidades” comportamentais e legais.
Mas sobre tudo isto, opino eu.
Paralelamente, no Reino da Dinamarca decorria outra realidade, completamente diversa.
Convém referir previamente que, na série, como aliás é hábito neste modo de narrar televisivo, há sempre um pequeno introito, resumindo algo de temas anteriores e fazendo alguma ligação com a temática do episódio a ser apresentado.
Também neste décimo primeiro episódio, previamente nos informaram que o tempo narrativo se situava um ano após o que fora apresentado anteriormente. “Um ano depois...”
Situemo-nos, pois, no tempo.
Verónica redigiu a célebre carta na véspera de Natal de 2013, morrendo no próprio Dia festivo, no 1º Episódio!
Todo o enredo que se foi desenrolando nos nove episódios seguintes terá demorado alguns meses. Assistimos aos campos nevados, Inverno; mais tarde, já na posse do Solar, Signe projetava as futuras sementeiras a ocorrerem na futura Primavera. Quando ela fazia esses projetos, pela aparência dos campos, seria Verão. Tudo isto em 2014.
Também foi nessa época que chegou ao Solar a tal Isa, toda rosada, que viera da Índia e se embrenhara na música com Tomás. Veremos que não se ficaram apenas pela música...
Neste 11º episódio, Signe, juntamente com Isa, foram assistir, ajudar nas sementeiras do célebre cânhamo para fins industriais.
Participar não, Signe bem queria pegar no trator, mas o técnico responsável não autorizou.
Situando-nos então no tempo... Seria Primavera. De 2015.
Também no início deste episódio vimos uma criança, de alguns meses, ao colo de Gro, toda enlevada. Também Signe cirandava à sua volta e lhe pegava.
Inicialmente pensei, será que Signe se esqueceu de tomar a pílula quando andava com Andreas e veio o rebento tão desejado por este? Ou será de Gro e Robert?!
Pois, nada disso.
A criança resultara das sessões extra musicais de Tomás e Isa. Mas não podia fugir à Música e chamava-se Melody. Bonito e sugestivo nome.
Iria ser batizada nesse dia.
(Quanto ao tempo narrativo e considerando que a gestação são nove meses e que a criança já teria alguns, pelo menos aparentava, então as contas não batem muito certas. Não sei. Posso estar enganado ao afirmar que seria verão quando Isa voltou da Índia, talvez fosse ainda primavera. Melhor, seria início do Verão: Junho. E assim as contas já batem certo.)
Bem, localizemo-nos no espaço. Situamo-nos no Solar, onde havia uma grande azáfama, pois haveria o batizado de Melody.
Tomás andava enlevadíssimo, não só com a filha, como com a festa que preparara. Um verdadeiro “happening”, um acontecimento, à moda dos anos sessenta.
Estava o elenco todo convidado e todos compareceriam. Aliás uma grande troupe de amigos do pai Tomás, músicos, “performers”, já lá estava. Cirandavam por todo o lado. Tresandaria a erva!
Quem não aparentava nenhum entusiasmo, era a mãe da criança, Isa. Nem pela bebé, muito menos pela festa ou sequer pelo batizado. Completamente alheada. Revelando vários sinais de perturbação. Só se sentia bem com Signe.
Signe, agora dona do Solar e dos campos, de algum modo herdara o modo de estar da mãe biológica: Veronika. Era a anfitriã daquela gente toda. Deixava correr... Provavelmente todos eles se sentiriam muito mais à vontade, em todos aqueles espaços, que já teriam frequentado durante a vida da Matriarca.
Todo o pessoal andava numa boa e se sentia perfeitamente na deles. Signe, por vezes, tinha que chamar a atenção de algum, mas deixava todos a seu modo.
Por desejo de Isa, iria ser a madrinha de Melody, contrariamente ao que haviam planeado inicialmente, pois previram que seria Gro, mas esta atemorizava Isa, que afirmava que ela lhe roubava a roupa da menina!
E os convidados foram chegando.
