Há quem do Tejo só veja
o além porque é distância.
Mas quem de Além Tejo almeja
um sabor, uma fragrância,
estando aquém ou além verseja,
do Alentejo a substância.
Há quem do Tejo só veja
o além porque é distância.
Mas quem de Além Tejo almeja
um sabor, uma fragrância,
estando aquém ou além verseja,
do Alentejo a substância.
“La Souriciére” – “A Ratoeira / A Armadilha”: 12/11/1942
Na apresentação de cada episódio há uma estruturação técnica sempre comum, sob vários aspetos. Um deles é um introito em que, de algum modo, nos ligamos ao episódio anterior e ao que vai ser apresentado a seguir, como se fosse um leit-motiv do mesmo. No final, também nos apresentam algo que nos deixa em suspense para a temática do episódio seguinte.
No anterior, décimo primeiro, em ambos estes excertos da narrativa, foi dada relevância a uma mesma personagem, que nestes últimos episódios tem sido destacada no enredo. Trata-se de Rita De Witte.
(Sinceramente, não sei se esta tem sido a metodologia de todos os episódios. Neste, observei-a.)
Voltando à personagem.
No introito, apresentou-se ela perante o namorado, Jean Marchetti, na subprefeitura, após ter vindo do médico, conhecedora da existência da carta, ignorante do respetivo conteúdo.
Apreensiva, temerosa e com cautela, que muitos dissabores já passou, confrontou-o, muito subtilmente e com cuidado, sobre eventuais notícias que ele pudesse ter da mãe, sem nunca aflorar algo que a pudesse indiciar de conhecimento da missiva. Os medos serão múltiplos e diversos.
A conversa ficou-se por muitas e meias palavras, sentimentos aflorados e retraídos, tensão de ambos os protagonistas, que ele é um personagem cheio de contradições, aliás, próprias de qualquer ser humano, por demais em tempos tão conturbados e incertos. E ela é uma mulher só, num mundo hostil, uma náufraga perdida, em que o amado é um pedaço de madeira, frágil e inseguro, mas o único que lhe ofereceu um amparo e sustento e mais um rebento a nascer.
E que, apesar de todas as improbabilidades, a ama, a quer fazer sua mulher, e ser pai da criança a caminho.
Rita andou todo o episódio ausente.
Foi motivo de preocupação exacerbada do amante, que, inclusive, esqueceu as suas prioridades profissionais, ordenando imperiosidade na sua procura (!)
Dirigiu-se, arrogante e prepotente, a casa do médico Daniel Larcher, arrombou-lhe a porta, agrediu-o, invadiu-lhe os espaços, até ao quarto onde agonizava Madame Morhange, que aproveitou para, no leito de morte, o confrontar com a sua crueldade e cupidez, que fora ele que deportara a mãe da própria amada, a quem ela dera conhecimento do facto.
Desesperado, louco por saber do possível paradeiro de Rita, ameaçou de morte Sarah, chantageando Daniel, que apenas lhe disse o que sabia, que Rita planeava fugir para a Suiça.
Providencialmente, chegou o tão desejado Henri de Kervern, namorado de Madame Morhange, que enfrentou a fera enraivecida, lhe disse, com os punhos, o que ele há muito pedia, que é um pulha, um canalha, um escroque. E estatelou-o no chão.
Só assim a besta fugiu.
Fugiu. E foi dedicar-se, de alma e coração, ao frenesim da sua missão. Prender, matar ou enviar para a morte franceses como ele, mas que vem perseguindo já anteriormente ao começo da guerra e da própria invasão nazi. Comunistas, bolcheviques, judeus e agora também os gaulistas. Em suma, os oprimidos e os lutadores pela Liberdade.
À data, já ao serviço dos boches, dos nazis, dos ocupantes. Querendo agradar-lhes, servi-los e dar-lhos como prémio.
Assim montaram a “ratoeira / armadilha” para apanharem os resistentes que se reunirão na quinta de Marie. Mercê da delação de Albert Crémieux, que mantem a sua falsidade e colaboração com os seus próprios algozes até ao fim.
Constate-se o aparato nessa armação, com todos os meios que os representantes de Vichy dispunham. Todos os efetivos policiais, exceto Vernet; um batalhão de “gendarmes”, o subprefeito em pessoa, Servier, servil instrumento da ocupação.
