“A Agência Clandestina” - Temporada 1 - Personagens e alguns Tópicos do Enredo
Episódio 10
(4ª feira – 02/11/2016)
E volto à abordagem da série. Que já chegou ao episódio 10.
Quanto ao título, de modo que fosse um pouco mais consentâneo com o tipo de Agência, talvez “Agência Secreta”. Não sei se seria original ou não.
Quanto ao significado de “Légendes”, no contexto da série, reporta-se a palavra precisamente para o sentido literal: “legendas”. Uma ideia um pouco diferente da que eu supusera, reportando-me aos agentes como “lendários”, no sentido do seu desempenho e atuação.
Procurando traduzir o que referem na sinopse: os agentes « …trabalham na sombra, “sob legenda”, isto é, sob uma identidade fabricada em todos os aspetos…»
A Agência, “Bureau des Légendes” é um Departamento que funciona no âmbito da DGSE – Direção Geral da Segurança Exterior. Nela, são formados e dirigidos “à distância”, os agentes “clandestinos” mais importantes dos serviços secretos franceses, de informação externa.
Devidamente preparados, como podemos observar face à personagem “Marina Loiseau”, são colocados num país estrangeiro, em “Missão” de observação de possíveis pessoas suscetíveis de serem recrutadas como informantes.
Aí vivem longos anos, “imersos” nesse país, sob essa identidade fabricada, falsa, mas totalmente interiorizada como verdadeira, em permanente dissimulação.
Guillaume Debailly é o principal agente do Departamento e personagem principal no enredo e narrativa da série.
Viveu seis anos em Damasco, sob o nome e a identidade de Paul Lefebvre, professor de Francês.
Inicia-se a história com o seu regresso a Paris. Daí decorrerá a sua suposta integração na Agência e assunção da vida “normal”, sob a identidade verdadeira de “Guillaume, em que se incluirá o restabelecimento dos laços familiares com a filha e a ex-mulher.
Esse restabelecimento, esse “despir” de uma personalidade forjada, mas vivenciada durante largos anos e o interiorizar da verdadeira, não se revela nada fácil.
Mais difícil se vai tornando, quando, paralelamente ao seu regresso, também decorre a vinda, para a capital de França, da sua amante em Damasco: Nadia El Mansour.
Impossível se torna resistir ao apelo do Amor e Guillaume reassume a sua identidade de Lefebvre. E para amar, que o Amor não olha a meios nem fins, faz um jogo duplo e perigoso, colocando-se em risco pessoal, da sua própria família, no caso da filha, que expõe a perigos insuspeitos e da própria Nadia. Sobre esta, no nono episódio, recebeu uma chamada, de Nadim El Bachir, anunciando-lhe que acabara de lhe declarar sentença de morte. Porque, aparentemente não cedera à chantagem que aquele lhe impusera.
Muitas ocorrências aconteceram nestes últimos episódios.
A todos os agentes é atribuído um “pseudónimo”, melhor, “anexim”. O de Guillaume é “Malotru”.
Todos estes “anexins” são expressões favoritas, retiradas do vocabulário do capitão Haddock, personagem da banda desenhada de “As Aventuras de Tintin”.
Continuando…
Nadia El Mansour, professora universitária, especialista em História e Geografia e muito especificamente do seu país natal, Síria, está muito para além do que Guillaume supunha.
Está em Paris, integrada num grupo de altos dignitários sírios, ligados ao chefe de estado do país, em negociações secretas com a oposição, tendo como intermediário um russo, em nome do respetivo país. É parte integrante dessas negociações, na sua qualidade de conhecedora da realidade cultural síria, altamente complexa e diversificada no plano da sua História e Geografia, suscetível de multivariados conflitos de índoles diversas.
O seu relacionamento com Lefebvre é motivo de preocupação e visto com muita apreensão pelos restantes membros da equipa das negociações, dado desconhecerem e temerem as atividades de Lefebvre, que desconfiavam ser jornalista ou espião, tipo de personagens que querem afastados, pois quebrariam o sigilo das negociações.