Frederik com a família. Vindos de uma nova casa, isolada, que ele havia comprado junto ao mar, mas afastada trinta quilómetros do centro. Idiossincrasias dele, que obrigava mulher e filhos a compartilharem.
Aparentemente tudo parecia melhor, na relação com mulher e filhos. Mas mal se falou em dinheiro, em vender mais uma peça de arte da Mãe, logo ele e Gro se engalfinharam.
Mas envolveu-se em todo aquele teatro do “batismo”. (Que mais se assemelhava a um ritual de praxe!)
Muito agarradinho à esposa, aos beijinhos, que até se esquecera dos filhos.
Estes também se perderam naqueles meandros. E terão tido, pelo menos Villads, a primeira visão de uma cena “hard-core”. Enquanto os pais os procuravam, estiveram eles num “pipe-show”, que aqueles casarões davam para tudo, sobremaneira naquele dia, com tanta gente e tanta passa, que até Hannah experimentou, na frente de Signe.
(Paralelamente ocorreriam as cenas de violência com Emil, na Tailândia. A tal análise comparativa de que falei, entre hábitos culturais completamente diferentes.)
Na cena de sexo, que eles tiveram oportunidade de observar, ao sentir-se observado, o homem voltou-se e pareceu-me, de relance, ser John!
Sim, é preciso informar que John e Lise também compareceram, muito bem, muito amigos e bem-dispostos. Numa ótima, como se poderá comprovar até pela cena do palheiro, sobre que não tenho uma certeza absoluta e peço desculpa por isso, caso esteja a errar.
Também foram convidados para o batizado, Lise, um pouco deslocada daqueles ambientes, já se vê, até perguntou a Signe quem era o padre!
Pois quem fez de acólito principal naquele ritual, como referi, muito inspirado nos “sixties”, mas para mim, mais nas praxes, quem ritualizava, era Thomas, o celebrante!
Chefiava uma “procissão”, oficiava uma “cerimónia”, supostamente de batizar a filha. Numa plataforma que instalara num lago da quinta, aí se colocou mais a filha Gro, mais Signe, e Isa que segurava Melody, numa espécie de cesto que fora amorosamente confecionado por Gro.
Não vou descrever os passos anteriores da pretensa “cerimónia batismal” da menina, porque, sinceramente, não acho grande “piada” a este tipo de rituais. Que só me reportam para os das “Praxes”!
Isa, que, como já reportamos, não estaria nada bem, também não se sentia nada confortável naquela “cerimónia” e, invocando um desequilíbrio na plataforma, ou propositadamente como a câmara nos pretendeu mostrar, é certo que atirou a filha ao lago. Pelo menos, é o que se depreende da focalização da câmara. Ou a criança foi cuspida do cesto, com o balanço que houve na plataforma.
Desequilíbrio houve. Na plataforma foi evidente. Na cabeça de Isa também, já manifestara vários sinais, reforçados posteriormente com tudo o que ela atirou a Tomás, em que o menos foi dizer-lhe que fedia da boca.
Então, e a menina Melody? Salvou-se?!
Sim, valeram-lhe Gro, Signe e Tomás, que rapidamente se atiraram à água e Gro recolheu-a sã e salva. (O seu Moisés, versão feminina!). E batizadinha da silva.
E ficamos por aqui, não sem antes ainda contar que Emil, único ausente, esteve sempre presente e muito dele se falou, nomeadamente o sobrinho Villads, que questionou os pais sobre o dito cujo. A apodrecer na cadeia tailandesa, mas disso só sabemos ainda nós.
Uma sugestão que dou aos irmãos: tratem de ir à Embaixada e procurem resolver o assunto pelas vias diplomáticas, breve, mas breve!
E vou narrar algumas peripécias do enredo reportando-me a alguns factos marcantes destes episódios, sem os reportar especificadamente a cada um dos mesmos, que não me recordo de tudo, nem terá sentido esmiuçar todos os pormenores, dado serem já três episódios passados e muitos aspetos terem-se alterado na sequência narrativa.
