Há quem do Tejo só veja
o além porque é distância.
Mas quem de Além Tejo almeja
um sabor, uma fragrância,
estando aquém ou além verseja,
do Alentejo a substância.
Há quem do Tejo só veja
o além porque é distância.
Mas quem de Além Tejo almeja
um sabor, uma fragrância,
estando aquém ou além verseja,
do Alentejo a substância.
E eu que, quando delineei a estrutura ideativa deste blogue, quase há um ano, que me mentalizara que, em princípio, não falaria da dita cuja, política.
Mas não me posso abstrair, ignorar a vida da “Pólis”, na “Cidade”, de pôr em prática o conceito de CIDADANIA.
Daí, quer quisesse ou não à partida, a realidade e a interação com essa mesma realidade, leva-me à abordagem de situações ligadas à Política, porque estão ligadas à Vida e ao nosso dia-a-dia!
E a forma que muitas vezes encontro para tratar esses temas, de uma forma mais distanciada, é abordá-los sob o ponto de vista dos filmes, da ficção!
Estranho, não?!
Mas, por vezes, e cada vez mais com a comunicação interativa, ficção e realidade estão entrosadas, para o bem e para o mal.
E o Poder que têm os Media!
Assim, e novamente, volto a Borgen, apesar de ontem não ter visto o episódio desta reposição da série. Vira o de oito dias antes. E na 1ª transmissão dos episódios, vi-os quase todos. Nesta reposição vejo quando me é possível, e ontem não o vi.
Sobre esta série escrevi alguns posts, que refiro aqui! E aqui!
A personagem principal é Birgitte Nyborg.
E que falta nos fazia termos assim alguém na Política.
Alguém que defenda Valores Humanistas, Ideais de Liberdade, os Direitos Humanos, que trabalhe para as Pessoas e não em função de si mesma, que defenda e lute por Valores Altruístas, que defenda os valores do seu próprio país e não esteja à mercê dos interesses de outros.
Que saiba negociar.
Que saiba criar acordos, mesmo não governando com maioria, muito menos com maioria absoluta. Porque não é preciso ter necessariamente maioria absoluta para se poder governar. E muito menos é conveniente.
Porque é preciso saber equacionar, criar acordos de convergência com outros partidos, até porque em variados campos é mesmo necessário haver um amplo consenso. Saber criar consensos. Discutir ideias e ideais, orientar-se por Princípios, num mundo em constante mudança.
Saber e aprender a sentir o pulsar das Pessoas, dos Cidadãos.
Relevar o papel da Mulher na sociedade e na política.
Atender a causas fracturantes, defender a integração das comunidades imigrantes.
Saber dizer não à demagogia do lucro fácil.
Respeito pelo Ambiente. Procura de soluções alternativas no campo da energia.
Saber e poder dizer não à ditadura dos mercados financeiros, que controlam a economia e a política. Porque na Europa, e se na União Europeia se quiser, isso é possível.
Participar na construção de um União Europeia mais solidária.
Nesta série, o enredo ficcional entrosa-se regularmente com a própria realidade. O que se passa no filme, assemelha-se ou enreda-se na própria realidade.
Sendo que na série, e pela primeira vez na Dinamarca, uma mulher ascendia ao cargo de 1ºMinistro, tendo a visualização do seriado passado em 2010, no ano de 2011, e de facto e pela primeira vez na realidade, uma mulher passou a exercer esse cargo na política dinamarquesa, a célebre Helle Thorning-Schmidt, que algumas dores de cabeça terá provocado em Michelle, com já referi em post anterior.
Mas deixemos essa cusquices tão peculiares nas duas jornalistas loiras, só loiras, da televisão dinamarquesa, uma delas, agora, é spin-doctor de Birgitte e do seu novo partido, “Novos Democratas”.
E que falta nos fazia termos uma política e um partido assim!
E o papel dos media?! E como eles controlam e determinam a opinião pública?! Sabendo que eles têm dono. “His master voice”!
Respeito pelas Pessoas, nomeadamente por quem trabalha,
Tratar as pessoas com Dignidade, nomeadamente quem já trabalhou e deu o melhor ao seu País.
Trabalhar na Política para o País, para os Cidadãos, para as Pessoas e não em função dos seus partidários e da sua pessoa, não ao compadrio e jogos de interesses.
Altruísmo! Trabalhar politicamente para os Outros e não para si próprio e amigos do partido.
Penalizar o capital e não tirar a quem já pouco tem. Que os lucros da Banca têm sempre crescido exponencialmente e comparativamente com o empobrecimento de quem trabalha e, na base da sociedade, sustenta a pirâmide socio económica.
Não à corrupção, ao nepotismo.
Atenção ao Ambiente, Educação, Integração, atenção às minorias.
Consciencialização e conscientização de que Cidadania assenta em Direitos, mas também em Deveres, de Todos, de todos os Cidadãos!
E com este enumerar de princípios, estratégias, conceitos, e sei lá mais o quê, onde, em que partido os vou encaixar?!
Sabendo que a candidata Birgitte Nyborg não irá dirigir nenhum dos futuros governos em Portugal?!
E estas ideias desarrumadas, como se uma “tempestade mental” integrassem, reportam-se todas ao ideário da mencionada protagonista, da série supracitada, ou algumas serão minhas, que as coloquei como se fossem da líder partidária?!
