Há quem do Tejo só veja
o além porque é distância.
Mas quem de Além Tejo almeja
um sabor, uma fragrância,
estando aquém ou além verseja,
do Alentejo a substância.
Há quem do Tejo só veja
o além porque é distância.
Mas quem de Além Tejo almeja
um sabor, uma fragrância,
estando aquém ou além verseja,
do Alentejo a substância.
No Chamiço, embora despovoado, a partir de meados do séc. XIX sem vida permanente, os terrenos continuaram a ser cultivados pelos herdeiros dos antigos habitantes, que migraram para as povoações mais próximas: Aldeia da Mata, Monte da Pedra, Vale do Peso…
Esse despovoamento resultou de um processo, que se foi acentuando ao longo dos séculos, a que os “roubos”, no século XIX, determinaram na extinção do povoado. Não foi algo que tivesse ocorrido repentinamente, “de um momento para o outro”.
A narrativa, dos anos 30 do séc. XX, transcrita em Aquém-Tejo, de autoria do Professor Manuel Subtil, (1875 – 1960), de Vale do Peso, é por demais elucidativa desse “mecanismo processual” e temporal. (Os roubos foram a causa próxima, outros diversos fatores, causas remotas.)
Nas Memórias Paroquiais de 1758, a paróquia do Chamiço já era das menos povoadas, entre as localidades atualmente integradas no Concelho do Crato. (Consulte S.F.F.)
No respeitante à narrativa transcrita a partir de “Etnografia Portuguesa” – Vol. IV – Ed. Imprensa Nacional – 1958 – de Professor Doutor Leite de Vasconcellos – pp 654, 655, convém referir que também se baseia na “tradição oral”. “Assim reza a tradição oral.”
Também tem algumas incorreções, nomeadamente:
Referir que “Quem primeiro abalou, foi uma lavradora, de apelido Carita…” (Porque não foi.)
“… um terreno, de irregular superfície, com uma área de uns 400 metros quadrados…”
(Ora, 400 metros quadrados correspondem a um quadrado de 20 metros de lado! Dimensão bastante inferior ao que o antigo povoado ocuparia. Esse espaço será mais ou menos a dimensão em redor da igreja. E da igreja até às últimas casas a sul? E da igreja até ao moinho, forno comunitário e ponte?! A dimensão do povoado é bem maior.)
Também é relevante frisar que, em “Etnografia Portuguesa”, na parte referente ao Chamiço, não são mencionados a ponte, o forno…! Será que o Professor lhes terá feito referência noutras obras?! Não terá visitado?!
Também há um incorreção referente a “orago Martle Santo”, referindo que “não conste da Corografia de P.e Carvalho”, (pag. 654, linhas 24 / 25 - Etnografia Portuguesa).
No referente ao Presente:
A Romaria e a Ermida são elementos estruturantes do Património do Chamiço.
Mas o Património Material do Chamiço engloba várias componentes: as casas, embora em ruínas; o moinho, ainda com muitos dos elementos básicos. O forno comunitário e a ponte!
Todos precisam ser valorizados e salvaguardados. Já no presente. Acautelando o futuro. Para que não se transformem todos em ruínas.
Há ainda o Património Vegetal, constituído por espécies autóctones. Cada vez mais é imprescindível valorizarmos o coberto arbóreo. Pensando também no futuro!
Os elementos naturais associados ao granito. Os rochedos monumentais! As rochas transformadas, aparelhadas. A ribeira. A barragem, que precisa ser reconstruída.
(As caminhadas são também importantes para darem a conhecer e valorizar os espaços. Criar trilhos pedestres incorporados nas paisagens, partindo e ligando os povoados mais próximos, com passagem pelo Chamiço. No Couto do Chamiço, a “Pedreira das Mós” é também um elemento patrimonial relevante.)
E na preparação do Futuro?!
Integrando as diversas variáveis, reportando-se ao passado e ao presente, o “Chamiço” precisa ser classificado como “Sítio Monumental”! Englobando Património Material e Imaterial.
Esta ação tem de ser integrada e integradora de várias instâncias e entidades, agregando Freguesias, Município, Departamentos Culturais. Entidades públicas, mas também privadas.
Deixo à consideração de quem pode e deve equacionar e operacionalizar tal desiderato.
Neste postal nº 1139, abordo alguns aspetos referentes aos dois Autores cujos trabalhos escritos divulguei sobre o povoado “Chamiço”.
O texto de Professor Manuel Subtil, a partir de fotocópia do Jornal “A Mensagem”, publicado em data que desconheço. Deduzo ser transcrição de texto publicado no Jornal “Brados do Alentejo” de Estremoz, na década de trinta. Cito: blogue Em Comenda.