Ontem, no final, assistiu-se à prisão de Emil na distante Tailândia. E poderemos ajuizar das condições deploráveis em que se encontram os prisioneiros naqueles “aljubes”. Preso por estar na posse de uns quantos charros, fornecidos pelo seu ex-sócio, Hirun, também seu denunciante à polícia, despeitado por Emil ter vendido o empreendimento turístico, sem o seu consentimento e por uma tuta-e-meia.
Mais uma vez, é à família que recorre, neste caso Gro, para pagar a garantia, para poder ir a julgamento. Que estas prisões de estrangeiros funcionam também como uma forma de obtenção de divisas, num sistema corrupto a todos os níveis.
Que ao entrar naquele antro assustador, onde nem quase há espaço para se sentar, apesar de tudo, uma mão amiga, igualmente de um estrangeiro, Ken, o convidou a sentar-se junto dele, numa nesga do lajedo do chão. Que já ali estava há três meses, que estão sempre a pedir mais dinheiro de garantia. “Acho que nunca mais sairei daqui!”
E daqui poderemos ajuizar o que também poderá acontecer a Emil!
Gro esfalfou-se para obter o dinheiro, que também não o tem, Frederik também não quer ceder nada, pois está possesso com o irmão, não sei se contei porquê, mas talvez ainda conte...
Gro só consegue dinheiro líquido, vendendo Obras da Mãe. Sempre Veronika presente naquela família.
Andava em negociações da última peça produzida pela mãe, uma designada “Bico”. Negociava com um oligarca russo que queria a peça para assentar no hall da sua mansão, quando na respetiva conceção ela era para figurar pendurada no teto. Também negociava com um museu finlandês, que pretendia a obra para lhe dar um destaque merecido, à Obra da Mãe Veronika, em sala específica e adequada, nas condições originalmente previstas, apropriadas e de realce.
Mas face ao bico-de-obra, mais um, em que Emil se enfronhou, e na premência de obter a massa, decidiu-se por vendê-la aos russos, apesar de todos os constrangimentos e pruridos que tivera, pelo manifesto desconhecimento que o novo-rico apresentara face ao sentido estético da Obra!
Bom, mas que importa a Estética face, não direi Ganância, mas premente Necessidade?! E, nesta situação, por uma causa nobre, a de salvar o irmão. Amor Fraternal e Altruísmo.
Nestas mudanças a que todos se tiveram que adaptar, após o julgamento e respetiva sentença, Gro talvez seja a que se está a desenvencilhar melhor.
Voltou a estar na ribalta, ligada às “Altas Esferas Culturais”, inclusive voltou ao posto que lhe tinham oferecido antes, na chefia de um Instituto Cultural, cujo nome não consegui fixar, que as nomenclaturas dinamarquesas são quase como as do célebre vulcão islandês, perdoem-me o exagero.
Aí voltou novamente a brilhar, como ela gosta de estar, resplandecente, com um copo de vinho de qualidade e fama, pavoneando-se entre os assistentes inaugurais. Bebericando. Apenas bebericando.
Nada como a víramos na última vernissage, a camisa branca toda enojada de bebedeira.
Mas para isso agarrou-se às armas que tinha. Sabedora de que houvera qualquer coisa com umas Obras da Mãe, que Kim usara como garantia para obter um empréstimo qualquer, no princípio da sua vida cultural, tratou de esmiuçar esse assunto com Leone, a advogada da matriarca e que está por dentro destes meandros, mesmo que podres. Ela e Thomas, com quem aliás tem uma espécie de namoro, funcionam como pontos e contrapontos na narrativa, estruturando e desbloqueando o enredo, quando as coisas precisam de avançar.
E assim soube, na garantia de não citar o nome de Leone, que Kim usara algumas das Obras da Mãe, como garantia dum empréstimo, mas que no final não devolvera uma das mesmas. Que Veronika soubera, mas acabara por não fazer muito caso do assunto. Peça artística que figura num museu.