Bem, tantas perguntas e só preciso de colocar uma cruzinha.
A fábula que vos vou contar ouvia-a à minha avó que já cá não mora, mas me a segredou ao ouvido, numa noite de insónia. Deve ser lida com sotaque de português do brasil, suave e adocicado, para que o “Acordo” seja levado com mais amenidade.
Tem quatro atos e a respetiva ação decorre em dois momentos: no “Hoje” e no “Amanhã”.
O “Hoje” é um dia que já é uma tarde… O sol já riu e chorou, buscou agasalho e refrigério, amou e desamou, já teve esperança e agora desalento.
O “Amanhã” tem o condão de, apesar do “Hoje” taciturno e deprimido, desesperançado e triste, trazer sempre a ilusão ou esperança possível de que “ amanhã é um novo dia” e o sol vai nascer radiante e luminoso.
O Hoje e o Amanhã situam-se num “Reino da Bicharada”, situado algures num espaço e num tempo em que os animais ainda falavam, pois que ainda havia liberdade de expressão e os ditos agiam, pensavam e sentiam como nós os humanos.
Apresenta-se o 1º Ato da fábula
Aproveitamos para lançar um repto: esta fábula ficaria muito bem se fosse ilustrada. Competência que nos escapa. Haverá algum eventual leitor que seja capaz de tal?!
Hoje - Ato Um
O Senhor Burro
O Senhor Burro que é trabalhador e honesto, pontual e assertivo, assíduo e proativo, experiente e motivado, com licenciatura e mestrado, que trabalha por objetivos, cumpre metas e horários, que é ‘burro de carga’, ‘pau para toda a obra’… foi despedido do local de trabalho que já exercia há vários anos.
Invocou as suas competências e qualidades, atitudes e valores, conhecimentos e experiência, sabedoria e sapiência, a dedicação à “Firma", o seu apego à "Casa”, mas nada! Era velho! Já não prestava para trabalhar, que pedisse a reforma antecipada, que mesmo penalizado, era melhor que nada!
Mencionou direitos. Que não, agora, “HOJE” “direitos são regalias”, poder trabalhar é um privilégio. Não há “direito ao trabalho”, os despedimentos são flexíveis…
Nota: Este ato pode ser representado por qualquer outro animal, especialmente burro, de qualquer idade e condição.
Hoje - Ato Dois
O Senhor Pato Ganso
No final do mês de novembro, o Senhor Pato Ganso abriu o seu e-mail para ver o seu estrato de conta e quanto recebera e verificou um acentuado decréscimo face ao que recebia habitualmente.
Foi falar com o contabilista da repartição onde trabalhava, não se tivesse este enganado.
Ouviu uma voz off, responder-lhe: você é pato, ainda por cima ganso, por isso recebe menos este mês, no subsídio de natal. Menos prendas compra. Hoje, é só pato ganso que recebe menos, amanhã será também o pato marreco. E assim por diante… Depois do pato vai o peru, direito à ceia de natal.
“Amanhã”
Ato Três
Dona Galinha Có Ró Có
Era dia de voto, de eleição, prática já enraizada entre os animais do Reino da Bicharada. Fora marcada a votação, para o primeiro dia do ano, primeiro de janeiro, que coincidira em domingo. Para poupar nos feriados, foram marcados o da “restauração”, o da “república”, o “primeiro de Maio” e o da “democracia”, todos neste mesmo dia! E mais alguns com outro significado, que assim se reduzia no feriado.
Dona Galinha Có Ró Có se apresentou para votar. Se vestira a preceito, de cravo no peito, cabelo arranjado, de ar anafado. Entrou na assembleia de voto e cacarejou: sou Galinha Có Ró Có, venho exercer o meu direito de voto.
Votar?! Galinha não vota! Galinha cacareja, está no galinheiro, põe ovo e dá pinto e, no fim, canja de galinha. Votar, só vota o Galo! Ouvia-se em off, a voz do “Pig Brother”.
Mas não, que tenho direito, que voto é livre, que é “Democracia”, respondia a Dona, abanava as asas, espanejava as penas.
Mas não, votar não votou, e tanto espanejou que a “ramona” a levou para caldo de galinha.
Ato Quatro
Dona Cachorra
Dona Cachorra, pêlo luzidio e preto, ar reluzente, feliz e contente, foi tomar o autocarro, para seguir para o trabalho.
Na paragem, viu sinal de “Aqui cachorro não entra!”, um sinal stop com imagem de cachorro preto em fundo, mas não ligou.
Tentou entrar no onibus, mas não, que não podia entrar, barraram-lhe a entrada, enquanto se ouvia “Aqui cachorro não entra!”, voz gravada em off, do mesmo “Pig Brother”. Mas Dona Cachorra, chamada de “Rosa”, argumentava que precisava de ir de autocarro, que tinha direito a ir, que tinha dinheiro, as vacinas em dia, os impostos pagos, trabalhava a horas, era cumpridora, honesta e trabalhadora, mãe de família, cachorra – diligente e fiel, sem parasitas, cidadã livre do Reino da Bicharada …
Será que Dona Cachorra Preta, chamada de “Rosa”, entrou e sentou no autocarro?...
Saber a resposta para esse Amanhã, só depende da Bicharada!