«MANUEL SUBTIL, Professor e Educador, nasceu na Freguesia de Vale do Peso (Crato), a 05-02-1875, e faleceu em Lisboa, a 15-04-1960. (…)
Entre 1925 e 1944, integrou o corpo docente do Instituto de Orientação Profissional, na sequência de um convite de Faria de Vasconcelos.» ** (…)
O seu nome faz parte da Toponímia de: Crato (Freguesia Vale do Peso – Rua Professor Manuel Subtil). Fonte: “Dicionário de Educadores Portugueses”, (Direcção de António Nóvoa, Edições ASA, Edição de 2003, Pág. 1350, 1351 e 1352)
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** Nunca conheci o Professor Manuel Subtil, apesar de sermos de localidades próximas. Faleceu, era eu criança. Mas é curioso o facto de ele ter sido Professor no I.O.P. – Instituto de Orientação Profissional -, de 1925 a 1944, Instituto onde eu haveria de ser aluno em 1985 /87!A Vida tem destas particularidades!
Através do texto narrativo “O Chamiço, antiga freguesia do Priorado do Crato” “voltamos a cruzar-nos”. Sendo o senhor de Vale do Peso, localidade próximo do “Chamiço”, é muito natural que se tenha debruçado sobre o assunto. Nasceu em 1875, já o povoado era extinto. Todavia terá ouvido contar sobre o tema, dada a proximidade espacial e temporal. Provavelmente terá visitado. Terá até conhecido pessoas que lá viveram. Tinha conhecimento, oral, das deslocações semanais da lavradora, de apelido Carita, a Vale do Peso, para assistir à missa. Senhora Carita, minha Trisavó, uma das minhas ascendentes, que haveria de abalar para Aldeia da Mata, determinando que seja minha terra natal!
Como as Pessoas e as situações estão interligadas, sem elas disso terem conhecimento, porque mesmo vivendo em espaços, tempos e contextos completamente diversos, acabam por se entrecruzar!!
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Sobre Professor Doutor José Leite de Vasconcellos, remeto também para ligação na internet. Foi uma Pessoa notabilíssima, eminente, da nossa Cultura, como se pode verificar da leitura do texto da Wikipédia. Visitou o Norte Alentejano e a povoação do Chamiço, por volta de 1930, tirou fotos, figs. 122, 123, 124 e 125, registadas em “Etnografia Portuguesa”. Fez recolha oral junto de dois velhos de Gáfete, na data referida.
Fotos escolhidas simultaneamente para divulgar a antiga Povoação e o respetivo Património. A ponte precisa de manutenção e proteção, sob pena de se ir destruindo. (A primeira vez que vi foto desta ponte, na net, ela estava em melhor estado.)
E também estas fotos, por simbolismo, significação: Ponte como sinal de união, ligação entre espaços e tempos. Cruzamento de caminhos / antigas ruas: metáfora dos cruzamentos na Vida).
“Alpendre” das festas: Ligação do presente ao passado e ao futuro.
Etnografia Portuguesa – Tentame de Sistematização – Prof. Doutor José Leite de Vasconcellos – Volume IV –
Lisboa – Imprensa Nacional – 1958
Livro I – A Terra de Portugal – pp. 654 e 655
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«Quando e como se desmoronou o Chamiço?
Dois velhos de Gáfete, que em 1930 contavam respectivamente 80 e 85 anos, referiram-me o seguinte, interrogados cada um por sua vez, e em separado. Em pequenos haviam ainda conhecido o Chamiço, que tinha 8 ou 9 fogos, incluindo a morada do paroco. A povoação constituia frèguesia: orago o Martle Santo (S. Sebastião), - pôsto que isso não conste nem da Corografia do P.e Carvalho, nem do Portugal sacro e profano (serie anexa). – Faziam-se lá festividades, e no largo da igreja touradas: a umas e outras concorria gente do Monte-da-Pedra, Aldeia-da-Mata, Gáfete. Um dos dois velhos assistira ainda a uma corrida de touros, e a uma festividade. Acrescentaram ambos que a destruição da povoação a motivaram continuos assaltos de ladrões: os habitantes, vendo-se desamparados naquele descampado e solidão das herdades, fugiram. Quem primeiro abalou, foi uma lavradora, de apelido Carita, a mais rica da terra: tendo dado tal exemplo, as outras familias seguiram-na, porque menos protegidas ficavam. Até contou um dos velhos o caso de haver sido apernado pelos ladrões um criado da mencionada lavradora, deitado ao chão, e coberto com uma manta; levantando-a, espreitou, e conheceu os ladrões. Por decôro não se declara aqui o nome da terra a que pertenciam.
Assim reza a tradição oral. (…)»
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(Algumas notas complementares:
Registo algumas referidas no postal anterior. Segui o texto a partir da fotocópia que tenho na minha posse. As mesmas dificuldades na transcrição de palavras com grafia diferente da atual, especialmente nos acentos. Os realces a negrito são de minha lavra.