E foi com este conhecimento e argumento que Gro chantageou Kim, não vou esmiuçar muito o assunto, e o fez mudar de atitude em relação à própria, nomeadamente propondo-a novamente para Diretora do tal “Instituto ou o Que Quer Que Seja Cultural”, a que ela agora preside.
Também no plano afetivo a sua vida melhorou, pois Robert que já se oferecera para se juntar ou casar ou lá o que seja, com ela, apareceu-lhe em boa hora, no final de um dos episódios anteriores, vindo da Alemanha de carro e informando-a que deixara a mulher, Cláudia, para vir viver com Gro. Sopa no mel!
E foi com Robert, agora a viver no seu apartamento, julgo que em Copenhague, que não me confirmaram o endereço, que ela congemina mais uma das suas man(Obras) Culturais.
Tendo já vendido o célebre “Bico” ao russo endinheirado, enviado até dinheiro para pagar a fiança do irmão, recebeu, finalmente, a proposta de compra do Museu Finlandês!
E, vai daí, não esteve com meias medidas. Vendeu também aos finlandeses, que ela não é mulher para se atrapalhar.
E como se desenrascar dessa embrulhada?
Pois foi com Robert que “descobriram” a solução. A partir das plantas e esboços que a mãe deixou, congeminaram criar um outro “Bico”. Um “Bico de Obra”, diga-se. Mas afinal não se destina para um russo?! E a simbologia imperial da Antiga Rússia, cujas tradições têm sido restauradas pelos novos oligarcas, não é uma Águia de duas cabeças? Logo, dois bicos/”Bicos”.
E é nestes afazeres que ela agora se acha. Nos ateliês do Solar, com Rene, assistente de Veronika, a iniciarem a “criação” de uma novel Obra.
A que Signe também assistiu.
Relativamente a Signe, é caso para dizermos: Que farei com esta “Herança”?
Tomou conta do Solar e dos campos. E que lindos são os campos! O arvoredo, a paisagem de encostas e colinas suaves. No tempo narrativo em causa, julgo que será Verão.
Estão a modificar a Casa, pretensamente reconstituindo o apartamento onde vivia originalmente com Andreas, dentro do Solar! Para agradar a Andreas, que os espaços do Solar são enormes e desconfortáveis!
Mas o interesse dela, agora, são os campos, pois quer tornar-se agricultura. Produtora de cânhamo, para fins industriais, material isolante para casas, nada de maconhas, que ela não é rapariga dessas coisas.
Thomas, que voltou a viver na barraca, que não se adaptou à vivenda de Leone, nem ao corte de cabelo que ela lhe fez, nem às regras burguesas de viver engavetado, é que achará aliciante, tanto material para charros, à mão de semear. Isto, quando tal acontecer!
Que, por enquanto, ainda está tudo congeminado, na fase de projeto, as sementeiras serão só na primavera. Signe, apesar de obstinada, não está a conseguir dar conta do recado, nem está a ser capaz de segurar o namorado, que se sente excluído em todos aqueles seus projetos.
Aquela teimosia e estado selvagem dela, sinais de Veronika, como lhe dirá mais tarde a Mãe Adotiva, afloraram novamente à superfície comportamental e problematizam o seu relacionamento com o namorado.
Que os sonhos dele são outros. Quer formar Família com Signe, que ama e é reciprocamente amado, quer ter filhos. E ela, confusa como se confessa, o que quer é tornar-se lavradora.
“- Como é que a nossa família se encaixa nos teus planos?” Lhe perguntou Andreas.
“- Agora, quero plantar estes campos!”
E com valores e projetos antagónicos, apesar de se amarem, o inevitável aconteceria.
Andreas abandonou-a.
Signe ficou triste, só, acabrunhada, sentindo-se abandonada.