E até um novo personagem que tem andado a contracenar com a também fascista, Jeannine, de nome Philippe Chassagne, à procura de protagonismo, finalmente alcançado, que soubemos, foi nomeado novo presidente de câmara, que Daniel Larcher já não servia, nem compactuava com o colaboracionismo.
Todo este aparato para tentarem prender, de preferência matar, mais propriamente, chacinar compatriotas! Que era esse o seu propósito.
Aguardemos o episódio doze, derradeiro desta 4ª temporada.
E que viram e vimos nós também no final do episódio?!
Um ciclista que se aproximava.
Mais um membro da célula que vinha para a reunião?!
Que apenas houvera chegado um outro ciclista, Marcel Larcher. Comunista, mas muito voluntarioso e idealista, insistira em comparecer, apesar das recomendações de Edmond, mais conhecedor que ele do funcionamento partidário e dos cuidados da clandestinidade. Que um outro camarada, Roger, não comparecera previamente, sinal que haveria algum perigo e a reunião deveria ser suspensa.
O aviso transmitido por Jules Bériot à “menina” da “Maison Berthe” terá sido eficaz.
(Muitas, muitas situações ficam cortadas nesta minha narração, mas é de todo impossível transcrevê-las. Também não sou o guionista, não é?)
E, voltamos ao ciclista.
Marchetti pediu o binóculo para visualizar.
E quem viu ele, juntamente connosco?
Pois, nem mais nem menos que a sua amada Rita!
E que fará ela, ali, naquele momento tão crucial, agora que estão quase a atacar?!
Tanta força e energia, tantos recursos, para atacarem gente quase indefesa e não se voltarem contra os ocupantes que planeiam continuar a invadir a Zona Sul! E que perspetivam os franceses ocupados, como diminuídos.
E aqui bem caberia falar de Hortense... Que bem personifica a situação da França ocupada, face aos ocupantes.
Mas não. Vou terminar com o que previra começar.
A morte assistida de Madame Judith Morhange.
Assistida pelo médico Daniel Larcher, em ambos os sentidos, e pelo seu amado, Henri de kervern.
Ambos choravam.
Antes de se tornar “invisível”, ainda pode contar os horrores que presenciara em Drancy!
“Des nouvelles d’Anna” – “Notícias de Anna”: 12/11/1942
Anna, reporta-se a Anna Crémieux, judia austríaca, mulher de Albert, judeu francês, antigo industrial e, atualmente, resistente gaulista, a viver clandestino no campo e que foi preso no final do episódio anterior, nono, a 11/11/1942.
Afinal, constatei, com base na carta enviada por Anna a Albert, que Hélène, a filha de ambos, não fora resgatada, conforme eu julgava.
A partir dessa missiva, houve notícias de Anna para o marido, enviadas de Drancy.
Notícias deturpadas por Marchetti e colega, que redigiu nova carta, alterando-a, de modo a dar falsas esperanças a Albert de que, caso ele colaborasse, poderia vir a ter novamente a mulher e a filha, que Marchetti intercederia nesse sentido junto de Servier e dos alemães.
E, Albert, fragilizado pela prisão, pelo isolamento em que estivera, desesperado da ausência de ambas, que não falava de outro assunto, cedeu. E delatou todos os nomes dos colegas resistentes, local de refúgio e reunião, meios de que dispunham...
E, no próximo episódio, 11º, os polícias franceses irão montar uma armadilha aos Resistentes Gaulistas.
Abominável atitude e desmesurada ambição destes polícias, que preferem prender e levar à morte os seus compatriotas, que lutarem pela Libertação da sua Pátria!
Mas Marchetti fez ainda pior.
Porque houve outra carta, esta enviada a Rita, pela sua mãe, presa nesse mesmo campo temporário, em trânsito para um dos campos de concentração e extermínio, no Leste da Europa.
No final do episódio, constatamos que Rita de Witte, grávida de Jean, foi à consulta do Drº Daniel, contrariamente ao que o amante lhe recomendara, mas pela questão fortuita do outro médico da cidade ter faltado ao serviço. (Situações das que ocorrem nos seriados, para empolar a narrativa.)
Após consultada e, ao despedir-se, o médico, numa atitude simpática, interpelou-a sobre se ela terá gostado de ter tido notícias da mãe.
Perante a admiração da mesma, questionou-a se ele não lhe deu a ler a carta.
“- Que carta?!”, interrogou-o, Rita, estupefacta e apreensiva.