Avisada, intimidada, pelos vistos, ela não cedeu, julgo ter sido recrutada pela “Agência” e agora está ameaçada de morte. Pois que o seu amante não se vergou à chantagem, não fornecendo a informação pretendida, uma lista dos contactos que ele conseguira em Damasco, enquanto aí operava clandestinamente, como agente.
No episódio dez, soubemos que estará presa no Irão, numa prisão síria. Esta informação foi fornecida a Guillaume, por um agente da CIA, a quem ele fora oferecer os serviços de mediação com os sírios, em troca de a Agência americana tentar a libertação de Nadia.
O que se revela difícil, dada a complexidade das relações entre estes países e os americanos.
E estes são tópicos fundamentais da narrativa: as negociações secretas dos agentes sírios e o envolvimento de Nadia com Lefebvre, e as implicações e complicações daí decorrentes, para todos os envolvidos.
No fundo, resultantes de o agente não se ter conseguido libertar do seu passado em Damasco, mantendo e agindo conforme essa mesma identidade.
E nessa tentativa de remediação dos erros cometidos Guillaume vai-se “enterrando” cada vez mais. A ponto de trair: a sua Agência, o seu País, a sua Família, a sua Amada.
Um “renegado francês”, como o apelidou o representante da CIA em Paris, Peter Cassidy.
Outro dos tópicos centra-se no recrutamento, na preparação e no envio de um novo agente para o exterior. Neste caso, uma mulher, Marina Loiseau, que veio sendo preparada, testada na sua capacidade de resistência, para ser enviada para o Irão.
Submetida a treino intensivo no plano físico e psicológico, inclusive, torturada, revela-se suficientemente apta para o desempenho que lhe está destinado.
É apelidada de “Fenómeno”.
Neste 10º episódio soubemos que chegou, finalmente, a Teerão, depois de ter estado presa em Tiblissi, à ordem dos iranianos, mas pela ação dos georgianos. Mais um teste de resistência a que foi submetida e que conseguiu superar.
Mandou uma mensagem à “prima”, Marie Jeanne, a dar conhecimento da sua chegada. Depois da inquietação a que todos estiveram submetidos, foi com satisfação e alívio que receberam a notícia.
Marie Jeanne faz parte da equipa dos vigilantes da Agência. É com ela que os agentes secretos contactam, quando estão em missão. É a sua referência e elo de ligação com a estrutura mãe. Foi o referencial de Guillaume, enquanto em missão na Síria e, em França, promotora da sua integração na normalidade das suas referências, sem o conseguir, como temos visto.
É também ela quem tem preparado, na Agência, a nova “clandestina”, Marina, que neste décimo episódio lhe deu conhecimento que chegara ao seu destino, para o qual ela a preparara.
Outro dos tópicos fundamentais do enredo incide no desaparecimento de um agente especializado, operando na Argélia, Rachid Benarfa, apelidado de “Cyclone”, logo no primeiro episódio.
Este tem sido um tema que tem perpassado por toda a narrativa, especulando inicialmente sobre o que lhe teria acontecido, sobre a sua natureza enquanto espião, se fiel, se duplo, onde estaria, o que lhe teria acontecido, se raptado, se torturado, se teria delatado, quem o teria raptado ou coaptado… Verificada a sua integridade, tratou-se de encontrar formas e meios de o reaver. Engendraram um plano, concebido por Guillaume, de forma a obter a sua libertação. O que foi conseguido neste 10º episódio, no meio do deserto do Saara, algures no Mali.
Muitas peripécias e percalços ocorreram, envolvendo pessoas, instituições e recursos, que eu estou a saltar nesta minha narração.
Veremos se ele vai regressar à Agência.
Outros personagens relevantes que atuam na Agência ou na Direção Geral:
- Henri Duflot, o diretor. Funciona com um “pai espiritual” de todos os funcionários, por quem se interessa como tal. No seu estilo relativamente “apagado”, consegue agir e intervir de forma pertinente, mesmo em situações em que fora mandado colocar no seu “lugar”, que é essencialmente técnico, face a negociações, por vezes, fundamentalmente políticas.
- Marc Lauré, designado “MAG”, (Moule à Gaufres), “rosto picado das bexigas”. (Na minha Aldeia talvez se dissesse “cara de cortiça”.)