Nem Thomas lhe valeria, nem a sua música monocórdica, nem o colorido e rosado de uma amiga deste, Isa, diretamente chegada da Índia. Não da Tailândia, como diria o saudoso ator português falecido há alguns anos, Camacho Costa, quando por aí proliferavam os produtos made in.
(Nestes dias em que outro nome sonante do mundo artístico, também nos deixou, Nicolau, Nico, de inexcedível Obra! Nico D’Obra!)
Mas nestas ocasiões é sempre bom ter Mãe!
E, Lise, apesar de ser Mãe Adotiva, foi a verdadeira Mãe de Signe.
E foi ela que chegou para confortar a filha, a dar-lhe o seu Amor!
E a propósito de Amor, que é feito de Frederik? E de Solveig?!
No episódio oito, já após o julgamento, fora visto muito animado no célebre jogo em que a equipa de Andreas e John ganhou por 23 – 22 e subiu de divisão e foi uma alegria para todos. Que o Desporto tem este efeito redentor. Esta capacidade de libertação, quando jogado com Desportivismo, fair-play.
E parecia encaminhar-se tudo pelo melhor naquela família.
Parecia.
Havia aquele problema entre Emil e Solveig, mas só eles sabiam e se constrangiam, apesar de disfarçarem.
Só que de uma conversa entre ambos, a filha do casal, Hannah, ouviu qualquer coisa.
Idades complicadas, catorze anos, e a miúda ficou muito acabrunhada, agressiva com a mãe e o tio, isolando-se, assumindo uma postura meio gótica...
Bem não vou aprofundar muito este aspeto, apenas frisar que Solveig acabou por contar ao marido o que acontecera.
Muitos constrangimentos, mas acabou por dizer, em momento e ocasião preparada para tal, pelos vários intervenientes.
Após alguns rodeios e hesitações, terá proferido as palavras, não direi mágicas, mas terríficas.
“- Sabes, dormi com teu irmão!”
Forma simplista e muito linear de dizer. Porque, dormir, dormir não dormiu. Antes usasse o conceito bíblico de “entrar”. Ou a terminologia tão modernaça de “rapidinha”, teriam sido palavras mais adequadas ao acontecido. Mas foi “dormi” que foi traduzido, que também ignoro completamente qual o conceito usado pela artista em dinamarquês.
Mas adiante.
E perante este dizer, Solveig esperaria do marido uma reação brutal, que lhe chamasse nomes: “sua esta... ou aquela...”, omitimos os substantivos, que aqui não usamos palavrões; talvez até que a agredisse, apesar disso representar violência doméstica e também não fica bem no politicamente correto... Não sei! Só sei que ela ficou muitíssimo frustrada com a forma como Frederik reagiu.
E como foi essa reação.
Sem mais nem menos, de forma fria e calculista, dirigiu-se à secretária, pegou no computador, confirmou as contas e decidiu-se por não atribuir mais dinheiro nenhum a Emil, que já se fartara de receber da Mãe.
Nem mais um centavo! Nem menos um cêntimo!
Solveig abalou frustrada, lançando-lhe: “És sempre o mesmo!”
Mas tudo isto já foi noutro episódio mais anterior, que ontem ela e Frederik já estavam numa boa. “Eu sempre soube que era a ti que queria. Amo-te”, lhe disse ela.
(Mas neste contar há imensos excertos que não conto.)
Que a situação de Frederik tem sido a mais complicada de todas a entrar nos eixos. Alucinações com a Mãe, disfuncionamento sexual, idas a médico, tomada de anti depressivos, consulta de analista, quase tentativa de violação da própria mulher, eu sei lá.
(A imagem apresentada reporta-se ao enterramento do que restou das cinzas de Veronika. E, simultaneamente, a plantação de uma macieira nesse mesmo local! Cerimónia simples, mas carregada de simbolismos.)
Aguardemos os próximos episódios, para vermos como se irá processar todo o desenrolar do enredo!
Ainda há poucos dias escrevera, no post anterior, a 29/02/16, a propósito do Reino Unido ponderar a saída da União Europeia: “E, nestas coisas de dinheiro, mesmo os irmãos mais irmãos...”