Nós que estamos de fora, como telespetadores, a observar tudo, vimos bem o que o malvado fez... todavia, figura ambivalente, um espelho da França, que simultaneamente que assim procede, também anda a tratar de tudo para casar com a moça, arriscando-se, bem como a própria carreira, ao pretender ligar-se a uma mulher judia!
Aguardemos o próximo desenrolar do enredo.
Mas estamos abordando sobre cartas... E como foi o correio?
Quem serviu de correio, clandestino, foi Madame Morhange, antiga Diretora da Escola, que foi “devolvida” do campo de Drancy, por estar muito doente, mercê da intervenção de Servier. E foi recebida na casa do médico, Daniel Larcher, pois ela pretendia que este lhe “achasse” o namorado, Henri de Kervern, bem como entregar-lhe as cartas. Só que estas foram surripiadas por Marchetti, como vimos, e que lhes deu aquele destino...
Daniel teve uma ação fundamental neste episódio, desdobrando-se nos seus múltiplos papéis.
Tio extremoso de Gustave, a quem ajudou nos trabalhos de casa; para além do médico de serviço, sempre pronto a ajudar os pacientes; e do seu papel de “Resistente”, não propriamente oficial, elo de ligação mais ou menos voluntário, entre todos. Tem ainda tempo para aturar a mulher, Hortense, que o manipula sistematicamente, que faz dele “manso”, aconchegando-se-lhe no corpo, como uma criança carente e mimada, após ter regressado de um jantar com o boche torturador e assassino.
Quem ficou despeitada e perturbada, com a perceção desse evidente arrulho, foi Sarah, que tendo vindo inesperadamente da Zona Sul, de manhã, certamente para matar saudades, se depara com a evidência dos factos. Supostamente viria para ser amante, mas factos são factos e dez anos de casamento, para Daniel, não se atiram assim borda fora. E de amada, reduziu-se à condição de criada e foi fazer ovos estrelados!
Mas altiva, bela, jovem e recatada (?), não deixou de lhe atirar: “Ela faz de si o que quer. Vou partir amanhã. Prefiro desenrascar-me sozinha!”
Veremos o que acontecerá no futuro!
E preparando e lutando pelo Futuro destacam-se os “Resistentes”.
Após um conciliábulo, parcialmente fortuito, entre Jules Bériot e Marcel Larcher, em casa de Madame Berthe, comunistas e gaullistas, reúnem-se de forma estruturada. Confianças e desconfianças recíprocas, resolvidos alguns mal entendidos iniciais, alterada a chefia da célula comunista, no decurso da própria reunião, acabam por definir estratégias de atuação, futuras reuniões e ações conjuntas, na luta contra o inimigo comum: o invasor e ocupante alemão e os colaboracionistas e o governo de Vichy.
Aguardemos que, como também já referimos, Albert Crémieux, também da célula gaullista, denunciou-os e Marchetti prepara-lhes uma ratoeira.
Nesta reunião houve, acidentalmente, o esclarecimento de um assunto que já vem na narrativa há vários episódios e que tantos atritos tem provocado na célula comunista. O da possível delação de Suzanne relativamente a Yvon.
Foi aqui desvendado, fortuitamente, que ela não fora a traidora, nem terá havido propriamente um traidor. Apenas fora Edmond que, na sequência do atentado, fora visto pelo polícia Vernet, a sair do local onde se acoitava Yvon. E Vernet, também participante na reunião, pois é resistente gaullista, e que, como policial, nunca esquece um rosto, reconheceu Edmond.
(Não compreendi todas as cambiantes desta situação, pois talvez não tenha visto o episódio.)
Não quero deixar de ainda abordar um pequeno, de somenos importância (?), pormenor.
O que foi o Professor e Diretor da Escola, Jules Bériot, fazer a casa de Madame Berthe, caftina da cidade, pelos vistos, pela primeira vez, tendo ele uma mulher tão bela, jovem e sedutora, em casa?!
Terá ido angariar alunas para algum curso noturno?! Para umas novas “Novas Oportunidades”? Preparar para exame ad-hoc à Universidade?
Não, ele foi precisamente buscar aconselhamento, com a experiente Madame, para dar outra cor e uma nova oportunidade ao seu casamento.
E, pelo que foi supostamente visto e ouvido, parece ter dado resultado.
Será a partir de agora que começam a tratar-se por tu?!