Coronel, é o diretor do Serviço de Informações e superior de Duflot. Age e funciona num enquadramento predominantemente de estratégia política.
- Raymond Sisteron, que faz parte da equipa de “vigilantes” da Agência. É a “referência” e suporte de “Cyclone”. Sofreu um bocado, que é como quem diz, bastante, com o respetivo desparecimento. Emocionou-se e rejubilou como ninguém com a respetiva localização e salvamento, para a qual teve um papel relevante, à distância de satélite, com as informações peculiares que forneceu sobre o seu agente e que foram cruciais para a identificação pelo médico, vindo de “Felis”.
- Funcionam dois agentes como siameses, sempre em dueto, Pépé e Mémé, o “Avô e a Avó”. São um sustentáculo operacional de todos os agentes em França. Tratam de logística, apoio, escolta, intimidação, defesa dos homens e mulheres a seu cargo.
- Outra agente “a Mula” exerce as mesmas funções.
- Ainda, integrados na Agência, funcionam:
- “Gherbi”, um dos recrutados por “Cyclone” em Argel, que, face ao respetivo desaparecimento, foi obrigado a ir para Paris, onde foi sujeito a tortura para testar a sua lealdade, o que o fez detestar o funcionamento da Agência e afirmar não querer mais trabalhar para eles.
- “Rim”, secretária de Duflot.
- Simon, torcionário, que torturou Marina, como forma e meio de a preparar para eventuais situações futuras e testar a sua capacidade de resistência. Tornaram-se “amigos coloridos”.
Veremos se cortaram completamente essa amizade, se ela resiste ao tempo e à separação e ausência comunicacional.
Há ainda mais alguns personagens secundários na Agência, mas de que ainda não me apercebi muito bem da função.
No plano familiar, assinala-se Prune Debailly, filha de Guillaume e Émilie Duflot, a mulher de Henri.
O enredo estrutura-se quase exclusivamente no âmbito profissional dos personagens, que a vida familiar destes agentes está relegadíssima para um plano muito secundário. Vivem muito na Agência ou na sua “missão", caso em que abandonam totalmente a sua vida anterior.
Do grupo de sírios, em negociações secretas, de que Nadia fazia parte, assinalam-se Nadim, dos serviços secretos sírios e Hachem Al-Khatib, homem de negócios e primo do presidente.
Guardo, propositadamente, para o final, a personagem da Doutora Balmes.
Médica psiquiatra, especializada em teoria comportamental, foi recrutada para ajudar os agentes em várias estratégias psicológicas de defesa psíquica e de manipulação dos seus verdadeiros objetivos. Está em permanente observação dos profissionais, nos diversos contextos em que eles agem e interagem, interpelando-os, interrogando-os, fazendo-os refletir, pensar sobre eles mesmos e os outros, sobre os seus comportamentos e atitudes, num modo analítico e introspetivo, a fim de se conscientizarem.
Surpreendentemente, no último episódio transmitido, décimo, ficámos a saber que ela é agente duplo, trabalhando para os americanos, CIA, desde o início em que foi contratada pela Agência francesa.
E é vê-la, no final do episódio, quando todos festejam na Agência a libertação de “Cyclone”, bebendo champagne, ela inclusive, e ovacionam Guillaume Debailly. Posicionada estrategicamente no fundo da sala, em lugar de não destaque, em permanente observação, ainda que também participante no evento comemorativo, mas numa certa distância empática.
E os olhares que se cruzam, o dela e o do agente glorificado.
Conhecendo, conhecendo-se e sabendo da ambígua e dupla situação de ambos, como será o respetivo desempenho futuro?!
Irão continuar a exercer as respetivas funções como se nada tivesse acontecido?
Manterão o statu quo, pelo menos nas aparências?
Irá Guillaume obedecer às ordens dos americanos?
Continuará a agir como se tivesse uma agenda profissional própria? Irá aguentar? Até quando sustentará essa pressão?
Na Agência farejarão alguma coisa? Deixará algum rasto mal apagado?
Tantas perguntas e questões que ocorrerão.
Só há um meio de encontrar respostas.
Visualizando a série.
Até breve!
(P. S. - Constatarei no dia 8, que o décimo episódio foi o final da 1ª Temporada.)