E o que constatei ontem, 5ª feira, 3 de Março, na programação da RTP 2, no habitual horário noturno, após a “Página 2”?
Pois! A transmissão da série “A Herança”.
Mas a 2ª Temporada? Ou a “finalização” da 1ª Temporada, que aquele último episódio da primeira teve tudo menos aspeto de episódio derradeiro? Ficara tudo tão incompleto... Situação sobre que exprimi a minha perplexidade no post sobre “Séries Europeias na RTP2”, publicado a 15/04/15.
Não! A reposição da primeira temporada.
Como gosto de rever as séries, até porque ficam sempre aspetos que não me apercebo no início, quando conheço mal as personagens, é claro que revi o 1º episódio, e, se puder, irei tentar rever os outros.
Que, segundo averiguado, existe uma 2ª temporada e, até se prevê, uma terceira.
Bem, mas por agora, contentemo-nos em visualizar de novo, com outra atenção, o que nos é mostrado na 1ª temporada.
O local central onde decorre a ação é o “Solar de Gronnegaard”, no sul da Dinamarca, embora, no decurso da narrativa, vários outros locais surjam como enquadrantes do enredo. Este Solar também é o leitmotiv da história: a herança.
O tempo narrativo ocorre nos tempos atuais: terceiro lustro do século XXI.
Veronika Gronnegaard, papel desempenhado por Kirsten Olesen, é uma mulher de 68 anos, artista/escultora/performer, dinamarquesa, internacionalmente reconhecida e admirada, que vive e trabalha, desde os anos sessenta, no mencionado solar, de inícios do século XIX, e que fora pertença do marido, Carl Gronnegard, já falecido.
Na aproximação do Natal e correspondentes festividades, na sequência de exames que vinha efetuando, há alguns meses, no Instituto de Oncologia, no total desconhecimento de todos os familiares, tem a confirmação de que tem um cancro em estado bastante adiantado.
Tem três filhos reconhecidos como Gronnegard:
Frederik, papel desempenhado por Carsten Bjornlund e Emil, papel de Mikkel Boe Folsgaard. Ambos filhos de Carl.
E Gro, desempenho de Trine Dyrholm, filha de uma das suas paixões por um músico de vanguarda, Thomas, que não edita nada há vinte e cinco anos, vivendo retirado, meio ausente, quando não ganzado, no seu mundo de fantasia musical, numa cabana, no parque do Solar.
E tem uma outra filha, de uma outra paixão, já ela passara dos quarenta, por um indivíduo que lhe fora fazer uns arranjos ao Solar, bastante mais novo, ex-andebolista e atual treinador de uma equipa importante da Dinamarca.
Essa filha é Signe Larsen, papel de Marie Bach Hansen, que foi dada para adoção precisamente para o pai, entretanto casado.
Signe desconhece completamente a situação, que nem o pai nem a suposta mãe alguma vez lhe contaram alguma coisa, mesmo sendo ela já adulta e a viver a sua própria vida com o namorado, Andreas Beggensen, defesa direito, na afamada equipa de andebol, SHK, treinada pelo pai.
Perante a iminência da Morte... Veronika tenta a aproximação da filha Signe, que é vendedora numa florista, precisamente indo à respetiva loja encomendar-lhe um ramo de flores, para entregar no Solar.
Aí, no ato de entrega, procura reter Signe, para desatar os nós que tem dentro de si e prender-se à filha. Inicia um modo de conversa, oferece-lhe uma bebida, que não sendo aceite, insiste num chá.
Signe, um pouco renitente, surpresa, mas algo a prende ali, talvez o sangue, quiçá as memórias, acaba por aceder. E, enquanto bebe, observa o estúdio, as obras, mira o trabalho no computador... Entretanto Veronika, tentando manter uma chama de diálogo, acender um rastilho para o fogo que há-de vir... vai esboçando um desenho, supostamente de Signe, e oferece-lho. “Para a Signe, da Veronika.”