A fonte informativa de Professor Doutor Leite de Vasconcellos foi também oral. Os dois velhos de idades 85 e 80 anos, terão nascido respetivamente em 1845 e 1850. Depreende-se do mencionado que não terão nascido no Chamiço, mas em Gáfete.
Quando li este excerto na Biblioteca Nacional, algo que me chamou a atenção foi a expressão “apernado”. Não é uma palavra muito vulgar, mas também era o termo que a minha Avó usava, quando relatava os acontecimentos.
Outro aspeto foi a menção de que a lavradora Carita fora a primeira que abalara. O que estava em contradição com o que sempre ouvira a minha Avó. E, agora, após ler também o artigo de Prof. Subtil reforça essa contradição. Também a versão que Primo António Carita sempre ouvira a sua Mãe, Maria Carita, contradiz essa referência.
A situação de o criado ter reconhecido os ladrões, como sendo de uma localidade próxima, também a minha Avó me contava, mencionando a terra. Que eu, reforçando a atitude de Professor Leite de Vasconcelos, também não revelo. Todavia não deixaria de ser curioso saber qual a terra que os velhos terão referido, se coincidiria com a que minha Avó dizia.
Estes são alguns dos aspetos que vêm mencionados na Etnografia Portuguesa sobre o Chamiço. Há mais algumas referências etnográficas de interesse. Mas eu, nestes textos, o que pretendia era realçar fundamentalmente as questões reportando-se a essa minha Trisavó, Rosa de Matos, de apelido Carita, do marido, João. Enquadrando todos estes aspetos na premissa / questão inicial sobre as interligações do apelido Carita no Alto Alentejo.
Ainda quero consultar os dados do Arquivo Distrital de Portalegre.
Postal nº 1133: A velha “aldeia” do Chamiço, a partir de:
Etnografia Portuguesa – Tentame de Sistematização – Prof. Doutor José Leite de Vasconcellos – Volume IV –
Lisboa – Imprensa Nacional – 1958
Livro I – A Terra de Portugal – pp. 653 e 654
(…)
«… o Chamiço, no termo de Gáfete (Crato), que em 1532 era uma aldea chamada Monte do Chamiço, e encerrava 36 moradores «dos quais cinco viuvas»; Monte tem aqui significação rural, tão corrente no Alentejo, e aplica-se como parte componente do nome proprio. Ainda no sec. XVII se dizia assim; hoje diz-se apenas o Chamiço, sem Monte preposto.
Se o leitor perguntar em Gáfete onde ficava o Chamiço, indicar-lhe-hão perto da ribeira do mesmo nome e da ribeira de Margem, um terreno, de irregular superficie, com a área de uns 400 metros quadrados, alastrado de pedaços de telhas e onde ha troços de ruas, uma d’elas bem cortada na rocha granitica que forma o sólo, e restos de dezenas de casas. Algumas das casas, de paredes de alvenaria, tinham andar alto; nestas paredes e noutras vê-se ainda de onde em onde rebôco e cal. Numa elevação sobranceira ás ruinas ergue-se uma igreja, sem tecto e desmantelada, com pedaços de altares e de um pulpito por unicos vestigios de culto. Vid. figs. 122, 123, 124 e 125. Não se encontra no Chamiço um unico edificio habitado ou habitavel. … »
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(Algumas notas complementares:
Nesta descrição sobre o Chamiço, excerto do livro supracitado, procurei transcrever conforme o original, de 1958. Que terá respeitado a grafia do Autor, certamente manuscrita, muito provavelmente na década de trinta. Data a que o Professor faz referência sobre as pesquisas, in loco. Tive especial dificuldade nos acentos, pois, no texto que possuo, existem algumas diferenças significativas face à grafia atual, mesmo antes do “famigerado” Acordo / “Desacordo”.
- Frisar também que ainda no séc. XVIII se designava “Monte” conforme mapa de 1762, onde se refere “M.te Camisso”. E, nas Memórias Paroquiaisde 1758, também se designa de “Monte Chamisso”. -
O texto em que me baseio resultou de fotocópia tirada na Biblioteca Nacional – Lisboa. Em meados da 2ª década deste séc. XXI.
As figuras a que o Autor se refere estão a preto e branco. Em fotocópia, não dão para reproduzir.
Apresento novamente foto da igreja. E de alguns espaços – ruas. Fiquei intrigado com a referência a rua talhada em rocha granítica.
Também me intriguei com a referência que Primo António Carita me fez sobre a localização da casa da Trisavó.
Em futura visita irei observar melhor estes aspetos.
Em posterior postal ainda apresentarei referência ao “desmoronamento do Chamiço”, segundo livro mencionado e Autor citado.
E penso finalizar com a versão de Primo António, segundo o que sua Mãe lhe contava. Sua Mãe, minha Tia Maria Carita, que viveu, em jovem, em casa de Tia Maria de Sousa e Tio Francisco Carita, filho da Trisavó do Chamiço, Rosa de Matos. Saberiam bem como ocorreram os acontecidos.)