Desenho que, mais tarde, em casa, Signe mostrará aos pais...
Calcule-se a estupefação e receio destes...
E poderia ficar por aqui, que assim seria apenas um começo de conversa.
(...)
Mas não!
Ainda acrescento que, na véspera de Natal, já noite, Veronika, sentindo-se mal, telefonou a Signe e pediu-lhe que fosse ter com ela ao Solar.
(...)
E, esta, não sei se perplexa, se meio “aparvalhada”, que não acho palavra melhor, foi! Talvez seguindo um chamamento primordial, um apelo da infância passada, mas de que não tem consciência presente...
E aí chegada encontrou a matriarca já bastante combalida.
Mas Veronika ainda conseguiu soltar as palavras que a sufocavam, e revelar-lhe ser sua mãe.
E deu-lhe um texto escrito e assinado de momento, em que a declarava herdeira do Solar.
“É meu desejo que herdes o Solar. Para criares uma família. Os restantes bens são divididos entre os teus irmãos.” (...) “Não cortes muitas árvores lá fora!”
E o seu estado piorou.
Signe teve que chamar os serviços de socorro...
Por sua vez, a filha Gro, reconhecida como tal, telefonara à mãe, precisamente quando Signe andava nestas diligências.
Imediatamente acorreu ao Solar.
E, desconhecendo-se, colaboraram na resolução da situação, sendo a paciente assistida e transportada ao Hospital.
Aonde viria a falecer no dia de Natal!
E este 1º episódio, de que omiti imensos excertos, funciona como introdução à história.
E ainda se lembra do que escrevi no início?
“E, nestas coisas de dinheiro, mesmo os irmãos mais irmãos...”
Podemos substituir “dinheiro” por “herança”.
E, nestas coisas de heranças, para mais sendo irmãos tão desunidos...
Sim, porque eu não contei as palavras “azedas” que Gro atirou à mãe, sobre os filhos desta, ou seja, ela própria e os irmãos, quando a mãe a “picou”, por ela supostamente não saber amar nem ter filhos...
Cujo remorso de as ter proferido a fez telefonar, em boa, mas má hora, precisamente quando Signe diligenciava por uma ambulância...
Não posso de deixar de tecer alguns comentários sobre o filme supra citado, que foi transmitido na RTP1, no passado sábado, dia 20 de Fevereiro.
Filme dramático, alemão - norueguês, de 2012, de Georg Maas e Judith Kaufmann; com Juliane kohler, Sven Nordin, Liv Ulman, Ken Duken, Julia Bache-Wiig...
Katrine, papel desempenhado por Juliane Kohler, alemã, fugida da ex-RDA – República Democrática Alemã, Alemanha de Leste, ao tempo da Cortina de Ferro, é, supostamente, uma “Lebensborn” - crianças nascidas do relacionamento entre soldados alemães e mulheres norueguesas, ao tempo da invasão e ocupação hitleriana da Noruega, 1940/1945.
Levada, como muitas outras destas crianças para a Alemanha ainda durante a II Grande Guerra, após o término da mesma, teria ficado na parte Leste, ocupada pelos soviéticos e que daria origem à designada R. D. A.
Aí teria sido criada num orfanato, destinado a essas crianças.
Teria fugido da Alemanha de Leste, já em adulta, já após a construção da Cortina de Ferro e do Muro de Berlim, portanto nos anos sessenta do século XX, à procura da mãe, na Noruega. Essa fuga foi encetada de barco, de uma ilha remota da Alemanha de Leste, para a Dinamarca.
Aí terá chegado e daí terá ido para a Noruega, onde terá encontrado a suposta mãe, que a recebeu como filha.
Na Noruega constituiu família com um oficial da marinha de guerra norueguesa, teve uma filha e inclusive sendo já avó, à data da narrativa: anos noventa do século XX. Já após a Queda do Muro de Berlim, da Cortina de Ferro e da Reunificação Alemã!
Toda a estrutura narrativa é condicionada pela suposição de que Katrine seria uma “Lebensborn”. E este é o pressuposto da história do filme, da história de vida daquela mulher, daquela família.
Mas tudo isto é uma suposição.
Um pressuposto que vai sendo questionado durante o filme, na sequência de um julgamento internacional contra o Estado Norueguês, sobre esta situação das “Lebensborn”.
E o que se vai descobrir sobre Katrine?!
Pois, por confissão da própria, perante os familiares, marido, filha e suposta mãe, todo esse passado foi forjado, sendo ela, de facto, uma alemã, cujos pais terão sido mortos durante um dos bombardeamentos da II Grande Guerra, efetivamente criada num orfanato, mas não uma “Lebensborn”.
Mas sim agente da “Stasi”, a temível e pérfida Polícia Secreta da ex-RDA!
Imagine-se a bomba entre os familiares!
Toda aquela vida daquela família, com base naquela mulher, fora estruturada em mentiras sucessivas que foram sendo pouco a pouco afloradas e reveladas, na sequência do julgamento.
Esta é uma sinopse muito sintética deste filme tão dramático. Excelente! Merece ser visto e revisto.
E até onde vai todo esse desenrolar de acontecimentos, em busca da Verdade? Esse “descascar de cebola” da vida daquela mulher, esse abrir da caixinha das matrioskas, em que dentro de uma boneca vai surgindo sempre uma outra boneca?! Vidas dentro de vidas, sete vidas! O abrir da “Caixa de Pandora”!
‘Como pudeste viver com estas mentiras todas ao longo de todos estes tempos?!’ Ter-lhe-á perguntado o marido.
‘Graças ao vosso Amor! Nunca ninguém me amou na vida, além de vós!’ Ter-lhe-á respondido Katrine.
Mas será esse Amor suficiente e capaz de continuar a sustentar aqueles elos familiares, aquelas vidas? A sua Vida?!
Katrine decidiu ir-se denunciar, só, apresentando-se à Polícia Norueguesa.
E foi nesse trajeto na estrada, numa suposta paisagem típica norueguesa, que nunca fui à Noruega para saber, mas que imagino... Em plano de fundo, um fiorde, as faldas das montanhas graníticas, uma luz coalhada de cobres ensanguentados, uma estrada serpenteante e arrefecida de gelo... Nessa via sinuosa, uma falha nos travões, uma derrapagem no asfalto gelado, um guinar do carro, o sair do alcatrão e o embate nos rochedos! E, a breve trecho, o carro a incendiar-se.
Morte trágica, que a Vida fora uma tragédia. Fogo, incineração, cremação. Libertação e expiação.
Que não seria mais possível continuar a viver nem a sustentar tantas mentiras!
Tantas questões que a narração nos coloca. Inquietantes e perturbadoras!
Suscito mais uma interrogação: Terá havido uma derrapagem acidental ou foi ela propositada e perpetrada por Katrine?!
Também poderia subintitular este filme como “Estilhaços das Guerras”.
Que esta história, com um fundo verdadeiro, faz parte da História das Guerras: da II Grande Guerra e da Guerra Fria.
Para além do contexto de destruição que todas as Guerras promovem, enquanto decorrem: mortes de milhões de seres humanos e de outros seres vivos, destruição de bens, estruturas e serviços, de modos de vida... ainda continuam, mesmo após o seu término, a destruir, a problematizar as vidas dos inocentes, que querem viver em Paz!
Mas terá alguma vez, o Ser Humano, supostamente o Ser Mais Inteligente à face da Terra, alguma vez terá o bom senso para perceber que as Guerras não levam a lado nenhum?! Que as armas apenas destroem o que tanto custou a ser criado?!
Que não faz sentido continuar a produzir armamento apenas para destruir?!
Que as Guerras são cada vez mais destrutivas e de consequências cada vez mais globais e incontroláveis?!
Atente-se no que vivemos atualmente, nesta mesma nossa velha Europa!